segunda-feira, 7 de outubro de 2024

O que a mídia pensa | Editoriais / Opiniões

Eleição municipal reflete a força da democracia no Brasil

O Globo

Sem distúrbios, 156 milhões elegeram prefeitos e vereadores desafiando simplificações sobre eleitorado cindido

Quase 156 milhões de brasileiros tiveram neste domingo a chance de escolher prefeitos e vereadores de 5.569 municípios. De forma ordeira e pacífica, sem nenhum distúrbio notável, eleitores de todas as orientações políticas puderam manifestar suas preferências por meio da instituição mais sagrada da democracia, aquela que a define mais que qualquer outra: o voto livre, secreto, concedido aos candidatos apenas de acordo com a própria consciência.

Mais uma vez, confirmando o pioneirismo e a inovação do sistema eleitoral brasileiro, os resultados foram conhecidos no mesmo dia da eleição. As urnas eletrônicas, alvos de tantos ataques infundados e de uma repugnante campanha difamatória nos últimos ciclos eleitorais, novamente demonstraram por que o Brasil conta com o mecanismo de votação mais avançado do mundo, de acordo com estudiosos do tema. Os resultados que delas saíram ainda serão objeto de análise nos próximos dias, e o segundo turno daqui a três semanas promete novas surpresas. Antes disso, porém, é preciso reservar um momento de alegria para celebrar com orgulho mais uma festa da democracia.

Bruno Carazza - A disputa mais acirrada: Atlas, Quaest e Datafolha

Valor Econômico

Polarização, presença de redes e desconfiança de eleitor transformar mercado de pesquisas

Acabou o mistério. Apuradas as urnas, a disputa que mobilizou as atenções de todo o país nos últimos meses está parcialmente decidida: Ricardo Nunes (MDB) e Guilherme Boulos (Psol) estão no segundo turno das eleições paulistanas, com Pablo Marçal (PRTB) ficando de fora por muito pouco.

Enquanto as atenções de todo o país se concentraram em Boulos, Marçal, Nunes, Tabata e Datena, porém, uma das competições mais acirradas destas eleições municipais não foi travada entre candidatos ou partidos.

O ambiente político mudou muito nos últimos anos. A polarização da sociedade afeta hábitos e comportamentos dos eleitores. O medo de violência e a desconfiança nas instituições deixam muitos cidadãos mais ariscos e avessos a declarações públicas de apoio a candidatos. Para complicar, o avanço da tecnologia também transformou campanhas - e a forma de apurar as intenções de votos.

É nesse cenário repleto de incertezas que se digladiam os principais institutos de pesquisa eleitoral em atuação no país atualmente - uma das grandes brigas deste ano. Com diferentes metodologias, investindo pesadamente em pessoas e em tecnologia, dezenas de empresas buscam a liderança de um mercado de centenas de milhões de reais.

Andrea Jubé - Sem polarização, Centrão é o maior vitorioso

Valor Econômico

Resultado revela um eleitor de perfil moderado e adepto da continuidade, em face da reeleição da maioria dos prefeitos

Sem surpresas, a eleição municipal deste ano foi, mais uma vez, uma vitória dos partidos do Centrão, detentores das maiores fatias dos fundos partidário e eleitoral, bem como das emendas parlamentares, e uma derrota generalizada da esquerda.

Não houve, salvo exceções pontuais, a reedição da polarização entre bolsonarismo e lulismo do pleito presidencial, revelando um eleitor de perfil conservador, moderado e adepto da continuidade, ante a reeleição da maioria dos prefeitos.

O PSD do secretário de Governo de São Paulo, Gilberto Kassab, foi o grande vitorioso entre as siglas do Centrão, retirando do MDB a histórica posição de campeão em número de prefeituras, reconhecido pela força municipalista.

O MDB acabou em segundo lugar em número de prefeitos eleitos neste primeiro turno, seguido de Progressistas (PP), União Brasil, PL e Republicanos. Representando o campo da esquerda, vem o PSB em 7º lugar, o PT em 9º e o PDT em 10º. O Psol não elegeu prefeitos, e perdeu a prefeitura de Belém.

