- O Globo
O BNDES teve o melhor semestre desde 2014, quando começou a recessão, mas seu lucro de R$ 4,7 bilhões foi resultado de redução das despesas de provisão e de venda de ativos. Só a operação da Eletropaulo significou um lucro de R$ 1 bilhão. O presidente do banco, Dyogo Oliveira, acha que o melhor caminho para a instituição é de fato ir vendendo ações de empresas “maduras” para focar em firmas que tenham potencial de crescimento. “Entendo que esse é o papel do BNDES”, diz.
Dyogo criticou, em entrevista que me concedeu na Globonews, a política adotada nos governos Lula e Dilma de investir em grandes grupos:
— O erro foi a tentativa da instituição, da tecnocracia, de escolher quem são os vencedores. Essa estratégia é a que gera críticas, grandes reações e que geralmente leva a equívocos. O papel do BNDES é dar apoio para que as empresas cresçam, mas é o mercado que diz quem vai crescer. Quando o governo entra escolhendo o campeão nacional, a gente acaba cometendo erros e envolvendo a instituição em situações como vimos, que foram prejudiciais à imagem do banco.
Dyogo Oliveira teve posto alto no Ministério da Fazenda na administração Lula, foi secretário-executivo do Ministério do Planejamento no governo Dilma. Com Temer, chegou a ministro e agora comanda o BNDES. Como explicar essa passagem por governos diferentes entre si?
— Eu sou funcionário de carreira, o meu destino natural é voltar para as fileiras do governo a partir de janeiro.
Pelo seu tempo no Planejamento ele conhece o impasse em que vivem as contas públicas, por isso adverte que os candidatos devem deixar claro, agora durante a campanha, o que pretendem fazer:
— Tem que começar fazendo a reforma da Previdência e por isso é preciso deixar isso claro na campanha. Será muito difícil para o próximo governo fazer uma campanha dizendo que não vai fazer porque não é importante e aí ter que fazer. É muito importante ser honesto com o eleitor, porque essa reforma terá que ser feita. Dá tempo ainda de arrumar o discurso. É preciso olhar para uma planilha, a das Necessidades de Financiamento do Governo Central. Ela mostra tudo o que o governo tem que pagar e de onde sairá o dinheiro. É muito simples e fácil de ver que não há espaço para tocar a próxima administração sem a reforma da Previdência.
Na sua visão, essa mudança pode ser o início de um processo de recuperação da confiança, apesar de considerar que é fundamental outras reformas, como a que melhora a eficiência do sistema tributário, e projetos que aumentem a segurança jurídica. Só assim pode haver um novo ciclo de investimento.
A série de recursos para projetos de infraestrutura mostra que os ciclos de investimento estão ligados diretamente às mudanças regulatórias. As telecomunicações tiveram um salto de inversões no final dos anos 90 com a privatização e depois caíram. A energia teve uma ampliação constante a partir de 2003, mas recuou após a intervenção no setor com a MP 579 e a queda artificial dos preços. Começou a retomar agora. O investimento em logística caiu com a recessão. O total aplicado em saneamento sempre foi baixo:
– Não há crescimento porque a regulação é municipal, as empresas são estaduais e o recurso é federal. É impossível funcionar.
O desembolso do BNDES já foi 4,5% do PIB ao ano e despencou a partir de 2014. Este ano será de 1,2%. Segundo ele, a média histórica é entre 2% e 2,2% e foi inflado por um tempo:
— Era natural que voltasse e nós tivemos uma brutal recessão. As empresas pararam de procurar o banco. Estamos tentando atraí-las. E este ano os enquadramentos estão crescendo 18%.
O BNDES devolveu ao Tesouro R$ 100 bilhões, dos quais R$ 40 bi na semana passada. Outros R$ 30 bi serão devolvidos até o fim do ano. Daí para diante serão parcelas de R$ 20 bi a R$ 25 bi por ano. Não é isso, na visão dele, que reduziu os desembolsos, mas a crise mesmo.
Sobre a venda de ações de empresas, ele diz que tem que ser paulatina para não fazer nada de forma atabalhoada, mas que o ideal é que o banco apoie companhias em crescimento, que geram emprego e inovação, e que agregam valor ao país. Uma das iniciativas recentes é a criação da “garagem BNDES”, um programa para empresas “realmente iniciantes” que vai pegar, segundo ele, “essa molecada que está tendo ideias”, para que o país possa ter no futuro novos grandes grupos no setor de tecnologia.
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