segunda-feira, 3 de junho de 2024

O que a mídia pensa | Editoriais / Opiniões

Lei é fraca para impedir campanha eleitoral antecipada

O Globo

Dispositivos vagos e punições leves funcionam como incentivo para que candidatos e partidos ignorem proibições

É patente a deficiência da legislação eleitoral para coibir a propaganda antecipada. Ao estabelecer como início oficial da campanha o dia 16 de agosto, logo depois de esgotado o prazo para registro das candidaturas, a intenção da Justiça Eleitoral é garantir um mínimo de equilíbrio de forças entre quem busca reeleição — e detém controle da máquina administrativa — e os opositores. Infelizmente, os termos da lei são inócuos e as punições, multas entre R$ 5 mil e R$ 25 mil, leves demais. Por isso a campanha antecipada se tornou tão frequente. Os processos para investigar propaganda antes do prazo legal já são mais que o dobro do registrado no último pleito municipal — passaram de 329 para 682, segundo levantamento feito pelo GLOBO em Tribunais Regionais Eleitorais.

Entrevista | Bernie Sanders*: Mundo enfrenta mais crises hoje do que em toda minha vida

Por Fernanda Perrin / Folha de S. Paulo

Em entrevista à Folha, senador e ícone progressista americano afirma que Biden precisa ser mais forte na disputa com Trump para deixar claro que defende trabalhadores

NOVA YORK - Bernie Sanders, 82, nem pensa em deixar a política. "O mundo hoje enfrenta mais crises do que em qualquer momento da minha vida", diz. Senador desde 2007, o americano anunciou que vai concorrer a um novo mandato na eleição deste ano —o que motivou imediatamente comparações com o presidente Joe Biden, 81, no noticiário do país.

"Se alguém é meio velho e fraco e não pode fazer o trabalho, acho que é um fator. Mas, cá entre nós, eu não acho que estou tão fraco assim ainda", diz Bernie à Folha ao ser questionado sobre o porquê de a idade ter se tornado um tema tão central nos EUA neste ano.

Principal voz da ala progressista da política americana, ele é uma das esperanças da campanha de Biden para recuperar o apoio do eleitorado jovem, insatisfeito com a economia e com o apoio do presidente a Israel na guerra em Gaza. Judeu, Sanders aceitou o papel, mas não esconde as críticas à aliança com Tel Aviv. Para ele, a Casa Branca não deveria mais enviar dinheiro ao governo de Binyamin Netanyahu.

"Acho que o presidente terá que ser mais forte do que é para deixar claro que defende os trabalhadores", afirma Sanders, sobre o desafio na disputa contra Donald Trump em novembro. Em sua visão, o maior problema de Biden é de comunicação.

Recentemente, Sanders se encontrou com o ministro da Fazenda, Fernando Haddad, e com uma delegação de congressistas brasileiros envolvidos na CPI do 8 de Janeiro. O americano elogia a proposta de taxação dos super-ricos defendida pelo país à frente do G20 e, embora afirme que não tem acompanhado o terceiro mandato de Lula, cita o petista como exemplo de líder de esquerda.

Fernando Gabeira - Não vendam nossas praias

O Globo

Com as mudanças climáticas, as áreas marinhas precisam ser ampliadas, e não entregues à especulação

Os senadores garantem que não querem privatizar as praias. Será? A PEC que tentam votar retira da União a propriedade exclusiva não só de praias, mas também de uma faixa de terra chamada “terrenos de marinha”, uma área de 33 metros na margem de rios, lagos e contorno das ilhas.

Ao mesmo tempo que nos garantem que são bonzinhos, empreendimentos como os da empresa Due, associada ao jogador Neymar, anunciam a criação de um Caribe brasileiro, um conjunto de empreendimentos imobiliários numa região de 100 quilômetros entre Pernambuco e Alagoas.

Miguel de Almeida - O Brasil visto por Einstein

O Globo

Aos olhos dele, o comportamento dos brasileiros se explica pelo clima

Foram necessários apenas cinco minutos e 13 segundos, o tempo do eclipse em maio de 1919, para que as teorias de Albert Einstein fossem comprovadas. Sobral, no interior do Ceará, e a ciência seriam outras a partir dali. De Londres, Einstein e uma plateia de estudiosos analisavam os dados enviados por cientistas desde um laboratório precariamente instalado na cidadezinha cearense. Diante do eclipse às 9 da manhã, parte da população de Sobral, assustada com o repentino escurecimento, escondeu-se dentro da igreja. Poderia ser o anunciado fim de mundo. Atordoados, os galos da vizinhança voltaram a cantar com a chegada da inesperada noite.

Bruno Carazza - Bem ou mal, as instituições continuam funcionando?

