sábado, 22 de junho de 2024

O que a mídia pensa | Editoriais / Opiniões

Corte de verbas em meteorologia deixa país vulnerável

O Globo

Catástrofe gaúcha mostra que, enquanto governo gasta onde não é preciso, corta o indispensável

As chuvas que devastaram o Rio Grande do Sul no mês passado impuseram uma lição contundente: União, estados e municípios precisam se preparar melhor para lidar com fenômenos climáticos extremos, que, em razão do aquecimento global, se tornaram e se tornarão mais frequentes e mais intensos. Para isso, previsões meteorológicas são críticas. Paradoxalmente, neste momento de demanda crescente, o Instituto Nacional de Meteorologia (Inmet) vem sendo esvaziado.

Como mostrou reportagem do GLOBO, o orçamento empenhado pelo Ministério da Agricultura e Pecuária ao Inmet vem caindo. Foram R$ 29,1 milhões em 2020, R$ 27,6 milhões em 2021, R$ 22,1 milhões em 2022, R$ 16,1 milhões no ano passado e R$ 11,5 milhões no primeiro semestre. Quando observados os valores para a área de meteorologia (e não apenas para o Inmet), também houve queda. Em 2022, foram empenhados R$ 24,7 milhões e pagos R$ 22,7 milhões. Em 2023, R$ 18,4 milhões e R$ 18,3 milhões. Neste ano, R$ 15,5 milhões e R$ 12 milhões até agora.

Fareed Zakaria - Lição dos trabalhistas aos democratas

O Estado de S. Paulo

Iminente derrota dos conservadores britânicos não se deve à preferência pelas ideias da esquerda

Ao ocupar o centro, o líder do Partido Trabalhista forçou os conservadores a irem mais à direita

Em junho de 2016, o referendo do Brexit alertou a todos sobre o poder crescente do populismo e sinalizou que Donald Trump tinha uma chance real de vencer. Ao visitar o Reino Unido agora, às vésperas da eleição geral, tive outro vislumbre do rumo que a política está tomando nas democracias avançadas. Os democratas, que enfrentarão um Trump ressurgente, devem prestar muita atenção.

Independentemente da pesquisa que você analisar, o Partido Conservador, no poder, caminha para uma derrota catastrófica. Uma pesquisa em particular chamou a atenção de todos. Conduzida pela Savanta para o Telegraph, ela prevê que os trabalhistas vencerão os conservadores (também conhecidos como Tories) por 21 pontos. A análise da empresa de pesquisa sugere que os trabalhistas poderão conquistar mais de 500 cadeiras (de 650 na Câmara dos Comuns), com os conservadores obtendo apenas 50.

Pablo Ortellado – França em alerta

O Globo

Bardella é um símbolo perfeito para a nova imagem desejada pela Reunião Nacional

Depois que a extrema direita elegeu o maior número de deputados franceses nas eleições para o Parlamento Europeu, no começo de junho, o presidente Emmanuel Macron dissolveu a Assembleia Nacional e convocou novas eleições parlamentares para o fim deste mês. Em seu discurso ao anunciar a medida, afirmou que a vitória dos “demagogos” e “populistas” da “extrema direita” representa um “perigo para a nação” e que era necessário “esclarecer” a vontade do povo.

Analistas divergem sobre a motivação de Macron para dissolver a Assembleia: se apostou que o voto na extrema direita nas eleições europeias foi um voto pontual de protesto, se espera que o sistema eleitoral distrital em dois turnos favoreça o centro ou se pretende que o exercício do poder desgaste o partido de extrema direita Reunião Nacional (RN). Se espera que as novas eleições reforcem seu apoio parlamentar, a manobra parece estar dando errado: as pesquisas de opinião apontam vitória do RN.