Esse resultado manteve a tendência registrada nas últimas eleições municipais. Em 2020, o MDB manteve o primeiro lugar com mais prefeitos eleitos, mas já em curva descendente, perdendo mais de 200 prefeituras naquele pleito. O PP ficou em segundo lugar naquela eleição, e o PSD em terceiro, enquanto a esquerda vinha em processo de contração.

Fernando Exman - Disputa em São Paulo trouxe novo desafio à política

Valor Econômico

E mostrou alguns limites àqueles que querem se colocar como candidatos antissistema

A eleição de São Paulo, marcada pela participação do influenciador Pablo Marçal (PRTB) e seus condenáveis métodos, apresentou um novo desafio à chamada “política tradicional”. Mas, por outro lado, também mostrou alguns limites àqueles que querem se colocar como candidatos antissistema.

Em geral, o pleito municipal de 2024 teve poucos “outsiders”. A máquina mostrou sua força, tanto na reeleição de prefeitos que estavam à frente de caixas robustos como no impulsionamento de candidaturas do Centrão por emendas parlamentares ao Orçamento. Uma leva de governadores novamente fez a diferença.

Ainda assim, alguns personagens tentaram mais uma vez catalisar o sentimento de aversão à política que teve como marco as jornadas de junho de 2013.

Maria Cristina Fernandes - Derrota de Marçal pelo voto evita conflito judicial

Valor Econômico

Separado do 2º turno por apenas 57 mil votos, candidato estava condenado a cair na justiça

A derrota de Pablo Marçal pelo voto livrou a eleição da cidade mais importante do país de uma interferência decisiva da Justiça Eleitoral na campanha mais disruptiva de todas as capitais brasileiras. Era isso que estava contratado se o candidato do PRTB tivesse tido 57 mil votos a mais e passasse para o segundo turno. Fora do jogo, a encrenca que o candidato do PRTB se meteu com o laudo falso contra o candidato do Psol, Guilherme Boulos, poderá, no limite, levá-lo a fazer companhia ao ex-presidente Jair Bolsonaro na inelegibilidade, configurando o impedimento eleitoral das duas principais lideranças da extrema-direita do país. Está afastado, porém, um conflito adicional à corda já esticada com o Judiciário.

Luiz Carlos Azedo - Com Paes eleito e Marçal fora da disputa, o pior passou

Correio Braziliense

O prefeito carioca liderou a eleição de ponta a ponta, fruto da gestão que vem realizando; na tumultuada eleição de São Paulo, o inescrupuloso extremista ficou fora do segundo turno

O prefeito Eduardo Paes (PSD) se reelegeu no Rio de Janeiro, com 1.861.856 votos, uma vitória expressiva, seja pela importância da cidade, seja pelos 60,44% dos votos que recebeu. Esse resultado representa uma lufada de ar fresco na política nacional. O pior dos mundos seria uma disputa de segundo turno com o candidato apoiado pelo ex-presidente Jair Bolsonaro, o deputado federal Alexandre Ramagem (PL), que recebeu 30,81% dos votos, um resultado muito expressivo para um candidato de perfil corporativo, estreante em disputas majoritárias.

Paes liderou a eleição de ponta a ponta, fruto da gestão que vem realizando na capital, do legado de administrações anteriores e da ampliação de suas alianças. Essa vitória no primeiro turno provavelmente não seria possível se o PT lançasse candidato na capital fluminense (Benedita da Silva, por exemplo) ou apoiasse o candidato do PSol, o deputado federal Tarcísio Motta, que obteve 4,2% dos votos, seu pior desempenho. O atual prefeito é um potencial candidato a governador do Rio de Janeiro, mas nega essa intenção. Paes já se candidatou ao cargo duas vezes, em 2006 e 2018, mas não se elegeu. O vice da chapa é Eduardo Cavaliere, também do PSD.

