terça-feira, 8 de outubro de 2024

O que a mídia pensa | Editoriais / Opiniões

Eleitor consagrou gestores eficientes nas prefeituras

O Globo

Mais que disputa ideológica entre direita e esquerda, pleito local reflete qualidade da administração

O quadro final das eleições municipais será definido apenas daqui a três semanas. Das dez cidades mais populosas, seis só conhecerão o nome do próximo prefeito no fim do mês. Mas, encerrado o primeiro turno, já é possível tirar algumas conclusões sobre o resultado.

Partidos de direita e centro-direita saíram fortalecidos. Os que mais elegeram prefeitos foram PSD (878), MDB (847), PP (743) e União Brasil (578). O PL, do ex-presidente Jair Bolsonaro, vem em seguida, com 510. Elegeu dois prefeitos de capitais (Maceió e Rio Branco), continua no páreo em nove, entre elas Fortaleza, Belo Horizonte e Goiânia, e venceu em mais oito dos 50 maiores municípios que definiram resultado no domingo. Mas ficou muito aquém dos planos anunciados de conquistar mais de mil prefeituras.

Ao todo, o arco que vai da direita ao centro — incluindo PL, Republicanos, MDB, PSD, União Brasil, PP, Podemos e Novo — elegeu 43 desses 50 prefeitos. A esquerda — PT e PSB —, apenas quatro. Juntos, os quatro principais partidos de esquerda — PT, PSB, PDT e PSOL — somaram 18,9% dos votos válidos no primeiro turno, ante 19,3% quatro anos atrás. O PT recuperou prefeituras — em 2020, elegeu 182 prefeitos; desta vez conquistou 248 e ainda disputa 13 municípios. Mas também ficou aquém do desejado: não elegeu prefeito em nenhuma capital, apenas em duas das 103 maiores cidades. Nas quatro capitais em que foi para o segundo turno, as chances não são promissoras.

Merval Pereira - Centro-direita se impõe

O Globo

O PSD elegeu o maior número de prefeitos. Seu presidente, Gilberto Kassab, é um exemplo dessa política que prevaleceu. Sabe fazer acordos e negociar com outros partidos

A explicação do ministro Alexandre Padilha, das Relações Institucionais, sobre o resultado das eleições, amplamente favorável à direita, faz sentido, embora na prática o governo do presidente Lula não represente um governo de uma ampla coalizão. Mas estará cada vez mais aberto a essa ampliação de forças fora da esquerda, não por convicção, mas por imposição da realidade política.

A polarização no Brasil não acabou, mas foi muito amenizada pelas campanhas municipais, porque os principais fatores dessa polarização, Lula e Bolsonaro, os dois líderes populares mais seguidos no país, não quiseram entrar na disputa direta, por cálculo político. Lula chegou a afirmar que esta eleição seria a definição sobre a polarização e que a disputa seria mesmo entre direita e esquerda.

Míriam Leitão - A eleição que desafia teses

O Globo

Nem tudo é como parece nas eleições municipais. É preciso cuidado antes de proclamar vencedores, a política tem muitas nuances

Esta eleição municipal está derrotando muitas teses. A direita ganhou a eleição? Sim, mas que direita e que centro venceram? A maioria das prefeituras vai ser controlada pelo PSD, MDB, PP, União Brasil e PL. Em geral, são partidos pragmáticos que ora fazem coalizão à esquerda, ora à direita, mas não houve um fortalecimento da direita antidemocrática. Mesmo o PL não é todo fechado com Bolsonaro. Porém, o problema é que o avanço desses partidos foi turbinado pelas emendas parlamentares. Primeiro distorceram a execução do Orçamento, depois interferiram nas tendências eleitorais. É aí que mora o perigo.

Luiz Carlos Azedo - Segundo turno desafia Lula a ampliar alianças

Correio Braziliense

A principal força municipalista do país agora é o PSD, do ex-prefeito Gilberto Kassab, chefe da Casa Civil do governador Tarcísio de Freitas. Desbancou o MDB

Três disputas eleitorais de segundo turno, em 27 de outubro, desafiam o presidente Luiz Inácio Lula da Silva a ampliar suas alianças para evitar uma fragorosa derrota política para seus dois principais adversários, o governador de São Paulo, Tarcísio de Freitas (Republicanos), aliado decisivo do prefeito Ricardo Nunes (MDB), que concorre à reeleição, e o ex-presidente Jair Bolsonaro, grande responsável pelo desempenho eleitoral do PL no primeiro turno, ao lado do presidente da legenda, Valdemar Costa Neto.

