terça-feira, 16 de julho de 2024

O que a mídia pensa | Editoriais / Opiniões

Senado precisa rejeitar PEC da Anistia

O Globo

Proposta aprovada na Câmara livra partidos de obrigações legais e contraria anseios do eleitorado

É missão do Senado rejeitar a Proposta de Emenda à Constituição (PEC) da Anistia — ou então esquecê-la. Aprovada na Câmara, ela grava na Constituição mudanças na legislação que beneficiam o caixa dos partidos políticos em detrimento do eleitor. Mais grave, perdoa irregularidades cometidas nas últimas eleições e desfaz incentivos a candidaturas de minorias. “A PEC é um retrocesso de décadas em relação a regras que o próprio Congresso havia construído no plano das ações afirmativas”, diz o procurador Roberto Livianu, presidente do Instituto Não Aceito Corrupção. As ONGs Transparência Internacional, Pacto pela Democracia e Movimento Transparência Partidária consideraram a PEC “um grave retrocesso para a sociedade civil, para o sistema partidário, para o Congresso Nacional e, consequentemente, para a democracia brasileira”.

Jorge J. Okubaro - Restaurar a confiança da população

O Estado de S. Paulo

Declaração de Berlim adverte para os perigos do populismo e deixa um desafio: ‘Precisamos urgentemente ir à raiz das causas do ressentimento’

Embora o avanço eleitoral da extrema direita na França tenha sido contido por uma espetacular recuperação da esquerda e do centro no segundo turno, são crescentes os riscos à estabilidade das democracias ocidentais provocados por políticos populistas, como Marine Le Pen, que exploram a raiva e as angústias das pessoas. Nessas democracias cresce a desconfiança em sua capacidade de atender aos anseios populares e de debelar as crises que ameaçam nosso futuro. Esse é o tema da Declaração de Berlim, assinada por economistas renomados. Divulgada no fim de maio, antes das eleições francesas, a declaração adverte para os perigos do populismo, como o de Le Pen e de Donald Trump. E deixa um desafio para as pessoas preocupadas com a paz e a prosperidade no mundo: “Precisamos urgentemente ir à raiz das causas do ressentimento da população”.

Mario Mesquita - Raro, mas acontece

Valor Econômico

Depois de muito tempo, um eventual anúncio de política de intervenção cambial nos EUA voltou ao debate

O Fed apura, há décadas, um indicador de competitividade do dólar. Esse índice é baseado na taxa de câmbio real entre o dólar e outras moedas, ponderado pelo peso das diversas economias no comércio bilateral com os EUA. O indicador está atualmente em 117,99, apenas 2,5% abaixo do máximo recente, observado em outubro de 2022 - o pico do índice, desde 1980, foi 131,51, observado em março de 1985. O indicador encontra-se 16,5% acima da taxa média da série. Configura-se, portanto, um cenário de dólar bastante forte para o padrão histórico.

Nesse contexto, a imprensa tem reportado declarações de pessoas associadas à campanha do ex-presidente Trump indicando disposição de fazer algo para disciplinar ou enfraquecer a moeda. Segundo a governança dos EUA, intervenção cambial é uma decisão do governo, do Tesouro (por meio do Exchange Stabilization Fund), e não do Fed. O processo eleitoral segue muito incerto no país, mas vale pensar sobre o que poderia acontecer caso o novo governo resolva intervir no mercado cambial.

Alvaro Costa e Silva - O passado nunca está morto

Folha de S. Paulo

Plano estava esboçado desde a reunião ministerial de 2020

"O passado nunca está morto. Nem sequer passou", escreveu Faulkner. Para entender o presente é preciso voltar à reunião ministerial de 22 de abril de 2020, que é a mais sincera caricatura dos maus bofes e dos verdadeiros interesses de Bolsonaro.

Com a assistência num misto de entusiasmo e medo, ele espumava: "Eu não vou esperar foder a minha família toda, ou amigos, porque não posso trocar alguém na ponta da linha. Vai trocar! Se não puder trocar, troca o chefe dele. Se não puder trocar o chefe dele? Troca o ministro".

