quinta-feira, 14 de novembro de 2024

O que a mídia pensa | Editoriais / Opiniões

Desperdício e má gestão explicam falta de vacinas

O Globo

Enquanto governo Lula jogou fora 59 milhões de doses, em quase metade dos estados há carência nos postos

Em quase dois anos de governo, o Ministério da Saúde não resolveu os problemas de logística que prejudicam o abastecimento de vacinas e levam ao desperdício. Responsável pela compra e distribuição das doses aos estados, a pasta tem argumentado que não há escassez generalizada e que tem comprado novos lotes. Mas a todo momento vêm à tona casos de estoques zerados, em especial nas vacinas contra Covid-19. O cidadão que vai aos postos em busca de vacina é quem acaba punido.

Reportagem do GLOBO feita por meio da Lei de Acesso à Informação revela que o governo Luiz Inácio Lula da Silva deixou vencer 58,7 milhões de vacinas desde 2023, a maior parte delas — 45,7 milhões — contra Covid-19. O total jogado fora apenas nos dois primeiros anos do governo Lula supera todo o desperdício na gestão Jair Bolsonaro, que já descartara inacreditáveis 48,2 milhões de doses.

Federação é pacto e não ilhas - Fernando Abrucio

Valor Econômico

O Brasil precisa urgentemente da institucionalidade e fortalecimento do SUSP na segurança pública, bem como da criação um sistema nacional com articulação intergovernamental na política de mudança climática

Dos principais e mais complexos problemas brasileiros, dois são centrais e não têm ainda uma governança mínima para seu tratamento: a segurança pública e a mudança climática. Em outras questões fundamentais, como a saúde, a educação e o combate à desigualdade social, certamente há muitas tarefas a realizar. Porém, tais setores já construíram políticas governamentais com avanços importantes e, sobretudo, sistemas básicos que os organizam. Em todos esses casos, as soluções passam inexoravelmente pela estrutura federativa. Se o país quiser lidar melhor com os desafios do século XXI, seus líderes terão de entender para que serve uma federação.

Os debates recentes sobre mudança climática e segurança pública revelam que muitas lideranças com postos elevados na República brasileira não compreenderam ainda o significado do federalismo. A palavra federação vem do latim “foedus”, cujo significado etimológico é pacto. Foi com essa ideia que no final do século XVIII os federalistas americanos criaram um novo experimento político que buscava garantir a autonomia e as liberdades locais e, ao mesmo tempo, construir uma nação governada por uma interdependência equilibrada entre as partes territoriais.

O ajuste que pode definir rumo de Lula em 2026 - Maria Cristina Fernandes

Valor Econômico

Colheita do presidente terá que ficar para o último ano do governo se quiser salvá-lo

Na manhã desta quinta-feira, dona Norma (nome fictício) chegou danada da vida à casa em que trabalha como empregada doméstica. “Se Lula mexer no meu salário, não voto mais nele. Acordo às 4h da manhã e [Fernando] Haddad e Simone [Tebet] querem cortar meu salário”. Sua patroa tentou lhe explicar que a proposta em curso manterá o ganho real, mas acabou convencida de que ela tem razão.

Naquela manhã, Dona Norma havia recebido mensagem num grupo de WhatsApp com a “notícia”. Católica, mora em Formosa, a 78 km de Brasília, onde trabalha. Votou no presidente Luiz Inácio Lula da Silva em 2022, mas tem filha e genro policiais militares e eleitores de Jair Bolsonaro, que agraciou um parente com o “Auxílio Brasil”, nome que o ex-presidente deu ao Bolsa Família.

Dois dias antes, o senador Cleitinho (Republicanos-MG) subiu à tribuna no Senado para criticar a escala 6x1 de trabalho, movimento nascido no Psol. Disse que o pai, comerciante no sacolão de Divinópolis (MG), morreu aos 70 anos fazendo uma escala 7x0 e, por isso, nunca lhe levou a um jogo de futebol nem lhe ajudou nas lições da escola.

Cleitinho chegou ao Senado no bonde bolsonarista depois de derrotar o atual ministro de Minas e Energia, Alexandre Silveira (PSD), em 2022, numa campanha feita com paródias, para as redes sociais, sobre corrupção e petistas.