Em São Paulo, Nunes e Guilherme Boulos (PSol) se enfrentarão novamente, com Pablo Marçal (PRTB) fora da disputa, porém, com grande poder de influência. Marçal ficou fora do segundo turno porque o feitiço virou contra o feiticeiro, quando fez circular nas redes sociais, na véspera da eleição, com base em documento falso, fake news acusando Boulos de ter sido internado drogado numa clínica de recuperação. A denúncia caluniosa provocou forte reação na campanha de Boulos, que liderava a disputa e poderia até ficar fora do segundo turno, e dos demais candidatos, entre os quais o prefeito Nunes, que criticou duramente Marçal e avançou para a primeira colocação.

Pedro Doria - O dilema Marçal

O Globo

Pablo Marçal criou, em dois meses de campanha, uma penca de problemas novos para a Justiça Eleitoral. Agora temos dois anos pela frente para estudar o que ele liderou e impedir que as armadilhas que criou peguem a todos de surpresa quando a disputa presidencial chegar. Mas como é difícil se preparar para eleições no tempo digital! No TSE, há seis meses, a grande preocupação era com o surgimento da inteligência artificial generativa e os perigos que a tecnologia poderia apresentar na forma de desinformação. Fazia todo o sentido. Só que a principal ameaça à integridade eleitoral não veio por essa banda. Veio da cultura do marketing digital.

Quem trabalha com venda de produtos digitais costumava já classificar Marçal como melhor do ramo no Brasil desde antes de sua candidatura. Ele sempre fez muito dinheiro vendendo cursos on-line, vendendo e-books, vendendo horas passadas com ele. Vendendo toda sorte de coisas, quase sempre digitais. É um bom vendedor e especialista naquilo que chamam, nesse mundo, de “fórmula do lançamento”. É uma técnica para convencer clientes potenciais a comprar pelas redes sociais.

Maria Cristina Fernandes - Tarcísio mede forças com Bolsonaro

Valor Econômico

Se a derrota da extrema direita em 2022 foi creditada na conta do presidente Lula, a de 2024 pingou na do governador paulista

Se a derrota da extrema direita em 2022 foi creditada na conta do presidente Luiz Inácio Lula da Silva, a de 2024 pingou na de Tarcísio de Freitas. É o que há de impacto nacional, neste início do segundo turno, da eleição de domingo. Se o governador de São Paulo confirmar a eleição de Ricardo Nunes (MDB), esta vitória fará dele a principal liderança da metade à direita do país.

No início da campanha lhe foram mostradas as pesquisas com os prognósticos de Nunes e Pablo Marçal. A despeito de o prognóstico do candidato do PRTB parecer mais auspicioso, o governador apostou na reeleição do prefeito. Saiu da planilha, foi para a política e agora parte para consolidar sua liderança. Quanto mais for capaz de manter o ex-presidente Jair Bolsonaro fora da disputa paulistana, mais esta hegemonia se consolidará.

César Felício - Eleição 2024 abre o leque para sucessão em 2026

Valor Econômico

Até o momento o presidente cedeu pouco espaço para aliados e governa em minoria no Congresso

O PL do ex-presidente Jair Bolsonaro foi o partido mais votado no Brasil no primeiro turno das eleições municipais. A porcentagem de 14% em relação aos 111 milhões de votos válidos computados em todo o país impressiona pouco, é verdade, mas ganha relevância quando se compara com os 7,9% conseguidos pelo PT do presidente Luiz Inácio Lula da Silva. Se o Brasil tivesse uma lógica binária, seria uma diferença de quase 2 para 1.

Mas a lógica não é binária, embute várias nuances. O arco de partidos que apoiou a aliança de Lula em 2022 é um grande derrotado, mas a vitória de Bolsonaro tem muitos sócios. Se Lula é maior que o petismo, Bolsonaro é menor que o antipetismo. Basta ver o que aconteceu nos Estados.

