sexta-feira, 13 de setembro de 2024

O que a mídia pensa | Editoriais / Opiniões

Lula deveria acatar mudanças em estudo para o BPC

O Globo

Proposta sugere desvincular do salário mínimo a correção do benefício e aumentar idade para concessão

A equipe econômica deverá apresentar em breve ao presidente Luiz Inácio Lula da Silva propostas do Ministério do Planejamento para rever as regras de concessão do Benefício de Prestação Continuada (BPC), voltado a idosos e deficientes de baixa renda. Não faltam argumentos em favor das mudanças para tornar o programa mais justo, mais eficiente e, de quebra, ajudar a equilibrar as contas públicas. Duas medidas estão em estudo: corrigir o benefício apenas pela inflação, deixando de levar em conta o salário mínimo (cuja regra prevê ganho real) e aumentar a idade mínima para concedê-lo, de 65 para 70 anos. Lula deveria acatar ambas as sugestões.

Publicado em dezembro, um estudo do Banco Mundial sobre o sistema previdenciário brasileiro chamou a atenção para várias incongruências. Uma delas está no BPC. Ao comparar programas do tipo ao rendimento per capita em mais de 30 países, os pesquisadores concluíram que o valor no Brasil é alto demais. “A generosidade da atual aposentadoria não contributiva do BPC só é similar à de Trinidad e Tobago”, afirmam. Além de o benefício em si já ser generoso, o índice de reajuste — o mesmo do mínimo — também é camarada. A correção pela inflação já garantiria a manutenção do poder de compra para quem recebe o auxílio.

José de Souza Martins - A decadência da política brasileira

Valor Econômico

O desmonte das instituições e das regras de civilidade abre espaço para o primado da baderna como fundamento da desordem necessária ao autoritarismo

Desde a Proclamação da República, por meio de um golpe militar, contra o minoritário Partido Republicano, em que quem a proclamou imaginara estar depondo o gabinete do regime parlamentarista do Império e não a monarquia, o Brasil político vive de saltos e incertezas. Entre uma ditadura e a expectativa de nova e futura ditadura.

Aqui a democracia tem sido o provisório dos intervalos democráticos, em que a liberdade política ceva os famintos do retorno a um poder autoritário. Na política e fora dela, um certo número de brasileiros gosta de mandar e outro, de ser mandado. As exceções estão aprisionadas nas limitações do pendularismo ideológico.

A multidão de golpistas de 8 de janeiro e seus instigadores está sendo processada e condenada. No entanto, suas lideranças estão fora da cadeia. Continuam descaradamente conspirando contra a democracia, desafiando as leis e os tribunais.

Simon Schwartzman - A radicalidade de Inez

O Estado de S. Paulo

Inez faz parte da história das mulheres brasileiras e cariocas, radicalmente modernas, que precisa ser mais bem contada, antes que a pós-modernidade as sepulte de vez

“Ser radical é tomar as coisas pela raiz. Ora, para as pessoas, a raiz é a própria pessoa”

(Karl Marx)

Neste mês me despeço de Inez Farah, companheira querida de meio século. Neta de imigrantes, carioca, professora, psicóloga, mãe, Inez faz parte da história das mulheres brasileiras e cariocas, radicalmente modernas, que ainda precisa ser mais bem contada, antes que a pós-modernidade as sepulte de vez.

No início do século 20, imigrantes de Portugal, Itália, Japão, mas também do Oriente Médio e da Europa Central, vinham aos milhões para o Brasil, fugindo das guerras e perseguições, buscando um lugar onde pudessem viver em paz, trabalhar e formar suas famílias. Os avós de Inez, cristãos sírio-libaneses, tal como os meus, judeus, faziam parte dessas levas, trabalhando no comércio, dando crédito quando as grandes lojas ainda não existiam, e investindo na educação dos filhos. Os homens iam à luta para ganhar dinheiro e as mulheres se casavam cedo, tinham um filho por ano e se refugiavam na religião. Não Inez. Uma de sete irmãos, não escapa da primeira comunhão e é enviada cedo para o Colégio dos Santos Anjos em Vassouras. Indisciplinada, aproveita as detenções de fim de semana para se tornar amiga das madres francesas e conversar sobre literatura e artes. Depois se muda do interior para a casa da avó na zona norte do Rio de Janeiro, onde se prepara para ingressar no Instituto de Educação.

