terça-feira, 13 de agosto de 2024

O que a mídia pensa | Editoriais / Opiniões

Olimpíada de Paris traz sensação ambígua ao Brasil

O Globo

Mesmo com conquistas a celebrar, as frustrações expõem deficiências no incentivo ao esporte no país

Apesar das 20 medalhas, a participação brasileira na Olimpíada de Paris frustrou a expectativa. O próprio Comitê Olímpico do Brasil (COB) esperava bater o recorde obtido em Tóquio, melhor desempenho até hoje com 21 medalhas (sete de ouro, seis de prata, oito de bronze e a inédita 12ª colocação). Mas o Brasil teve de se conformar com três ouros, sete pratas, dez bronzes e o 20º lugar no quadro geral. Embora o número de pódios seja parecido, as medalhas de ouro recuaram, restringindo-se ao brilho de Rebeca Andrade no solo, Bia Souza no judô, Duda e Ana Patrícia no vôlei de praia.

Maria Cristina Fernandes - Os três vespeiros da reunião ministerial

Valor Econômico

Bloqueio do “orçamento secreto”, controle das agências reguladoras e mediação de conflitos contratuais foram discutidos em encontro

O presidente Luiz Inácio Lula da Silva mexeu em três vespeiros na última reunião ministerial: bloqueio do “orçamento secreto”, controle das agências reguladoras e mediação de conflitos contratuais. Lula não fala desses temas em público. Além de ministros, havia presidentes de bancos públicos e do IBGE e líderes governistas no Congresso. Ao bulir nos vespeiros, mostrou que não está inerte à usurpação de prerrogativas que marca sua volta ao poder.

No dia da reunião, o noticiário estava dominado pela decisão do TCU que equipara os presentes de Lula às muambas do ex-presidente Jair Bolsonaro. Não foi o único incômodo daquela sessão. Naquela véspera da reunião ministerial, o TCU também tomou uma decisão que exclui dos cinco anos de mandatos dos atuais diretores-presidentes das agências reguladoras o tempo em que permaneceram em outros cargos de direção.

Pedro Cafardo - Inflação de idosos é mais alta; mínimo repõe perdas com sobra

Valor Econômico

Delfim Netto morreu anistiado pela esquerda, certamente em razão de seu desenvolvimentismo, que proporcionou ao país um período de extraordinário crescimento econômico

Em julho, esta coluna tratou da questão da desvinculação dos benefícios da Previdência. O tom da conversa foi sobre o risco de superendividamento dos idosos caso venha a prevalecer a proposta de desvincular reajustes de aposentadorias e outros benefícios da variação do salário mínimo.

A desvinculação, na prática, tiraria dos idosos que recebem um salário mínimo (dois terços do total) a possibilidade de participar dos ganhos reais da economia. Hoje, ao acompanhar os reajustes do mínimo, os benefícios aumentam acima da inflação oficial, porque são acrescidos do índice de variação do PIB.

Essa vinculação ajuda a aumentar o déficit fiscal do governo em bilhões de reais. A ideia dominante entre os fiscalistas é de que o reajuste deveria seguir apenas a inflação. Ocorre que esse ajuste nem sempre repõe o poder de compra de aposentados e pensionistas, porque os principais gastos dos idosos, como remédios e planos de saúde, tendem a subir mais que a inflação oficial.

Carlos Andreazza - Prioridades

O Estado de S. Paulo

Nada se votará, sobretudo na Câmara, sem que os lugares nas mesas diretoras estejam para jogo

Volta o Congresso ao trabalho, vencido – e esticado – o recesso. E volta, forjadas as urgências artificiais, para esforço concentrado. Muitos assuntos a tratar. Curto, por gestão da turma, o tempo. E então o esforço concentrado. É como chamam a migalha que dedicarão às matérias (nem todas) de interesse público, antes de, já em setembro, mergulharem de todo nas eleições municipais.

