O Globo
A sociedade tem direito a voz a respeito de
seu futuro? Esta é uma das principais questões nas cédulas americanas, hoje. Se
as empresas do Vale podem fazer o que quiserem. Ou se não podem
À medida que os americanos depositarem seus
votos nas urnas, durante o dia de hoje, de certo modo o futuro da indústria da
tecnologia será decidido. Muitos dos casos antitruste movidos contra as grandes
empresas da região seguirão com mais ou menos agressividade dependendo de quem
será o próximo presidente dos Estados
Unidos. E não é só isso. O Vale do Silício rachou ideologicamente
pela primeira vez na História.
Nenhum estado é tão explicitamente americano quanto a Califórnia. Quando o México declarou independência, aquele era um canto tão longínquo que a elite branca se recusou a ocupá-lo. Foi o tempo dos dons, fazendeiros de gado de chifres longos, equivalentes a nossos coronéis do Nordeste ou caudilhos do Sul. Não durou muito. Os americanos viram na Baía de San Francisco um portal dos Estados Unidos para o comércio com a China através do Pacífico. Desde cedo, a Califórnia foi multicultural. San Francisco já nasceu uma cidade em que se falava, em qualquer esquina, espanhol, inglês e cantonês, em que sempre se comeram burritos e dim sum. Jamais deixou de ser assim, um caldeirão onde as culturas se misturam.