Eduardo Affonso - À deriva

O Globo

‘A gente não vai permitir que nos roubem a criação da inteligência artificial, assim como foi roubada a criação do avião’

‘Eu desafiei os nossos cientistas’:

— Vamos criar vergonha. Vai ter uma conferência nacional em julho, e vocês tratem de me apresentar um produto de inteligência artificial em língua portuguesa, criado pelos brasileiros. Porque a gente não vai permitir que nos roubem a criação da inteligência artificial, assim como foi roubada a criação do avião. (11/6/24)

— Se o Zelensky diz que não tem conversa com o Putin, e o Putin diz que não tem conversa com o Zelensky, ou seja, é porque eles estão gostando da guerra, porque senão já tinham sentado para conversar e tentar encontrar uma solução pacífica. (13/6/24)

Alvaro Costa e Silva - Salvando a pátria do crime

Folha de S. Paulo

Candidatos hoje trocaram os marqueteiros por advogados criminalistas

Nunca tantos deputados federais, mais de uma centena, tornaram-se alvo de ações e processos criminais. Eles respondem de corrupção e peculato a violência contra a mulher. O levantamento foi realizado pelo site Congresso em Foco e mostra que a lista de investigados e réus ocupa um amplo mapa ideológico, perfazendo 16 partidos. O campeão de irregularidades é o PL, do ex-presidente Bolsonaro.

Para consolidar seu enorme poder, com faturamento estimado em US$ 1 bilhão por ano, a facção criminosa PCC conseguiu se infiltrar em atividades legais, como fazem as milícias e máfias. Um dos caminhos foi fraudar licitações usando o esquema de entrega de propina em pacotes de dinheiro a vereadores e agentes públicos de prefeituras e câmaras municipais no estado de São Paulo.

Carlos Andreazza - Censurando e andando

O Estado de S. Paulo

É ler as oito páginas da decisão e constatar a inexistência de outra fundamentação

Alexandre de Moraes censurou e descensurou. A liberdade do onipotente produz relaxamentos; o “juízo de cognição sumária” baixando já sem tentativa de envernizar a ordem com Direito.

Ordenou a censura porque pleito de Arthur Lira. Em 2019, na origem dos inquéritos xandônicos, censurara a Crusoé a pedido de Dias Toffoli. É ler as oito páginas da decisão e constatar a inexistência de outra fundamentação. Periculum in Lira.

Ordenou a descensura porque, entre os censurados, estava jornalão. Talvez tenha sabido só depois... “Ih! A Folha.” Ministro do Supremo flagrado mui à vontade para censurar distraidamente, copiando e colando trechos de censuras anteriores.

Demétrio Magnoli - Governar as mentes

Folha de S. Paulo

Atrás de PL antiaborto está estratégia baseada na ideia de que governo deve administrar as mentes

"É a economia, estúpido!". O slogan, criado pelo marqueteiro James Carville, que orientou a campanha presidencial vitoriosa de Bill Clinton, em 1992, ficou célebre, mas era política convencional: o governo deve administrar as coisas. Há, porém, um outro tipo de ação política que desafia a tradição democrática. O PL antiaborto não é (só) sobre aborto nem (apenas) um problema das mulheres. Avulta, atrás dele, uma estratégia política baseada na ideia de que o governo deve administrar as mentes.

Carlos Alberto Sardenberg - Haddad e Lula são liberais?

O Globo

O fisiologismo de direita e de esquerda adora usar dinheiro público para beneficiar negócios amigos

Era só o que faltava: o ministro Fernando Haddad tornar-se um liberal e carregar Lula nessa virada. Pode parecer provocação, mas não é. Quer dizer, é um pouco. Mas faz sentido.

Tem a ver com os tais gastos tributários — dinheiro que o governo deixa de arrecadar ao isentar ou reduzir impostos devidos por empresas e cidadãos. Neste ano, chegam a R$ 524 bilhões, ou 4,5% do PIB — valor que surpreendeu o presidente, como ele mesmo confessou. Obviamente, Lula não se inteirou nem dos pontos principais do Orçamento que ele mesmo assinou. Pois os bilhões estão lá relacionados e comentados pela Receita Federal, que vive procurando maneiras de conter esses gastos.

Dora Kramer - A realidade condena

Folha de S. Paulo

Lula quer soluções simples e rápidas para situações complicadas e duradouras

Soluções simples e rápidas nunca deram certo no enfrentamento a situações complicadas e duradouras na economia brasileira. Foram várias tentativas frustradas na primeira década de redemocratização, justamente pela preferência de governantes por medidas de impacto imediato. Daqueles erros emergiu o aprendizado de economistas liderados por um político de visão avesso a imediatismos que resultou no acerto do Real, um plano de 30 anos bem vividos.

Luiz Gonzaga Belluzzo - Na corda bamba do equilíbrio fiscal

CartaCapital

Um livro reúne um valioso conjunto de textos escritos ao longo de três décadas pelos criadores do Plano Real

Enrascada nas obsessões com o equilíbrio fiscal, a alma dos economistas brasileiros poderia ousar uma aventura pelos caminhos (e descaminhos) do Plano Real.