Dora Kramer - Anistia põe partidos no desvio

Folha de S. Paulo

Legendas precisam decidir se emergem ou se submergem na lama do descrédito

Um dilema se impõe aos partidos e a seus políticos: ou eles dão um jeito de acabar com os abusos ao dinheiro da coletividade ou o uso abusivo do financiamento público dessas agremiações acabará com o que resta da pouca credibilidade de que ainda dispõem junto aos brasileiros.

Caso sigam indiferentes, cedo ou tarde caberá à sociedade ou à Justiça, esta provocada por aquela, dar um fim ao impasse retirando do Legislativo a vantagem da iniciativa.

Carlos Andreazza - Pachecando

O Estado de S. Paulo

Foram maquiando o bicho, perfumando a mordida. E então, de repente, pimba

Rodrigo Pacheco avisa que a PEC do Esculacho não terá tramitação acelerada no Senado. Pretende se distinguir do atropelador Arthur Lira assim, com essa miséria. (Anseio inútil, unidos eternamente pela institucionalização do orçamento secreto; sem miséria.) O texto – comunica – passará pela Comissão de Constituição e Justiça. Oh!

Também passou pela CCJ da Câmara. E daí?

O cumprimento mínimo do rito legislativo alçado a medida distintiva. Coisa de estadista. É como vamos, tal o rebaixamento das expectativas. A PEC do Esculacho doravante desfilando sem açodamento. Oh! Talvez seja o caso de agradecer.

Obrigado, Pacheco, por assegurar que uma emenda à Constituição receba os cuidados de Davi Alcolumbre antes de ir a plenário. É como vamos. Constituição e Justiça via Alcolumbre, por oposição a Lira.

Merval Pereira - Tramas radicais

O Globo

Não acredito que atentados a Trump e Bolsonaro tenham sido farsas políticas, como setores da esquerda querem fazer crer

Não acredito que Bolsonaro tenha sido eleito presidente da República em 2018 devido ao atentado à faca que sofreu na campanha presidencial. A ausência de Lula na urna eletrônica já mostrava que o PT não teria candidato para substituí-lo à altura, não digo do ponto de vista de qualidades morais ou cívicas, pois Fernando Haddad era um excelente candidato, mas olhando a capacidade eleitoral.

Assim como não acredito que, se Donald Trump for eleito, como tudo indica, terá sido devido ao atentado que sofreu no fim de semana. Muito menos que ambos os atentados tenham sido farsas políticas, como setores da esquerda querem fazer crer. A insistência nessa teoria da conspiração, em ambos os casos, demonstra que a esquerda não consegue encarar a realidade e fazer dela seu alimento para a ação política. Precisa que conspirações justifiquem seus erros.

O atentado na Pensilvânia, assim como o de Juiz de Fora, é consequência da radicalização política que toma conta das eleições nos Estados Unidos e no Brasil e põe em risco a democracia em ambos os países, um fenômeno provocado por forças políticas que não aceitam a derrota como natural em disputas eleitorais e estimulam mentes doentias.

Pedro Doria - O ralo das democracias

O Globo

Já perdemos um bom naco da direita para as teorias conspiratórias. Se a esquerda for pelo mesmo ralo, o que sobrará?

As redes sociais americanas explodiram neste fim de semana em teorias conspiratórias a respeito da tentativa de assassinato do ex-presidente Donald Trump. Teorias conspiratórias à esquerda. Não foi só lá — pulsaram, e em quantidade, também aqui no Brasil. “Armação”, “teatro”. “É tinta vermelha no rosto dele.” Os sociólogos americanos que estudam desinformação on-line se saíram com um apelido para a onda — BlueAnon. Uma mistura da cor azul, atribuída ao Partido Democrata, com QAnon. A diferença é que, na versão de esquerda, não há satanistas e pedófilos. De resto, é o mesmo princípio de um grupo poderoso escondido, secretamente orquestrando o que parece caos na realidade.

Teorias conspiratórias são uma ferramenta de proteção mental. O mundo é muito complicado, coisas acontecem de repente. A explicação para o lado complicado do mundo às vezes é complexa, às vezes é contestada, às vezes é desconhecida. Às vezes é só fruto do acaso. Aleatório. Uma conspiração simplifica tudo: se organizaram sem que nenhum de nós soubesse. Foi tudo planejado.

