Propostas para aborto e drogas ignoram realidade
O Globo
Textos da Câmara desprezam caráter de saúde
pública e conhecimento acumulado sobre ambas as questões
É preocupante que a Câmara tenha dado
celeridade a duas propostas que mereceriam mais discussão com a sociedade e
deveriam seguir todo o trâmite legislativo, com debates exaustivos em comissões
antes de irem a plenário. A primeira é o Projeto de Lei (PL) que equipara
o aborto depois
da 22ª semana de gravidez ao crime de homicídio. A segunda é a Proposta de
Emenda à Constituição (PEC) que criminaliza posse e porte de qualquer
quantidade de droga. As mudanças são inspiradas mais em convicções políticas,
ideológicas ou religiosas que no conhecimento acumulado sobre ambos os temas.
De acordo com o PL que trata do aborto, mesmo nos casos em que o procedimento é hoje legal — estupro, risco de vida para a gestante ou anencefalia do feto —, ele seria considerado homicídio depois da 22ª semana de gravidez. É verdade que o Código Penal não impõe limite de tempo nos casos previstos em lei e que abortos com gestação avançada suscitam uma discussão que mexe com convicções morais e religiosas profundas. Por isso mesmo, a questão merece debate exaustivo.