Fernando Gabeira - Política externa e a educação pela pedra

O Estado de S. Paulo

Talvez Ortega e Maduro tenham contribuído, involuntariamente, para o próprio amadurecimento da visão de mundo do governo Lula

Dois países latinos são exemplares para examinar as hesitações da política externa brasileira: Nicarágua e Venezuela. Sandinismo e chavismo deslizaram rapidamente para clássicas ditaduras, e nosso governo parece ter sido o último a ter-se dado conta disso. Foram necessárias algumas pedradas para que a diplomacia brasileira mudasse, assim mesmo, lentamente seu rumo.

O caso da Nicarágua tem menos repercussão. Ao que tudo indica, a pedido do papa, Lula tentou libertar prisioneiros católicos que o governo de Manágua mantém ilegalmente. Certamente, tinha na memória os laços com um sandinismo ainda revolucionário.

A boa vontade de Lula com Daniel Ortega se expressa numa entrevista em que questionaram o tempo de presença de Ortega no poder, e Lula o comparou a Angela Merkel. Se ela pode, por que não ele?

Eliane Cantanhêde - A Polícia Federal contra-ataca

O Estado de S. Paulo

Cúpula da PF, inclusive diretor-geral, processa autores de ameaças a eles e familiares na internet

O diretor-geral da Polícia Federal, Andrei Passos Rodrigues, se reuniu na quarta-feira com advogados e abriu processo contra dez pessoas que fazem ameaças a ele e a seus filhos pelas redes sociais, inclusive com vídeos assustadores, até de estupros, numa escalada de ataques a delegados federais envolvidos em investigações contra o ex-presidente Jair Bolsonaro e bolsonaristas.

Foram esses ataques, aliás, que detonaram a crise entre o ministro do STF Alexandre de Moraes e o bilionário Elon Musk e desembocaram na suspensão do X no Brasil. Encarregado do inquérito que indiciou Bolsonaro por peculato, associação criminosa e lavagem de dinheiro pelo caso das joias sauditas, o delegado Fábio Alvarez Shor recebeu uma enxurrada de ataques e ameaças pela internet. Aí começou a guerra.

Vinicius Torres Freire - Horário de verão, outra vez

Folha de S. Paulo

Medida volta a ter utilidade porque consumo e produção de energia mudaram

O país vai ter de recorrer ao horário de verão a fim de aumentar a segurança do abastecimento de eletricidade em certos horários ou também reduzir custos de energia. Se não neste 2024, em 2025, a fim de não depender dos deuses da chuva. Faz uns dois meses, a proposta está na mesa do governo.

Mas limitar o debate ao horário de verão é desconversar sobre um monte de problemas e providências atrasadas. A seca no país, de resto, não reduziu o nível dos reservatórios das hidrelétricas ao de anos críticos. No início de setembro, a quantidade de água para se produzir energia nas hidrelétricas do Sudeste/Centro-Oeste era a maior desde 2011, com exceção de 2023, o melhor deste século. O problema é outro.

Para começar, é preciso distinguir entre capacidade total de gerar energia e energia disponível em certo momento do dia, no pico de consumo, por exemplo. Faz anos, o pico nos meses quentes migrou do começo da noite para o meio da tarde (mais eletricidade para ar condicionado). Foi um motivo para se desconsiderar a economia com o horário de verão. Mas há problema novo na noite.

Nesta quinta-feira (12), o consumo era de 94,8 mil MW às 15h15. Deste total, 44,7 mil MW vinham de hidrelétricas, 19,3 mil MW de energia solar, 15,2 mil MW de eólicas etc.