Quase de todo, a não faltar atenções à sucessão nos comandos das Casas parlamentares. Nada se votará, sobretudo na Câmara, sem que os lugares nas mesas diretoras estejam para jogo. A maneira como Lira conduziu a primeira regulamentação da reforma tributária o demonstra, exemplar a distribuição-trator de relatorias aos maiores partidos. O homem não tem o controle – não como gostaria um autoritário – sobre o futuro da cadeira em que senta. Precisa manter aquecido o café.

Dora Kramer - Pior que o soneto

Folha de S. Paulo

As emendas tornaram-se uma forma paralela de financiamento de campanhas

Tradicionalmente, as emendas parlamentares ao Orçamento da União sempre foram um jeito de o Executivo manter o Legislativo sob sua dependência. A cada votação negociava-se uma liberação.

Quando passaram a ser impositivas houve uma primeira, e hoje vemos, ingênua impressão de que era uma boa maneira de frear a troca daqueles recursos por votos.

Ingenuidade, porque à época não se considerou a força do velho, e cínico, dito de quem parte e reparte e não fica com a melhor parte ou é bobo ou não tem arte.

Joel Pinheiro da Fonseca - Emendas parlamentares precisam mudar

Folha de S. Paulo

Há justificativa para a existência de emendas, mas a questão é o quanto e o como

Deputados e senadores pretendem retaliar o governo pelo questionamento que o Supremo vem fazendo à falta de transparência de emendas do relator e "emendas Pix". Confronto entre Poderes não é um problema; é parte do desenho da divisão de poder e exige que governo e Congresso entrem em algum acordo que funcione para ambas as partes. Essa é a lógica da política. Cada lado defende pautas que estão de acordo com seus interesses na busca do poder.

Na relação Executivo-Congresso, às vezes um e às vezes o outro defenderá aquilo que seria melhor à sociedade. E às vezes ocorre de um dos lados da disputa política defender algo que afronta diretamente os princípios básicos da nossa Constituição.

É um erro demonizar as emendas parlamentares. Há uma justificativa para sua existência: um deputado provavelmente sabe mais de necessidades locais de seu estado do que um gestor federal. Assim, é razoável que ele possa destinar algum recurso para projetos que ele sabe ser importante.

Hélio Schwartsman - Regulação que funciona

Folha de S. Paulo

Cultura de segurança em torno da aviação comercial reduziu significativamente as taxas de desastres com mortes

Parte dos liberais tem vontade de sacar o revólver só de ouvir a palavra "regulação", mas há situações em que ela funciona exemplarmente. Um dos setores mais regulados do mundo, especialmente no quesito segurança, é a aviação comercial. E, apesar de ainda ocorrerem acidentes trágicos como o do avião que caiu em Vinhedo (SP), eles são cada vez mais raros.

Em 1959, registravam-se 40 acidentes com mortes para cada milhão de voos nos EUA. Dez anos depois, a cifra havia caído para menos de 2 e hoje baixou para 0,1. Os números para outras regiões do planeta não são os mesmos, mas a curva de redução é semelhante.

Luiz Carlos Azedo - Delfim Netto foi um camaleão na política

Correio Braziliense

Delfim foi um protagonista da modernização brasileira, na qual o positivismo foi o caldo de cultura da direita e, depois, da esquerda

A ex-primeira-ministra britânica Margaret Thatcher esteve no Brasil em 1994, no governo Itamar Franco, quando o Plano Real ainda era um “experimento econômico”. Estava em pleno curso a transição à nova moeda, e o xis do problema era o comportamento da inflação. Thatcher fora convidada por Jorge Paulo Lemann, ainda dono do banco Garantia, que viria a ser vendido para o Credit Suisse, em 1998.

A Dama de Ferro lotou o auditório do Maksoud Plaza, um edifício de 23 andares na região central de São Paulo, que ainda era uma referência de tradição e glamour para artistas, celebridades e autoridades, cenário de novelas e palco de shows históricos. Thatcher tinha deixado de ser ministra havia quatro anos, mas era a principal referência para os que desejavam fazer a reforma do Estado brasileiro, com a privatização das empresas estatais, como ocorreria nos anos seguintes. O Brasil era a 10ª economia do mundo.