Fabio Victor - Linha digital-radical sobressai na reta final de eleição com direita vitoriosa

Folha de S. Paulo

'Bolsonaristas 5G' vencem disputa com conservadores mais moderados nas capitais

Ainda que detectada nas pesquisas da véspera da eleição, a arrancada da jornalista de direita radical Cristina Graeml (PMB) em Curitiba, garantindo a ida ao segundo turno junto com Eduardo Pimentel (PSD), foi possivelmente a maior surpresa deste primeiro turno nas principais capitais do país.

Em meados de setembro, ela aparecia em quinto lugar, com 5%. Superou tanto o ex-prefeito Luciano Ducci, candidato da união entre PSB, PT, PC do B, PV e PDT, como o ex-deputado federal Ney Leprevost (União Brasil), candidato de uma direita mais tradicional, apoiado por Sergio Moro e cuja vice era Rosangela Moro. Maior derrotado do pleito, Leprevost terminou com 6,4%.

O feito de Graeml (pronuncia-se Grêmel) exprime não somente a força da direita de modo geral neste primeiro turno em todo o Brasil, mas de uma vertente específica dentro do espectro conservador: mais radical e mais digital, que domina as redes sociais com mais eficiência.

Bruno Boghossian - Multiplicação da direita dá chance de redenção à esquerda

Folha de S. Paulo

Eleições mostraram eleitores dispostos a comprar produtos diferentes do mesmo grupo

As eleições municipais nos grandes centros deram à direita uma demonstração de vigor num momento em que esse campo parecia ameaçado por uma fratura. A divisão ocorreu, mas havia eleitores suficientes dispostos a comprar mais de um produto do mesmo grupo.

A disputa em São Paulo, em alguma medida, foi a amostra mais vistosa de um fenômeno que marcou corridas em outras capitais e grandes municípios. Em determinadas praças, o bolsonarismo oficial foi às urnas com personagens radicais e foi desafiado por candidatos de direita com embalagens moderadas. Em outros casos, o contrário ocorreu.

Marco Antonio Carvalho Teixeira - Nunes desponta como favorito diante de Boulos

Folha de S. Paulo

Prefeito tem menos rejeição e tende a herdar a maioria dos votos de Marçal; esperança de psolista é que Lula possa trazer mais votos neste turno final

A cidade de São Paulo chegou ao final da primeira etapa de um processo eleitoral que se caracterizou por cenas de violência sem precedentes. A sucessão de insanidades perpetradas por Pablo Marçal (PRTB) contra seus adversários culminou em agressão física e representou um espetáculo deprimente. É preciso reafirmar o repúdio e haver punições exemplares para que fatos semelhantes não sejam normalizados nos próximos pleitos.

Dito isso, vamos aos possíveis desdobramentos da chegada de Ricardo Nunes (MDB) e Guilherme Boulos (PSOL) ao turno final. O candidato oposicionista foi ao segundo turno mais pelo seu recall eleitoral em pleitos recentes na cidade —chegou ao segundo turno em 2020, derrotando o próprio PT, e foi o deputado federal mais votado em 2022— do que pelos votos que Lula possa ter transferido para ele.

Lauro Jardim – O resultado em SP é uma vitória expressiva da direita

O Globo

O resultado do primeiro turno em São Paulo significa, antes de mais nada, uma vitória expressiva da direita na maior cidade do Brasil. E aponta para um favoritismo de Ricardo Nunes quase impossível de ser derrubado em três semanas. Somados, Nunes (29,5%), Pablo Marçal (28,1%) e Marina Helena (1,4%) alcançaram 59% dos votos válidos. Nesta conta deve-se acrescentar parte dos votos de eleitores antipetistas recebidos por Tabata Amaral (9,9%) e Datena (1,8%).

