segunda-feira, 10 de junho de 2024

O que a mídia pensa | Editoriais / Opiniões

Deficiência técnica e critérios frouxos emperram INSS

O Globo

Autarquia falha ao processar demandas, enquanto população é incentivada a buscar novos benefícios

Perto de chegar a R$ 1 trilhão de despesas anuais com aposentadorias, pensões e outros benefícios, o INSS se mostra impossível de administrar, tantas as falhas no processamento dos milhões de pedidos. Apenas em abril, 1.397.408 demandas de segurados estavam à espera de resposta da autarquia, ao lado de 1.403.479 recursos administrativos para revisão de aposentadorias e pensões. Responsável por 40% dos gastos primários da União, o INSS não conta com as condições técnicas necessárias para atender a população como deveria e, ao mesmo tempo, tem afrouxado os controles na concessão dos benefícios, um incentivo para mais gente buscá-los.

Assis Moreira - Uma Europa aflita e com menos peso no mundo

Valor Econômico

A extrema-direita avança numa Europa em perda de importância na economia mundial

O avanço significativo da extrema-direita no Parlamento Europeu, na eleição concluída domingo, ocorre num cenário de nova era geoeconômica que causa disrupções no modelo econômico da Europa e evidente ‘désarroi’, ou seja, confusão, ansiedade, angústia, aflição.

O velho continente está ficando cada vez mais atrás dos Estados Unidos e da China e vendo o avanço de vários emergentes: a fatia da Europa na economia global declinou de 25,8% para 14,1% entre 1980 e 2024 em Paridade de Poder de Compra (PPC), pelos dados do Fundo Monetário Internacional (FMI).

Fernando Gabeira – Política em tempo das redes sociais

O Globo

O Parlamento não só é conservador, mas vive mergulhado numa outra dimensão

Os últimos acontecimentos me fizeram pensar na necessidade de conexão entre Congresso e opinião pública. Muita gente acha que não há esperança de obter algo ali. Alguns congressistas, por seu lado, reclamam da passividade social. Apesar de todo o desgaste, existem temas que interessam diretamente e precisam ser vividos por todos nós.

Um deles é a PEC das Praias. Hoje, a maioria esmagadora da população, a julgar pelas pesquisas, rejeita o texto em discussão no Senado. Mas ele foi aprovado na Câmara e ninguém protestou. Cerca de 90 deputados votaram contra. Não tiveram a iniciativa de buscar apoio fora do Congresso para equilibrar as forças. Certamente pensaram que a sociedade não se moveria. Em alguns momentos, ela não se move mesmo. Mas é preciso sempre tentar.

Bruno Carazza - A ministra e a arte de enxugar gelo

Valor Econômico

Negociações salariais só agravam distorções remuneratórias no serviço público

Não deve estar sendo fácil a vida de Esther Dweck, titular da pasta de Gestão e Inovação em Serviços Públicos. Em razão da política de reajuste zero durante os quatro anos de Bolsonaro e Paulo Guedes para a maioria dos servidores civis federais, a ministra já tomou posse pressionada para corrigir a defasagem salarial.

Uma de suas primeiras providências, contudo, foi relativamente tranquila. Com uma folga de R$ 145 bilhões no orçamento proporcionada pela PEC da Transição, Dweck anunciou um reajuste linear de 9%, beneficiando mais de um milhão de servidores e empregados públicos federais, ao custo de R$ 13,82 bilhões por ano.

Sergio Lamucci - O avanço da renda das famílias e o crescimento

Valor Econômico

Alta forte do rendimento é a grande força motriz por trás da expansão do consumo privado e dos serviços

O crescimento do PIB no primeiro trimestre teve como dois dos principais destaques o consumo das famílias, pelo lado da demanda, e os serviços, pelo lado da oferta, impulsionados pelo avanço significativo da renda. A força do mercado de trabalho e as transferências do governo, por meio de benefícios previdenciários e assistenciais, deram mais uma vez impulso à economia no período de janeiro a março. O PIB cresceu 0,8% em relação ao trimestre anterior, feito o ajuste sazonal, com alta de 1,5% do consumo das famílias e de 1,4% dos serviços.