A começar de São Paulo. O governador Tarcísio de Freitas (Republicanos) colheu ou está para colher muitas vitórias nos grandes centros, ancorado em outros partidos: o PSD , que recebeu 13,5% dos votos válidos, o Republicanos, com 10% e o MDB, com 13,4% são os principais. Esses três partidos, sobretudo os dois primeiros, deverão estar com Tarcísio em 2026 na eleição que o governador de São Paulo decidir disputar. Já em relação a Bolsonaro a conversa é outra, e em relação ao MDB do prefeito paulistano Ricardo Nunes não deve ter conversa. Tarcísio afirmou sua liderança no Estado, comentou um dirigente empresarial atento observador da política.

Andrea Jubé - ‘O centro é maior do que a direita e a esquerda’, diz Kassab

Valor Econômico

Para o presidente do PSB, Tarcísio de Freitas foi o cabo eleitoral mais influente em SP

Principal vencedor das eleições deste ano, com 878 prefeitos eleitos no primeiro turno, sendo três em capitais, o presidente nacional do PSD e secretário de Governo de São Paulo, Gilberto Kassab, disse ao Valor que os resultados revelaram que o centro é a maior força política do país, que errou quem tentou nacionalizar a disputa, e que o governador Tarcísio de Freitas (Republicanos) foi o cabo eleitoral mais influente em São Paulo.

Kassab vê o prefeito Ricardo Nunes (MDB) como favorito no segundo turno na capital paulista e destinatário da maioria dos votos do empresário Pablo Marçal (PRTB), mas alertou que “não existe eleição ganha”. Questionado sobre o aceno de Marçal ao emedebista, respondeu que agora é o momento de “somar todos os apoios”.

Carlos Andreazza - Terceiro turno

O Estado de S. Paulo

Pablo Marçal estava certo. Não haverá segundo turno em São Paulo. Não para ele. Tampouco terceiro turno. É imperativo republicano que a Justiça Eleitoral lhe imponha a inelegibilidade pelos crimes que cometeu.

A lei que protege os direitos de votar e ser votado a ser a mesma que punirá aquele que a instrumentalizou para difundir delinquências.

Não dá – a conta da honestidade intelectual não fecha – para protestar contra as canetadas autoritárias de Alexandre de Moraes e considerar parte do jogo que a disrupção de Marçal abarque denúncia fraudulenta contra adversário.

Eliane Cantanhêde - Dá para reencarnar o PSDB?

O Estado de S. Paulo

‘Novo PSDB’ e ‘novo tucano’ entram em campo com as eleições municipais

Gilberto Kassab foi decisivo para levar o PSD ao primeiro lugar do pódio das eleições municipais até aqui, vencendo em 888 cidades no País, 201 delas só no Estado de São Paulo, órfão do PSDB. E o governador Tarcísio de Freitas jogou um bolão na capital, burilando sua imagem como político, e um político leal.

A estratégia de Kassab vai de vento em popa: ocupar o vácuo do centro, fazer o PSD encarnar o falecido PSDB e reconstruir a persona política de Tarcísio como tucano, pronto para a, ou uma, eleição presidencial. O timing depende da inelegibilidade de Bolsonaro e de como, e com que força, o presidente Lula chegará a 2026.

Entrevista | Gilberto Kassab: Tarcísio deve se fortalecer para 2030, pois encarar o Lula nunca é fácil

Bernardo Mello, Caio Sartori e Thiago Prado / O Globo

Recordista de prefeituras neste ano, o comandante do PSD avalia que as eleições mostram esquerda menor e defende que governador de SP só dispute a Presidência da República daqui seis anos

Presidente nacional do PSD, que saiu das urnas como quem mais elegeu prefeitos, 878, em todo o país, Gilberto Kassab evita colocar o partido como postulante à Presidência da República em 2026 e acena a outras siglas que classifica como de “centro”, como o União Brasil — com quem costura uma aliança para disputar o comando da Câmara dos Deputados. Kassab defende ainda que o governador Tarcísio de Freitas (Republicanos) seja candidato à reeleição em São Paulo, em vez de embarcar na disputa contra Lula (PT), que “será candidato com certeza” e “não pode ser menosprezado”.

O PSD usará o número de prefeituras como ativo para lançar candidatura própria pela primeira vez à Presidência?

Se o PSD tiver candidato a presidente, hoje o nome é o do (governador do Paraná) Ratinho Jr. Mas também pode não ter. Em 2022, tínhamos nomes posicionados com alianças mais à direita, como o próprio Ratinho, e outros mais à esquerda, e por isso não lançamos. Se o Tarcísio concorrer, vou ponderar com o partido que o melhor seria apoiá-lo, mas o que eu vejo cada vez mais, pessoalmente, é uma preferência para que ele seja candidato a governador.

