O presidente do STF
confirma que o empresário pediu o benefício da delação premiada. Ayres Britto
descarta qualquer influência no julgamento
A nova manobra de
Valério
Ayres Britto confirma que réu tenta a delação premiada, mas frisa que ato
não vai interferir no julgamento. Ministros acreditam que o empresário quer ser
incluído em programa de proteção para escapar da prisão
Paulo de Tarso Lyra, Amanda Almeida e Juliana Colares
O presidente do Supremo Tribunal Federal (STF), Carlos Ayres Britto, afirmou
ontem que o pedido de delação premiada feito pelo empresário Marcos Valério não
vai interferir no julgamento do processo do mensalão. O ministro confirmou ter
recebido um fax com a solicitação apresentada pela defesa do réu, apontado como
operador do esquema de compra de apoio parlamentar no primeiro mandato do
governo do ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva. "Chegou um fax que não
posso dizer o conteúdo, porque está sob sigilo, mas é hiperlacônico",
destacou Britto.
O ministro disse ter decretado o sigilo do caso e enviado o pedido para o
relator do processo, Joaquim Barbosa, a quem caberá apreciar a questão.
Questionado se a petição poderá gerar alguma interferência no julgamento, que
está em andamento desde o começo de agosto, o presidente do STF negou
prontamente. "Em minha opinião, a essa altura, não", frisou, antes de
reiterar que caberá ao relator se pronunciar sobre o tema. Dois ministros do
STF disseram reservadamente que o pedido pode ser uma estratégia de Valério
para ser incluído no serviço de proteção a testemunha e, assim, não ser preso.
Em agosto, o Correio antecipou que a defesa de Marcos Valério pediria ao
Supremo que considerasse a "colaboração" do empresário com as
investigações. No fax encaminhado à Suprema Corte no fim de setembro, Valério
se oferece para ser ouvido em juízo novamente e relata que corre o risco de
morrer. Na semana passada, os ministros fixaram uma pena de 40 anos para o
empresário, durante o início da fase de dosimetria do julgamento.
Passaportes
Um dos 25 condenados no processo do mensalão, o advogado Rogério Tolentino
antecipou-se ao Supremo ao enviar, na segunda-feira, seu passaporte à Corte.
Ex-sócio de Marcos Valério, Tolentino aguarda ainda o STF calcular as penas
pelos crimes de corrupção ativa, formação de quadrilha e lavagem de dinheiro. O
documento foi enviado via Sedex, com um ofício no qual o defensor do réu, Paulo
Sérgio Silva, afirma ter tomado o conhecimento de que o procurador-geral da
República, Roberto Gurgel, pediu a apreensão dos passaportes dos condenados na
Ação Penal 470.
Ayres Britto observou ontem que a decisão sobre o pedido de apreensão dos
passaportes será tomada somente após Joaquim Barbosa retornar de viagem, na
semana que vem. O relator do mensalão está em Dusseldorf, na Alemanha, onde
passa por tratamento médico — ele sofre de problemas crônicos no quadril.
Interrompido na última quinta-feira, o julgamento do mensalão será retomado
somente em 7 de novembro, em exatamente uma semana. Os ministros terão que
definir ainda as penas de 24 condenados. A tendência é que a análise do
processo se prolongue até o fim de novembro, o que levará o Supremo a concluir
o julgamento após a aposentadoria de Carlos Ayres Britto, que deixará o
tribunal no próximo dia 18.
O advogado de Marcos Valério, Marcelo Leonardo, não quis comentar o pedido
de delação premiada. Ele avisou, porém, que Valério foi o primeiro dos réus no
processo do mensalão a entregar o passaporte, em 2005. "Ele tomou a
iniciativa de deixar o passaporte à disposição para mostrar que não tinha a
intenção de fugir, como de fato não faz. Portanto, esse assunto, para nós, é
inócuo."
Absolvidos festejam na Câmara
A cerimônia de comemoração da edição número 5 mil do informativo do PT na
Câmara serviu também para o partido fazer um desagravo aos réus do mensalão,
confirmar que vai defender os mandatos de João Paulo Cunha (PT-SP) e José
Genoino (PT-SP), e homenagear, ainda que discretamente, os absolvidos Professor
Luizinho e Paulo Rocha . Os dois últimos não subiram ao palco montado em frente
ao corredor das comissões, mas foram festejados por todos os correligionários.
"Sabe como se sente um ex-presidiário? É assim que estou me
sentindo", disse ao Correio o ex-deputado Professor Luizinho. Ele negou
que tenha se tornado empresário na Bahia de uma companhia de celulose, como
veiculado na imprensa. "Você deve ter comprado a empresa com os R$ 20 mil
que eles (apontando para a reportagem do Correio) diziam que você tinha
pego", reclamou o paranaense Paulo Rocha, bem menos à vontade do que o
colega paulista. Na denúncia julgada pelo Supremo Tribunal Federal, Luizinho
era acusado de pegar R$ 20 mil do esquema do Valerioduto.
Fonte: Correio Braziliense
Nenhum comentário:
Postar um comentário