Valor Econômico
Para ex-ministro Nelson Jobim, conserto dos
Poderes depende de mudança no sistema político e no voto uninominal para a
Câmara
“Está tudo disfuncional. O Executivo é
disfuncional, o Legislativo é disfuncional e o Judiciário é disfuncional”.
Deste modo, simples e direto, o ex-ministro da Justiça (governo FHC) e da
Defesa (governo Lula), e ex-ministro do STF, Nelson Jobim, definiu, em conversa
com a coluna, a situação dos Poderes da República brasileira. A desorganização
atravessa não apenas a Esplanada de Brasília, mas outras esferas
administrativas e acaba por atingir o cidadão, que se vê à mercê de decisões
muitas vezes sem qualquer sentido prático.
Por detrás da disfuncionalidade está a
supremacia do individualismo que torna o parlamentar mais importante do que o
partido e o ministro do STF mais relevante do que o Supremo. O resultado é um
imbróglio de decisões que compromete as atribuições precípuas de cada poder.
Isso se agrava com os desarranjos circunstanciais, como é o caso do Executivo.
A inexistência de um plano de governo, o
conflito entre a cúpula do PT e os ministros, em especial com o ministro da
Fazenda, e a falta de uma liderança que amarre as pontas no Executivo e que
faça a ponte com o Legislativo são sinais de distúrbio que contribuem para a
incerteza e a insegurança.
“O governo, do meu ponto de vista, é
disfuncional. Tem problemas de toda a ordem. Um deles é o fato de não haver um
grupo de políticos com ascendência sobre o presidente Lula. No primeiro
mandato, havia uma espécie de Estado-Maior que dizia não. No segundo governo,
também um grupo próximo a ele dizia não. Isso não existe no terceiro mandato.
Não há gente próxima que diga não a ele, por um lado, e, por outro, parece que
ele não quer ouvir”.