Guilherme Boulos salvou de um vexame histórico a pele da esquerda em geral, de Lula e dele próprio por meros 55 mil votos, que é a diferença obtida sobre Pablo Marçal. Já Lula safou-se de uma derrota que doeria mais do que qualquer outra nesta eleição — embora o revés, tudo indica, tenha sido apenas adiado até o fim do mês. Lula bancou Boulos como candidato. Cumpriu uma promessa feita ao próprio psolista mesmo enfrentando o nariz torcido de boa parte do PT paulista. Em compensação, precavido, esforçou-se quase nada por seu candidato neste primeiro turno. Parte do seu entorno garante que agora o presidente deverá entrar de cabeça na campanha. Pode ser. É cedo, contudo, para cravar.

Vera Magalhães - Esquerda tem 'DR' para fazer

O Globo

Lula se vê diante de um cenário em que o PT disputa quatro segundos turnos em capitais, mas vai enfrentar uma pedreira em todos eles

A força mostrada pelo bolsonarismo-raiz e pelas siglas do Centrão nas urnas neste domingo coloca diante de Lula e da esquerda a necessidade urgente de renovar suas lideranças, repensar suas prioridades e reavaliar a forma com que se comunica com o conjunto da sociedade, sob pena de uma disputa muito dura em 2026.

Se é verdade que pleitos municipais não são termômetros exatos nem da avaliação de governos centrais nem das chances de partidos e lideranças políticas para dali a dois anos, ignorar os sinais também não é inteligente.

Jair Bolsonaro, dois anos depois de perder a Presidência, um ano depois de ser declarado inelegível e prestes a enfrentar um acerto de contas com a Justiça pelas tentativas de golpe quando ainda no poder e, depois, no 8 de Janeiro, foi um padrinho mais eficiente do que as pesquisas permitiam antever.

Merval Pereira - Vitória premia gestão e redefine bolsonarismo

O Globo

A vitória do prefeito Eduardo Paes no primeiro turno redefine o futuro da política do Rio, origem do bolsonarismo. O governador Cláudio Castro terminou a campanha rejeitado pelo candidato Alexandre Ramagem, que chamou sua administração de medíocre. Sem poder responder, pressionado pelo ex-presidente Jair Bolsonaro, perderá a pouca força política que tem. Pode vir a se tornar um “pato manco”, gíria política que define um político que não tem mais possibilidade de se reeleger.

A expectativa de poder é uma situação política importante que elimina quem a perde. Sendo disputadas duas vagas, pode ser que Castro venha a ser eleito. Mas vai ter que ter habilidade até para conseguir ser candidato.

Míriam Leitão - Polarização perde força, centro e direita avançam, SP afasta o pior

O Globo

O resultado do primeiro turno mostrou o que os cientistas políticos esperavam, uma queda da força da polarização, um avanço de partidos de centro, com maior força do PSD, que passou de 654 prefeituras para 867. O MDB continua com força municipalista, com 832 e continuará em disputa no segundo turno, inclusive na maior cidade do país. O PT saiu de 183 para 238 cidades neste ano e o PSDB perdeu 256 cidades, de 520 para 264.

São Paulo evitou o pior cenário, que era de duas direitas, e uma delas vindo diretamente do abismo pelos seus métodos, pelas suas tramas, pelas mentiras, pelas suas ligações. Foi tão disputada a eleição em São Paulo que só no último percentil, o TSE divulgou a decisão.

Bernardo Mello Franco - 'Vingadores' de Marçal escolherão futuro prefeito

O Globo

Prefeito deve atrair bolsonaristas que escolheram coach no primeiro turno; Boulos tentará fisgar votos de protesto

No início de sua ascensão meteórica, Pablo Marçal afirmou que o 6 de outubro, data do primeiro turno, seria o “Dia da Vingança”. O coach não venceu a eleição, mas seus seguidores terão o poder de escolher o novo prefeito de São Paulo.

Com estilo histriônico e discurso agressivo contra tudo e contra todos, o outsider do PRTB recebeu 1,7 milhão de votos — equivalentes a 28% dos válidos.

Esse exército de revoltados e desiludidos com a política será o fiel da balança no segundo turno entre Ricardo Nunes (MDB) e Guilherme Boulos (PSOL).

