quarta-feira, 3 de julho de 2024

O que a mídia pensa | Editoriais / Opiniões

A nova agenda 30 anos depois do Plano Real

O Globo

Brasil precisa promover reformas, confiar nos empreendedores e apostar no aumento da competição

As comemorações dos 30 anos do Plano Real, celebrados nesta semana, fazem jus ao feito histórico. A nova moeda acabou com a hiperinflação crônica, chaga que punia os mais pobres e provocava todo tipo de transtorno na vida de empresas e cidadãos. O principal legado do Real foi ter demonstrado que, quando unem determinação e propósito, os brasileiros têm o poder de resolver questões à primeira vista intratáveis. É com esse mesmo espírito em mente que o país precisa agora encarar um novo ciclo de reformas econômicas. O inimigo a bater desta vez não é mais a inflação, mas o crescimento medíocre da economia, responsável pela miséria renitente. Tal agenda deve ser encarada com a mesma garra. Se fosse possível resumi-la numa frase: o Brasil precisa confiar nos empreendedores e apostar no aumento da competição.

A história do agronegócio demonstra que o vigor empresarial brasileiro é capaz de enfrentar todo tipo de concorrente. Sem proteção tarifária, os empresários do campo adotaram as melhores práticas de plantio e gestão, investiram em tecnologia, exploraram nossas vantagens comparativas, prosperaram e criaram um dínamo de crescimento para o Brasil. Os fatores decisivos que o Estado propiciou para o sucesso não foram os programas de financiamento nem vantagens tributárias, mas o apoio à pesquisa científica, por meio da Embrapa. A revolução do interior não foi concebida num escritório na Esplanada dos Ministérios, na sede de uma estatal ou no BNDES. Como costuma dizer o ex-presidente do Banco Central Pérsio Arida — um dos artífices do Real —, a melhor receita para o êxito do Brasil está na experiência do setor agrícola, com a abertura maior da economia e menos intervenção estatal.

Ganhos de produtividade com a exposição à concorrência externa não são teóricos. Nos países com baixa competição, como o Brasil, as empresas não têm incentivo para investir em inovação. Se um artigo pode ser produzido como sempre foi e vendido caro, não há razão para apostar em melhorias. É por isso que a proteção de mercado resulta na perda de investimentos. O Brasil aplica em inovação o mesmo que países com renda per capita similar. Se as condições atuais forem mantidas, pouco mudará. A experiência dos últimos governos do PT mostra que não serão linhas de crédito facilitadas por bancos estatais que transformarão essa realidade. A desindustrialização precoce não será resolvida à base de subsídios. A solução é aumentar a concorrência para que os segmentos mais capazes se desenvolvam e prosperem. Nenhum país escapou da armadilha de crescimento baixo com renda média sem se integrar à economia global.

Paulo Celso Pereira* - A volta do Ministério do Vai Dar M...

O Globo

Episódios nebulosos têm provocado ‘déjà- vu’ em quem acompanhou de perto escândalos das últimas gestões petistas

A ideia foi imortalizada no primeiro governo Lula, por sua pertinência e autoria: deveria ser criado um Ministério do “Vai dar Merda”. A proposta vinha de Chico Buarque, entusiasta da chegada do PT ao poder, temeroso do desgaste que os tropeços poderiam causar ao projeto de esquerda. Passados 18 meses de seu terceiro mandato, Lula deveria pensar seriamente na sugestão.

Nos últimos meses, uma série de episódios nebulosos tem provocado déjà-vu em quem acompanhou de perto os escândalos das últimas gestões petistas. Primeiro, foram as acusações contra o ministro Juscelino Filho, indiciado por organização criminosa, lavagem de dinheiro e corrupção passiva. Trata-se de um clássico do patrimonialismo nacional: quando era deputado, ele destinou emendas para construir estradas no Maranhão que beneficiaram propriedades suas e de sua família.

Luiz Carlos Azedo - Ao atacar Lula, Milei exuma rivalidade argentina

Correio Braziliense

Milei acusou Lula de corrupção e interferência nas eleições argentinas, dias antes de vir ao Brasil, para um encontro com Bolsonaro em Balneário Camboriú

Nem só de carne, vinho e futebol se faz a Argentina: los hermanos também são muito bons de cinema. Seus filmes nos ajudam a entender um pouco a alma dos vizinhos, principalmente as comédias, que ironizam a arrogância e a soberba portenhas. O Homem ao lado, de Mariano Cohen e Gáston Dupra, por exemplo, é uma excelente comédia sobre o comportamento de dois vizinhos. A disputa desnuda o abismo social entre ambos.

