sexta-feira, 17 de agosto de 2018

A necessidade de diálogo depois das eleições: Editorial | O Globo

País requer reformas que precisam de entendimento entre as diversas forças políticas

Este início da fase mais intensa da campanha merece uma revisita aos últimos 16 anos de disputas eleitorais, a começar por 2002, quando Lula, em meados do ano, deu um cavalo de pau no transatlântico chamado Brasil e assinou a Carta ao Povo Brasileiro, com o compromisso de respeitar contratos e a sensatez em política econômica.

Não convenceu a todos —tanto que o câmbio disparou —, mas serviu para reduzir tensões. O PT partia para o terceiro embate consecutivo com o PSDB, pela primeira vez com reais chances de vitória. A eleição de Lula, e não de José Serra, levou Fernando Henrique Cardoso a organizar uma civilizada transição. Até parecia que o que os uniu no enfrentamento da ditadura militar e os levou a compartilhar palanques havia ressurgido.

A boa atmosfera dos preparativos para a transmissão do poderem certa medida foip reservada no início do governo Lula, quando os tucanos se identificavam como eixo da política econômica. O presidente cumpria oque prometera. O entendimento entre as duas forças políticas se mostrava essencial para a votação de questões-chave, como mudanças na Previdência.

O escândalo do mensalão, exposto em 2005, quebrou qualquer encanto que pudesse ter sido criado pelo entendimento relativo entre PSDB e PT ou pela simpatia nunca reprimida, até hoje, por FH em relação a Lula.

A campanha de reeleição de Lula, em 2006, tendo o tucano Geraldo Alckmin como adversário, apresentou uma temperatura mais elevada e ajudou a afastar mais ainda PT e PSD B. Entre erros tucanos—Alckmin sem defender as privatizações bem feitas por FH e querendo ostentar um papel de defensor de algumas estatais — e mais um escândalo petista, o dos “aloprados” (dossiê falso contra Serra), Lula se reelegeu, e qualquer possível ponte entre PT e PSDB para viabilizar um projeto responsável de reformas foi implodida.

A campanha do primeiro mandato de Dilma afastou de vez os dois polos da disputa político-eleitoral. O uso de marqueteiros para golpes rasteiros passou a ser uma tônica na campanha agressiva do PT — mais tarde, o casal de marqueteiros João Santana e Mônica Moura seria apanhado pelo arrastão da Lava-Jato. O embate entre Dilma Rousseff e Aécio Neves aprofundou feridas petistas e tucanas.

E assim o segundo turno entre os dois ergueu sólido muro entre os partidos. Depois deperdera eleição para uma Dilma de estilo arrogante, por apenas 3 milhões de votos, Aécio colocou o pleito sob suspeita e pediu uma auditoria.

A economia já mergulhava em funda recessão, causada pelos erros da dupla Lula-Dilma, e a presidente cometeu crime de responsabilidade, ao permitir que bancos públicos financiassem o Tesouro. Teve aprovado o impeachment.

Campanhas duras, para além do limite do respeito, injuriosas e difamatórias impediram qualquer possibilidade de entendimento entre oposição e governo. Serve de alerta para os candidatos a assumir o governo em 1º de janeiro, que se enfrentam de forma direta, e cada vez mais, a partir de agora.

Estes 16 anos de disputa político partidária ensinam que não há vitória, por mais inebriante que seja, que garanta a hegemonia política eterna. Ainda bem. Lula e Dilma atingiram níveis estratosféricos depopular idade. Mas a democracia prevê rodízio no poder, e o país requer reformas que necessitam de entendimento entre as forças políticas.

Esta década e meia de História precisa estar viva na memória dos candidatos, para que tenham consciência de que, um deles, depois da virada do ano, enfrentará a situação mais difícil de toda sua vida pública. Não terá chances se ficar sozinho.

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