terça-feira, 30 de julho de 2024

O que a mídia pensa | Editoriais/Opiniões

Brasil precisa denunciar farsa eleitoral de Maduro

O Globo

Em nenhum momento o processo na Venezuela inspirou confiança. As irregularidades foram constantes

O Brasil e as demais democracias latino-americanas não podem ser coniventes com a farsa montada por Nicolás Maduro para permanecer no poder na Venezuela, usando eleições nada transparentes, cujos resultados são contestados pela oposição. Na madrugada desta segunda-feira, quando 80% dos votos tinham sido contados, o Conselho Nacional Eleitoral (CNE), órgão controlado por Maduro, anunciou que o atual presidente foi o vencedor do pleito realizado no domingo, com 51,2% dos votos, contra 44,2% obtidos pelo candidato da oposição, o ex-embaixador Edmundo González Urrutia. Os Estados Unidos e a União Europeia mostraram preocupação com as suspeitas de irregularidades. Em pronunciamento, o presidente chileno, Gabriel Boric, expressou a opinião da comunidade internacional ao declarar que os resultados oficiais “são difíceis de acreditar”.

Maria Cristina Fernandes - O fator Kamala na reeleição de Maduro

Valor Econômico

Pretensões americana e brasileira ainda serão testadas

As seções de votação tinham fechado as portas havia 23 minutos na Venezuela quando a vice-presidente americana Kamala Harris foi ao X para fazer três afirmações: a eleição havia sido histórica, a vontade do povo venezuelano deveria ser respeitada e os EUA, “a despeito de muitos desafios”, continuariam lutando por um futuro mais democrático, próspero e seguro naquele país.

A líder da oposição, María Corina Machado, ainda não havia vindo a público para denunciar a falta de acesso aos boletins de urna e anunciar a vitória de seu candidato, Edmundo González. Seis horas depois do encerramento da votação é que o presidente do Comitê Nacional Eleitoral, Elvis Amoroso, decretaria a vitória de Nicolás Maduro.

Nada disso impediu que Kamala antecipasse um tom que, a despeito de manifestar solidariedade com a oposição, parecia de conformidade com um resultado adverso. As fronteiras americanas são responsabilidade do secretário de Segurança Interna, Alejandro Mayorkas, mas a missão dada pelo presidente Joe Biden a sua vice, de endereçar soluções para a pobreza, violência e falta de oportunidades nos países vizinhos que agravam a imigração ilegal, fez com que a vice se tornasse o principal alvo dos republicanos no tema.

Eric Posner - Processos e política não se misturam

Valor Econômico

Se há alguma lição dos julgamentos de Trump, é que processos na esfera política em um país democrático têm mais chances de prejudicar aqueles no poder do que seus oponentes

Enquanto os Estados Unidos voltam suas atenções para a eleição presidencial entre Kamala Harris e Donald Trump, os processos contra o ex-presidente praticamente ficaram esquecidos. Os democratas, porém, têm a esperança de que o papel anterior de Kamala como promotora distrital possa ajudar a refrescar as memórias e a persuadir alguns dos cruciais eleitores indecisos a optar pela promotora em vez do criminoso. Será que isso vai funcionar? Ou será que a tentativa malsucedida de assassinato contra Trump mitificará retroativamente os processos, como se fossem as estações da Via Crúcis no caminho dele para se tornar quase um mártir?

Christopher Garman - Inflação é ameaça para Lula se Trump vencer

Valor Econômico

Mais inflação nos EUA e menos crescimento lá e na China seria péssimo para pretensões do presidente brasileiro em 2026

Uma série de eventos dramáticos colocou a eleição presidencial dos EUA ainda mais no centro das atenções globais no último mês. Primeiro foi um debate desastroso para o presidente Joe Biden contra Donald Trump; depois, um atentado contra o ex-presidente; e, por último, uma mudança na candidatura democrata que está animando suas bases.