Valor Econômico

Livro de Marcus Melo e Carlos Pereira apresenta explicação para resiliência e ineficiência da democracia brasileira

N a semana passada, o Congresso impôs uma acachapante derrota de 366 a 137 votos na apreciação do veto do presidente Lula ao projeto que proíbe a “saidinha” de presos. Não foi a primeira vez.

“Como seria possível um líder político dos mais experientes e tido como sagaz na arte de negociar estar sofrendo tantos reveses no Legislativo a ponto de se colocar na posição de refém de exigências das principais lideranças do Congresso e dos seus novos (velhos) aliados do Centrão?”

A pergunta é feita pelos cientistas políticos Marcus André Melo e Carlos Pereira no penúltimo capítulo de “Por que a Democracia Brasileira não Morreu?”, que acaba de chegar às livrarias.

Alex Ribeiro - BC precisa repensar sua comunicação sobre o juro

Valor Econômico

Declarações em reuniões fechadas, comunicado só com pontos consensuais são alguns dos problemas

A pior notícia que o Banco Central teve nos últimos meses foi a alta das expectativas de inflação de 2026, de 3,5% para 3,58%, depois de 46 semanas de estabilidade. Este é um horizonte de tempo muito distante para ser afetado pelas decisões que estão sendo tomadas agora sobre a taxa Selic, e até lá se presume que todos os choques que pressionam a inflação podem se dissipar sozinhos ou com a ajuda da política monetária. Trata-se, portanto, de um questionamento frontal dos especialistas de mercado financeiro à credibilidade da política monetária.

A maior parte da responsabilidade se deve ao voto dissidente de todos os membros do Comitê de Política Monetária (Copom) indicados pelo presidente Lula em favor de uma baixa mais forte de juros. Mas falhas na comunicação de política monetária do colegiado também pioraram as coisas. Algumas delas não são, exatamente, novas. Será preciso debatê-las para corrigi-las.

Marcus André Melo - Populismo econômico

Folha de S. Paulo

Neste governo, a situação é mais complexa porque não quer repetir o estelionato eleitoral de Dilma pelos custos políticos

"Se um governo tentasse um ponto de equilíbrio, procurando ser trabalhista no Ministério do Trabalho, liberal no Ministério da Economia e conservador no Ministério das Finanças, deixaria de ser governo para se transformar num conflito".

O prognóstico do ideólogo do trabalhismo getulista, o senador Alberto Pasqualini, ilumina a dinâmica intragoverno sob Lula 3.

Pasqualini recorre a uma falácia recorrente entre nós sobre a incompatibilidade dinâmica entre equilíbrio fiscal e gasto social: "Reconhecemos como justa a política social, mas praticamos uma política financeira, monetária e fiscal que lhe está em absoluta contradição" (idem).

Deborah Bizarria - Câmeras corporais desligadas

Folha de S. Paulo

Tarcísio desfaz avanços na segurança pública e subverte o que se mostrou efetivo

As câmeras corporais na Polícia Militar de São Paulo foram introduzidas com um objetivo claro: aumentar a transparência e conformidade no trabalho policial, reduzindo a letalidade e os abusos de poder.

No entanto, as recentes alterações propostas pela gestão de Tarcísio de Freitas representam uma mudança de foco que compromete os avanços alcançados até agora.

O programa anterior integrava-se a iniciativas mais amplas da própria PM que visavam aprimorar o treinamento —as imagens eram utilizadas para reforçar os procedimentos nas sessões.

Além disso, diversos estudos, como o de Tricia Bent-Goodley, apontam uma forte relação entre a redução da letalidade policial e o aumento da confiança da população nas forças de segurança, fundamental para o combate ao crime.

Diogo Schelp - Fake news, crime?

O Estado de S. Paulo

Criminalizar a desinformação é uma péssima ideia. Melhor seria aprovar o PL das Fake News

Jair Bolsonaro se elegeu em 2018 com a ajuda de fake news e governou espraiando fake news – contra vacinas, contra as urnas eletrônicas, contra adversários, contra o que fosse.

Em 2021, vetou a inclusão de um artigo no Código Penal que tipificava “comunicação enganosa em massa” como crime que poderia ser punido com um a cinco anos de reclusão e multa.

Parecia, com razão, que Bolsonaro estava agindo em causa própria.

Na semana passada, o Congresso finalmente analisou esse veto, entre outros. Bolsonaro entrou em cena para convencer parlamentares a mantê-lo. O governo Lula orientou pela derrubada, ou seja, a favor de criminalizar a disseminação de fatos inverídicos que pudessem “comprometer a higidez do processo eleitoral”, como dizia o trecho cortado.

