Por Fabio Murakawa e Raphael Di Cunto | Valor Econômico
BRASÍLIA - Com a bancada dividida sobre como atuar na sucessão da Câmara, uma comissão de deputados petistas se reunirá amanhã em São Paulo com o ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva para ouvi-lo a esse respeito. A opinião do principal líder do partido será decisiva no momento em que o PT enfrenta um dilema: apoiar um candidato identificado com o "golpe" e, com isso, ocupar espaço na mesa diretora e nas comissões; ou fechar com uma candidatura de oposição, com poucas chances de vitória, o que deixaria o partido de bem com a base, mas enfraquecido na Casa.
Ontem, enquanto o PDT lançava oficialmente a candidatura de André Figueiredo (CE) - único declaradamente de oposição ao governo Michel Temer até o aqui -, uma reunião da bancada petista em Brasília não conseguiu sequer indicar um rumo a seguir.
Apesar da tendência de boa parte dos parlamentares ao pragmatismo, ninguém ousou defender abertamente o endosso à reeleição de Rodrigo Maia (DEM-RJ) ou às candidaturas de Jovair Arantes (PTB-GO) ou Rogério Rosso (PSD-DF). Maia é descrito por petistas como "verdadeiro líder do governo", dada sua afinidade com a agenda de reformas de Temer.
Jovair e Rosso, por sua vez, são classificados de "golpistas" por terem sido, respectivamente, relator e presidente da comissão que deu parecer favorável ao impeachment de Dilma Rousseff, em 2016.
"A direção do PT terá papel decisivo na construção de uma saída para esse impasse", disse o deputado José Guimarães (CE), vice-presidente do partido. "A decisão será tomada com Lula".
Presidente do PT, Rui Falcão afirmou que "Lula está convidando a comissão que encaminha este processo [de sucessão] em nome da bancada para uma conversa na quinta e vai dar a opinião dele".
Líder do partido na Câmara, Carlos Zarattini (SP) disse que vai "exigir" dos candidatos respeito à proporcionalidade na distribuição de cargo. O PT tem a segunda maior bancada da Casa, com 58 deputados. Para Zarattini, apoiar um candidato afinado a Temer ou ao impeachment é "questão secundária", "desde que haja o respeito às regras democráticas, do regimento, à proporcionalidade".
Outros não pensam como ele. "Acho que não deve apoiar golpista nunca", disse Afonso Florence (BA), que liderou a bancada até o fim do ano passado. "Não tem hipótese de apoiar alguém da base de Temer."
Na mesma linha, Maria do Rosário (RS) afirma que "não tem como fechar com as candidaturas que estão apresentadas". "É preferível ficar sem cargos", disse.
Apesar da tendência tradicional de Lula ao pragmatismo, nem todos no partido estão convencidos de que ele pressionará pelo apoio a Maia, como vem sendo relatado por parte da imprensa. "O período eleitoral [para a Presidência da República, em 2018] está muito próximo", diz um parlamentar.
No encontro, Falcão afirmou que a candidatura de Lula pode ser oficializada em abril, no Congresso Nacional do partido.
Ao lançar sua candidatura à presidência da Câmara, ontem, o pedetista André Figueiredo afirmou que buscará apoio apenas entre os partidos contrários ao Palácio do Planalto - PT, PCdoB, Rede e Psol - e individualmente de parlamentares de legendas da base de apoio do governo, como o PSB.
Ontem em reunião em São Paulo, porém, o PCdoB encaminhou ontem uma aliança com Maia. O partido não deve oficializar uma posição, mas a maioria é favorável a votar no candidato do DEM em troca de mais espaço na Casa e de ajuda para flexibilizar a cláusula de barreira na reforma politica, de forma a não atingir o partido. "É legítimo ocupar espaço para resistir melhor", disse um parlamentar.
Já o Psol só decidirá depois do dia 20 se apoiará Figueiredo ou se lançará candidato próprio. "Estamos dispostos a conversar com o André, mas a tendência mais forte é a candidatura própria, como fizemos nesses últimos anos para apresentar uma proposta diferenciada para a Câmara, de independência e ética", disse o líder da sigla, deputado Ivan Valente (SP).
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