Demétrio Magnoli - A guerra de Cármen

O Globo

Em sua posse no TSE, ela navegou pelos mares tempestuosos da subjetividade

‘O algoritmo do ódio, invisível e presente, senta-se à mesa de todos. Ódio e violência não são gratuitos. Instigados por mentiras e vilanias, reproduzem-se e parecem intransponíveis. Não são: contra o vírus da mentira, há o remédio eficaz da liberdade de informação séria e responsável. A raiva desumana que se dissemina produzindo guerras entre pessoas e entre nações tem preço — e o preço pago por ceder ao medo e aos ódios é a nossa liberdade mesma.’

Em seu discurso de posse na presidência do TSE, a ministra Cármen Lúcia declarou guerra ao ódio e à mentira. Prometeu, por meio dessa guerra, preservar “nossa liberdade”. Fosse o editorial de um jornal destinado a exaltar o valor da imprensa profissional na era das redes sociais, pouco haveria a corrigir (a raiva é muito humana e, talvez, exclusivamente humana — e não é ela a causa das guerras entre nações). Mas, como programa de ação dos juízes eleitorais em ano de eleições municipais, deve ser classificado como ideia (perigosa) fora de lugar.

Preto Zezé - As lições da base da pirâmide na tragédia

O Globo

Vemos que, diante de desastres como a pandemia, enchentes e incêndios, a sociedade se mobiliza, se une

Durante a pandemia de Covid-19, testemunhamos a complexidade e as injustiças sociais de um país profundamente desigual. A crise sanitária funcionou como um naufrágio em que o afogamento era seletivo, deixando muitos sem sequer uma boia de salvação. Aquele período de extremo sofrimento nos lançou numa escuridão em que o futuro parecia incerto.

Vimos a perda de fé nas instituições, a desconfiança na ciência, a indignação com a política, a incredulidade nas notícias da imprensa oficial e uma inundação de desinformação produzida em massa. No entanto, mesmo em meio ao caos, houve uma mobilização expressiva de recursos e solidariedade de todos os lados. A fé na vida e o compromisso com a sobrevivência naquele momento foram luz na nossa travessia.

Carlos Pereira - Brasil corre menos riscos do que o México

O Estado de S. Paulo

Vetos no Brasil geram ineficiências governativas, mas nos protegem contra arroubos iliberais

O projeto iliberal de ampla reforma constitucional do presidente populista de esquerda mexicano, Andrés Manuel López Obrador (AMLO), foi freado pelas organizações de controle, notadamente pela Suprema Corte e pelo Instituto Nacional Eleitoral (INE). Mas será que conseguirão resistir a eventuais iniciativas iliberais de sua sucessora, Claudia Sheinbaum, recém-eleita primeira mulher presidente da história do México?

Sheinbaum venceu as eleições com uma surpreendente vitória de quase 36 milhões de votos (60% do eleitorado), o dobro de votos obtidos pela segunda colocada, Xóchitl Gálvez, da inusitada coligação dos partidos tradicionais PRI, PAN e PRD, que até bem pouco tempo eram ferrenhos opositores.

Antonio Cláudio Mariz de Oliveira - Alerta: sistema de Justiça em risco

O Estado de S. Paulo

Danos podem conduzir à absoluta anomia e à distopia, estágios que antecedem o caos social e a ruptura do Estado Democrático de Direito

São inúmeros e complexos os problemas que angustiam a sociedade brasileira nos nossos dias. Incluo o sistema de Justiça como uma dessas cruciais questões e que está necessitando de atenção e de reflexão para que haja a correção urgente de seus rumos. A urgência de mobilização das mentes e dos espíritos lúcidos se justifica para se evitar o agravamento, a perpetuação e a irreversibilidade de uma crise de consequências desastrosas para a Nação.

Talvez a extensão e as consequências dessa crise já instaurada não estejam bem assimiladas. No entanto, os seus efeitos poderão estar em marcha rápida e de difícil contenção, caso medidas de ajuste e correção, alterações normativas e até mudanças de comportamento não forem efetuadas.

