Eric Hobsbawm (1917-2012), “Como
Mudar o Mundo”, p. 300 – Companhia das Letras, 2011
Política e cultura, segundo uma opção democrática, constitucionalista, reformista, plural.
quinta-feira, 29 de agosto de 2024
Opinião do dia – Eric Hobsbawm* (Importância da política)
O que a mídia pensa | Editoriais / Opiniões
Maior desafio de Galípolo é manter confiança no BC
O Globo
Novo presidente precisará pautar sua gestão
por parâmetros técnicos, como tem feito no cargo de diretor
Como esperado, o presidente
Luiz Inácio Lula da Silva indicou o economista Gabriel Galípolo para comandar o
Banco Central (BC) a partir de janeiro, depois que acabar o
mandato do atual presidente, Roberto
Campos Neto. Galípolo, atual diretor de Política Monetária do BC,
terá o desafio de manter a confiança na condução da política monetária. Pelo
que tem demonstrado até aqui, não há motivo para duvidar de sua capacidade de
executar a tarefa.
Qualquer nome indicado para comandar o BC será sempre alvo de escrutínio. No caso de Galípolo, a vigilância será maior. O motivo é a campanha — injusta — promovida por Lula contra Campos Neto desde o início do governo. Até o final do ano, o chefe do Executivo terá de escolher mais três diretores do BC. Com isso, a maioria dos integrantes do Comitê de Política Monetária (Copom) terá sido indicada por ele. Cria-se naturalmente o temor de interferência na política monetária.
Merval Pereira - O voto inválido
O Globo
O Tribunal Superior Eleitoral (TSE), numa
jurisprudência do século passado, considera que votos nulos não existem, “é
como se nunca tivessem sido dados”
O governador de São Paulo, Tarcísio de
Freitas, voltou atrás na inclinação de anular seu voto no caso de segundo turno
na capital paulista entre o candidato do PSOL, Guilherme Boulos, e o coach
Pablo Marçal, do PRTB. Ele anunciara a tendência numa entrevista, e Carlos,
filho de Bolsonaro, indignou-se. Foi às redes sociais para afirmar que “não há
voto nulo contra a esquerda”.
Tarcísio logo retratou-se, dizendo que,
embora apoie o atual prefeito, Ricardo Nunes, e tenha dúvidas sobre propostas
de Marçal, votará nele no caso de a disputa ser contra Boulos. Sobretudo, a
reação de Carlos e o recuo de Tarcísio sugerem que os bolsonaristas de maneira
geral estão liberados para votar em Marçal ainda no primeiro turno, o que
deverá enfraquecer o apoio a Nunes.
Por que o voto nulo não se transforma em instrumento efetivo de protesto do eleitor? Porque a Constituição Federal de 1988 e a Lei das Eleições consideram como votos válidos somente os nominais e de legenda, determinando a exclusão de brancos e nulos para os cargos de prefeito, governador, presidente e vice-presidente. Isso significa que tanto os votos em branco quanto os nulos não são considerados no cálculo final das urnas. São inválidos e descartados na contagem eleitoral.
Malu Gaspar – De volta ao passado
O Globo
Uma parte do Brasil está vidrada
no fenômeno Pablo Marçal,
outra parte preocupada com o fogo que se alastra por florestas e plantações. A
força da extrema direita e a emergência ambiental são desafios dos anos 2020
para os quais Lula terá
de encontrar uma resposta. No dia a dia do governo, porém, os esforços estão
mais voltados para prioridades que parecem ter saído de uma agenda dos anos
2000.
Uma delas, anunciada pelo presidente em
reunião com os presidentes dos fundos de pensão na semana passada, envolve
mudar a regulação dessas entidades para que Previ (dos funcionários do Banco do
Brasil), Petros (Petrobras),
Funcef (Caixa
Econômica Federal) e Postalis (Correios)
possam injetar dinheiro nas obras do PAC.
Juntos, esses fundos têm mais de R$ 500 bilhões para investir. Mas deixaram de poder aplicar em empreendimentos imobiliários e de infraestrutura, focos de escândalos que provocaram rombo estimado em R$ 50 bilhões com investimentos movidos a propina durante os governos Lula e Dilma Rousseff.
