quinta-feira, 3 de outubro de 2024

O que a mídia pensa / Editoriais / Opiniões

Melhor nota de risco não é motivo para complacência

O Globo

Agência Moody’s colocou Brasil a um passo do grau de investimento, mas incerteza fiscal persiste

Não surpreende a comemoração do governo com a decisão da agência de classificação de risco Moody’s de elevar a nota do risco soberano do Brasil para o nível imediatamente abaixo ao de bom pagador, ou grau de investimento. Há apenas cinco meses, a agência alterara a perspectiva brasileira para positiva, mas não era esperado novo anúncio tão cedo. Há motivo para celebração, mas também para cautela, devido à incerteza fiscal.

Na explicação para a decisão, a Moody’s destaca o desempenho acima das expectativas. Pelos seus cálculos, o PIB crescerá 2,5% neste ano. Alicerçado nas reformas dos últimos anos, o patamar deverá continuar alto, diz a agência. É fato que as mudanças nas leis trabalhistas no governo Michel Temer melhoraram o ambiente de negócios. A independência do Banco Central na gestão Jair Bolsonaro pavimentou o caminho para uma política monetária confiável. E a nova arquitetura tributária, proposta no atual mandato de Luiz Inácio Lula da Silva e em via de ser regulamentada no Congresso, deverá elevar o potencial de crescimento da economia. Mas não foi só isso.

Maria Hermínia Tavares - A Venezuela não é aqui

Folha de S. Paulo

Nada autoriza afirmar que haja falta de compromisso de Lula e do PT com a democracia no Brasil

Nos oito anos em que exerceu a Presidência, Fernando Henrique Cardoso nunca foi criticado por manter relações cordiais com seu homólogo venezuelano Hugo Chávez. FHC gosta de contar episódios jocosos que demonstram que os dois mandatários se davam muito bem, para além dos protocolos exigidos pelos cargos que ocupavam —mesmo que já então não fosse difícil prever para onde o populismo chavista conduziria Caracas.

A diplomacia presidencial de Cardoso seguia pelos trilhos tradicionais da política exterior brasileira para a América do Sul: boas relações com os vizinhos; não interferência nos assuntos internos de cada qual; busca de convergências sobre questões regionais. Isso não impedia que o ocupante do Planalto tivesse presença internacional ativa, projetando o país como uma grande nação democrática e abrindo caminho para o pleito brasileiro por reconhecimento internacional.

Merval Pereira - O fator Marçal

O Globo

Vencendo a eleição, Marçal passará a ser o candidato da direita à Presidência da República, queira Bolsonaro ou não

A eleição para a Prefeitura de São Paulo está tão estranha que uma eventual ida do candidato Pablo Marçal ao segundo turno poderá abrir “as portas do inferno” no campo da direita. Se for contra o psolista Guilherme Boulos, deverá unir a direita e colocar em situação delicada tanto o ex-presidente Jair Bolsonaro quanto o governador de São Paulo, Tarcísio de Freitas, principal apoiador do prefeito Ricardo Nunes.

Vencendo a eleição, Marçal passará a ser o candidato da direita à Presidência da República, queira Bolsonaro ou não. A estratégia do ex-presidente — jogar até o último momento com a esperança de que possa vir a ser absolvido pela Justiça para concorrer à Presidência, como fez Lula em 2018 — irá por água abaixo. A direita já terá seu candidato, que, para chegar à Prefeitura paulistana, terá convencido a maioria dos direitistas de que hoje é ele quem pode derrotar Lula e o PT, não mais Bolsonaro.

Malu Gaspar - Procurando Lula

O Globo

Nesta reta final das eleições municipais, com disputas indefinidas e emboladas em capitais cruciais como São PauloBelo Horizonte e Fortaleza, não foram poucos os candidatos de partidos de esquerda que batalharam por um vídeo, fala de apoio ou pela presença de Lula num evento de campanha. O presidente da República, porém, frustrou quase todo mundo.

Nas últimas duas semanas, emendou uma viagem internacional atrás da outra e passou mais tempo entre Estados Unidos e México do que no Brasil. Também não deu nenhuma declaração sobre as eleições e foi obrigado a cancelar a live que faria com Guilherme Boulos (PSOL) na noite de ontem por causa da emergência com o avião que o trazia do México.

O resultado é que a única participação de Lula neste sprint final da campanha antes do primeiro turno será um ato com Boulos na Avenida Paulista, no sábado.

Bruno Boghossian - As eleições do crime, do caixa dois e da porrada

Folha de S. Paulo

Ameaça da inteligência artificial não é nada perto da barbárie medieval das disputas municipais

Aconteceu em Alagoas. Uma semana antes do primeiro turno, um juiz eleitoral mandou suspender a campanha no município de Taquarana. Ele relatou "agressividade exagerada", "denúncias de perseguições" e "uso de arma de fogo" na disputa. Proibiu carreatas, passeatas e comícios. Pediu o reforço de tropas federais e determinou: ninguém poderá comemorar o resultado da votação em locais públicos.