Marcus André Melo - Brasil errado

Folha de S. Paulo

O mito das instituições políticas perfeitas ou por que o mal estar político é recorrente

Se há algo recorrente no debate público é o diagnóstico de que há algo "errado" nas instituições políticas brasileiras. Martins de Almeida chegou a publicar, em 1932, um livro com o título "Brasil errado: ensaio politico sobre os erros do Brasil como país". Sua crítica não é original, mas é emblemática de uma certa visão do Brasil que é sempre atualizada.

Nesta visão nossas instituições —o presidencialismo, o federalismo etc— são criticadas como construções artificiais. A culpa é do "ruibarbosismo", na expressão daquele autor. Ideias fora de lugar. O que valeria também para a democracia ou o liberalismo —vistos não como valores universais mas como algo que não "pegaria aqui". Estaríamos fadados a sermos sempre um simulacro. A solução implícita é a de um governo forte que se impusesse por cima das regras, dos partidos, estes entes artificiais. Por que se preocupar com habeas corpus e o autoritarismo se as pessoas estão morrendo de fome, bradam iliberais à esquerda e a direita. No limite, as instituições não importam, o tipo de sociedade que temos sim.

Camila Rocha - Bolsonarismo sem Bolsonaro

Folha de S. Paulo

Apoiadores do ex-presidente reconhecem que já existem outros quadros que podem conduzir seu projeto político

O Brasil se destaca no cenário internacional por ter declarado inelegível sua principal liderança de extrema-direita. Porém, passado quase um ano da decisão, os eleitores de Jair Bolsonaro continuam se guiando por suas declarações e apoios políticos.

Em uma série de entrevistas conduzidas com pessoas que votaram em Bolsonaro nos dois turnos em 2018 e 2022, realizada nos meses de fevereiro e março com o apoio da Fundação Friedrich Ebert no Brasil, foi possível compreender como o movimento político capitaneado por Bolsonaro é percebido atualmente por seus apoiadores.

Sindicato critica Lula por se reunir com reitores, mas não receber professores

Danielle Brant / Folha de S. Paulo

Presidente se encontra com reitores de universidades federais nesta segunda-feira (10); professores estão em greve desde 15 de abril

Entidade com mais de 70 mil professores filiados no país, o Andes (Sindicato Nacional dos Docentes das Instituições de Ensino Superior) criticou o presidente Lula (PT) por se reunir com reitores de universidades federais, mas não com os grevistas.

O presidente se encontra nesta segunda-feira (10) com os reitores de universidades federais, em reunião na qual deve anunciar aumento do orçamento de custeio das instituições e um reforço da verba para investimento em obra, como mostrou o Painel.

Filipe Barini - Extrema direita aumenta seu espaço no Parlamento Europeu

O Globo

Partidos extremistas venceram na França, e forçaram uma nova eleição legislativa, mas disputas são entrave a uma aliança capaz de mudar os rumos da UE, por enquanto

Grande fato político da eleição para o Parlamento Europeu, o avanço da extrema direita no continente causou abalos sísmicos em países como a França, onde o presidente, Emmanuel Macron, dissolveu a Assembleia Nacional e convocou uma votação para o mês que vem. Um resultado que pode significar muito em termos locais, mas cuja eficácia no braço legislativo da União Europeia ainda é incerta.

— Houve recentemente uma ruptura nesse bloco, Marine Le Pen (do Reagrupamento Nacional) disse que não iria mais trabalhar com o Alternativa para a Alemanha (AfD, que deve conquistar cerca de 14 assentos) — disse ao GLOBO o professor de Relações Internacionais da Universidade de São Paulo (USP) Kai Lehmann. — Há também brigas internas nacionais, como entre [Matteo] Salvini [vice-premier] e Meloni na Itália, e ninguém sabe como isso vai impactar as eleições e depois das eleições.

Poesia | A Federico Garcia Lorca, de Carlos Drummond de Andrade

 

Música | Chico Buarque | Iolanda (Yolanda)

 

Música | Pablo Milanés - Yolanda (En vivo desde La Habana, Cuba, 2019)