quarta-feira, 13 de novembro de 2024

O que a mídia pensa | Editoriais / Opiniões

É positivo o avanço dos mercados de créditos de carbono

O Globo

Enquanto COP29 cria diretrizes globais, Senado voltou a adiar regras para negócios no Brasil

O Senado adiou ontem mais uma vez a votação do Projeto de Lei (PL) que regulamenta o mercado de créditos de carbono no Brasil, parado havia nove meses. Ele não é perfeito, mas sem dúvida é um avanço, por formalizar a negociação desses créditos no país. Precisa ser votado rapidamente, pois, devido a mudanças feitas no texto vindo da Câmara no início do ano, precisará ser apreciado pelos deputados novamente. Seria constrangedor para o Brasil, sede da 30ª Conferência do Clima da ONU (COP30) no ano que vem, ficar para trás em assunto tão premente por falta de agilidade do Congresso.

A fábula do Centrão e a questão do centro - Paulo Fábio Dantas Neto*

No artigo mais recente desta coluna (“Duas considerações iniciais sobre o resultado das eleições municipais” - https://padlet.com/sfialho/paulofabio_coluna),fiz comentários convergentes com duas considerações bastante frequentes na crônica política e no debate público, em outubro: os resultados das eleições não confirmaram o tipo de polarização que vinha sendo anunciada nas redes sociais e por discursos políticos mais radicalizados; a partir desses resultados municipais, a predição razoável que se pode arriscar é sobre as próximas eleições à Câmara dos Deputados e não sobre a disputa presidencial.

No mesmo artigo, fiz uma terceira consideração, mais controversa – a de que os resultados eleitorais pedem revisão de crenças correntes a respeito dos principais campos da geografia política do país e suas respectivas possibilidades de êxito em várias arenas de competição, até 2026. Sendo mais especifico: pedem reformular, ou abandonar, a noção de “centrão”, compreender em profundidade a crise da esquerda e centro-esquerda (que está longe de ser só crise eleitoral) e avaliar com realismo a força da direita radical e suas versões extremistas. Serão os temas deste e de mais dois artigos. Hoje é visita paciente ao centrismo, por onde se costuma passar batido, usando jargões ilusórios ou irônicos.

Vera Magalhães – A escala 6 x 1 e o 7 x 1 do governo

O Globo

Enquanto perde de 7 a 1 na tentativa de colocar de pé um pacote de corte de gastos, Lula deixa passar pauta que se mostrou capaz de mobilizar sua base social

O assunto que mais mobilizou a base social de Lula a favor de uma causa neste ano nasceu e ganhou a praça pública sem que o governo visse. Pior: o presidente e seus ministros estão tão enrolados numa discussão bizantina sobre cortes de gastos, prolongando de forma inexplicável um tema que dizem detestar, que não conseguem nem se desvencilhar para, quem sabe, adquirir algum protagonismo na discussão sobre a redução da jornada de trabalho.

Fim da escala 6 x 1 mobiliza redes e pressiona Lula – Luiz Carlos Azedo

Correio Braziliense

O governo está na berlinda, principalmente o presidente Luiz Inácio Lula da Silva, que criou um partido e chegou à Presidência para defender os trabalhadores

O vice-presidente Geraldo Alckmin pôs mais lenha na fogueira do debate sobre a redução da jornada de trabalho, que ganhou as redes sociais após a deputada federal Érika Hilton (PSol-SP) ter recolhido assinaturas para apresentar à Câmara uma PEC (proposta de emenda à Constituição) que reduz a jornada semanal de 44 horas para 36 horas.

"O fim do 6 x 1", como foi batizada a proposta de emenda constitucional, viralizou nas redes sociais e já pressiona o governo Lula. "Isso não foi ainda discutido, mas acho que é uma tendência no mundo inteiro. À medida em que a tecnologia avança, você pode fazer mais com menos pessoas, você ter uma jornada menor. Esse é um debate que cabe à sociedade e ao Parlamento a sua discussão", disse.

A parolagem do capitão Derrite – Elio Gaspari

O Globo

Em menos de uma semana, o aparelho de segurança de São Paulo mostrou seu rosto violento e poderoso para baixo, inepto e sonolento para cima.

