Folha de S. Paulo
Talvez não se precise de furo lógico; um
buraco real já pode estar aberto na civilidade que sustenta a Constituição
Kurt Gödel, de origem austro-húngara, foi um dos maiores matemáticos do mundo moderno. Demonstrou a incompletude dos sistemas axiomáticos, inclusive da própria matemática, que comportaria falhas. De sua atribulada história pessoal consta o episódio conhecido como "buraco de Gödel": na solenidade de sua naturalização americana, ele quis apontar um buraco lógico na Constituição dos EUA que abriria caminho para uma ditadura. Foi contido pelo padrinho Einstein e pelo juiz, que o teria mandado calar-se. Nunca mais voltou ao assunto, jamais se soube onde estaria o furo.
A realidade é que essa Carta resulta de um
país fundado por intelectuais como Benjamin Franklin, Thomas Jefferson,
Alexander Hamilton, John Adams e outros citados como "founding
fathers". Segunda proclamada no mundo, em 1787, é também a menor existente,
com cinco capítulos e 27 emendas. Uma simplicidade aparente, pois é a mais
difícil de acolher emendas, o que explicaria a persistência de vieses
antidemocráticos. Feita em nome da liberdade, passou ao largo da abolição da
escravatura. Seu principal cuidado é o equilíbrio entre o poder central e o dos
estados, cerceando eventuais inclinações autocráticas por um sistema de
contrapesos,
Uma coisa é o formalismo de um sistema, outra
a sua inserção numa forma de vida. No fluxo vital é que as palavras ganham
pleno sentido e aparece a diversidade radical dos indivíduos em meio à sua
aparente semelhança. Isso era significativo quando a união constitucional não
destoava dos discursos civis nem de como a mídia figurava a cidadania
americana.
Tudo começou a mudar desde os anos 60 com a
crescente percepção de ameaça identitária por parte de grupos sociais. Após
forte onda imigratória e profundo rearranjo partidário, os republicanos
consolidaram-se como bunker paranoico dos cristãos brancos, da supremacia
racial e da reação aos costumes. A intensidade das mudanças, inclusive as
demográficas, contribui para a percepção de fenecimento do mito da
"verdadeira América".
Trump é
fruto maduro dessa transformação. Em qualidades humanas, um fruto podre,
ou "brain
rot", a expressão do ano. Posto na balança, é uma derivação de
presidentes como Reagan, Nixon, Bush, só que com aberrações pessoais expostas.
No governo, não assassinou com drones tanta gente como o liberal e
simpático Obama.
Nenhum desses brucutus parece ter sequer
sonhado em violar a Constituição apregoada pela razão liberal como a mais
sólida do mundo. Mas a razão também sonha, diz Goya, e assim "produz
monstros". O pesadelo de uma brecha racional para a monstruosidade da
ditadura poderia ser o "buraco de Gödel".
Talvez não se precise de furo lógico. Um buraco real já pode estar aberto na civilidade que sustenta a Constituição. A Suprema Corte parece feita de supremos cortesões. E Trump, disposto a testar a resiliência do sistema, aparelha o seu secretariado com o top de linha do sórdido em termos civis e gerenciais. "O horror, o horror", exclama o coronel Kurtz em "Coração das Trevas" e "Apocalypse Now". E trevas justificam a Lei de Murphy: o que é ruim tende a piorar.
4 comentários:
Imagine, só imaginem os Estados Unidos governado pela aquela incompetente porque não dizer Sem juízo , destrambelhada da Kamala Harris
Marionete dos grandes grupos global Estava implantando Pautas e tendências esquerdistas completamente fora da tradição americana
Drogas , aborto, Liberação total da imigração , lute ideológica de gêneros todos temas completamente fora da tradição americana
O mundo caíria num caos
Mas o povo americano percebeu o perigo e derrotou de forma contundente essa candidata irresponsável democrata
Está presunção de jornalistas Que criticam o povo americano Por ter eleito de forma esmagadora fazendo maioria na Câmara e no Senado
Enquanto aqui no Brasil se elege um Condenado a mais de 20 anos de cadeia por corrupção e lavagem de dinheiro E pra imprensa tudo bem , tranquilo
E o que é pior, o cara está fazendo tudo de novo, levando o Brasil e os brasileiros para um buraco Econômico e social
Criticam o povo americano por eleger o Trump
O anônimo acima realmente confia no Trump... Também confiou em (e admirou) Bolsonaro.
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