A sombra de Trump no Brasil - José de Souza Martins

Valor Econômico

De repente, o presidente eleito dos EUA está sendo cortejado como cabo eleitoral em terra alheia

É rica e reveladora a entrevista de Jair Bolsonaro a Camila Mattoso e Ranier Bragon, da “Folha de S. Paulo”, sobre a eleição de Donald Trump à presidência dos EUA. Suas respostas indicam que a fala é sobre ele e não sobre Trump. Nela, este aparece mais como um ajudante de ordens do brasileiro na obra de transformação do mundo num mundo de direita.

A figura de Bolsonaro tem sido enigmática. Figura de manipulação de subentendidos, nunca fica claro quem ele realmente é. Não se assumiu como presidente de uma república democrática, constituída por três poderes independentes entre si. A república de Bolsonaro é singular, de um poder só.

Fica claro que o mundo de Bolsonaro é hierárquico, definido por concepções de quartel. Para ele, Trump não é apenas o homem mais poderoso do mundo. Mas o é de um poder duplicado pelo fato de que terá por quatro anos a responsabilidade de tomar decisões sobre o país mais rico do mundo, com o arsenal mais poderoso do mundo, mas também porque ele é pessoalmente senhor de imensa riqueza.

Uma escolha reveladora - Merval Pereira

O Globo

O uso do X por Musk para fazer a campanha de Trump, e a favor de valores da direita internacional, até no Brasil, para defender Bolsonaro e atacar o STF, mostra claramente que ele comprou o antigo Twitter para fazer política e defender seus interesses

Entre as escolhas de Donald Trump para seu futuro governo nos Estados Unidos, uma chamou a atenção pelo inusitado da situação: a indicação do homem mais rico do mundo, Elon Musk, para uma secretaria criada para ele com intuito de melhorar a eficiência do governo. Seria o caso de cortar todos os contratos que suas empresas têm com o governo americano, para evitar conflitos de interesse. Mas isso não acontecerá, e a falta de escrúpulos do presidente eleito e do futuro secretário denota uma disposição de implementar a todo custo medidas drásticas, com pessoas de confiança absoluta.

O uso da plataforma X por Musk para fazer a campanha de Trump, a favor de valores da direita internacional, até no Brasil, para defender Bolsonaro e atacar o STF, mostra claramente que ele comprou o antigo Twitter para fazer política e defender seus interesses. Não tem qualquer responsabilidade sobre o que publica, desde que seja a seu favor. Agora, Musk indo para o governo, o X perde completamente a credibilidade.

Armínio: cortar na saúde seria crime - Míriam Leitão

O Globo

Ex-presidente do BC salienta que não é de hoje que o SUS é subfinanciado e seria criminoso cortar recursos da Saúde

O economista Armínio Fraga, que sempre trata com rigor a questão fiscal e defende a redução das despesas públicas, acha que o corte não pode ser feito no orçamento da Saúde. “Mais do que um erro, seria um crime”, diz ele. Armínio, ex-presidente do Banco Central, é também conhecido por se envolver na defesa de políticas públicas na área da saúde. Eu o entrevistei sobre a economia brasileira, mas também sobre a conjuntura americana depois da eleição presidencial. “Só ouvir o nome de Trump nesse momento, sugere que vamos entrar em rota de alta turbulência”.

Armínio disse que todas as indicações de Donald Trump, até agora, mostram com muita clareza que ele pretende implantar o programa de altas tarifas comerciais contra os outros países, especialmente a China. Uma lição da história, que ele lembrou, foi da lei Smoot-Hawley que elevou tarifas americanas durante o crash da Bolsa de Nova York, em 1929.

— Foi um fator que aprofundou a recessão tremendamente. Espalhou a crise no mundo, fez com que a Grande Depressão, que nasceu nos Estados Unidos, acabasse se tornando uma crise mundial. O Brasil naquela época se isolou um pouco do mundo, mas eu não creio que isso seja possível hoje.

A escala 6 x 1 emparedou o governo - Malu Gaspar

O Globo

O presidente Lula já tinha problemas suficientes para resolver, com seus ministros se digladiando internamente em torno dos cortes de gastos, quando ganhou as redes sociais e a atenção do Congresso a proposta da deputada do PSOL Erika Hilton que acaba com a escala de seis dias trabalhados para um de folga, a famosa 6 x 1.