Aos fatos.

Na terça-feira da semana passada, o menino Ryan da Silva Andrade Santos, de 4 anos, foi baleado no Morro São Bento, em Santos. Segundo a Polícia Militar, o tiro “provavelmente” partiu de um PM. Leonel, pai de Ryan, havia sido um dos 56 mortos deixados pela Operação Verão há alguns meses.

Ryan morreu na quarta-feira. Na quinta, um pelotão de PMs fardados e armados para um combate apareceu no cemitério onde a criança era velada.

Na sexta-feira, Antônio Vinícius Lopes Gritzbach — um operador da caixa do Primeiro Comando da Capital (PCC) que vinha colaborando com o Ministério Público — foi fuzilado na área de desembarque do aeroporto de Guarulhos. Uma gravação informa que o PCC havia colocado sua cabeça a prêmio (R$ 3 milhões). Os assassinos dispararam dezenas de tiros de fuzil, ferindo duas pessoas e matando um motorista que trabalhava no aeroporto.

Inflação alta não aceita desaforo – Zeina Latif

O Globo

Enquanto o mercado procura âncoras, ou sinais de que o governo teme a aceleração da inflação, em um mar revolto, Lula queima ancoradouros

Chega a ser frustrante voltar ao tema da macroeconomia de curto prazo. Mas há novos elementos que demandam atenção: a inflação ganha rigidez e a Fazenda prepara uma reação, no caso, medidas para a contenção de gastos. O reconhecimento do problema tem muito valor, mas a resposta poderá ser tímida à luz da grande deterioração da credibilidade do governo.

A primeira barreira é enfrentar o fogo amigo, em um contexto de conflito interno no partido e com a tensão pré-eleitoral já dando as caras. A divergência não se resume à ideologia quanto ao papel do Estado na economia e à disciplina fiscal. Trata-se também de disputa política.

STF dá um bom impulso à reforma administrativa - Fernando Exman

Valor Econômico

Depois de 17 anos suspensa, proposta recebeu sinal verde do STF

O diagnóstico é de 29 anos atrás, mas permanece atual: a crise do Estado está na raiz das dificuldades econômicas enfrentadas pelo Brasil durante longos anos, e ela se manifesta como crise fiscal, com o colapso no modo pelo qual o Estado atua na economia e, consequentemente, nas deficiências do próprio aparelho estatal.

Ele consta da exposição de motivos da proposta de reforma administrativa que, depois de suspensa por 17 anos pelo Supremo Tribunal Federal (STF), recebeu sinal verde da Corte na quarta-feira (6).

O equacionamento dessa crise, anotaram os ministros que assinaram o documento enviado à Presidência da República e depois ao Congresso Nacional, será determinante para a retomada do desenvolvimento econômico e o atendimento da população por um serviço público de qualidade. E para isso, portanto, é preciso que se implemente novos formatos organizacionais e institucionais, uma revisão de rotinas e procedimentos no serviço público, além da substituição dos controles formais pela avaliação permanente de resultados. Em outras palavras, o fim do regime único de contratação de servidores públicos.

A recauchutagem do Centrão e a ira do PT - Vera Rosa

O Estado de S. Paulo

Ciro Nogueira diz estar cansado dos extremos enquanto petistas disputam rumos do governo Lula

“A direita só pensa em falar de impeachment, de aborto e de outras coisas que não dizem respeito à vida do cidadão. Estou cansado disso.” A frase cairia bem na boca de qualquer político de esquerda. Ao contrário do que se imagina, porém, é de autoria do senador Ciro Nogueira, presidente do PP, o partido de Arthur Lira, que está prestes a deixar o comando da Câmara.

Em julho de 2021, Ciro assumiu a Casa Civil na gestão de Jair Bolsonaro dizendo que atuaria como um “amortecedor” para evitar trepidações no governo. Passados três anos e quatro meses, o senador afirma agora que não pode ser um “acelerador” de crises.

6x1 dá de 7x1 na política convencional – Vinicius Torres Freire

Folha de S. Paulo

Sem mobilização, ideia da redução da jornada tende a morrer, mas mexe na pauta política

O projeto de diminuir a jornada de trabalho é iniciativa de um partido pequeno, o PSOL, o mais à esquerda da reduzida esquerda, ainda mais diminuída na eleição municipal. Faz sensação nas ruas das redes sociais, tal como um meme ou uma treta de influenciadores; é assunto como um "coach" ou como um crime.

