País requer reformas que precisam de entendimento entre as diversas forças políticas
Este início da fase mais intensa da campanha merece uma revisita aos últimos 16 anos de disputas eleitorais, a começar por 2002, quando Lula, em meados do ano, deu um cavalo de pau no transatlântico chamado Brasil e assinou a Carta ao Povo Brasileiro, com o compromisso de respeitar contratos e a sensatez em política econômica.
Não convenceu a todos —tanto que o câmbio disparou —, mas serviu para reduzir tensões. O PT partia para o terceiro embate consecutivo com o PSDB, pela primeira vez com reais chances de vitória. A eleição de Lula, e não de José Serra, levou Fernando Henrique Cardoso a organizar uma civilizada transição. Até parecia que o que os uniu no enfrentamento da ditadura militar e os levou a compartilhar palanques havia ressurgido.
A boa atmosfera dos preparativos para a transmissão do poderem certa medida foip reservada no início do governo Lula, quando os tucanos se identificavam como eixo da política econômica. O presidente cumpria oque prometera. O entendimento entre as duas forças políticas se mostrava essencial para a votação de questões-chave, como mudanças na Previdência.
O escândalo do mensalão, exposto em 2005, quebrou qualquer encanto que pudesse ter sido criado pelo entendimento relativo entre PSDB e PT ou pela simpatia nunca reprimida, até hoje, por FH em relação a Lula.
A campanha de reeleição de Lula, em 2006, tendo o tucano Geraldo Alckmin como adversário, apresentou uma temperatura mais elevada e ajudou a afastar mais ainda PT e PSD B. Entre erros tucanos—Alckmin sem defender as privatizações bem feitas por FH e querendo ostentar um papel de defensor de algumas estatais — e mais um escândalo petista, o dos “aloprados” (dossiê falso contra Serra), Lula se reelegeu, e qualquer possível ponte entre PT e PSDB para viabilizar um projeto responsável de reformas foi implodida.
A campanha do primeiro mandato de Dilma afastou de vez os dois polos da disputa político-eleitoral. O uso de marqueteiros para golpes rasteiros passou a ser uma tônica na campanha agressiva do PT — mais tarde, o casal de marqueteiros João Santana e Mônica Moura seria apanhado pelo arrastão da Lava-Jato. O embate entre Dilma Rousseff e Aécio Neves aprofundou feridas petistas e tucanas.
E assim o segundo turno entre os dois ergueu sólido muro entre os partidos. Depois deperdera eleição para uma Dilma de estilo arrogante, por apenas 3 milhões de votos, Aécio colocou o pleito sob suspeita e pediu uma auditoria.
A economia já mergulhava em funda recessão, causada pelos erros da dupla Lula-Dilma, e a presidente cometeu crime de responsabilidade, ao permitir que bancos públicos financiassem o Tesouro. Teve aprovado o impeachment.
Campanhas duras, para além do limite do respeito, injuriosas e difamatórias impediram qualquer possibilidade de entendimento entre oposição e governo. Serve de alerta para os candidatos a assumir o governo em 1º de janeiro, que se enfrentam de forma direta, e cada vez mais, a partir de agora.
Estes 16 anos de disputa político partidária ensinam que não há vitória, por mais inebriante que seja, que garanta a hegemonia política eterna. Ainda bem. Lula e Dilma atingiram níveis estratosféricos depopular idade. Mas a democracia prevê rodízio no poder, e o país requer reformas que necessitam de entendimento entre as forças políticas.
Esta década e meia de História precisa estar viva na memória dos candidatos, para que tenham consciência de que, um deles, depois da virada do ano, enfrentará a situação mais difícil de toda sua vida pública. Não terá chances se ficar sozinho.
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