quarta-feira, 25 de setembro de 2024

Opinião do dia – Cármen Lúcia, presidente do TSE (violência)

“Política não é violência, é a superação da violência. Violência praticada no ambiente da política desrespeita não apenas o agredido, mas ofende toda a sociedade e a democracia. Com o despreparo, descaso, ou tática ilegítima e desqualificada de campanhas, atenta-se contra cidadãs e cidadãos, ataca-se pessoas e instituições, e na mais subalterna e incivil descompostura, impõe-se às pessoas honradas do país, que querem apenas entender as propostas que os candidatos oferecem para a sua cidade, sejam elas obrigadas a assistir cenas abjetas e criminosas, que rebaixam a política a cenas de pugilato, desrazão e notícias de crimes.

O que a mídia pensa | Editoriais / Opiniões

Incúria fiscal deteriora cenário econômico futuro

O Globo

Mercado dá sinais de ter perdido a confiança nas promessas de responsabilidade com contas públicas

A ata da última reunião do Comitê de Política Monetária (Copom) do Banco Central (BC), divulgada nesta terça-feira, não poderia ter sido mais explícita ao confirmar a pressão da política fiscal expansionista nos juros. Foi essa uma das razões para o Copom ter elevado a taxa básica, a Selic, em 0,25 ponto percentual, para 10,75% ao ano, na primeira alta desde agosto de 2022. No mercado, a percepção de que a responsabilidade fiscal é uma incerteza tem contaminado as expectativas.

Um termômetro disso são os juros futuros — indicador que mede a confiança dos agentes financeiros na perspectiva de estabilidade. Eles têm subido, assim como o dólar. Para definir o relaxamento no controle de gastos e o crescimento das despesas fora da meta, ao mesmo tempo que persiste o compromisso declarado do governo com os objetivos traçados pelo novo arcabouço, analistas cunharam a feliz expressão “matemágica fiscal”.

Vera Magalhães - Chega de brincar, elite paulistana

O Globo

É espantoso que Marçal ainda tenha algo como 20% das intenções de voto depois de meses de seu show de horrores diário

A elite paulistana é a grande responsável pelo prolongamento da brincadeira de mau gosto chamada Pablo Marçal. O mercado financeiro, sempre tão agudo ao cobrar do governo federal responsabilidade com os gastos públicos e o necessário ajuste fiscal, caiu de amores por um arruaceiro surgido do nada, sem nenhum compromisso com a viabilidade (fiscal, técnica ou legal) de suas ideias estapafúrdias.

O povo do colete de náilon de gominhos com camisa social e sapatênis — combinação que já denota o misto de autoconfiança excessiva com falta de noção — se apaixonou pelo forasteiro que caiu de teleférico no principal centro econômico do Brasil, com o único intuito de se autopromover, de olho nos próprios (e obscuros) negócios e nas eleições presidenciais.

O reconhecimento costuma ser um combustível forte para explicar essas ondas de intenção de voto. Se, ao se olhar no espelho, a elite paulistana enxerga Marçal, isso mostra um profundo e preocupante descompromisso com as reais e urgentes necessidades de uma cidade desigual, que condena em diferentes medidas todos, dos mais pobres aos mais ricos, a uma rotina de provações do momento em que se acorda à hora em que se consegue dormir.

Bernardo Mello Franco – Debate na delegacia

O Globo

Ao apostar no barraco, coach rebaixou a disputa pela prefeitura e arrastou rivais para a lama

A eleição para prefeito de São Paulo virou caso de polícia. Em pouco mais de uma semana, dois debates descambaram para a violência e acabaram na delegacia. Em ambos os casos, o tumulto foi iniciado por Pablo Marçal.

Sem espaço no horário eleitoral, o candidato do PRTB apostou no barraco para chamar a atenção. Deu certo. Desde o debate da Band, quando insultou adversários e gritou com a plateia, ele conseguiu se impor como o assunto da disputa.

Com milhões de seguidores nas redes sociais, Marçal levou para a arena política as armas que o projetaram na internet. Seus golpes abaixo da cintura geraram reações exaltadas, monopolizaram as conversas e arrastaram os outros candidatos para um conflito na lama.

O método do coach de ultradireita já deixou de ser novidade. Ele ignora as regras dos debates, distribui ofensas e enfileira acusações sem provas. Tudo para tirar os oponentes do sério e produzir vídeos curtos que viralizam nas redes.