Maria Cristina Fernandes - Trump se vale da arma da ambiguidade

Valor Econômico

O homem que potencializou a mentira no discurso político contemporâneo agora tem a verdade a seu favor

Nem que reúna todos os gênios da comunicação política, a convenção republicana será capaz de reproduzir a cena do atentado contra o ex-presidente americano, Donald Trump: o punho ergue-se acima do rosto ensanguentado, os dentes mordem os lábios para fazer soar “fight” (“lutem”), a bandeira americana está hasteada à direita e a agente do serviço secreto com algemas presas no seu cinto o cerca não para prender o condenado por 34 crimes mas protegê-lo de um atirador.

Toda a cena foi emoldurada por um céu azul sem nuvens sobre uma plateia de onde saiu a única vítima fatal, um bombeiro que se jogou sobre as filhas para protegê-las. O inimigo mirou Trump mas atingiu a família americana. A plateia reagiu instantaneamente gritando a sigla, em inglês, de Estados Unidos da América, USA.

Joel Pinheiro da Fonseca - Quem aposta na violência?

Folha de S. Paulo

Mesmo se ex-presidente morresse, os valores democráticos estariam mortos de maneira mais profunda

Reagan venceu de lavada a eleição de 1984, depois de ser alvo de um atentado. Bolsonaro, lembramos bem, venceu com folga em 2018. Já eram favoritos, e o atentado contra suas vidas apenas selou a vitória. Com Trump, deve ocorrer o mesmo.

O alvo de uma tentativa de assassinato fracassada sai mais forte do que entrou. "O médico no hospital disse que nunca vira algo assim, ele chamou de milagre." Como se opor à vontade de Deus? Seu exemplo de sacrifício inspirará os apoiadores. Já a oposição terá que maneirar em suas críticas para não parecer desumana. Para completar, sua reação vigorosa no momento do atentado contrasta com a fragilidade de Biden.

Hélio Schwartsman - Trump mais forte

Folha de S. Paulo

Atentado tende a trazer benefícios eleitorais para republicano, mas disputa ainda não está definida

atentado desferido contra Trump amplia as chances de o republicano vencer a disputa eleitoral de novembro, mas seria precipitado declarar que o jogo já está definido. O paralelo com o ataque sofrido por Jair Bolsonaro em 2018 só vai até certo ponto.

Bolsonaro, que foi esfaqueado um mês antes do pleito e passou semanas acamado para recuperar-se das cirurgias a que teve de submeter-se, era um candidato relativamente desconhecido num contexto em que grande parte dos eleitores buscava um antipetista para votar. O atentado lhe deu projeção e o poupou de críticas e desconstruções. Trump foi atacado quatro meses antes do pleito e é tudo menos desconhecido dos americanos. A grande maioria deles já tem um lado e dificilmente mudará de posição.

Luiz Carlos Azedo - Era uma vez um sonho americano

Correio Braziliense

J.D. Vance foi escolhido para rejuvenescer a chapa republicana e ressignificar o sonho americano, depois de um atentado que quase tirou a vida de Trump

Quatro presidentes norte-americanos já foram assassinados em pleno exercício da profissão: Abraham Lincoln ((Hodgenville, 12 de fevereiro de 1809 — Washington, D.C., 15 de abril de 1865), James Abram Garfield (Moreland Hills, 19 de novembro 1831 — Washington, D.C., 19 de setembro de 1881), William McKinley (Niles, 29 de janeiro de 1843 — Buffalo, 14 de setembro de 1901) e John Fitzgerald Kennedy (Brookline, 29 de maio de 1917 — Dallas, 22 de novembro de 1963), de um total de 16 presidentes que sofreram atentados, entre eles Ronald Reagan.

A série Último ato (Manhunt) da Apple TV , baseada no livro A caçada ao assassino de Lincoln. 12 dias que abalaram os EUA, de James L. Swanson, mostra os bastidores de um dos assassinatos mais icônicos da violência política nos Estados Unidos. Monica Beletsky, criadora da produção, mergulha nos subterrâneos de uma conspiração que marcou um dos momentos importantes da história norte-americana.

Poesia | O veneno - Charles Baudelaire

 

Música | Elis Regina - Carinhoso (Pixinguinha)