Antonio Pedro Pellegrino - Os cobradores
O Globo
A mesma atitude de Ricardo III perante a
vida, de cobrança intransigente, pode ser encontrada no discurso da extrema
direita
Na pena de Shakespeare, Ricardo III era
maldade pura, ambicioso sem limites, capaz de qualquer coisa pelo poder. De
feiura profunda, assustava quem lhe aparecesse pela frente. Julgava-se um
injustiçado e, como tal, autorizado a cometer o mal. A matança por ele
promovida era o exercício de uma espécie de direito à reparação, a que,
possesso, ele julgava fazer jus: uma rasteira na crueldade do destino, que lhe
condenara à feiura chocante e brutal.
“Ricardo III”, de Shakespeare — peça analisada por Freud em ensaio conhecido —, põe em evidência o direito a ser vilão em contexto de supostas injustiças. O mundo passa a ser devedor, culpado, de modo que uma pessoa pretensamente injustiçada pelo destino se sente como que autorizada a ser injusta, transformando a vida dos outros na tragédia que é sua própria vida.
Luiz Carlos Azedo - Câmara não perdoará mandante da morte de Marielle
Correio Braziliense
O Conselho de Ética abriu processo contra
Chiquinho Brazão em abril, após o parlamentar ter sido preso pela PF por
envolvimento na morte da vereadora carioca
A votação no Conselho de Ética da Câmara foi
acachapante: aprovou por 15 votos a um a recomendação de cassação do mandato do
deputado Chiquinho Brazão (sem partido-RJ), réu acusado de ser um dos mandantes
do assassinato da vereadora Marielle Franco (PSol). Jack Rocha (PT-ES),
relatora do caso, recomendou a perda do mandato de Brazão por condutas
incompatíveis com o decoro parlamentar. Segundo a deputada, há provas
“robustas” de que ele cometeu “irregularidades graves no desempenho do mandato”
e que é “verossímil” a conclusão da Polícia Federal e da Procuradoria-Geral da
República (PGR) de que Brazão é um dos mandantes da execução de Marielle.
A defesa do deputado ainda poderá recorrer à Comissão de Constituição e Justiça (CCJ) da Casa, onde a correlação de forças é majoritariamente conservadora, mas dificilmente, lá também, o parlamentar será poupado. Não é a tradição da CCJ perdoar colegas homicidas. O deputado Gutemberg Reis (MDB-RJ) foi o único voto contrário à cassação. O deputado Paulo Magalhães (PSD-BA) se absteve. A cassação dependerá do apoio de 257 dos 513 deputados, no mínimo.
Vagner Gomes de Souza - Lacerdismo a doença infantil do sectarismo carioca
Por outro lado, há uma mobilização ainda mais
vazia que faz ressurgir o moralismo do lacerdismo em suas críticas a alianças
favoráveis a reeleição do atual Prefeito. Esses “neolacerdistas” da classe
média carioca e/ou funcionalismo público tijucano e seus assemelhados se
consideram a verdadeira esquerda. Anunciam que estão “sempre alertas” as
aproximações que atribuem como desqualificadoras do apoio a gestão municipal
que tem buscado fazer o Rio de Janeiro superar sua grave crise. Uma crise
gravíssima que o assim autodenominado candidato da “saída pela esquerda” acha
que a “mágica” dos números do IPTU seria uma solução viável.
A política não pode conviver com o fanatismo de convicções que se negam a perceber a realidade. Governar uma cidade cosmopolita como o Rio de Janeiro não pode se fazer como se fosse a pregação do Beato José Maria ao liderar a Guerra do Contestado. Precisamos exorcizar esse lacerdismo político da cultura política da Zona Sul carioca que não consegue dialogar para além do Tunel Vice-presidente José de Alencar – se esquecem que as voltas da política real se faz sempre. Então, fazer insinuações contrárias a determinadas alianças é um sectarismo que cheira muito do oportunismo.