Roberto DaMatta - O jogo das cadeiras

O Globo

Veja o que acontece quando se deixa ‘todo mundo’ disputar uma Prefeitura tão importante quanto a de São Paulo

Lembra-se do jogo das cadeiras? Um certo número de cadeiras era disputado por um grupo que as rodeava ao som de uma melodia, interrompida, obrigando os jogadores a buscar uma delas. Em cada rodada, porém, uma cadeira era subtraída, promovendo competição porque, ao sair uma, alguém perdia o lugar para se sentar e deixava o jogo. No final, sobrava um vencedor, dono de uma cadeira!

Um furioso “debate” corrompeu o papel das cadeiras. Se elas serviam para se sentar e simbolizar vitória e poder, no antidebate foram usadas para eliminar competidores. Foi mais uma inovação nacional para esse desacerto político e cultural que a polarização sustenta, criando anjos e demônios, ao arrepio da vida democrática em que esquerda e direita concordam em discordar.

Um compromisso cada vez mais difícil de honrar, porque, para isso, será preciso tirar da esfera política a marca de Caim da corrupção, da mentira, do sectarismo e da malandragem...

Elio Gaspari - A trava Autoridade Climática

O Globo

Numa passagem por Manaus no último dia 10, Lula anunciou que criará uma Autoridade Climática para cuidar das queimadas e dos incêndios. Boa notícia. Em 2022, depois do primeiro turno, essa ideia circulou na equipe que discutia os planos do novo governo. Passaram os meses, e ela pegou fogo.

Contra a ideia, agiram dois grupos, com interesses antagônicos. De um lado, os burocratas interessados em preservar o poder do Ministério do Meio Ambiente. De outro, os agrotrogloditas, interessados na teatralidade e na preservação da falta de coordenação do poder público.

Dois anos depois, a Autoridade Climática voltou ao baralho e, com ela, o velho conflito. Numa entrevista aos repórteres Jeniffer Gularte, Sérgio Roxo e Thiago Bronzatto, o ministro Rui Costa, da Casa Civil, deu algumas pistas para entender como funciona a trava.

Marcelo Godoy - Lula teve uma ideia: um Exército de bombeiros

O Estado de S. Paulo

Petista quer imolar a preparação das Forças Armadas a fim de apagar a inação diante do fogo 

Por que um líder político não pode propor ideias originais? Essa pergunta deve ter passado pela cabeça do presidente Luiz Inácio Lula da Silva na semana passada. Uns podem dizer que a experiência de passar mais de dez anos na Presidência da República autorizaria qualquer um a buscar soluções para problemas pungentes, como a crise do fogo que ameaça não só as florestas, mas a vida de todos, inclusive a dos confortavelmente instalados em suas salas de jantar nas metrópoles do Sudeste do País.

Foi a partir desse pressuposto que Lula resolveu dar sua contribuição à Defesa Nacional. No dia 17, em reunião no Planalto com os chefes dos demais Poderes, o petista revelou o que propôs em uma longa conversa ao ministro José Múcio (Defesa) e ao general Tomás Paiva, comandante do Exército.

Lu Aiko Otta - Lupa nos investimentos federais nos Estados

Valor Econômico

Lupa nos investimentos por Estado pode melhorar o direcionamento de políticas públicas para regiões e setores mais necessitados

O Estado cuja economia foi mais impactada pelos investimentos federais no período de 2000 a 2020 não está no Nordeste, Centro-Oeste ou Norte do país, diferentemente do que se poderia supor. É o Rio de Janeiro. Foram R$ 123,4 bilhões, liderados pelos investimentos da Marinha em seu projeto de construção de submarinos.

A segunda colocação é de Minas Gerais, que recebeu R$ 86,7 bilhões principalmente para obras em rodovias. A terceira unidade da Federação entre destinatários de investimentos da União foi São Paulo, com R$ 77,8 bilhões, liderados por ações em desenvolvimento urbano, unidades de saúde e urbanização de assentamentos precários.

Luiz Guilherme Piva - O tradicional e o moderno na economia e na política

Folha de S. Paulo

Vivemos uma realidade na qual nos movemos como numa longa rua de numeração desordenada, mas lógica; uma espécie de avenida 'Faria Lira'

Chegamos ao futuro em que todos são anônimos só por 15 minutos. Mas são gerações muito diferentes convivendo e se expondo nas redes: as tradicionais e as modernas, cada uma com seu "tempo interior" não cronológico (Mannheim, a partir de Pinder) e sua comunhão de percepções e demandas. Uma "contemporaneidade dos não coetâneos" (Ernst Bloch), entrelaçados sobre o fosso que as mudanças cavam entre suas visões de mundo.