O que Tarcísio acha disso?

Ele tem dito que fica muito honrado com a lembrança, e não exclui nada, mas tudo leva a crer que vai optar pelo projeto do estado. Se ele perder a eleição presidencial em 2026, São Paulo perde também um grande governador. Ele pode chegar com mais musculatura em 2030, após oito anos de realizações e entregas no estado.

Joel Pinheiro da Fonseca - Ser de esquerda virou uma marca ruim

Folha de S. Paulo

A pílula real, amarga, é uma mensagem não exatamente nova, mas que só se intensifica: o Brasil está mais conservador

O Palácio do Planalto é mestre em dourar a pílula: comemorou o triunfo dos partidos de sua "base aliada" nas eleições municipais. Lembremos que essa base aliada - PSD, MDB e União Brasil - são aqueles amigos que conversam com a faca no pescoço do governo. Quanto a partidos de esquerda, o resultado foi bem menos favorável.

A pílula real, amarga, é uma mensagem não exatamente nova, mas que só se intensifica: o Brasil está mais conservador; pautas progressistas têm muita dificuldade. Ser de esquerda virou uma marca ruim. Políticos de esquerda têm que superar muito mais obstáculos para se comunicar com o eleitor médio.

Numa sondagem publicada em 4 de outubro, o jornal Valor perguntou aos partidos como eles se definem no espectro esquerda-centro-direita. Seguindo essa autodeclaração, vejamos como se saíram os partidos de esquerda e centro-esquerda (PT, PSB, PDT, PV, PCdoB, Cidadania, Rede e PSOL): ao todo, perderam 219 prefeituras. Agora vejamos os partidos de direita e centro-direita (PP, Republicanos, PL, Novo, União Brasil e PRD): juntos, ganharam 302 novas prefeituras.

Hélio Schwartsman - 2º turno não é outra eleição

Folha de S. Paulo

Fatos e padrões que marcaram primeira etapa do processo eleitoral não são apagados na segunda

Uma das frases mais repetidas em colunas de opinião e análises nas primeiras segundas-feiras de outubro de anos eleitorais é que o segundo turno é uma outra eleição. Receio que não seja bem assim. Segundos turnos são, como indica o adjetivo numeral, uma continuação do primeiro.

É claro que só o fato de o processo eleitoral ainda não ter sido encerrado mantém aberto o espaço para contingências, mas os fatos e padrões que marcaram a primeira votação não são simplesmente apagados.

Dora Kramer - Outra vez por um triz

Folha de S. Paulo

Marçal e Bolsonaro são a evidência de que a transgressão cobra um preço

Se o embate de 2022 entre Lula (PT) e Jair Bolsonaro (PL) não se repetiu no primeiro turno da eleição paulistana, ao menos uma simetria ocorreu: a ínfima quantidade de votos que impediram a reeleição do então presidente (menos de 2%) e o triz de pouco menos de 1% que colocou Guilherme Boulos (PSOL) e não Pablo Marçal (PRTB) no segundo turno.

São apontadas razões semelhantes. Há dois anos, os tiros de Roberto Jefferson (PTB) em policiais e a corrida de Carla Zambelli (PL) armada atrás de um desafeto. Agora, o falso atestado de alegada internação de Boulos por consumo de cocaína.

Alvaro Costa e Silva - O candidato que votou descalço

Folha de S. Paulo

Nos mandamentos do coach, terceiro lugar equivale ao último

Pablo Marçal não chegou a sentar na cadeira de prefeito antes da apuração dos votos —como Fernando Henrique Cardoso fez na disputa com Jânio Quadros, em 1985—, mas estava certo da vitória. Iria para o segundo turno, com chances totais de derrotar o adversário, fosse Guilherme Boulos ou Ricardo Nunes.

Incrivelmente levado a sério por alguns segmentos da sociedade e do eleitorado, Marçal seria o Midas da prosperidade, o Milei brasileiro, o novo líder da direita, o futuro presidente da República. O candidato que, de tão descontraído e confiante, apareceu em cima da hora para votar, e descalço.

Poesia | Façam Silêncio, de Pablo Neruda

 

Música | João Bosco, Roberta Sá e Trio Madeira Brasil - De Frente Pro Crime