Nos gabinetes da Justiça Eleitoral, muita gente acreditou que a inteligência artificial seria o maior desafio desta campanha. Mas uma boa parte da política do país está mais próxima de tempos medievais do que de qualquer revolução tecnológica.

Míriam Leitão - Barões da energia e a nossa conta

O Globo

O governo tem errado no setor de energia em decisões que podem favorecer grupos privados e elevando a conta para o consumidor

Na energia o governo tem errado muito. Erros que podem aumentar a conta de luz no futuro. Esse setor é um campo minado de interesses privados e tem um único pagador de todas as promessas: o consumidor. Todo o cuidado é pouco. Decisões erradas do governo têm riscos e custos. Entrar em briga para que a Aneel aceite o acordo das térmicas e da Amazonas Energia é mandar o consumidor pagar R$ 8 bilhões a mais do que pagaria para viabilizar um negócio que só favorece o J&F, dos notórios Joesley Batista e Wesley Batista.

Vinicius Torres Freire - Lula 3 tira nota boa na prova

Folha de S. Paulo

Governo ri do mercado, mas Moody's elogia reformas e pede contenção de gasto social

Uma dessas firmas que dão nota para o crédito de governos e empresas concedeu um ponto positivo para a nota da dívida pública do Brasil, como se sabe. Se ganhar mais um ponto dessa firma, da Moody’s, o empréstimo de dinheiro para o governo federal deixa de ser "especulativo" para ser "investimento".

Parte de Lula 3 ficou contente com o mimo; alguns lulistas, petistas e esquerdistas também, além de tripudiarem sobre "o mercado". Os donos do dinheiro, credores do governo, obviamente discordam da Moody’s, pois as taxas de juros aumentaram horrores desde abril deste ano.

A fim de ganhar outro ponto e ser promovido de categoria, o governo teria de melhorar a "credibilidade da situação fiscal", ainda "limitada". Isto é, seria preciso conter gastos obrigatórios, tais como os de Previdência, saúde e educação.

Eugênio Bucci - É hora de acabar com a publicidade das ‘bets’

O Estado de S. Paulo

Não há como livrar as pessoas da compulsão de apostar, mas, na publicidade abusiva, ao menos nela, a gente ainda consegue dar um jeito

As casas de apostas online estão ganhando todas. O Brasil se entregou: transformou suas crianças, seus adolescentes e seus jovens em cacife de jogatina e os deu de presente para os cybercrupiês, os barões das “bets”. Não é o governo que se perdeu sozinho, não é o Legislativo que ficou sem fichas, não é o Judiciário que dormiu no ponto, não é a sociedade que se deixou engrupir – todos juntos erraram e seguem errando. A essa altura, o País inteiro já percebeu o estrago e se pergunta: existe como desfazer a besteira que foi feita?

As medidas que abriram caminho para os cassinos virtuais vieram aos poucos, em ondas sub-reptícias. Os passos se sucederam num minueto entre a gatunagem e a inépcia, até que de repente ficou explícito: a roleta digital engoliu a Nação, numa calamidade de saúde pública polvilhada com lavagem de dinheiro a céu aberto. Alguns dos parlamentares que votaram a favor de benesses agora se declaram arrependidos. Acredite se quiser. O quadro é ruim, tão feio que faz o velho jogo do bicho parecer passatempo de coroinha – santa fezinha.

William Waack - 2026 será diferente

O Estado de S. Paulo

A eleição municipal paulistana indica desgaste das bolhas

O primeiro turno da eleição municipal paulistana traz um problema para Lula e Bolsonaro, os donos das duas grandes bolhas. Eles parecem menos influentes do que se supunha.

O cenário mais provável de um segundo turno continua sendo o da polarização “normal” da política brasileira (é considerada pequena a probabilidade de que o candidato da esquerda não chegue lá). Ainda assim, permanecerá a sensação de desgaste das duas figuras.

O de Lula é mais evidente até mesmo na sua disposição física de encarar campanhas domésticas, diante de um mundo lá fora a ser salvo por ele. A questão central para o petista, porém, é o notável enfado que causam suas ideias antigas e seu apego a um passado que existiu sobretudo na sua própria cabeça.

Maria Cristina Fernandes - A linha divisória da política nos municípios

Valor Econômico

Tarifa zero se expandiu pelas mãos da direita. A questão é saber o que determinou a dianteira

O presidente Luiz Inácio Lula da Silva mal tinha tomado posse quando o presidente da Câmara Municipal de São Paulo, Milton Leite (União), disse que se o prefeito Ricardo Nunes não adotasse a tarifa zero perderia para Guilherme Boulos. A proposta seria adotada um ano depois, aos domingos.

Manda-chuva da política local desde 2017, quando o ex-prefeito João Doria o apoiou para presidir a Câmara, Leite tem suas ligações no setor de transportes sob a lupa do Ministério Público do Estado, mas a sugestão também tinha faro político.