Mas o "6x1" não é nada disso ou muito mais do que isso. Difícil saber até onde vão a onda de interesse pelo assunto e seus desdobramentos políticos —isto é, além do mundo da política politiqueira, de parlamentos, partidos e governos. Sem mobilização, organização coletiva, tais assuntos tendem a morrer. No entanto, a ideia de redução da jornada entrou na contramão da conversa do "establishment", atrapalhando o tráfego.

O ajuste fiscal e uma briga pelo futuro - Bruno Boghossian

Folha de S. Paulo

PT vai recolher as armas depois que Lula carimbar o pacote, mas escolhas ainda dirão algo sobre os rumos do partido e do governo

PT vai recolher as armas depois que Lula carimbar o pacote de corte de gastos do governo. Enquanto as ideias ainda estão na mesa do presidente, setores do partido trabalham para puxar o ajuste para a esquerda. Quando as propostas ganharem a assinatura do chefe, ninguém vai deixá-lo sozinho, nas palavras de dirigentes da legenda.

O impasse na elaboração das medidas, a oposição de ministros e a divisão interna no PT fazem parte de uma briga pelo futuro. Ninguém sabe ao certo qual será o tamanho do ajuste, mas seu processo político dá pistas do que poderão ser os dois anos finais do terceiro mandato de Lula, suas chances de reeleição e os caminhos que a esquerda vai tomar.

Santidade democrática – Hélio Schwartsman

Folha de S. Paulo

Indignação contra artigo de Bolsonaro é reflexo do sentimento de pureza, um dos seis ingredientes de nossos mapas ético-ideológicos

O psicólogo Jonathan Haidt, que hoje faz sucesso liderando um movimento para banir crianças e adolescentes das redes sociais, propõe que a ideologia seja decomposta em seis dimensões, às quais corresponderiam seis sentimentos morais básicos: proteção, justiça, liberdade, lealdade, autoridade e pureza.

Eles constituiriam uma espécie de tabela periódica do instinto moral. O mapa ético-ideológico de cada indivíduo seria uma combinação de diferentes proporções desses ingredientes.

A nova direita não está de passagem - Wilson Gomes

Folha de S. Paulo

O eleitor da extrema direita está mesmo votando para liquidar a democracia?

Na semana passada, caiu enfim a ficha sobre o verdadeiro significado de 2016, ano em que um maluco de cabelo laranja, desbocado, politicamente incorreto e radical de direita venceu a eleição presidencial na maior democracia das Américas.

Esse evento foi crucial para que, dois anos depois, outro candidato igualmente esquisito, desbocado e direitista radical triunfasse na segunda maior democracia do continente. Foi um choque que, por anos, alimentou a convicção otimista de que, dado que esse fenômeno parecia incompatível com o nível de civilidade e cultura democrática progressista arduamente conquistado após tantos desafios no século 20, só poderia ser uma exceção trágica —um desvario do qual os eleitores se recuperariam, assim que caíssem em si.

Ao Leandro Konder com carinho - Vagner Gomes de Souza

Lições políticas da Derrota – Uma homenagem a Leandro Konder

Leandro Konder foi um célebre divulgador de ideias e introdução de pensadores marxistas em nosso país. Desde sua enfermidade até seu recente falecimento o campo marxista ficou mais debilitado na produção de reflexões e debates com os pensadores liberais até para evitar esse estigma de falsa polarização política. A principal característica de Leandro Konder sempre foi a busca do diálogo das ideias democráticas em que a dialética seria a força motriz dessa importante articulação.

Ele era muito mais um grande professor sobre as ideias políticas que formulador de análises da conjuntura política. Na conjuntura política ele sempre preferiu ser um observador atento de outros analistas sejam marxistas ou não. Então, se dizia um derrotado na política. Sua derrota se confunde com os desdobramentos do VII Congresso Nacional do Partido Comunista Brasileiro (PCB) que no início dos anos 80 interrompeu um processo de renovação interna partidária. Sua geração foi sectariamente acusada de “direita” do PCB por defenderem uma linha mais ampla na luta contra a Ditadura Militar (1964 – 1985) que seria a Frente Democrática a qual valorizava um aprofundamento da aliança com as forças liberais.

