*Karl Marx (1818-1883). “O 18 Brumário de
Luís Bonaparte (1852”, p.7. Os Pensadores, Marx, v. II. Editora Nova Cultura /Abril,
1988.
Política e cultura, segundo uma opção democrática, constitucionalista, reformista, plural.
sexta-feira, 30 de agosto de 2024
Opinião do dia – Karl Marx* (A vontade humana}
O que a mídia pensa | Editoriais / Opiniões
Intervenção no mercado de gás traz preocupação
O Globo
Há dúvida sobre a segurança jurídica dos
decretos e sobre a capacidade de execução da ANP
Sob o pretexto duvidoso de contribuir para a
“transição energética”, o governo anunciou nesta semana medidas destinadas a
reduzir o preço do gás. Prometeu que, até o ano que vem, estenderá o vale-gás
dos atuais 5,6 milhões de famílias para 20,8 milhões. Ao mesmo tempo, promoveu
uma intervenção explícita no mercado de gás natural, na tentativa de aumentar a
oferta. Apesar de bem recebida pela indústria consumidora, a última medida deve
ser vista com cautela.
Desperta preocupação a aliança entre um governo que acredita na intervenção estatal nos mercados e um setor da economia conhecido pelo poder de pressão política. Há três anos, a Medida Provisória que abriu caminho à privatização da Eletrobras encheu de benefícios as usinas a gás e encareceu a conta de luz de todos. No mandato de Dilma Rousseff, o governo também interveio no setor de energia com consequências desastrosas. O risco é, mais uma vez, a gestão petista repetir erros.
Vera Magalhães - STF deve agir com a régua de Musk?
O Globo
Ministros temem que confronto de Moraes com
dono do X, que demonstra não ter nada a temer, provoque perda de credibilidade
internacional do Supremo
Como a Justiça pode e deve lidar com um
bilionário dono de uma plataforma de mídia que se recusa a cumprir a lei e as
decisões judiciais e resolve enfrentar as autoridades de um país como forma de
influenciar politicamente o debate público e sabotar a democracia?
As leis brasileiras relativas às redes
sociais e os ritos do Judiciário, se seguidos à risca e dentro de suas
limitações, têm se mostrado insuficientes para lidar com Elon Musk, que
personifica a descrição acima. Como driblar o impasse, provocado pelo magnata
com o claro intuito de desmoralizar as instituições do Brasil e de incendiar a
extrema direita, que tem sido investigada pelo ministro Alexandre de Moraes
pelas investidas contra a democracia em diferentes inquéritos?
As análises jurídicas embasadas apenas na jurisprudência existente não parecem dar conta das nuances do embate entre Musk e STF, com Moraes à frente. As últimas decisões anunciadas pelo ministro são no mínimo inusitadas. Citação judicial a Musk pelo próprio X e bloqueio de contas de outra empresa ligada a ele, a Starlink, diante da retirada dos responsáveis legais pelo X do Brasil, são considerados ilegais por especialistas insuspeitos de ter algum tipo de simpatia pelos expedientes de Musk.
Luiz Carlos Azedo - Guerra nas estrelas — Musk escala crise com Moraes
Correio Braziliense
A suspensão de atividades de empresas que não
cumprem as regras está prevista no Marco Civil da Internet, caso da X. Houve
episódio semelhante com a Telegram
O ministro do Supremo Tribunal Federal (STF)
Alexandre de Moraes determinou o bloqueio de contas da empresa Starlink, do
empresário Elon Musk, para quitar multas do X (antigo Twitter) por descumprir
ordens judiciais. Oficialmente, a empresa questiona a constitucionalidade da
medida, tomada para punir a plataforma X.
A Starlink é uma companhia de exploração
espacial que atua no desenvolvimento de constelações de satélites pela SpaceX,
também de Musk. O objetivo dela é levar conexão de internet para áreas remotas
do planeta onde o acesso é baixo ou zero.
“.Hoje, a Starlink está conectando mais de um quarto de milhão de clientes no Brasil — da Amazônia ao Rio de Janeiro —, incluindo pequenas empresas, escolas e socorristas, entre outros”, afirmou a empresa, no final da tarde de ontem, e garantiu que fará o possível para não interromper suas atividades no Brasil.