Thomas Traumann – Bem-vindos a 2026

O Globo

A oposição vai dividida para a eleição presidencial daqui a dois anos, e essa é uma grande notícia para Lula

Existe um axioma na política segundo o qual as eleições municipais não influenciam a disputa presidencial de dois anos depois. Isso era verdade até este domingo, quando os eleitores de São Paulo colocaram no segundo turno os candidatos apoiados pelo governador Tarcísio de Freitas e pelo presidente Luiz Inácio Lula da Silva, o prefeito Ricardo Nunes e o deputado Guilherme Boulos, respectivamente. A eleição presidencial de 2026 começa hoje.

Mesmo em terceiro lugar, o guru de autoajuda Pablo Marçal é o terceiro eixo da antecipação do calendário eleitoral. Ao rachar o antipetismo, o eleitor paulistano exibiu a demanda por uma direita radicalizada e antissistema, que não se vê representada nem por Tarcísio de Freitas, nem pelos governadores Romeu Zema, Ratinho Junior e Ronaldo Caiado.

Fernando Gabeira - Passado e futuro das urnas

O Globo

Surgiu a sombra do autoritarismo, a possibilidade de regressão, inexistente no quadro da democracia idealizada

Acabou? Ainda não acabou de todo. Mas já dá para afirmar que as eleições não são mais aquelas. Principalmente para mim, que participei diretamente de quase todas do período democrático.

Eu as achei mais tristes que outrora. Como candidato, caí em muitas ciladas. Cilada era ir a um evento programado para conquistar votos e encontrar apenas o autor do convite acenando alegremente uma bandeirinha. Escapar das ciladas com leveza e bom humor é uma arte necessária, porque elas são presentes mesmo na vida de quem não é candidato.

Agora, vi algumas pessoas tristes portando uma bandeira encardida, com nome e número. Eram pagas para isso, passaram horas solitárias numa esquina movimentada. Pareciam dizer:

— Meu candidato fará cemitérios limpos e acessíveis.

Miguel de Almeida - Bestiário municipal em São Paulo

O Globo

Eleição de 2024 estampa a desindustrialização total paulistana e sua transformação em metrópole de serviços

As eleições paulistanas roubaram a cena do restante do Brasil pela obsolescência anunciada de Lula e Bolsonaro e por três episódios sísmicos, capazes de sintetizar o pleito:

1) O carro do Gabinete de Segurança Institucional (GSI), responsável por averiguar a escola onde Lula votaria, foi roubado à luz do dia em São Bernardo do Campo, onde nasceu o PT, com seus ocupantes rendidos sob a mira de revólveres;

2) O manifesto ou cartinha ao Papai Noel de pedido de voto útil em Guilherme Boulos —em detrimento de Tabata Amaral — expôs a tática da velha esquerda petista e a decepção de ilustres personagens com o engodo da frente ampla que elegeu Lula em 2022. A conexão Vila Madalena-USP, como o partido, trouxe os rostos de sempre — olho vivo em 2026;

Marcus André Melo - Lima Barreto e um século de eleições municipais

Folha de S. Paulo

Exclusão e coerção sobre eleitores e suas transformações

As eleições municipais sofreram grandes transformações em um século. Com a mudança de regime em 1891, o chefe do Executivo local passou a ser nomeado pelos governadores. Inicialmente, 12 dos então 20 estados adotaram a regra, só pacificada pela reforma de 1926. Com a Constituição de 1946, novas contestações, mas, nas capitais, estâncias, e bases militares, os prefeitos continuaram a ser nomeados. A primeira eleição para prefeito em São Paulo, a maior metrópole brasileira, teve lugar em 1953, e em Recife —a então terceira maior— em 1955. Em 1965, o regime militar reeditou a vedação que permaneceu até 1985, quando 201 municípios passaram a eleger prefeitos.