Saudada como uma lufada de ar fresco, capaz de superar a reconhecida desconexão da esquerda com as novas demandas do mundo do trabalho, a pauta também foi encarada no governo como uma forma de dispersar a atenção da opinião pública e do mercado sobre sua própria incapacidade de definir onde e como enxugar o Orçamento para caber nos limites do arcabouço fiscal.

Motta unifica o “Centrão” com desistência de Brito - Luiz Carlos Azedo

Correio Braziliense

Consolidou-se a hegemonia do chamado Centrão na Câmara, mas é um erro tratar as forças políticas de centro e centro-direita como um bloco monolítico

O deputado Antônio Brito (PSD-BA) anunciou, nesta quarta-feira, a retirada de sua candidatura a presidente da Câmara e o apoio da bancada do PSD ao deputado Hugo Motta (Republicanos-PB), o que fecha uma grande aliança partidária, que vai do PT ao PL, para compartilhar o poder na Mesa Diretora e nas comissões legislativas da Casa. Com isso, o atual presidente da Câmara, Arthur Lira (PP-AL), mantém sua influência no Legislativo e terá cacife para negociar com o presidente Luiz Inácio Lula da Silva uma eventual reforma ministerial, da qual faça parte.

Motta terá uma liderança compartilhada com Lira, que o ungiu candidato diante do fracasso de outros aliados que pleiteavam sucedê-lo, como Elmar Nascimento (União-BA), Marcos Pereira (Republicanos) e, agora, o baiano Brito. O “dedazo” evitou uma disputa que também não interessava ao Palácio do Planalto nem ao ex-presidente Jair Bolsonaro, uma vez que a derrota do PT ou do PL, em caso de racha no bloco de Lira, poderia resultar na perda de controle de comissões importantes, como as de Constituição e Justiça e de Fiscalização Financeira e Controle, para quem perdesse a disputa.

O governo Lula corre atrás dos fatos - William Waack

O Estado de S. Paulo

Não há escolhas fáceis para o atual governo de Lula 3; haja fôlego para se correr tanto assim

A tramitação da PEC que prevê o fim da escala 6 x 1 é apenas o mais recente exemplo de como o governo Lula 3 corre atrás dos fatos, dentro e fora do País. No caso da redução da jornada de trabalho é patente a tentação no Planalto de surfar o impacto nas redes sociais com a promessa de fácil ganho eleitoral mais adiante. Mas corre atrás do fato muito sério da estagnação da produtividade no Brasil em relação às economias mais avançadas. Coisa chata de tratar que dá pouca visualização nas redes.

A utopia e o fim do regime 6x1 - Celso Ming

O Estado de S. Paulo

A proposta de redução da jornada de trabalho a 36 horas semanais vai produzindo um montão de espuma com pouca possibilidade de substância.

A ideia da deputada federal Erika Hilton (PSOL/SP) é aprovar Projeto de Emenda da Constituição (PEC), que já contaria com 194 assinaturas (apoio de mais de 1/3 da Casa Legislativa) para protocolar a proposta. Instituiria o regime obrigatório de duração do trabalho normal não superior a oito horas diárias por quatro dias por semana, sem redução dos salários.

Hoje, a Constituição define uma jornada de trabalho não superior a oito horas diárias por seis dias na semana. É a escala 6X1, ou seis dias trabalhados com um de descanso, que seria revogada pela PEC, se aprovada.

O entretenimento como religião - Eugênio Bucci

O Estado de S. Paulo

Não foi o espetáculo televisivo que atendeu com diligência às demandas das profissões de fé – estas é que serviram aos desígnios do espetáculo

Por graça ou interesse, as igrejas se valem dos meios de comunicação para ganhar fiéis. Sabemos disso há coisa de cem anos. Foi nos Estados Unidos, pelas ondas do rádio, que a prática se tornou um expediente assíduo, ainda na primeira metade do século 20. Na década de 1960, os televangelizadores, à imagem e semelhança de Billy Graham, cresceram e se multiplicaram em escalas miraculosas. O cristianismo de raízes protestantes e feições evangélicas se apossou de um filão inteiro das redes de TV, num empuxo que se replicou mundo afora. Então, o linguajar plangente, a cenografia ambientada em templos vastos, o figurino em traje passeio completo e a coreografia expressionista fincaram seus púlpitos em plagas longínquas – algumas verdadeiramente remotas, como as brasileiras. Por aqui, quando baixa o horário nobre, pregadores oram e peroram em quase todos os canais abertos. Todas as religiões, ou virtualmente todas, requisitam os préstimos e os auxílios das tecnologias midiáticas em prol da fé. O divino é um campeão de audiência. O demônio também – depende do ponto de vista do freguês.