Maria Cristina Fernandes - Contra Musk, Moraes segue a trilha do Pastor Sargento Isidório
Valor Econômico
Ordem do ministro em seu embate contra o empresário se dá no vácuo regulatório do Brasil
Como o capital do X foi fechado depois de
sua aquisição por Elon
Musk, há mais de dois anos, não há como saber o quanto a ameaça
de suspensão de suas atividades no Brasil, feita pelo ministro do Supremo
Tribunal Federal, Alexandre
Moraes, repercutiria nas contas da empresa.
Embora não rasgue dinheiro, Musk já deu
sinais de que está disposto a colocá-lo a serviço dos bastiões da
extrema-direita, em linha com um modelo de negócios em que o ódio gera mais
engajamento e lucro.
Basta ver o que Musk fez com o X. Ao cobrar pelo acesso exclusivo (“premium”) em vez de ampliar o espaço para propaganda, demonstra que quer manter a plataforma sob suas próprias regras em vez de ceder às regras de monetização que obrigam um ambiente mais transparente.
Bruno Boghossian - Moraes e Musk vão cantar vitória
Folha de S. Paulo
Delinquência do bilionário ateia fogo em
discussões sobre limites para redes; ministro encontrou razão para medida
drástica, mas STF fica mais longe da autocontenção
Para fazer política, Elon Musk queima
dinheiro com gosto. Em 2022, o bilionário
pagou caro para transformar o Twitter num
cantinho acolhedor para discursos radicais. Há poucos meses, ele anunciou que
gastaria uma bolada para mudar a sede
de suas empresas para o Texas, em protesto contra uma lei de
identidade de gênero aprovada na Califórnia.
A decisão de ignorar decisões judiciais no Brasil e fazer provocações a Alexandre de Moraes segue uma filosofia parecida. Nos negócios, cavar o bloqueio do X não faz nenhum sentido. O histórico internacional de Musk também prova que ele não age por princípios. O que o empresário quer é cantar uma vitória política.
Flávia Oliveira - Transporte estatizado entra na disputa municipal
O Globo
Naturalização da tarifa zero é realidade na
campanha eleitoral ora em curso
Se anos atrás alguém do futuro aparecesse
para contar que, em pleno 2024, os prefeitáveis do Rio de
Janeiro debateriam — à esquerda e à direita — tarifa zero no
transporte público e sistema de ônibus estatizado, gargalharíamos. Pois a
naturalização do tema é realidade na campanha eleitoral ora em curso. A troca
de ideias, de tão civilizada, dá a impressão de que a vida carioca foi
inoculada pelo (bem-vindo) vírus do Estado de Bem-Estar Social. Assim seja.
Nesta semana, a GloboNews entrevistou, no Rio, os três candidatos com as maiores intenções de voto da última pesquisa Datafolha. Passaram pelas sabatinas os deputados Tarcísio Mota (PSOL), Alexandre Ramagem (PL) e o prefeito Eduardo Paes (PSD), que pleiteia o quarto mandato. Todos eles apresentaram programas de governo em que o setor público é protagonista na mobilidade urbana; a tarifa zero, discutida; e a empresa pública Mobi-Rio, resultante da encampação por Paes do sistema de BRTs, bem-vista.
Marcos Augusto Gonçalves - Marçal vive glória ainda incerta
Folha de S. Paulo
Será preciso acompanhar passo a passo o
quadro eleitoral paulistano para uma avaliação mais firme sobre chances do
ex-coach
A rápida ascensão de Pablo Marçal nas
pesquisas de intenção de voto interferiu no mapa político paulistano e nacional
de maneira que não se previa. A trollagem do autodenominado ex-coach seria,
sim, para dar algum resultado. Esperava-se que pudesse levá-lo a ganhar alguns
pontos nas sondagens, mas que acabaria ficando por ali, como terceiro colocado
sem aspirações à vitória. Acumularia cacife para tentar negociar alguma coisa
no segundo turno.
Agora, já é outra história. Depois de o Datafolha flagar, em duas semanas, o salto de 14% das intenções para 22%, foi a vez da pesquisa Quaest reafirmar o empate técnico entre o deputado Guilherme Boulos, o prefeito Ricardo Nunes e Pablo Marçal.