Denis Lerrer Rosenfield - Sentimentos morais

O Estado de S. Paulo

O Rio Grande do Sul expôs sentimentos morais em ato, fazendo predominar a ajuda ao próximo, para além de qualquer tipo de clivagem partidária

Há eventos, na História e em vivências pessoais, que trazem à tona facetas e propriedades da natureza humana que estavam adormecidas, sufocadas ou simplesmente desconsideradas, seja por não serem solicitadas, seja por não serem cultivadas. No entanto, irrompem em momentos em que são necessárias, o que pode ocorrer em situações extremas, como em guerras ou calamidades, a exemplo da tragédia que se abateu sobre o Rio Grande do Sul.

Luiz Carlos Azedo - Para nossos jovens, a elite política fracassou

Correio Braziliense, Publicado em 02/06/2024 - 16:25 

Em grande parte, o desinteresse dos jovens pela escola é resultado da má qualidade do ensino, fenômeno que chegou às universidades federais, com altos índices de evasão

Segundo a Organização para a Cooperação e Desenvolvimento Econômico (OCDE), o Brasil é o segundo país em proporção de jovens entre 18 e 24 anos que não estudam nem trabalham, atrás apenas da África do Sul, num total de 37 países analisados. Os motivos desses jovens estarem sem estudar e sem trabalhar variam conforme a renda familiar, porém, se encontram nessa condição principalmente os mais pobres. Jovens que não estudam, não trabalham e nem procuram emprego majoritariamente moram nas periferias das cidades brasileiras.

A Subsecretaria de Estatísticas e Estudos do Trabalho, do Ministério do Trabalho e Emprego, avalia que dos 207 milhões de habitantes do Brasil, 17% são jovens de 14 a 24 anos, dos quais 5,2 milhões estão desempregados. Ou seja, são 55% das pessoas que procuram emprego e não acham, num universo de 9,4 milhões, dos quais 52% são mulheres e 66% são pretos e pardos. Aqueles que nem trabalham nem estudam e nem procuram emprego — os chamados nem-nem — somam 7,1 milhões, sendo que 60% são mulheres, a maioria com filhos pequenos, e 68% são pretos e pardos.

Elimar Pinheiro do Nascimento* - A sustentabilidade já era

Revista Será? Edição de 24/05/2024

As condições atuais são tão desfavoráveis aos humanos que a simples postura em defesa da sustentabilidade não tem mais o efeito que se imaginava há 30 ou 40 anos atrás. Não é mais suficiente. Por isso, Francisco Nilson Moreira está coberto de razão quando diz em seu Ted X ESMPU: “A sustentabilidade já era. Hoje temos que ser regenerativos”.1 E o Rio Grande do Sul está aí para provar.

Por milênios, os homo sapiens têm habitado a terra destruindo-a. Alguns, os menos informados, imaginam que tudo começou com a revolução industrial nas dobras dos séculos XVIII/XIX, como também imaginam que o movimento ambientalista começou com a Conferência de 1972 em Estocolmo (Conferência das Nações Unidas sobre Desenvolvimento e Meio Ambiente Humano). Antes desta conferência, Rachel Carson2 já havia publicado Primavera Silenciosa, com enorme impacto sobre o nascente movimento ambientalista, e o mundo já conhecia a criação de áreas protegidas, o Brasil inclusive3. Antes da revolução industrial, os Sapiens já haviam dizimado os Neandertais, enfraquecidos pelos fortes efeitos da era glacial na Eurásia, como também os megamamíferos, os mamutes, entre 50 e 10 mil anos atrás. Incluindo o Brasil, onde foram extintos os tigres dentes de sabre, as preguiças gigantes e os toxodontes, entre outros.

Claudia Sheinbaum é 1ª mulher eleita presidente do México, diz projeção oficial

Mayara Paixão / Folha de S. Paulo

Analista vê possibilidade de 'governo descafeinado' após seis anos de López Obrador; atraso na divulgação da contagem rápida gera críticas a órgão eleitoral, cansaço e suspeitas

CIDADE DO MÉXICO - Claudia Sheinbaum vai suceder a Andrés Manuel López Obrador, seu padrinho político, e será a primeira mulher na história a governar o México, indica projeção oficial dos resultados.

Às 3h de Brasília (0h local), o Instituto Nacional Eleitoral (INE), órgão autônomo, estimou que a governista teria de 58,3% a 60,7% dos votos. Na sequência, a opositora Xóchitl Gálvez marcaria entre 26,6% e 28,6%.

É a chamada contagem rápida do INE, um procedimento previsto no regramento eleitoral mexicano no qual uma equipe técnica projeta o resultado com base em uma amostra da contagem obtida nas "casillas", como são chamados os centros de votação. A confiança é de 95%.

Se confirmados esses números, Sheinbaum seria a presidente eleita com mais votos na história do país.

Os opositores —Xóchitl e Jorge Álvarez Máynez, azarão do Movimento Cidadão que teria obtido em torno de 10%— reconheceram a derrota.

Poesia | João Cabral de Melo Neto - O sertanejo falando

 

Música | Mastruz Com Leite - São João de Todos os Tempos