Organizado por Gustavo Franco, o livro 30 Anos do Real exibe artigos de Pedro Malan e Edmar Bacha publicados entre 1996 e 2024. A coletânea inicia a caminhada em 1996 e oferece ao leitor um valioso conjunto de indagações (e respostas) de três autores do Plano a respeito da trajetória político-econômica do ­Real. Faltou André Lara Rezende.

Em sua concepção essencial, o Plano Real seguiu o método básico utilizado para dar fim à maioria das “grandes inflações” do século XX: recuperação da confiança na moeda nacional pela garantia de seu valor externo.

Um dos exemplos é a economia alemã, que sucumbiu à impossibilidade de gerar as divisas necessárias para honrar as reparações de guerra impostas pelo Tratado de Versalhes. A fuga sistemática do marco para o dólar e a libra disparou a hiperinflação e não escassearam analistas de prestígio, como o italiano ­Brescianni-Turroni, dispostos a ­acusar o Reichsbank de destempero monetário. A “âncora” para escapar das maldições da hiperinflação repousou na estabilização da taxa de câmbio nominal, garantida pelo financiamento em dólares feito pelo Banco Morgan.

Carlos Drummond - Cerco total

CartaCapital

Aumenta o poder dos mais ricos sobre os recursos públicos

Em 12 meses, os gastos com juros da dívida somaram 776 bilhões de reais

A afirmação veemente de Lula, em entrevista na terça-feira 18 à rádio CBN, de que os ricos tomaram conta do orçamento, retrata a situação real, de alto risco para o País, do cerco quase total dos recursos públicos por interesses privados, nem sempre defensáveis. O setor financeiro, a mídia, o Banco Central e parcela do setor produtivo agem como se estivessem todos diante de um balcão, a cobrar da política econômica juros altos sem limite e benefícios fiscais sem-fim, e o governo tivesse a obrigação de atendê-los, documenta o noticiário dia após dia. O preço do atendimento às demandas privadas inclui, entretanto, a ampliação e a perpetuação das iniquidades, além do aprofundamento das disfuncionalidades da economia brasileira.

Marcus Pestana - Equilíbrio fiscal: um desafio global

A IFI - Instituição Fiscal Independente brasileira participou do 16o. Encontro Anual das IFIs e Assessorias Parlamentares de Orçamento, promovido pela OCDE, nos últimos dias 16, 17 e 18 de junho, em Atenas, Grecia. Foram 41 países representados. A IFI brasileira esteve ao lado de países como EUA, Reino Unido, Austrália, Coreia, Canadá, França, Grécia, Israel, Itália, Holanda, Portugal, Espanha, Argentina, Turquia, Peru, África do Sul, entre tantos outros países.

Na abertura tivemos a presença dos ministros gregos da Economia e da Educação, que expuseram a vigorosa recuperação da economia grega e o programa de reformas adotado após décadas de recessão e crise fiscal. O país recebeu recentemente grau de investimento.

Cristovam Buarque - Universidade não é fábrica

Veja

A greve pode ser legítima, mas não é compatível com a educação

Greves são instrumentos necessários, eficientes e justos para forçar patrões ao diálogo nas lutas dos trabalhadores. Para retomar o trabalho, os donos podem reduzir o lucro da empresa ou elevar os preços de suas mercadorias. A atual greve de professores e servidores das universidades e institutos federais são justas ao reivindicar reajuste salarial, mas é desnecessária porque o atual presidente e seus ministros não precisam de paralisação para dialogar com sindicatos, e ineficiente quando se considera que governo não é patrão, apenas administrador do orçamento do Estado, e a educação não é fábrica com mercadoria para venda. Para atender às reivindicações, o governo precisaria reduzir outros gastos, sacrificando setores essenciais da sociedade ou enfrentando poderosos na política. Tudo indica não haver neste momento margem para sacrifício, nem enfrentamento. Quando dispõe de recursos ou de força, um governo comprometido socialmente não precisa de greve para aumentar salário de professores, e não adianta greve se não tem esses recursos.

Poesia | Soneto XLIV, de Pablo Neruda

 

Música | Simone e Marcos Valle - Viola Enluarada | Um Som Pro Sul