Reforçando a credibilidade nas políticas - José Serra

O Estado de S. Paulo

A política econômica não pode se dar ao luxo de apenas assistir à deterioração dos cenários interno e externo, praguejando contra o aumento da taxa de juros

Os últimos dias adicionaram muitas interrogações sobre a condução da política econômica. As curvas de juros futuros indicam que a expectativa do “mercado” é de que a taxa Selic suba a 14% ao ano dentro do ciclo expansivo inaugurado pelo Banco Central. Certamente, este não é o Brasil dos sonhos do presidente Lula que resolveu atacar o próprio mercado.

As expectativas já vinham um tanto azedadas por conta da situação fiscal, em meio às crescentes dúvidas sobre a capacidade do governo Lula de controlar os gastos e colocar barreiras contra o enorme apetite dos outros por recursos públicos. A desconfiança com respeito à factibilidade das metas postas pelo arcabouço fiscal está em sintonia com o descrédito em relação ao leque de gastos considerados como exceções aos limites estabelecidos pela Lei de Diretrizes Orçamentárias.

Às dificuldades fiscais vêm se somar as vulnerabilidades do nosso setor externo, especialmente refletidas no câmbio. A vitória de Donald Trump reforça o temor de que o protecionismo comercial e o dólar forte signifiquem grandes problemas para a política cambial.

Lula, inflação e eleitores de direita – Vinicius Torres Freire

Folha de S. Paulo

Pesquisas ainda registram otimismo, mas cresce percepção de alta de preços

A maioria dos brasileiros está otimista com a situação de sua vida. Mas fica menos otimista desde fevereiro. Está cada vez mais preocupado com a inflação. Mas, em uma lista de prioridades para o governo, o custo de vida está em apenas quarto lugar.

Além do mais, o aumento da média dos salários bem além da inflação não aparece no prestígio de Luiz Inácio Lula da Silva. Além da hipótese preços, o estrago pode ter sido causado pela disputa política, acirrada pela eleição.

Em outubro, 43% dos brasileiros diziam que sua vida e de sua família era melhor do que no ano anterior; para 36%, estava na mesma. São percepções parecidas com as dos melhores meses sob Lula, em fins de 2023. A perspectiva para o final do ano era de melhora para 62% dos entrevistados; em fevereiro, para 75%.

A pesquisa é do Ipespe, para a Febraban, feita entre os dias 15 e 23 de outubro. A margem de erro é de 2,2 pontos.

Um fiapo miúdo na farra das emendas – Bruno Boghossian

Folha de S. Paulo

Fiscalização da CGU puxou só um fiapo miúdo da distribuição descontrolada do dinheiro

Controladoria-Geral da União puxou um fiapo miúdo da farra das emendas parlamentares. Em três auditorias, o órgão colheu amostras de desperdício de dinheiro, direcionamento de verba pública, descontrole de gastos e suspeitas de desvios. Uma parte dos recursos foi para a conta de ONGs sem estrutura ou obras que não começam nunca.

A fiscalização nem começa a arranhar a superfície do problema. Por ordem do Supremo, a CGU analisou uma amostra de repasses de emendas para 30 municípios (R$ 787 milhões) e 20 ONGs (R$ 515 milhões) em anos recentes. É um rio de dinheiro, mas o valor representa menos de 0,8% da fortuna de R$ 167 bilhões empenhados de 2020 a 2024.

Os novos trumpistas vieram de baixo - Maria Hermínia Tavares

Folha de S. Paulo

A capacidade de construir coalizão multiétnica com raízes populares deu força a Trump

Fosse outro o adversário de Kamala Harris, o resultado das eleições americanas não teria causado surpresa nem comoção. Afinal, o desfecho da disputa seguiu o padrão verificado em outros países nos quais a derrota dos incumbentes —ou dos candidatos por eles indicados— vai se tornando regra. Nos Estados Unidos, pesava contra a democrata a avaliação negativa do presidente Biden, o mau humor generalizado com a economia e o pessimismo da maioria com a sua própria situação: receita conhecida para uma vitória oposicionista.