As pesquisas de opinião publicadas depois que a vice-presidente Kamala Harris se tornou a virtual candidata democrata sugerem uma disputa mais apertada. Mas, na realidade, as intenções de voto estão voltando para o patamar de antes do debate, e Trump segue com leve favoritismo. A principal preocupação do eleitor americano continua sendo a economia, devido ao choque inflacionário de 2022 e 2023 que aumentou o custo de vida - e, nesse aspecto, Trump mantém vantagem. Logo, embora muito tenha mudado, os fundamentos da eleição continuam quase iguais.

Carlos Andreazza – Se liga, Dino

O Estado de S. Paulo

O orçamento secreto já está na terceira geração

Flavio Dino tem dúvidas sobre se o orçamento secreto acabou. Mesmo o Ministério do Planejamento lhe informando que remessas via RP2 “dispensam quaisquer identificações da origem de emendamento”.

O informe a lhe expor a natureza do drible; e ele incerto ainda sobre se os parlamentares pararam de remeter fundos orçamentários opaca e autoritariamente a suas paróquias. Não haveria, eis a prudência, “a comprovação cabal do pleno cumprimento” do que o tribunal decidira em dezembro de 2022. Marcou audiência a respeito para 1.º de agosto.

Dora Kramer - Não é bem assim

Folha de S. Paulo

Projetos para 2026 dificultam aceitar caráter de prévias para eleição de 2024

Esquerda e direita prometem forte embate nas capitais e grandes cidades, apostando que quem ganhar o maior número de prefeituras neste ano estará credenciado a amealhar vitórias em 2026. Pode ser que sim, mas pode não ser bem assim.

O sucesso da referida empreitada depende de alguns fatores. Se a ideia for ligar o desempenho municipal à eleição presidencial, convém retirar os cavalos da chuva. Já no que diz respeito à conquista de maior poder do Congresso, é possível considerar essa uma boa aposta.

Alvaro Costa e Silva - espião que não gosta das urnas

Folha de S. Paulo

Facada em Bolsonaro abriu caminho para arrivismo e golpismo do delegado

Delegado da PF eleito deputado da bancada da bala, Alexandre Ramagem se aproximou de Bolsonaro em 2018, quando virou chefe da segurança do candidato a presidente depois da facada em Juiz de Fora. Um destino marcado pelo ato de Adélio e os esgares do capitão.

Logo se tornou íntimo dos Bolsonaro, em especial do filho 02, Carlos, percebendo que ali estava o caminho das pedras, a mágica que permitia aos membros do clã a compra de apartamentos em dinheiro vivo. Um arrivista de Balzac não subiria na vida com mais rapidez. Em 2019 já era assessor da Presidência. Ao nomeá-lo diretor-geral da Abin, Jair admitiu: "Grande parte do destino da nossa nação e das decisões que eu venha a tomar partirão das mãos dele". Era o plano do golpe rolando a ladeira.

Hélio Schwartsman - Maduro não largou o osso

Folha de S. Paulo

Regime pode sobreviver tornando-se mais autoritário, mas fraude escancara sua fragilidade

Como previsto, Nicolás Maduro e seus lugares-tenentes não largaram o osso. Alegam ter vencido o pleito presidencial com 51,2% dos votos, mas os sinais de fraude são volumosos. O que acontece agora?

No cenário que me parece mais provável, a oposição ensaia protestos que serão reprimidos. Por ter transformado os militares em sócios dos esquemas de extração de rendas estatais, Maduro conta com sua lealdade. Com o tempo, manifestações arrefecem, lideranças oposicionistas podem ser presas, e o bolivarianismo sobrevive operando num patamar ainda mais elevado de autoritarismo.

Joel Pinheiro da Fonseca – A tolice da esperança

Folha de S. Paulo

Brasil é impotente perante a fraude de Maduro, mas pode aprender a lição

A esperança é mesmo um veneno. Poucas horas depois de Nicolás Maduro se declarar vencedor de uma eleição roubada do início ao fim, sem nem se dar ao trabalho de publicar as atas eleitorais, já me pego torcendo para que os protestos contra seu regime que pipocam por todo o país cresçam e finalmente o destronem.