Míriam Leitão - Debates sobre o combate ao fogo
O Globo
Ministro do STF deu 15 dias para mobilização
no Pantanal e na Amazônia. O governo estranhou
O ministro Flávio Dino deu quinze dias para o governo mobilizar recursos e agentes no combate ao fogo no Pantanal e na Amazônia. O governo estranhou. “Sinceramente, não entendemos. A atitude dele é mandar fazer o que estamos fazendo para parecer que estamos fazendo porque ele mandou”, explicou uma autoridade do executivo. No Supremo, a explicação é que a decisão do ministro era inevitável. “Há um acórdão transitado em julgado mandando aumentar os esforços”, diz uma fonte do Judiciário. Desentenderam-se. Foi a própria esquerda — Rede e outras ações do PSOL e PSB — que recorreu ao STF com ações para forçar o executivo a agir. Mas quando? Naquele governo que não agia, o de Jair Bolsonaro. Agora, essa ação já julgada está servindo de base para a decisão de Dino em relação ao governo Lula, do qual ele fez parte.
Maria Cristina Fernandes - Empresários entre o horror e o inevitável em São Paulo
Valor Econômico
Aversão do empresariado a Marçal vai até o fim do 1º turno
Sondado por um amigo comum para uma conversa
com Pablo Marçal,
um banqueiro despistou. “Cê tá louco? Ele vai sair por aí dizendo que falou
comigo”. Um grande investidor paulistano, com negócios imobiliários em Goiás,
de onde Marçal foi exportado para São Paulo, recebeu a mesma sondagem e caiu
fora.
No meio empresarial e
financeiro, este tem sido o comportamento padrão em relação ao candidato do
PRTB à Prefeitura de São Paulo. Pelo menos até 6 de outubro. Num
segundo turno contra Guilherme
Boulos (Psol), cenário no qual a pesquisa
Quaest desta quarta sugere um rigoroso empate, a coisa muda de
figura.
O horror cede lugar ao inevitável. Com PCC, com tudo. Em dois grupos diferentes de WhatsApp de investidores, a vitória do candidato do Psol aparece como a única situação que os levaria a optar por Marçal, como um dia o fizeram, de maneira menos titubeante, por Jair Bolsonaro contra o lulismo.
Pedro Cavalcanti e Renato Fragelli - Realimentando a estagnação secular
Valor Econômico
A renda per capita brasileira de 2024 deve se igualar à de 2013
Neste momento, o Palácio do Planalto comemora
as previsões de crescimento do PIB em torno de 2,5%, bem como a (relativamente)
baixa taxa de desemprego de 6,9%. Os números são vendidos como evidência do
sucesso da política econômica implantada após a volta de Lula à Presidência.
Será?
A renda per capita da principal economia do planeta, os EUA, cresce em média 1,5% ao ano. Trata-se de um padrão mantido ao longo de um século e meio, desde o fim da Guerra de Secessão. Anos de recessão, como os da crise do subprime e da covid, são compensados com anos de crescimento acima de 3%, o que explica a média acima. No Brasil, em contraste, a renda per capita de 2024 deve se igualar à de 2013. Foi a segunda década perdida, repetindo a estagnação dos anos 1980. No período, houve o grande desastre de 2015-16, quando o PIB caiu 6,7%, fruto do voluntarismo desinformado de Dilma Rousseff.
Assis Moreira - Tentativa de focar em agricultura sustentável
Valor Econômico
Nesses tempos de maior instabilidade, governos não se entendem sobre como responder aos desafios
Um seminário recente na Organização Mundial
de Comércio (OMC) mostrou senso de urgência sobre desafios que o setor agrícola
enfrenta - e as dificuldades de reações.
Inclui a piora da insegurança alimentar,
aumento de desigualdades e da pobreza, impacto devastador da mudança climática,
crescente preocupação com escassez e menor qualidade da água, perda de
biodiversidade, mudança nos padrões de temperatura e precipitação. Eventos
climáticos extremos, como secas, inundações e tempestades tropicais, estão se
tornando mais frequentes, intensos e de longa duração e podem reduzir a terra
produtiva disponível em várias áreas do mundo.
Um representante da FAO, a agência da ONU para agricultura e alimentação, observou que a prevalência de insegurança alimentar (incapacidade de arcar com uma dieta saudável) e a ameaça de fome chegam a 40% e 3% da população mundial, respectivamente. Ele deu ênfase a duas mudanças estruturais (desaceleração da produtividade e crescente desigualdade) e três disruptores (desaceleração econômica, mudança climática e conflitos) como os principais fatores provocando essa situação.
Marcelo de Azevedo Granato - Mandato parlamentar é empreendimento individual?