Merval Pereira - Fora dos padrões

O Globo

Depois entendeu que o poder político havia voltado aos civis, foi para o Congresso e passou a ser um interlocutor importante no governo Lula, apoiando o lado da política de desenvolvimento social do governo

Era início de 1974, o general de Exército da reserva Ernesto Geisel, eleito presidente da República meses antes, passeava com o assessor Oswaldo Quinsan nos jardins de sua casa em Teresópolis quando perguntou de chofre:

— O que fazemos com o Delfim?

Homem sem papas na língua, Quinsan, que trabalhara com Geisel na Petrobras e era seu chefe de gabinete no Palácio do Planalto, respondeu:

— Manda prender.

Delfim era muito forte ainda, impossível prender, mesmo que Geisel quisesse. Pretendia ser governador de São Paulo para chegar ao Palácio do Planalto no final do governo Geisel. Acabou tendo de se contentar com o cargo de embaixador do Brasil na França, onde seus inimigos diziam que era conhecido como “Monsieur Dix pour Cent”.

Míriam Leitão - O economista da ditadura

O Globo

Delfim Netto sempre buscou o poder. Na ditadura defendeu um ato mais duro que o AI-5. Na democracia foi interlocutor de presidentes

O ex-ministro Delfim Netto sempre quis o poder, e se adaptou para exercê-lo em qualquer circunstância. Na ditadura, demonstrou intimidade com o poder totalitário, assinou o AI-5 e disse naquela reunião que o ato deveria ser ainda mais forte. Nos governos Costa e Silva, Emílio Médici e João Figueiredo, foi o poder incontrastável na área econômica. Na democracia, buscou os caminhos para continuar influente, mantendo-se muito bem informado, dialogando com diversas correntes políticas e se transformando em interlocutor de vários presidentes. Na economia, foi um intervencionista, nunca foi liberal e manteve altas barreiras tarifárias ao comércio exterior. Para entender Delfim Netto é preciso aceitar as complexidades. O homem que comandou um período de forte crescimento, produziu depois uma recessão, foi o czar econômico da ditadura e depois deputado constituinte eleito.

Eliane Cantanhêde - Poder e pragmatismo

O Estado de S. Paulo

Delfim Netto: ‘czar da economia’ e ‘inimigo dos pobres’; poderoso na ditadura e amigo de Lula

Apelidado de “czar da economia” e considerado mentor e executor do “milagre econômico” no regime militar, Delfim Netto tinha uma inteligência primorosa, uma conversa cativante e um humor demolidor, que ele calibrava com seu decantado pragmatismo. Adorava uma boa fofoca, recheada de detalhes e maldades. Não deixava nada nem ninguém passar em branco e um dos seus alvos prediletos eram os tucanos, particularmente Fernando Henrique Cardoso, com quem seu santo nunca cruzou. Só era monossilábico ao falar do general Ernesto Geisel.

Delfim era muito polêmico, atraía amigos e inimigos aos montes e cometeu um erro comum, como a gente sabe: voltar ao poder. Saiu da glória e virou vilão preferido, seguindo a trajetória da economia. Em seus tempos de ministro da Fazenda dos generais Costa e Silva e Emílio Médici, a economia cresceu em média 11%, registrou queda da inflação e aumento do consumo de carros e eletrodomésticos. Tornou-se ídolo de empresários e da classe média.

Rolf Kuntz - Um homem de ação e de livros

O Estado de S. Paulo

O legado de Delfim é mais amplo do que indicam admiradores e menos feio do que dizem os críticos

Criado por Jô Soares como caricatura do ministro Antônio Delfim Netto, o Dr. Sardinha combinava duas impropriedades. Sardinha é peixe, enquanto delfim, ou golfinho, é mamífero. Além disso, o bordão recitado pela figura caricata – “meu negócio é número” – era um tanto enganador. Ex-professor de econometria, o ministro entendia de economia agrícola, e sua tese de livre-docência tratava do café. Mas a personagem era divertida, assim como era bem-humorado o titular, em diferentes governos, dos ministérios da Fazenda, da Agricultura e do Planejamento.