Vitória de Trump significa rejeição do liberalismo clássico e inaugura nova era nos EUA e no mundo - Francis Fukuyama

Folha de S. Paulo

A vitória esmagadora de Donald Trump e do Partido Republicano no último dia 5 levará a grandes mudanças em áreas importantes na política dos Estados Unidos, desde a imigração até a Ucrânia. Mas o significado da eleição vai muito além dessas questões específicas e representa uma rejeição decisiva dos eleitores americanos ao liberalismo e à maneira particular como a compreensão de uma "sociedade livre" evoluiu desde os anos 1980.

Quando Trump foi eleito pela primeira vez em 2016, era fácil acreditar que esse evento era uma aberração. Ele estava concorrendo contra uma oponente fraca que não o levava a sério e, de qualquer forma, Trump não venceu no voto popular. Quando Biden conquistou a Casa Branca quatro anos depois, parecia que as coisas tinham voltado ao normal após uma desastrosa Presidência de um mandato só.

Após a votação do dia 5, agora parece que a anomalia foi a Presidência de Biden, e que Trump está inaugurando uma nova era na política dos EUA e talvez no mundo como um todo. Os americanos votaram nele com pleno conhecimento de quem Trump era e o que ele representava. Não só ele ganhou a maioria dos votos e todos os estados-pêndulo, mas os republicanos retomaram o Senado e parecem que vão manter a maioria da Câmara dos Representantes. Dada a sua já existente dominância na Suprema Corte, eles agora estão prontos para controlar todos os Três Poderes do governo.

Mas qual é a natureza desta nova fase da história americana?

Fundo trilionário para sacralizar a mudança climática - Aylê-Salassié Filgueiras Quintão*

A busca angustiosa de  soluções   para mitigar o impacto do aquecimento global , que já passou pela ciência, pela economia, por ações pontuais de governos, está sendo introduzida agora  também no espaço da religiosidade.  No Japão,  uma freira católica, Agnes Katsuko Sasagawa, que, nos anos de 1970, na cidade de Akita,   fazia previsões   catastróficas de eventos que vieram a acontecer , está ganhando milhares de seguidores, ao condenar a violência,  a injustiça social e as guerras insensatas. Agora começou a advertir   sobre as questões climáticas e o papel da Amazônia para atenuar o problema.

É intrigante: a gente não sabe se chora ou se acha graça. Recebe ela,  segundo a própria, orientações espirituais   de uma  pequena estátua (de madeira) de Maria, mãe de Jesus, existente na igreja local,  da qual verte ou  vertia sangue e lágrimas.  Nas suas advertências, Sasagawa relata genericamente, como no Apocalipse e até em Nostradamus, as possibilidades  dos desastres naturais, das crises sociais , e  dos  conflitos inesperados entre países  tornarem-se ainda mais frequentes com   o colapso espiritual da humanidade. 

A Instrumentalização da Fé pela Política - Cláudio Carraly*

A instrumentalização da fé como fenômeno global é uma questão complexa e multifacetada que permeia diversas sociedades ao redor do mundo. Esse fenômeno refere-se à utilização da religião como ferramenta para atingir objetivos políticos, sociais ou econômicos, muitas vezes distorcendo os princípios fundamentais das crenças religiosas em prol de interesses de grupos específicos. No Brasil, país marcado por uma significativa diversidade de crenças, uma das manifestações mais notáveis desse fenômeno é a intolerância religiosa. Grupos e indivíduos sentem-se compelidos a impor suas crenças como absolutas, desconsiderando a diversidade de práticas espirituais presentes no país e a garantia destas pela Constituição. Essa realidade não apenas cria divisões, mas também gera conflitos que frequentemente resultam em violência e discriminação. 

IEPfD & Ateliê de Humanidades | Diálogos: O que saiu das urnas de 2024? com Paulo Fábio Dantas

 

Poesia | Destruição, de Carlos Drummond de Andrade

 

Música | Agnes Nunes - Como vai você