A arrogância e a soberba são as características do presidente argentino, Javier Milei, na sua relação com o presidente Luiz Inácio Lula da Silva, que voltou a ser atacado pelo chefe de Estado do nosso principal vizinho. As acusações foram feitas no X, direcionada ao "perfeito dinossauro idiota", cujo nome ele não revelou, mas trata-se de uma referência a Lula, que é citado no texto.

Bernardo Mello Franco - Milei quer briga

O Globo

Inquilino da Casa Rosada boicota cúpula do Mercosul e vem ao Brasil encontrar Bolsonaro

Javier Milei não vai à cúpula do Mercosul na segunda que vem, em Assunção. Alegou estar com a agenda lotada. Curiosamente, encontrou tempo para vir ao Brasil dois dias antes. Participará de uma reunião de políticos e influenciadores de extrema direita.

A versão nacional da Cpac ocorrerá em Balneário Camboriú, a Dubai catarinense. A lista de palestrantes é encabeçada por Jair Bolsonaro e pelo filho Zero Três. Quem pagar ingresso de R$ 249 ainda terá direito a ouvir a palavra de Magno Malta e Ricardo Salles.

Milei assumiu o poder em dezembro de 2023. Ainda não visitou o Brasil, principal comprador das exportações argentinas. Agora virá sem agenda oficial para confraternizar com líderes da oposição. Não será sua primeira provocação ao Planalto. Nem a última.

Marcelo Godoy - A conta da briga entre Milei e Lula

O Estado de S. Paulo

A crispação dos dois presidentes submete as relações entre os países aos caprichos pessoais dos líderes

“A mais triste forma de saber é estar ciente.” O verso do poeta Cassiano Ricardo mostra um dos dramas de Lula. O petista não parece ciente das consequências do que fala e faz. Os turiferários que o cercam fingem não enxergar o quanto se esgarça a política, afastando da República a moderação e a procura de consensos.

Busca-se a sobrevivência diante de um mundo exasperado, sem espaço para personagens como o francês Emmanuel Macron. Seu drama não se resume ao cálculo político desastroso ou à vaidade que acabou por destruí-lo. Há outro problema. E ele está no espírito do tempo. Uma nova era política parece condenar partidos e líderes à extinção catastrófica.

Bruno Boghossian - Os limites para Trump

Folha de S. Paulo

Ex-presidente deve estar ansioso para testar os limites de seus 'atos oficiais' num novo mandato

A política americana oferece ao presidente uma proteção generosa. Pelas regras, o chefe do governo tem garantidos o poder para liderar o país em tempos de crise e segurança para tomar decisões difíceis. Essa arquitetura sobreviveu a muitos testes, mas não estava preparada para um sujeito como Donald Trump.

A Suprema Corte dos EUA decidiu na segunda (1º) que os presidentes do país gozam de alguma imunidade. Ao julgar um pedido de Trump, o tribunal repisou uma interpretação de quatro décadas e estabeleceu que esses políticos não podem ser processados por "atos oficiais". Eles estão vulneráveis apenas no caso de "atos não oficiais". Essas situações seriam avaliadas individualmente.

Hélio Schwartsman - Cassinos de bolso

Folha de S. Paulo

Soa extemporâneo proibir cassinos quando já é possível apostar em todas as modalidades

Parlamentares bolsonaristas alegam razões sanitárias para opor-se ao PL que autoriza o funcionamento de cassinos no Brasil. Para eles, a medida agravaria o já sério problema do vício em jogos.

É comovente ver esse pessoal que pontificava contra as vacinas quando morriam 4.000 brasileiros por dia de Covid-19 preocupado com a saúde pública. Nunca é tarde para converter-se à medicina baseada em evidências.

Zeina Latif - O Brasil é ingovernável?

O Globo

Fazer reformas fiscais deveria ser prioridade da classe política, até porque a oposição de hoje poderá ser governo amanhã

O país parece mais difícil de governar, mas isso não deveria ser justificativa para a inação.

O Executivo tem hoje menor poder para alocar recursos do Orçamento onde bem entender. Isso porque em torno de 93% das despesas são de natureza obrigatória, ante 75% no início dos anos 2000. O engessamento do Orçamento da União decorre das muitas regras constitucionais, além de despesas de difícil compressão, como o Bolsa Família.

Vinicius Torres Freire - Lula Descontrolado

Folha de S. Paulo

Presidente cria ambiente de crise quando não havia uma e chuta juros e dólar para cima

No dia 12 de março deste ano, a taxa de juros de um ano baixara a 9,75%. Foi a menor desde 2021, em pleno governo das trevas. O dólar custava R$ 4,98. A taxa real de juros de um ano estava na casa de 5,8% ao ano. Nas contas de "o mercado", o Banco Central levaria a Selic até 9% no final deste 2024 e para 8,5% no final de 2025.

