• Relatório apresentado em Davos evidencia desigualdade no país
Martha Beck - O Globo
-DAVOS- O desenvolvimento de uma economia não pode ser medido apenas pela distribuição de renda entre sua população. Ele também precisa considerar outros aspectos, como o acesso das pessoas a educação, serviços, emprego, intermediação financeira, proteção social e patrimônio. Com base nessa premissa, o Fórum Econômico Mundial (WEF) de Davos, na Suíça, divulgou ontem o novo “Relatório sobre desenvolvimento e crescimento inclusivos”. O documento traz um ranking de 109 países com base nesses indicadores e também nos efeitos que problemas como a corrupção trazem para a qualidade de vida dos cidadãos.
O Brasil aparece em 30º na lista dos 79 países em desenvolvimento observados, atrás de economias como Argentina (11º lugar), Venezuela (26º) e México (29º). Isso porque, embora tenha uma renda per capita mais elevada, a desigualdade faz o país perder posições. “Alguns países têm um ranking de desenvolvimento maior que sua renda per capita, o que sugere que eles fizeram um bom trabalho em tornar seu processo de crescimento inclusivo. Isso inclui, por exemplo, Camboja, República Tcheca, Nova Zelândia, Coreia do Sul e Vietnã. Em contraste, outros têm um índice significativamente mais baixo que sua renda per capita, indicando o contrário. Isso inclui Brasil, Irlanda, Japão, México, Nigéria, África do Sul e Estados Unidos”, diz o documento.
No caso brasileiro, se o critério de avaliação fosse apenas o crescimento econômico, ele ocuparia a 9ª posição. No entanto, quando se observa só o critério da desigualdade, o país despenca para a 42ª colocação. Entre os emergentes, os três líderes no ranking são Lituânia, Azerbaijão e Hungria. Já os desenvolvidos têm no topo Noruega, Luxemburgo e Suíça.
De acordo com o documento, 51% dos países analisados viram seu índice de desenvolvimento inclusivo cair nos últimos cinco anos, o que comprova que os governantes têm dificuldades em fazer com que o crescimento econômico se transforme em progresso social.
— Existe um consenso global de que o crescimento inclusivo foi muito mais teórico do que prático. Para responder de maneira mais eficiente a problemas sociais, a política econômica precisa de reformas estruturais e também que ministros de Finanças priorizem a inclusão tanto quanto a política macroeconômica tradicional — afirmou Richard Samans, um dos autores do documento.
AJUSTE FISCAL IMPRESSIONA, DIZ MINISTRO
Em Davos para participar do Fórum Econômico, o ministro da Fazenda, Henrique Meirelles, afirmou ontem que investidores e empresários estrangeiros estão impressionados com os avanços que o Brasil conseguiu na política fiscal, graças à aprovação pelo Congresso da proposta de emenda constitucional (PEC) que fixa um teto para os gastos públicos. Segundo ele, a medida está sendo apontada como um exemplo a ser seguido por outros países. Meirelles e o presidente do Banco Central, Ilan Goldfajn, participaram de um almoço com investidores internacionais organizado pelo banco Itaú.
Ele disse que detalhou aos empresários as medidas de incentivo ao crescimento que acabam de ser anunciadas pela equipe econômica e que ajudarão a reduzir a burocracia e a recuperar empresas em dificuldades financeiras. Uma das ações é a criação de um novo Refis, pelo qual os empresários poderão abater prejuízos de suas dívidas tributárias e renegociar débitos com o Fisco:
— Com investidores e empresários, é unanimidade que há um interesse muito grande sobre o Brasil. O ajuste fiscal impressiona as pessoas, e muitos dizem que é um exemplo para os países desenvolvidos. Está sendo vista muito favoravelmente a aprovação da PEC do teto para os gastos, além da questão da estruturação da dívida dos estados — disse o ministro, após o almoço.
Segundo Meirelles, o novo programa não estimula a sonegação de impostos, como apontam críticos da medida, já que, ao permitir a renegociação de débitos tributários, o governo estaria estimulando os contribuintes a não acertarem as contas com o Leão.
— Ele (programa) funciona muito bem do nosso ponto de vista. Ajuda as empresas em dificuldade, mas não funciona como um desincentivo ao futuro pagamento de impostos, pois não tem desconto de juros e multa — disse Meirelles, lembrando que a expectativa de arrecadação é de R$ 10 bilhões.
Em entrevista à Bloomberg, Meirelles adiantou que o governo deve revisar a estimativa de crescimento para 2017, hoje em 1%, nas próximas duas semanas. O ministro disse, ainda, que o Brasil está no caminho para recuperar o grau de investimento junto às agências de classificação.
“Eu vou fazer o meu trabalho, e as agências de classificação farão o delas”, comentou. “Quanto antes, melhor. Espero que seja antes de 2018”.
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