Levantes populares massivos podem forçar a renúncia do ditador? Podem. Mas, como ele tem o apoio das Forças Armadas, conta com milícias armadas paramilitares e já mostrou no passado que não tem o menor problema em matar centenas de manifestantes, não parece um desfecho provável. É apenas a esperança completamente irracional que insiste em manter viva sua pequena chama.

Luiz Carlos Azedo - Lula aguarda atas para reconhecer vitória de Maduro

Correio Braziliense

A posição do governo brasileiro, até agora, coincide com a dos Estados Unidos, do México e da Colômbia. É a mesma da Inglaterra, da União Europeia e da Organização das Nações Unidas (ONU)

O presidente Luiz Inácio Lula da Silva está numa saia justa e tenta ganhar tempo para uma tomada de posição em relação à reeleição do presidente da Venezuela, Nicolás Maduro, diante dos indícios de que as eleições foram fraudadas. Sem divulgação das atas das seções eleitorais e/ou eventual recontagem de votos, a tendência do governo brasileiro será aguardar a evolução do processo e somente reconhecer a vitória de Maduro quando isso for inevitável para manter as relações comerciais do Brasil com o país vizinho.

Nesta segunda-feira, a nota divulgada pelo Itamaraty sinalizou nessa direção. As reportagens publicadas pela Agência Brasil sobre as eleições venezuelanas, também. O Conselho Nacional Eleitoral (CNE) da Venezuela proclamou um resultado oficial — sem nenhuma comprovação documental até agora —, segundo o qual Maduro teria recebido 51% dos votos, contra 44% de Edmundo Gonzáles. A oposição contesta esse resultado com base em cópias das atas obtidas por seus fiscais. Gonzáles teria recebido 70% dos votos.

Pedro Doria - Os democratas e os outros

O Globo

Houve fraude. Para ser mais claro: há um golpe de Estado em curso na Venezuela

O bolsonarismo separou, na direita brasileira, quem tinha convicções democráticas de quem não tinha. Não é uma afirmação justa para fazer a respeito de todos os brasileiros que votaram em Jair Bolsonaro em 2022. A maioria das pessoas não pensa muito sobre política, no máximo lida como se fosse esporte com torcida. Não é o caso de todo mundo que pensa política diariamente e compreende o processo democrático. Bolsonaro deixou claro no governo que não era democrata. Quem entendeu isso e seguiu, pois é. Esta eleição na Venezuela terá efeito similar na esquerda. Separará os que têm convicções democráticas dos que não têm.

Vamos ser claros: houve fraude. Para ser mais claro: há um golpe de Estado em curso na Venezuela. Um autogolpe sendo impetrado pelo governo Nicolás Maduro.

Merval Pereira - Simulacro de democracia

O Globo

Brasil coloca em risco sua reputação e liderança regional para apoiar um ditador que não tem a menor importância política

O presidente Lula colocou o país que governa numa situação difícil diante da comunidade internacional. Se não estivesse por lá o assessor especial Celso Amorim “buscando a verdade”, poderíamos ter uma posição diplomática mais condizente com a realidade. Como disse o presidente do Chile, o esquerdista Gabriel Boric, “é difícil de acreditar” que Maduro tenha recebido 51% dos votos de um eleitorado limitado aos cidadãos que o próprio governo autorizou a votar.

Só esta última frase já define bem a qualidade da democracia da Venezuela, que um dia Lula considerou ter eleição até demais. A de ontem foi a primeira em que, apesar dos pesares, a oposição tinha chance real de vencer, como indicavam diversas pesquisas de opinião independentes.

Na situação em que se davam as eleições, com candidatos oposicionistas proibidos de se candidatar por decisão de uma Justiça Eleitoral dominada pelo chavismo, e com milhões de eleitores no exterior impedidos por questões burocráticas de participar do pleito, o mais prudente teria sido evitar o envio de representante brasileiro, como fez o Tribunal Superior Eleitoral (TSE).

Poesia | Manuel Bandeira - Evocação do Recife

 

Música | Marisa Monte -Na Estrada