O Estado de S. Paulo
Decisões de congressistas podem resultar em
benefícios a localidades específicas, mas ponto de partida deve ser a realidade
nacional
“Se (...) sou obrigado a dar R$ 2 milhões
para uma cidade que me deu só 2 mil votos e R$ 100 mil para uma cidade que me
deu 20 mil votos, o que vou dizer para essa última cidade? (...) Prefeitos me
procuram às vezes, e eu saco o mapa e vejo. Aí digo: 'Só tive 80 votos lá?'. Na
hora da eleição ele fechou com outro candidato, agora quer emenda? Não dá”.
Essas são declarações do deputado Joaquim Passarinho (PL-PA) à reportagem do jornal Folha de S.Paulo. Ali, Passarinho trata do direcionamento de verbas do Orçamento a redutos eleitorais dos parlamentares através das emendas individuais ao dispor de cada um deles. Ele dá como exemplo a cidade de Brejo Grande do Araguaia (PA), onde disse ter tido boa votação no passado. Nas eleições de 2022, porém, o deputado teria recebido votação bem inferior, o que atribuiu à aliança do prefeito da cidade com outros candidatos a deputado federal: “Resultado: estão há dois anos sem emenda. Só R$ 100 mil que mandei para lá” (‘Edital de emendas parlamentares’ empaca em Congresso com fartura de verba gasta sem critério, 5/11/2023).
O caso suscita a pergunta: quem esse parlamentar está representando?
William Waack - Homens e instituições
O Estado de S. Paulo
Lula já impôs ao indicado para o BC um difícil teste de credibilidade
Dois grandes problemas de naturezas distintas
estão no caminho do indicado para o Banco Central. E a origem das duas questões
se localiza no Palácio do Planalto. A primeira são as consequências de uma
política fiscal que expande os gastos públicos e busca o equilíbrio das contas
via arrecadação. Gabriel Galípolo já assinou comunicados do Banco Central com
alertas exatamente para esse ponto – uma política fiscal crível é um dos
grandes componentes da taxa de juros.
Mas Lula, que o indicou, não acredita nisso. Em parte por não entender exatamente como funcionam os delicados mecanismos de formação de preços numa economia moderna (e juros são um deles). Em parte pelo primado que impôs da política eleitoreira sobre os rumos fiscais do governo. No horizonte de curtíssimo prazo no qual Lula opera, gasto é vida política, sim.
Felipe Salto - Galípolo é o nome certo para o BC
Não tenho dúvida de que realizará com maestria a tarefa de preservar o poder de compra da moeda, sem ignorar o PIB e o emprego
Conheço Gabriel Galípolo há tempos. Quem nos
apresentou foi um estimado professor em comum, José Marcio Rego. Já presenciei,
em muitas ocasiões, sua capacidade de analisar a economia nacional, sob
perspectiva teórica e histórica; sempre com bom humor. Tem capacidade de
entrega e dialoga com diferentes interlocutores, de matizes distintos, em
benefício dos propósitos a que se dedica.
A notícia de que Galípolo será indicado à
presidência do Banco Central (BC) é um bom agouro, que chegou pela boca do
próprio ministro da Fazenda, Fernando Haddad, na tarde de ontem. Não tenho
dúvida de que realizará com maestria a tarefa de preservar o poder de compra da
moeda, sem ignorar o PIB e o emprego.
A condução da política monetária é um desafio complexo, técnica e politicamente. Destaco quatro requisitos: capacidade de comunicação, fundamentação técnica das decisões, uso permanente dos experientes servidores da autoridade monetária e boa interlocução com o governo, o Congresso, o mercado, a academia e a chamada economia real.
Vinicius Torres Freire - O que esperar de Galípolo no BC
Folha de S. Paulo
Melhor é que se esqueça do BC, que venha
calmaria e que a Selic fique onde está, por ora
Luiz Inácio
Lula da Silva enfim indicou Gabriel
Galípolo para presidir o Banco Central.
O que de melhor pode acontecer a Galípolo? Que se esqueçam dele, pelo menos no
que diz respeito a taxas de juros.
Infelizmente, tão cedo não vão esquecer
Galípolo. Assim sendo, será melhor que fale muito pouco. Ao falar, que seja
contido e tedioso. Difícil também. O novo presidente do BC terá de
demonstrar "credibilidade". De resto, nos acostumamos à
falação exagerada dos encarregados da política monetária —e sobre eles.
