Prefeito eleito de Salvador nega possível fusão dos partidos
Paulo Celso Pereira
BRASÍLIA - As declarações do prefeito eleito de Salvador, ACM Neto, de que o
vice-presidente Michel Temer seria seu principal interlocutor junto ao governo federal,
irritaram a presidente Dilma Rousseff. Deputado do DEM, Neto derrotou
justamente a tese pregada por seu adversário, Nelson Pelegrino (PT), de que era
necessário Salvador ter um prefeito alinhado ao governo federal. Para tentar
eleger o candidato petista, Dilma e Lula foram à capital baiana e fizeram duros
discursos contra Neto.
A avaliação no Planalto é que ao eleger Temer como interlocutor prioritário,
Neto vai contra a premissa institucional básica de que o prefeito deve debater
políticas públicas com a presidente. Segundo um interlocutor de Dilma, Temer
jamais conversou com ela a respeito de Salvador.
Aliados de Temer avaliam, porém, que o vice pouco poderá fazer se a
presidente ficar contra o auxílio a Salvador - o que Dilma tem dito que não fará
em relação a nenhum prefeito ou governador.
Neto voltou ontem à Câmara dos Deputados, onde é líder do DEM, e foi
recebido com festa e muita comemoração dos funcionários e companheiros de
partido. Para minimizar o problema e não criar problemas com o Palácio do
Planalto, antes de assumir a prefeitura, minimizou a crise:
- Vou procurá-la (Dilma), quero fazer a interlocução diretamente com ela -
afirmou ao chegar ao Congresso.
Temer tem um álibi para se aproximar de Neto que, como líder do DEM, fazia
oposição intensa ao governo. Segundo aliados, o objetivo de Temer é se
aproximar de Neto para reerguer o debate sobre a fusão do PMDB com o DEM.
Apesar de os peemedebistas considerarem que seriam um porto seguro para os
integrantes do DEM, as dificuldades para a tese da fusão prosperar são imensas.
As principais lideranças do DEM, que detêm o controle da legenda, são de
estados onde o PMDB também têm quadros fortes, como Rio Grande do Norte, Bahia,
Goiás e Rio de Janeiro.
O ponto mais difícil é decidir quem comandaria o partido em cada um dos
estados. Segundo parlamentares, ninguém aceitaria perder a primazia do comando
partidário em sua região. O próprio Neto descartou essa possibilidade:
- Pelo amor de Deus, discutir fusão? Você é louco. Só se for confusão.
Fonte: O Globo
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