Nesta terça, taxa de juros de um ano subiu a 11,39%. A taxa real de juros de um ano, para 7,4%. Prevê-se Selic em 10,5% ou mais até o final do ano. O dólar anda em níveis inflacionários, triscando os R$ 5,70.

O que houve entre os quatro meses daquele março risonho e franco e este junho em que o país parece estar em crise? O outono quente e seco em São Paulo mexeu com os miolos dos mercadores e donos do dinheiro?

Wilson Gomes - juiz celebridade precisa acabar

Folha de S. Paulo

Se não compreender esse fato, em breve não terá moral para fazer o seu papel

Sou de uma geração que, ao alcançar a idade do discernimento moral e do entendimento do mundo, achou-se sob uma ditadura militar. Uma geração que não apenas viveu boa parte da vida sob um regime ditatorial, mas cujos pais haviam experimentado duas ditaduras.

Um jovem dos anos 1980 nem sequer conseguia discernir se o país vivia sob um regime democrático frequentemente interrompido por longas ditaduras ou se saltava de ditadura em ditadura com breves intervalos democráticos. Daí o assombro de quase ver a história se repetir em 2023, quando bolsonarismo achou que já era tempo demais de recreio democrático e saiu num domingo de sol para dar um golpe como quem sai para um passeio no parque.

Martin Wolf - Mudança climática é falha de mercado

Financial Times / Valor Econômico

Estamos descobrindo que é praticamente impossível agir na escala necessária para conter o aquecimento global

 No cerne das tentativas para interromper as mudanças climáticas, há duas ideias: descarbonizar a eletricidade e eletrificar a economia. Então, como isso está indo? Mal, é a resposta.

Se a situação mudará a tempo? Não, na trajetória atual. Ainda pior, a política, sempre difícil, tornou-se ainda mais complicada: as pessoas simplesmente não querem pagar pelo preço de descarbonizar a economia.

Um fato desanimador: em 2023, a produção de eletricidade gerada por combustíveis fósseis foi a maior na história. A participação da eletricidade produzida dessa maneira em relação ao total, na verdade, caiu, de 67%, em 2015 (data do célebre Acordo de Paris sobre o clima), para 61%, em 2023. Nesses oito anos, contudo, a produção total de eletricidade no mundo saltou 23%. Como resultado, embora a geração de fontes não fósseis (incluindo a nuclear) tenha aumentado impressionantes 44%, a de combustíveis fósseis cresceu 12%. Infelizmente, a atmosfera reage às emissões, não às boas intenções: estamos correndo para a frente, mas indo para trás.

Fernando Exman - Entre discurso e prática, o labirinto da economia

Valor Econômico

Lula está insatisfeito com a forma com que auxiliares têm defendido os resultados obtidos em seu terceiro mandato

O presidente Luiz Inácio Lula da Silva atropelou as discussões que vinham sendo conduzidas, com relativa discrição dentro do governo, para a formatação de um novo discurso sobre o desempenho da economia. A estratégia estava em gestação, quando Lula avançou o sinal e acelerou. A imprudência gerou novo acidente no mercado de câmbio, em um momento em que seria melhor dar algum sinal na política fiscal.

Além de parecer disposto a manter uma permanente rixa com o presidente do Banco Central (BC), Roberto Campos Neto, Lula está insatisfeito com a forma com que auxiliares têm defendido os resultados obtidos em seu terceiro mandato. Acha que a percepção do brasileiro sobre a qualidade de vida está impactando negativamente a sua popularidade, a despeito de indicadores positivos observados há meses, e portanto há que contar “uma história melhor” para a população.

Lu Aiko Otta - Ajuste fiscal de Lula poderá ter “bondades

Valor Econômico

Presidente e Haddad discutem hoje um leque de medidas destinadas a ajustar as contas públicas no período de 2024 a 2026

Um leque de medidas destinadas a ajustar as contas públicas no período de 2024 a 2026 deverá ser levado hoje pelo ministro da Fazenda, Fernando Haddad, ao presidente Luiz Inácio Lula da Silva (PT). Esta é a pauta da reunião, o que não impede que a escalada do dólar seja discutida.

No fiscal, quem espera sinais contundentes e definitivos de compromisso do atual governo com cortes de despesas poderá se decepcionar.

Na noite de segunda-feira, o ministro avisou que levaria um “diagnóstico geral das questões a serem enfrentadas” e que as medidas exigirão um “tempo de maturação”, até que o presidente esteja seguro de que as pessoas que precisam ser protegidas o serão.

Poesia | A Procura, de Cora Coralina

 

Música | Zeca Pagodinho 40 anos - “Cadê meu amor” & “Seu Balancê”/Part. Especial: Iza