Só que o vencedor foi Donald Trump, um homem sem qualidades, ameaça à democracia e, pior, aos princípios básicos da convivência civilizada. Assim, a extensão dos efeitos negativos de seu regresso à Casa Branca —bem como as razões de seu êxito— têm produzido uma enxurrada de análises no Brasil e pelo mundo afora.

Deus criou o mundo em 6x1, mas era todo poderoso e não batia ponto - Marcos Augusto Gonçalves

Folha de S. Paulo

Mudanças em regimes de trabalho são historicamente rejeitadas pelo status quo da economia

Deus criou a Terra, o céu e todas as formas de vida em seis dias. No sétimo dia descansou, nos legando generosamente a folga dominical, já que ele mesmo era todo poderoso, não batia ponto e não ganhava salário mínimo.

A reivindicação do fim da jornada 6x1, como se sabe, acaba de virar uma PEC a ser encaminhada ao Congresso.

Modificar esse regime e discutir a redução da jornada semanal é uma questão contemporânea relevante, com passado histórico e implicações humanas e civilizatórias. Alguns comentadores, refratários a mudanças, reagiram intempestivamente, considerando que a ideia seria irrealista e prejudicaria a economia.

Líderes autoritários voltam como zumbis vingativos após derrotas prévias - Rui Tavares

Folha de S. Paulo

Foi o que aconteceu com Orbán, Erdogan, Netanyahu e Putin; veremos o que acontece com Donald Trump nos EUA

Quando Viktor Orbán regressou ao poder na Hungria em maio de 2010, ninguém atribuiu enorme significado ao acontecimento. É comum, nomeadamente em regimes parlamentares, a reeleição de políticos que tenham sido derrotados numa eleição anterior.

Orbán fora antes primeiro-ministro por um mandato, entre 1998 e 2002, e poucos fora da Hungria conheciam o discurso amargo que ele fizera ao perder as eleições no fim desse mandato. "A nação não pode estar na oposição!", disse na ocasião, deixando claro que, para ele, apenas o seu partido representava a verdadeira Hungria e que qualquer outro partido que estivesse no poder em seu lugar seria composto por traidores e, no fundo, usurpadores.

Correndo para trás das calças de Trump – Ruy Castro

Folha de S. Paulo

Para Bolsonaro, o Brasil deve babar, como ele, diante do homem mais poderoso do mundo

Foi notável como, assim que soube da vitória de Donald Trump, na semana passada, Jair Bolsonaro se transformou. Deixou de ser o homem que os serviçais flagravam chorando pelos cantos, a cada passo das investigações que o deixam mais perto de ser preso, e voltou a ser o velho bazófio e arrogante de seu palanque presidencial. Seu primeiro ato foi convidar-se para a posse de Trump e se julgar no direito de ter de volta o passaporte para viajar. "O STF", leia-se Alexandre de Moraes, "não terá a ousadia de negar. Quem vai contrariar o homem mais poderoso do mundo?", disse.

Meia-volta, volver! – Ivan Alves Filho*

Aprendi com um mestre do valor de Nelson Werneck Sodré que mesmo quando realizamos algum trabalho "setorial", algum estudo de caso em matéria de História, não podemos perder de vista a visão de conjunto. Caso contrário, a História deixa de ser um processo, tornando-se incompreensível. Ou seja, é preciso unir sempre o particular ao geral. E isso é válido também para a militância, a atuação política ou social de cada um de nós. Tudo é parte da luta e não há luta à parte, sempre observo isso.

Há um aspecto regressivo em algumas propostas identitárias atuais, por exemplo. Assim, elas, muitas vezes, desembocam em engajamentos que lembram as lutas pré-políticas. Nesse sentido, alguns estudiosos parecem se empenhar em abolir a história das lutas de classes. E as relações entre as classes são, essencialmente, relações de exploração. Os partidários da visão racialista, pela “direita” ou pela “esquerda” querem nos fazer crer que existe de um lado o eurocentrismo e de outro o identitarismo pós-colonial, decolonial ou algo nessa linha confusa e diversionista. E nada mais.

Poesia | Um Boi vê os homens, de Carlos Drummond de Andrade

 

Música | Moacyr Luz e Banda - A reza do samba