Delfim ganhou notoriedade como secretário da Fazenda, em São Paulo, durante o governo de Laudo Natel. Ficou pouco tempo na secretaria. Foi chamado para cuidar das finanças federais no governo do presidente Costa e Silva. Havia condições para a retomada do crescimento, depois de eliminado o risco de hiperinflação pela dupla Roberto Campos-Octávio Gouvêa de Bulhões, na presidência do marechal Castelo Branco.

Elio Gaspari - Delfim Netto foi ministro da Fazenda mais poderoso da história republicana

Folha de S. Paulo

Economista ocupou a pasta durante o 'Milagre Brasileiro', na ditadura militar

Antonio Delfim Netto, que morreu nesta segunda-feira (12), em São Paulo, foi o ministro da Fazenda mais poderoso da história republicana. Neto de um imigrante italiano que fugiu do eito das fazendas de café e trabalhou no calçamento das ruas de São Paulo no século 19, chegou ao poder em 1967, aos 38 anos. Pouco conhecido, com o sotaque do Cambuci, solteiro, gordo e vesgo, vestia-se de preto com camisas brancas. "Fantasia de viúvo", explicava.

Delfim chegava cedo ao ministério e saía tarde, quase sempre para uma mesa do fundo do restaurante Le Bistrô, em Copacabana, sentando-se com os amigos que colocara em postos-chave da administração. De um lado o presidente do Instituto Brasileiro do Café (principal produto da exportação nacional). Adiante, o presidente da Caixa Econômica ou o responsável pelo conselho que controlava milhares de preços de produtos. Ao contrário de Paulo Guedes, que acumulou ministérios, Delfim apenas espalhava seus quadros no tabuleiro do poder.

Durante os seis anos em que esteve na Fazenda, a economia nacional cresceu na média 11% ao ano. Era o que se chamou de "Milagre Brasileiro". Cavalgando-o, poderia ter chegado à presidência da República. A conta era simples: em 1974 ele sairia do ministério, seria eleito (indiretamente) governador de São Paulo e quatro anos depois substituiria o general Ernesto Geisel no Planalto.

Morre Delfim Netto, ministro do milagre econômico, aos 96 anos

Estevão Bertoni / Folha de S. Paulo

Ex-titular da Fazenda foi de homem forte em governos da ditadura a interlocutor de Lula

O economista, ex-ministro e ex-deputado Antonio Delfim Netto morreu nesta segunda-feira (12), em São Paulo. Ele estava internado havia uma semana no Hospital Israelita Albert Einstein, segundo sua assessoria de imprensa, por complicações no estado de saúde.

Delfim deixa filha e neto. Não haverá velório aberto ao público e o enterro será restrito à família.

Ele foi uma figura complexa. O ministro que assinou em 1968 o AI-5, e era único ainda vivo entre os signatários do ato que inaugurou os Anos de Chumbo no país, foi também o deputado federal que, 20 anos depois, chancelou a Constituição de 1988, considerada uma das mais democráticas do planeta.

Foi o homem forte dos generais durante o regime militar (1964-1985) e, quase duas décadas depois, um dos principais interlocutores de Lula nos dois primeiros mandatos do ex-metalúrgico.

O economista e professor da USP soube se reinventar ao longo da carreira. Dizia em vida ter sido três: o primeiro, um socialista fabiano, adepto do movimento inglês surgido no século 19 e que defendia a implantação do socialismo por meio de reformas graduais. O segundo, o homem do governo militar. E o terceiro, o que contribuiu no fim da vida com as políticas sociais do primeiro governo Lula (2003-2010).

Sua projeção nacional começou em 1967, quando se tornou, aos 38 anos, o mais jovem ministro do país. Assumiu a pasta da Fazenda de Costa e Silva para só deixá-la em 1974, no fim do governo Médici. No período, ganhou a fama de "czar da economia brasileira". Nos 21 anos de ditadura, comandaria por 13 deles a economia do país.

Poesia | A velhice pede desculpas, de Cecília Meireles

 

Música | Paulinho da Viola - Onde a dor não tem razão