Bernardo Mello Franco - Bolsonaro costeou o alambrado
O Globo
Se for trocado por Pablo Marçal na eleição de
SP, Ricardo Nunes não terá a quem culpar
Na segunda-feira, Pablo Marçal culpou Carlos
Bolsonaro pela derrota do pai na corrida presidencial. “Ele é um retardado
mental. Um estúpido”, disparou. Dois dias depois, o vereador e o coach se
falaram por telefone. Ao relatar a conversa, Carluxo engoliu os desaforos e
elogiou o detrator. “Queremos rumar nas mesmas direções”, garantiu.
Interpretar o Zero Dois não é tarefa para iniciantes, mas desta vez a mensagem foi clara. O clã mediu os riscos e desistiu de declarar guerra a Marçal. O armistício abre caminho para uma aliança no segundo turno da eleição paulistana. Ou no primeiro, se a candidatura de Ricardo Nunes derreter nas próximas semanas.
Andrea Jubé - Lula, Boulos e a esquerda que sabota a esquerda
Valor Econômico
Crescimento de Marçal nas pesquisas mostra que campanha de candidato do Psol tem que ajustar rota
É sempre bom relembrar aos incautos: o
presidente Luiz Inácio Lula da Silva (PT) venceu o ex-presidente Jair Bolsonaro
(PL) por um triz. Por uma margem apertada de apenas 2,1 milhões de votos, ou
1,8% dos votos válidos. O petista obteve 60,3 milhões de votos, e o adversário
58,2 milhões, num universo de quase 21% de eleitores ausentes.
Quem não identifica nesses números a expressão de um eleitorado majoritariamente conservador, que por pouco não manteve Bolsonaro e a direita radicalizada por mais quatro anos no poder, ignora a verdade dos números, ou vive em uma bolha.
Eliane Cantanhêde – Nem padrinhos nem partidos
O Estado de S. Paulo
País está polarizado, mas PT e PL comem poeira nas capitais. Padrinho, padrinho, para que te quero?
Jair Bolsonaro apoiou Ricardo Nunes, abraçou
Pablo Marçal, mais adiante ele e os filhos atacaram o ex-coach e agora, que ele
está empatado com Nunes, Carlos Bolsonaro recua e lhe manda um “fraterno
abraço”, defendendo um “coração mais leve” e o que "o povo realmente
anceia (sic)". Durma-se com um barulho desses, mas a Quaest acaba de
mostrar o que é mais instigante: 49% dos eleitores paulistanos preferem um
candidato independente.
Ou seja, com polarização nacional ou não, o eleitor não quer saber de padrinhos, mas sim do candidato que mexer com sua alma, corresponder às suas crenças e, principalmente, se mostrar capaz de cuidar dos seus direitos e interesses se eleito. Só 32% preferem um prefeito apoiado pelo presidente Lula, e 17%, por Bolsonaro.
José de Souza Martins – Um camelô no mundo da riqueza
Valor Econômico
Silvio Santos personificou e disfarçou o
atraso do nosso capitalismo inconcluso
A morte do empresário e comunicador Silvio
Santos tem tido a previsível repercussão que deve ter o desaparecimento de uma
pessoa com extraordinária influência na alteração de costumes mercantis. De
certo modo, ele foi o criador de uma versão da pós-modernidade brasileira.
Desmercantilizou a mercadoria, separou-a das
relações de compra e venda, situou-a no terreno antimercantil da incerteza, da
sorte e mesmo do acaso. Sobretudo o de um imaginário de festa.
Despiu-a da fria racionalidade própria do mercado para dotá-la de uma racionalidade tropical e calorosa, numa sociedade em que o dinheiro e a mercadoria, historicamente, são excepcionais, usados como se destituídos de seus atributos próprios, mesmo na vida cotidiana como se cotidianos não fossem. Silvio Santos chegou a isso de maneira meramente intuitiva.
Fernando Gabeira - Queimando mata e dinheiro público
O Estado de S. Paulo
O uso caótico do dinheiro público é apenas
mais um sintoma de um processo autodestrutivo que precisa ser estancado
Discutir o Orçamento nacional, para muita
gente, é algo tão excitante como uma reunião de condomínio. No entanto, o País
está em chamas, e nos últimos meses perdemos mais de R$ 10 bilhões com o avanço
das mudanças climáticas, a ausência de políticas preventivas e algumas
atividades criminosas. Foram as cheias do Sul e seca e queimadas na Amazônia,
no Pantanal e em São Paulo, para mencionar apenas alguns casos.