Andrea Jubé - Marçal e os equilibristas da política nacional

Valor Econômico

Disputa acirrada pela presidência da Câmara jogou luz sobre dois habilidosos caciques da política nacional: Gilberto Kassab e Ciro Nogueira

A disputa acirrada - e prematura - pela presidência da Câmara dos Deputados jogou luz sobre dois habilidosos caciques da política nacional: o secretário da Casa Civil de São Paulo e presidente do PSD, Gilberto Kassab, e o senador pelo Piauí e presidente do Progressistas (PP), Ciro Nogueira.

São dois equilibristas avançando na ponta dos pés sobre a corda bamba que traz o governo em uma ponta, e a oposição na outra. Eles evocam a imagem do acrobata Phelippe Petit, que em 1974, caminhou sobre um cabo de aço de 42 metros, ligando as torres norte e sul do World Trade Center - décadas antes dos terroristas derrubarem os arranha-céus de 140 andares.

Mas a principal diferença entre Nogueira, Kassab e Petit é que os dois políticos jamais cruzariam o abismo sem uma rede de proteção. Já o francês desafiou a gravidade recorrendo, unicamente, a um bastão para se equilibrar.

Bruno Boghossian - Rejeição a Marçal pode definir 1º turno

Folha de S. Paulo

Pesquisa mostra que aposta de Nunes surtiu efeito e disparada do ex-coach cessou

A nova pesquisa do Datafolha dá algumas pistas do cenário por trás da névoa do empate triplo que marcou a campanha nas últimas semanas. Os números indicam que a aposta de Ricardo Nunes (MDB) nas vias tradicionais da política surtiu efeito, reforçam a leitura de que a disparada de Pablo Marçal (PRTB) cessou e dão um respiro à questionada campanha de Guilherme Boulos (PSOL).

Nunes aparece com destaque neste ciclo. Depois de estancar uma fuga de eleitores, o prefeito manteve uma trajetória de alta baseada na combinação da propaganda de TV com a potência da máquina da prefeitura.

O principal indício de que o canhão duplo funcionou é o crescimento do candidato do MDB em quase todos os segmentos de renda e idade, além da melhora na avaliação de seu governo. É o primeiro sinal de que Nunes experimenta uma alta consistente.

Marcos Augusto Gonçalves - Datafolha joga água no chope de Pablo Marçal

Folha de S. Paulo

Diferentemente da Quaest, pesquisa mostra populista radical em terceiro, com subida de Nunes, em empate com Boulos

pesquisa Datafolha divulgada nesta quinta (12) trouxe números divergentes dos apresentados pela Quaest um dia antes. Depois de dois empates triplos na margem de erro, agora o prefeito Ricardo Nunes (MDB) tem 27% das intenções de voto, seguido por Guilherme Boulos (PSOL), com 25%, e Pablo Marçal (PRTB), com 19%. Apenas os dois primeiros podem ser considerados tecnicamente empatados.

Já pela Quaest como se sabe teríamos uma situação mais apertada, com Nunes à frente (24%), Marçal (23%) e Boulos (21%), todos no mesmo patamar.

Em comum entre os dois levantamentos, ainda que com menor diferença, Nunes surge bem na foto. A boa vantagem no Datafolha indica que o prefeito soube explorar seu latifúndio no horário gratuito. Há razões para acreditar que ele vai encontrando um caminho promissor na disputa, independentemente do apoio cauteloso de Jair Bolsonaro.

Luiz Carlos Azedo - Recuperação de Nunes deixa Boulos em segundo

Correio Braziliense

A eleição de São Paulo, a cidade mais importante do país, está no radar dos políticos, analistas e da opinião pública de todo o país

O prefeito Ricardo Nunes (MDB), que pleiteia sua recondução ao cargo, voltou a liderar a disputa eleitoral em São Paulo, com 27%, segundo a pesquisa DataFolha divulgada ontem. Guilherme Boulos (PSOL), com 25%, está em empate técnico. A outra novidade da pesquisa é o recuo de Pablo Marçal (PRTB), que está com 19%. Pesaram na recuperação de Nunes a propaganda gratuita de rádio e televisão, a entrada na campanha do governador Tarcísio de Freitas (Republicanos) e do pastor Silas Malafaia, além dos esforços do ex-presidente Jair Bolsonaro para que seus eleitores apoiem o prefeito, em vez de Marçal.