Apontava para a adoção de uma política pública que, reclamada pelas manifestações de junho de 2013, se espraiou sob gestões à direita. Em toda campanha, os candidatos eram acossados sobre reajuste de tarifa. Desta vez, nem precisou. Permanecerá congelada. A meta é expandir a gratuidade.

Luiz Carlos Azedo - Israel comemora ano novo com bombardeio a Beirute

Correio Braziliense

Nesta quarta-feira, o governo do Líbano informou que, nas últimas duas semanas, mais de 1 mil pessoas morreram e 6 mil ficaram feridas em ataques israelenses no país

Comida, som, oração, reflexão, celebração e bombas, muitas bombas, em Beirute e no sul do Líbano marcam este ano novo judaico, o Rosh Hashaná, o início do ano 5785 no calendário hebraico, celebrado entre esta quarta e quinta-feira. Shanah tovah é a saudação que significa um feliz ano novo para a comunidade judaica! O povo judeu comemora em setembro ou outubro, não em janeiro, em observância ao calendário hebreu lunissolar, que se originou com a criação bíblica do universo, uma semana mais curta do que o calendário gregoriano, que conta os anos antes e depois do nascimento de Jesus Cristo.

Segundo a tradição religiosa, o Rosh Hashaná é uma oportunidade de olhar para a frente. Não apenas celebrar o futuro. É preciso considerar o passado e rever o relacionamento com Deus. Também marca o primeiro dia de um período conhecido como os Dez Dias de Temor, ou Dias de Arrependimento, durante o qual as ações de uma pessoa são consideradas capazes de influenciar tanto o julgamento de Deus quanto o plano de Deus para com ela.

Maria Clara R. M. do Prado - O mundo se arma, a ONU fraqueja

Valor Econômico

"Pacto do Futuro", que tem objetivo de reforçar cooperação multilateral e reabilitar o poder político da ONU, mais parece aquele tipo de decisão para inglês ver

As oscilações para cima ocorridas nos últimos dias nos preços do petróleo e do ouro são reações imediatas a eventos com potencial de imprimirem insegurança aos mercados. Eram previsíveis, pois não pode haver dúvida de que a escalada da guerra no Oriente Médio, com o envolvimento direto de Israel, do Líbano, do Irã e, indiretamente, dos Estados Unidos, acentua a gravidade de uma disputa que coloca em risco a estabilidade global. No entanto, nos bastidores que movimentam a geopolítica, há muito tempo os países relevantes preparam-se militarmente para enfrentar um cenário mundial de instabilidade crescente.

Os gastos militares mundiais aumentaram 6,8% em 2023, em termos reais (descontada a inflação). Foi a mais acentuada expansão anual observada ao longo de nove anos consecutivos, desde 2014, representando despesas no total de US$ 2,443 trilhões. Os Estados Unidos aparecem em primeiro lugar, com um total de despesas no setor militar de US$ 916 bilhões no ano passado (2,3% a mais sobre 2022), seguido da China com a estimativa de gastos da ordem de US$ 296 bilhões (6% acima do ano anterior).

Entrevista | Joseph Stiglitz - Mercados ‘livres’ sem restrições só geraram crises, diz o Nobel de Economia

Valor Econômico

Vivian Oswaldo / Valor Econômico

As gigantes da tecnologia e os paraísos fiscais, segundo o economista americano, “são exemplos do lado mais sombrio da globalização”

Aos 81 anos, o economista americano Joseph Stiglitz se diz um ativista. Para ele, é impossível ver como o mundo “não funciona, ou funciona de forma injusta, sem se envolver”. Talvez por isso não tenha papas na língua.

Em entrevista ao Valor, o vencedor do Prêmio Nobel de Economia de 2001 e professor da Universidade Columbia afirma que a agenda climática está andando muito devagar, que a conta da transição energética e do desenvolvimento tem que ser paga pelos muito ricos e pelas multinacionais, que, “em parte, tornaram-se tão ricos porque não pagaram a sua parcela justa de impostos”. Neste contexto, o planeta precisa de mais, e não menos, Estado.

“Vemos um populismo perigoso em locais onde o governo fez muito pouco”, ressalta. Stiglitz afirma que o republicano Donald Trump é um grande perigo para os Estados Unidos e para o mundo, assim como as big techs, que, em sua avaliação, aproveitam-se da globalização para se fazer inatingíveis pelas leis. As gigantes da tecnologia e os paraísos fiscais, segundo ele, “são exemplos do lado mais sombrio da globalização”.

Tudo isso o teria levado a escrever seu novo livro: “The Road to Freedom: Economics and the Good Society” (O caminho para a liberdade: economia e a boa sociedade, em tradução livre), lançado em abril deste ano, onde afirma que mercados “livres”, sem restrições, só geraram crises: financeira, dos opioides e da desigualdade.

Poesia | Aproveitar o tempo, de Fernando Pessoa

 

Música | Teresa Cristina - Positivismo (Noel Rosa)