O dinheiro que o governo arrecada precisa resolver uma série de importantes problemas que vão desde o combate à fome até a gestão do sistema de saúde, passando, entre outros, pelos gastos astronômicos da máquina administrativa. O que se vê no noticiário é uma grande disputa por verbas entre governo e Congresso, mas quase nenhuma discussão sobre a qualidade dos gastos no Brasil.
Vinicius Torres Freire - BC quer dar um susto no dólar caro?
Folha de S. Paulo
Banco Central anuncia que vai vender dólar à
vista nesta sexta; medida seria pontual
Lá por junho e julho, havia gente graúda no
mercado financeiro a dizer que o Banco Central precisava
dar um susto no dólar caro.
Para resumir conversa complicada, a sugestão era mostrar a donos do dinheiro
que o preço do dólar não estava destinado apenas "ao infinito e
além", diminuindo o incentivo para operações montadas com essa premissa
—ou pelo menos encarecendo lances e jogadas baseadas em um dólar
"unidirecional" (para cima).
Essa conversa quase desapareceu. Na noite
desta quinta-feira (29), o Banco
Central anunciou que nesta sexta (30) irá leiloar até US$ 1,5 bilhão,
em si mesmo um valor pequeno. Vai vender dólar à vista, em suma, uma raridade
nos últimos anos. Na praça, a conversa era que o mercado ficaria
"estressado" no último dia útil deste mês, o que costuma ocorrer, em
níveis mais ou menos homeopáticos, tumulto neste caso piorado devido a mudança
em um fundo.
Pode ser uma boa desculpa para dar um susto e um tombinho no dólar caro, um ligeiro safanão na ideia de "unidirecionadade". Ou pode não ser quase nada mesmo, apenas uma medida pontual de prudência para um caso isolado. Talvez saibamos um tanto mais disso quando os mercados estiverem operando, nesta sexta-feira.
Rogério F. Werneck - Fixação em ideias desastrosas
O Globo
Até quando o país terá de arcar com os custos
proibitivos do negacionismo de Lula?
O país continua assombrado por um mistério.
Por que Lula e
o PT insistem em mostrar tamanho apego a ideias que se mostraram completamente
desastrosas em governos petistas passados?
Antes de conjecturar sobre isso, vale
mencionar a notícia recente que enseja essa indagação mais ampla. Vem de novo
sendo aventada pelo governo a ideia de lançar mão dos fundos de pensão de
empresas estatais para bancar investimentos em projetos do PAC.
Não foi uma surpresa que tal despropósito tenha sido recebido com imediata saraivada de críticas contundentes repisadas no passado. Mario Henrique Simonsen já dizia, há mais de 50 anos, que a preservação de reservas técnicas na área estatal era missão quase impossível, tendo em vista a recorrente tentação dos governos de turno de perceber tais reservas como dinheiro público ocioso.
Celso Ming - A trombada dos juros com a gastança
O Estado de S. Paulo
A
feroz hostilidade do presidente Lula à política do Banco Central (BC), com a
qual seu futuro presidente, Gabriel Galípolo, terá de lidar tem a ver com uma
mentalidade antiga do que tem de ser uma política fiscal e sua relação com a
política de juros.
Para
o presidente Lula, tanto a rigorosa disciplina na administração das contas
públicas como a política de juros de controle da inflação são exigências do
mercado, que trombam com uma política de desenvolvimento e de emancipação da
pobreza. Gastar menos ou cobrar mais juros, entendem Lula e as antigas
esquerdas do Brasil, é empurrar uma conta injusta para a população mais pobre.
Para eles, os banqueiros adoram juros altos porque ganham mais dinheiro com o retorno dos empréstimos. Este é grave erro de entendimento. Banqueiro ganha mais com juros baixos. Os juros são o preço do dinheiro. Se o juro está alto é porque o dinheiro, por certas razões, está escasso e os banqueiros têm menos recursos para emprestar. Se os juros estão mais baixos é porque há mais dinheiro disponível e, por isso, também, os banqueiros pagam menos pelo dinheiro dos aplicadores que lhes é dado por empréstimo. Ou seja, juros altos pouco ou nada têm a ver com ganância dos banqueiros.