Germani e Di Tella usaram essa ideia nas rupturas dos anos 1930: industrialização, urbanização e comunicação de massa (rádio) geraram, ao lado de setores rurais, outros setores sociais e seu novo tempo, sua "revolução de aspirações" e sua percepção de "incongruência de status", dada a incapacidade institucional de atendê-las. Eram, fundamentalmente, os trabalhadores fabris (e a burguesia). Para os autores, o populismo autoritário latino-americano foi a incorporação estatal das camadas urbanas, em pacto das elites modernas (riquezas) com as antigas (verbas e posições).

Martin Wolf - Como operar a política industrial na EU

Valor Econômico

Em 2023 o investimento de capital de risco na UE foi apenas um quinto do que nos EUA e isso não se deve à falta de poupança na UE, mas ao fracasso em criar o ecossistema de tecnologia necessário

“A principal razão para que a produtividade da União Europeia tenha divergido da dos Estados Unidos em meados dos anos 1990 foi o fracasso da Europa em capitalizar a primeira revolução digital, liderada pela internet - tanto em termos de dar origem a novas empresas de tecnologia como de difundir a tecnologia digital na economia. Na verdade, se excluirmos o setor de tecnologia, de forma geral o crescimento da produtividade da UE nos últimos 20 anos estaria no mesmo nível do dos EUA”. Este trecho do relatório de Mario Draghi sobre a competitividade europeia aponta para um componente central da agenda para o futuro da UE.

Por mais vital que seja, esse é apenas um dos desafios econômicos estratégicos que a UE enfrenta. Entre os demais estão a vulnerabilidade energética, a transição verde e o crescimento do protecionismo. Draghi oferece tanto um marco conceitual como sugestões sobre como responder a eles. O que incluirá políticas comerciais e industriais mais intervencionistas. O desafio é fazer que essas políticas sejam direcionadas e razoáveis.

Vinicius Torres Freire - Faniquito do mercado diminui

Folha de S. Paulo

Na segunda-feira (23), parecia que ruína final das contas do governo estava próxima

Na segunda-feira (23), o pessoal do Ministério da Fazenda deu umas explicações a respeito das medidas bimestrais mais recentes que vai adotar a fim de cumprir suas metas de despesa. Na praça do mercado, ficou a impressão de que o governo iria relaxar, não importa, aqui e agora, se impressão razoável ou não.

Houve faniquito. As taxas de juros e o preço do dólar, já em níveis pavorosos, deram um salto no céu já contaminado de fumaça mortífera. Por falar nisso, essa situação lembra um pouco a agitação crítica que seguiu ao incêndio do país: tratamos de miudezas e assuntos de curtíssimo prazo e não tentamos entender o motivo de estarmos queimando nas caldeiras do inferno, nas contas públicas ou no ambiente.

Fernando Exman - Na ONU, Lula aplica ‘vacina’ e também vai para o ataque

Valor Econômico

Presidente teve que se explicar sobre as queimadas, algo que também está com dificuldades de fazer internamente

Foi em tom de consternação que um experiente servidor relatou o teor das imagens que circulavam entre autoridades, enquanto ocorria neste mês a reunião do Grupo de Trabalho da Agricultura do G20.

Grupo das 20 maiores economias do mundo, o G20 é presidido temporariamente pelo Brasil. Tem sido usado como plataforma para a defesa de algumas bandeiras caras à gestão Lula no cenário internacional, inclusive dentro da Organização das Nações Unidas (ONU), como o desenvolvimento sustentável, o combate à fome e mudanças na governança global.

Mas o arquivo mostrava a situação da rodovia que conecta o aeroporto da capital do Estado do Mato Grosso ao resort localizado na Chapada dos Guimarães, onde se reuniam as delegações que integram o GT. Cercada de fogo e ofuscada pela fumaça, a estrada não era nem de longe o cenário que o governo brasileiro pretendia apresentar aos convidados estrangeiros que iriam discutir, entre outros temas, agricultura sustentável e adaptação às mudanças climáticas.

Bruno Boghossian - Lula faz discurso de comentarista na ONU

Folha de S. Paulo

Presidente opta por abordagem conservadora e exibe ambições modestas no palco em Nova York

Lula não tentou esconder a frustração com o palco em que pisava. O presidente brasileiro abriu seu discurso na Assembleia-Geral da ONU manifestando um desencanto amargo com o "alcance limitado" das discussões em Nova York. Voltou ao ponto, quase no final, para dizer que a entidade estava "esvaziada e paralisada".

