A gênese da candidatura de José Serra à prefeitura de São Paulo é de alguma
forma síntese das tormentosas bifurcações que assolam o PSDB. Serra foi candidato
por insistência do partido que lhe negara a presidência do instituto nacional
de estudos (Teotônio Vilela) no ano anterior e na prévia municipal deu-lhe o
aval de candidato com pouco mais da metade dos votos (52%).
Em miúdos, o partido queria, mas não queria muito. Houve quem enxergasse na
candidatura a prefeito uma oportunidade de tirar Serra definitivamente da
disputa de 2014 – projeto por ele acalentado, embora não necessariamente para
presidente –, houve quem preferisse apostar na escolha de um dos quatro
candidatos à prévia, mais ou menos equivalentes no tocante à baixa densidade na
largada.
Seria uma solução semelhante à encontrada por Lula para o PT com Fernando
Haddad que, na análise corrente hoje entre tucanos, se resultasse em derrota ao
menos poderia ser menos traumática que a perda para um novato. Prevaleceu a
opinião da cúpula, Serra incluído, que quis evitar a adesão do prefeito
Gilberto Kassab ao PT. Assim foi feito e aquele que motivou a candidatura
revelou-se em boa medida a razão de seu fracasso.
Não se pode atribuir todo o infortúnio a Kassab. Seria retirar do PSDB suas
responsabilidades. Primeiro, deu a vitória como certa e depois considerou
secundárias as dificuldades.
Não enfrentou a questão da renúncia de Serra nem soube separar as duas fases
da gestão de Kassab, uma como herdeiro, outra como prefeito eleito.
Houve alertas internos nesse sentido? Houve, mas caíram no buraco negro das
dissensões, teimosias, animosidades, autofagia, corpo mole e tudo o mais que
agora desautoriza as reclamações do departamento de engenharia de obra feita.
Se houvesse unidade, comando e tirocínio no partido, o efeito deletério não
teria encontrado terreno fértil.
Tudo começa com a cizânia decorrente da candidatura em 2008, depois da
interinidade herdada como vice de Serra na chapa vitoriosa quatro anos antes.
Muito bem avaliado no mandato-tampão, Kassab ganhou, impôs uma derrota a
Geraldo Alckmin que sequer foi ao segundo turno, mas aprofundou a divisão do
PSDB e criou enormes arestas.
Depois dos primeiros seis meses na posse de um mandato de fato e direito,
desmontou a equipe anterior e começou a dilapidar o patrimônio que amealhara
com uma administração considerada desastrosa.
Ao mesmo tempo, na política se aproximou do governo federal tendo como
instrumento a criação de um partido (PSD) para prestação de serviços a todas as
forças detentoras de poder municipal ou estadual com o objetivo primeiro de
ampliar e consolidar seu espaço em São Paulo. Na eleição, desistiu do PT por
alegado compromisso de "lealdade" para com José Serra. Fidelidade que
não esperou esfriarem as urnas: a vitória de Fernando Haddad não tinha
completado 15 minutos quando Kassab ofereceu sua tropa na Câmara Municipal para
dar-lhe "apoio incondicional". Irrestrito, pois.
Junte-se a isso um ministério, mais uma bancada de 47 deputados federais com
boa perspectiva de ampliação em 2014 devido à conquista de 497 prefeituras e
está feita a receita de Gilberto Kassab para derrubar o PSDB e tornar-se a
segunda força política em São Paulo, de braços dados com o PT.
Movimenta-se para fazer com os tucanos de São Paulo o que fez com o DEM no
plano nacional no momento em que o partido passava igualmente por uma crise de
carência de comando e abundância de discórdia interna.
E o que diz o PSDB enquanto é sorvido ao molde de um mingau, pelas beiradas?
À falta de porta-voz autorizado, olha para a cena desorientado, sem saber como
dar uma meia volta volver nessa marcha cujo ritmo delineia a perda da principal
trincheira em 2014.
Fonte: O Estado de S. Paulo
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