Em particular em países periféricos, como o Brasil, instáveis na economia e na política, com o problema fiscal sabido, a direção do BC está quase sempre vendida, arrastada por correntes econômicas e financeiras. Mais importante é evitar besteiras, excessos maiores nos juros. O que são essas correntes?
Thiago Amparo – O efeito Marçal
Folha de S. Paulo
Marçal deve ser derrotado na Justiça e no
voto
Não se deve minimizar o poder da candidatura de um coach estridente à prefeitura da mais populosa cidade brasileira. Primeiro, enquanto o candidato que divide a liderança nas pesquisas se ocupa de memes com a palavra "bolo" e a direita tradicional, dividida, patina, não se sabe ainda o seu teto de eleitores. Na liderança (em empate técnico triplo) da pesquisa Quaest, divulgada nesta quarta (28), Pablo Marçal (PRTB) não provou ainda se o teto do bolsonarismo é, de fato, o seu teto —ou se possui espaço para ultrapassá-lo.
Bruno Boghossian - O Congresso prepara outro drible
Folha de S. Paulo
Desenho em negociação poderia manter quase
tudo como estava antes de decisão do STF
O Congresso ainda tenta encontrar uma maneira
de manter o controle sobre as emendas parlamentares. Nesta semana, Arthur Lira e Rodrigo
Pacheco tiveram uma reunião reservada para discutir a criação
de regras que, na prática, podem preservar a liberdade dos congressistas e
driblar determinações feitas pelo STF.
O desenho feito pelos parlamentares já foi enviado ao governo. Quem viu o plano diz que a ideia é vincular as emendas de bancada e de comissão a uma lista de programas preestabelecidos. Esse dispositivo, em teoria, enquadraria a verba dentro de projetos estruturantes ou de caráter regional, como prevê o acordo costurado pelo Supremo.
Conrado Hübner Mendes - Manifesto Constitucionalista
Folha de S. Paulo
A medida do retrocesso brasileiro precisa ser
calculada e demonstrada
Do casamento da democracia com o
constitucionalismo nasceu o regime com maior legitimidade moral na história da
política. Um casamento conturbado. Enquanto uma pede poder para o povo, o outro
pede limite. Enquanto uma carrega a vontade agonística de governar, o outro
pede moderação. Uma extravasa o desejo coletivo, o outro institucionaliza
controle.
Democracias constitucionais minimamente merecedoras do nome ainda gozam de credencial de legitimidade padrão ouro. Eleições livres, competição entre adversários, possibilitar ao derrotado ser vitorioso amanhã e vice-versa; desconcentrar o poder político e econômico, proteger direitos, garantir que a fúria das maiorias não suprima a liberdade das minorias, que os mais fortes não esmaguem os mais fracos: há tensões por onde se olhe.
Maria Hermínia Tavares - Obama e nós outros
Folha de S. Paulo
Na convenção democrata, recomendou ouvir as
'preocupações dos que não votam conosco'
O discurso de Barack Obama na
quarta-feira passada (21/8) foi o ponto alto da Convenção Nacional Democrata,
reunida para sacramentar a candidatura de Kamala Harris.
De todos quantos desfilaram no pódio para
reafirmar a união do partido em torno da substituta de Joe Biden, Obama se
destacou ao remeter a disputa com Donald Trump para
além do confronto entre legendas antagônicas —ou da defesa da democracia
contra o candidato republicano de comprovado apetite autocrático.
Com clareza e a costumeira elegância, Obama
projetou um caminho para superar a polarização política que o truculento Trump
fomenta em tempo integral.
Ex-presidente (de 2009 a 2016), argumentou que há base para a construção de uma maioria democrática ampla, unida por valores fundamentais da vida civilizada —a começar do respeito mútuo—, apesar das diferenças de credo, etnia, experiências e circunstâncias de vida; acima das escolhas e lealdades políticas.
Poesia | Graziela Melo - Menina Triste
Triste olhar
sem nome...
menina pobre
que não conhece
o amor
mas dia
após dia,
sente a dor
da fome!!!
Todos
os dias
a vejo
na esquina!
Volto
para casa
e não consigo
esquecer
o olhar
da menina!!!
Graziela Melo