Prefeitos nomeados e Câmara de vereadores eleitos são o traço paradoxal das cidades brasileiras no século 20. Os conselhos municipais com forte autonomia vinham do período colonial. Os nomeados não sabiam sequer o nome da avenida principal das cidades, como debochou Lima Barreto, perplexo com "o interesse estranho que essa gente punha nas lutas políticas, nessas tricas eleitorais, como se nelas houvesse qualquer coisa de vital e importante".

Denis Lerrer Rosenfield - A esquerda fanática

O Estado de S. Paulo

O alinhamento não se faz mais segundo valores universais, apregoados por Marx e Engels, mas segue a linha do autoritarismo mais explícito

A diplomacia presidencial de Lula da Silva, com apoio entusiasta do PT e o auxílio inestimável de seus assessores esquerdistas, é um exemplo eloquente do que esse setor da esquerda brasileira se tornou. Se antes alguns comedimentos eram ainda resguardados, agora a máscara caiu. O alinhamento não se faz mais segundo valores universais, apregoados por Karl Marx e Friedrich Engels, mas segue, atualmente, a linha do autoritarismo mais explícito, no apoio inabalável a Vladimir Putin e Nicolás Maduro, além dos companheiros de sempre, como os sucessores dos irmãos Castro, e, mais aterrador, na aliança com o totalitarismo islâmico, a exemplo do Hamas, Hezbollah e Irã. As escolhas foram feitas!

André Gustavo Stumpf - Ameaça à democracia

Correio Braziliense

A guerra entre Israel e seus vizinhos não é novidade. Novidade é o Irã entrar no conflito. Foi o principal apoio dos Estados Unidos na região, quando ainda se chamava Pérsia

Os senhores da guerra, usualmente, não conseguem atingir seus objetivos por intermédio de tiros e bombas. Os norte-americanos invadiram o Iraque, saquearam o país, subtraíram o petróleo e suas riquezas históricas, mas não conseguiram se manter a salvo dentro daquele território. Foram obrigados a sair. Os franceses perderam no Vietnã, antes de os norte-americanos também serem derrotados. E os ingleses foram expulsos do Afeganistão, depois de tentarem subjugar o país. Em 1942, as tropas de Hitler dominavam praticamente toda a Europa. Ao fim do conflito, em 1945, a Alemanha foi dividida em dois países e o ditador se suicidou.

Nos anos 30 do século passado, o Oriente Médio era um deserto com reduzidas perspectivas econômicas. Os ingleses dominavam a região e não gostavam que estrangeiros de outras nacionalidades entrassem na área. Mas a Armada Real, que deixara de utilizar carvão como combustível e aderiu ao petróleo, teria de ser atendida. Em maio de 1932, a empresa Bahrain Company, canadense com origem norte-americana, descobriu petróleo na região. E abriu os olhos das empresas dos Estados Unidos que relutavam em investir em prospecção no deserto. Os americanos, logo depois, descobriram petróleo na Arábia Saudita e assinaram um tratado de proteção recíproca, que está em vigor até hoje.

*George Gurgel de Oliveira - A Paz como fundamento da democracia e da sustentabilidade

Os conflitos e as guerras regionais colocam em evidência a insustentabilidade da sociedade contemporânea.

Os horrores da guerra, acompanhados em tempo real, espetacularizados nos meios de comunicação para toda a humanidade, evidenciam o nível de barbárie do mundo em que vivemos, que pouco aprendeu diante das tragédias e a destruição desencadeadas durante as guerras mundiais no século XX, proporcionados pelo nazi-fascismo e o holocausto nuclear liderado pelos EUA contra o Japão.

As guerras em andamento envolvendo a Ucrânia e a Rússia, assim como Israel, a Palestina, o Irã e o Líbano são pontas do iceberg que expressam as contradições do mundo em que vivemos, onde ainda persiste a cultura da guerra fria, alimentada pelos EUA, subordinando a Europa à política de expansão militar da OTAN, diante um mundo multipolar, que apresenta a China, a Rússia, líderes do Sul Global, como atores a serem considerados neste insustentável cenário político internacional.

Poesia | Carlos Drummond de Andrade - E agora José

 

Música | Paulinho da Viola - Para ver as meninas