O petista costuma usar essas críticas como combustível para cobranças pela reforma de organismos globais. Desta vez, as declarações soaram como o lamento de um comentarista de política internacional, com ambições bem mais modestas do que um chefe de governo interessado em influenciar a agenda de líderes mundiais.

Luiz Carlos Azedo - Lula fala sobre quase tudo, menos sobre a Venezuela

Correio Braziliense

Também não foi o melhor momento para Lula falar sobre sustentabilidade, por causa da crise climática no Brasil, tomado por incêndios florestais e muita fumaça nas cidades

presidente Luiz Inácio Lula, ontem, na abertura na Assembleia Geral da Organização das Nações Unidas (ONU), defendeu a reforma da entidade, o controle nacional sobre as redes sociais, a sustentabilidade do planeta, o combate à fome e o fim das guerras da Ucrânia e Gaza. Novamente, se colocou como voluntário à negociação dos conflitos e porta-voz do chamado Sul Astral, os países emergentes do hemisfério.

Lula discursou por quase 20 minutos e seguiu um roteiro preparado pela equipe de diplomatas que o acompanhou, entre os quais o chanceler Mauro Vieira e o assessor especial Celso Amorim. Entretanto, passou ao largo do tema mais polêmico do subcontinente, as eleições da Venezuela, um mico no seu colo.

Hélio Schwartsman - Sem edição

Folha de S. Paulo

Debates são úteis para mostrar candidatos em situações de mundo real, fora do ambiente controlado dos marqueteiros

Para que servem debates entre candidatos a cargos políticos? Na visão clássica ingênua, seria uma oportunidade para os postulantes apresentarem suas propostas. O eleitor poderia então compará-las e decidir quem merece seu voto.

No mundo real, esse esquema nunca funcionou muito bem. São raríssimos os cidadãos que definem seu sufrágio de modo puramente racional a partir da comparação de propostas. Na prática, o que mais pesa são dinâmicas emocionais, como preferências prévias consolidadas, influência de pessoas próximas e simpatias e antipatias instantâneas, não raro com base em elementos que deveriam ser irrelevantes para a política, a exemplo da aparência.

Wilson Gomes - É possível debater com um pombo?

Folha de S. Paulo

Pablo Marçal nos debates é a ilustração perfeita da alegoria do 'pombo enxadrista'

Antes que começassem a voar cadeiras nos debates entre os candidatos a prefeito de São Paulo, já haviam voado os insultos, as acusações de envolvimento com o crime, os apelidos ofensivos e humilhantes e as provocações malcriadas. A violência física foi o desfecho de um longo processo de interação entre os candidatos, que as empresas de jornalismo insistem em chamar de "debates", mas que de debate civilizado mesmo teve muito pouco.

Diz-se que não houve apresentação de propostas nos vários rounds da rinha eleitoral paulistana, mas isso não é verdade. Vi, gravei e revi todos –por razões profissionais, não por alguma tara peculiar– e houve tantas propostas quanto em qualquer outro campeonato eleitoral. Talvez até mais do que a média, pois, em minha experiência, quanto mais fragmentada e feroz a disputa, mais propostas são despejadas nas campanhas.

Fernando de la Cuadra - La degradación de la política y el retroceso civilizatorio

En cualquier curso introductorio de Ciencia Política se enseña que el concepto de Política proviene del griego Politeía que se refiere a las actividades que realizan los ciudadanos para decidir los destinos de su ciudad o Polis. En el espacio de la ciudad-Estado griega se realizaba la ecclesía o asamblea en la cual por medio del uso de la retórica los participantes en ella exponían sus ideas para convencer al conjunto de los ciudadanos de que sus propuestas eran las mejores opciones para decidir sobre el destino de la comunidad o la colectividad.

Lo anterior por cierto se ha definido como el aspecto normativo de la Política, pues lo que se advierte ya desde época de los griegos y posteriormente descrito magistralmente por Nicolás Maquiavelo en El Príncipe, es que la verità effettuale de la política consiste en un sinnúmero de trampas, traiciones, simulacros e intrigas que permiten a los actores políticos conquistar, asumir y sustentarse como protectores de los habitantes de la ciudad-Estado. Siendo así, para Maquiavelo la verdadera virtú que deben desplegar los condottieri que inspiraron la obra del Florentino, residiría en la capacidad de lectura de la realidad de los gobernantes para mantenerse en el poder.

Poesia | Embriaguem-se, de Charles Baudelaire |

 

Música | Paulinho da Viola - Dança da solidão.