Vera Magalhães - Presidente patina na própria agenda

O Globo

Lula corre o risco de chegar ao fim de quatro anos com números piores que Bolsonaro em área desmatada

O governo Lula enfrenta, nas últimas semanas, um 7 a 1 provocado não pela oposição, mas por gols contra em temas da própria agenda, como meio ambiente e direitos humanos. Justamente nas áreas em que o presidente precisaria, e poderia, se distinguir do governo negacionista de Jair Bolsonaro, os fatos gritam e põem em dúvida a capacidade de colocar o discurso em prática.

Os incêndios que castigam todo o país — e devem afetar, e muito, uma economia que vinha mostrando capacidade de resistir mesmo a fatores como juros altos, inflação pressionada e chuvas no Rio Grande do Sul — evidenciaram que, de novo, Lula não levou a sério a emergência climática como prometera aos eleitores e ao mundo.

Flávia Oliveira - A juventude ‘bet'

O Globo

Tão real quanto as chamas que destroem e a fumaça que varre territórios é a epidemia de apostas que assola o Brasil. A prática, que se expande em progressão geométrica, já produz reflexos na economia, na saúde e na política. É onda que alcança, principalmente, a juventude. Dos 52 milhões de brasileiros, predominantemente homens de baixa renda, que já efetuaram apostas esportivas em sites ou aplicativos, quase 21 milhões (40%) têm de 18 a 29 anos, segundo pesquisa realizada, no início de agosto, pelo Instituto Locomotivas. São moços que jogam por dinheiro, não por diversão. Imaginam a paixão e o conhecimento sobre futebol como ofício ou alternativa de investimento. Por impulso e perspectiva de prosperidade fulminante, também escolhem candidato a prefeito.

Joel Birman - Macron vai contra a democracia francesa

O Globo

Presidente ignorou soberania popular ao indicar primeiro-ministro de partido de direita

França já tinha nos acostumado à lógica democrática da coabitação desde os anos 1980 e 1990, quando os governos gaullistas conviviam civilizadamente com os governos socialistas e vice-versa. Quando o socialista François Mitterrand era presidente, e os gaullistas venceram as eleições parlamentares, Jacques Chirac se transformou em primeiro-ministro, mesmo não sendo socialista, em nome do respeito democrático irrestrito à soberania popular. Da mesma forma, quando o gaullista Chirac ganhou as eleições presidenciais em seguida, e posteriormente os socialistas venceram as eleições parlamentares, Lionel Jospin assumiu como primeiro-ministro pela mesma lógica do imperativo democrático.

Contudo o presidente Emmanuel Macron rasgou os pressupostos da soberania popular francesa quando não indicou um representante da Nova Frente Popular (NFP) da esquerda e dos ecologistas para ser o primeiro-ministro. A NFP obteve comparativamente mais votos que os demais partidos, mesmo sem ter, como as demais legendas, é claro, maioria absoluta. Macron indicou alguém do partido da direita, que teria de se aliar com a extrema direita para poder ter condições mínimas de governabilidade.

Bernardo Mello Franco – Trump em fuga

O Globo

Após mau desempenho na terça, ex-presidente anuncia fuga de debates nos EUA

Donald Trump acusou o golpe. O republicano avisou ontem que não participará mais de nenhum debate na corrida à Casa Branca. O anúncio mostra que nem ele acredita ter vencido o duelo com Kamala Harris, na terça-feira.

O encontro promovido pela ABC foi o primeiro — e pelo visto o único — a botar a dupla frente a frente. O saldo foi melhor para a democrata, que conseguiu pôr o republicano no córner.

Kamala dominou a cena desde a entrada no estúdio, quando caminhou em direção ao oponente e forçou um aperto de mão. Trump pareceu desconcertado. O incômodo se repetiria outras vezes ao longo da noite.

Poesia | O tempo passa? Não passa, de Carlos Drummond de Andrade

 

Música | Nara Leão - Samba da Legalidade ( Zé Keti e Carlinhos Lira)