Rombo nas contas públicas exige ajuste de despesas
O Globo
Relatório do Tesouro projeta déficit maior em
2024, ainda que haja alta — incerta — nas receitas
Cresceu a projeção do governo para o buraco
nas contas
públicas até o final do ano. Pelos cálculos do Tesouro, o
resultado primário — diferença entre receitas e despesas, sem contar pagamentos
de juros — será um déficit de R$ 14,5 bilhões, R$ 5,2 bilhões além da
estimativa anterior. Na interpretação das autoridades em Brasília, tudo
continua sob controle. Como a regra fiscal permite um déficit de R$ 28,8
bilhões, dizem haver folga.
O discurso benevolente tenta encobrir uma
realidade bem mais preocupante. Nunca se pode perder de vista o endividamento e
sua trajetória. Em dez anos, a dívida bruta saiu de menos de 60% do PIB para os
atuais 74,4%. No ritmo atual, tardará a cair. Quanto mais demorar, piores os
efeitos sobre taxa de juros, câmbio e crescimento.
A credibilidade da política fiscal já viveu dias melhores. O arcabouço aprovado em 2023 não completou nem um ano, mas já foi alterado para afrouxar as metas. Mesmo com as mudanças, há dúvidas se as contas fecharão dentro do estipulado pelas regras. Para chegar a dezembro com um déficit de até 0,25% do PIB (os tais R$ 28,8 bilhões), será necessário atingir uma projeção de arrecadação inflada. Entre o primeiro e o segundo bimestre, o Tesouro Nacional elevou a estimativa de receitas primárias federais em R$ 16 bilhões. Ao mesmo tempo, houve aumento de R$ 24,4 bilhões nas despesas primárias, R$ 20,1 bilhões delas obrigatórias.