quarta-feira, 18 de janeiro de 2017

Um velho fantasma - Míriam Leitão

- O Globo

Na África, também houve um aumento recente de casos de febre amarela. O fornecimento da vacina pela Fiocruz ajudou Angola e o Congo a deterem o avanço da doença. Agora, a Fundação que nasceu no Brasil durante a épica e bem sucedida luta contra a febre amarela está aumentando a produção da vacina para imunizar mais brasileiros. Só uma faixa do litoral Sudeste e Nordeste está fora da zona de risco.

A nova presidente da Fiocruz, Nísia Trindade Lima, diz que a grande vantagem no caso do combate à febre amarela é que existe a vacina. Ao contrário de outras enfermidades transmitidas pelos Aedes Aegypti.

— Contra as outras doenças, a única forma é o combate ao mosquito. Mas contra a febre amarela nós temos a vacina. Não é o caso de vacinação em massa, indiscriminada, mas estamos intensificando a produção, concentrando esforços que estavam destinados a algumas áreas de imunização não urgentes. Temos condição de atender à demanda. A Fundação atua em todas as áreas, do diagnóstico à rede de vigilância, à produção de vacinas, às pesquisas, e até na orientação para atendimento aos doentes. E estamos atentos a tudo isso. Aumentou muito a vacinação em Minas Gerais — diz a presidente.

O Brasil venceu a febre amarela em 1942, depois de ter sofrido por anos os surtos da doença no final do século XIX e começo do século XX. Agora, esse velho fantasma voltou a aparecer.
— Isso foi uma surpresa. É sério e tem que ser controlado, mas nós estamos trabalhamos. Antes, o mapa do risco de febre amarela era apenas uma faixa bem restrita, mas o risco se ampliou e hoje apenas uma faixa no litoral do Sudeste e do Nordeste está sem recomendação para vacina — diz Nísia.

A primeira mulher a presidir a Fiocruz teve amplo apoio da instituição. O governo não a confirmou, inicialmente, o que gerou um enorme desconforto na Fundação, e o governo teve que ceder. Ela está assumindo no meio desse desafio do reaparecimento de uma velha doença que estava erradicada. Mas disse que a Fiocruz está capacitada a enfrentar esse novo problema.

A volta da febre amarela tem a ver com a penetração da população sobre áreas de mata, a forma da ocupação territorial e aos efeitos dos eventos climáticos, como El Niño. Outros países tiveram surtos recentes. Em Darfur, no Sudão, em 2012, e na Costa do Marfim. A doença foi vencida com a ajuda da Fiocruz, que exportou vacinas que permitiram imunizar quase toda a população da Darfur. No ano passado, começou um surto em uma favela de Luanda. E depois outro surto no Congo. A Fundação forneceu 2,5 milhões de doses de vacina para Angola e 1,3 milhão para o Congo.

No Brasil, a febre amarela está no imaginário nacional como lembrança de uma luta difícil, travada com sucesso. Há uma evidente sensação de retrocesso, contra essa doença já existe vacina, e o país tem a tecnologia e a capacidade de aumentar a produção para vencer mais uma vez o velho inimigo. Ainda difícil é o controle das outras doenças transmitidas pelo mesmo mosquito.

JUROS DE UM DÍGITO
O Banco Central deve baixar de novo a taxa de juros em 0,75 ponto percentual na próxima reunião, em fevereiro. É isso que transparece na Ata divulgada ontem. Durante o dia, várias instituições reduziram as projeções para a Selic no final do ano. Algumas apostam em 9,5%, mas existe até os que acreditam que pode terminar em 9%, caindo para 8,5% no ano que vem.

Na Ata, o BC explicou que a recuperação está mais lenta do que o esperado e que a inflação também veio com números mais baixos do que o projetado. Além disso, disse que as projeções estão próximas da meta este ano e na meta no ano que vem.

O maior ponto de incerteza no ciclo de cortes de juros é a aprovação da reforma da Previdência. O Congresso voltará do recesso no início de fevereiro, e o mercado vai acompanhar com atenção as eleições para as Presidências da Câmara e do Senado.

No cenário externo, o BC disse estar atento às incertezas do governo Trump, mas afirmou que até o momento a elevação das taxas de juros, nos EUA, teve impacto limitado no Brasil.

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