sexta-feira, 30 de agosto de 2024

Opinião do dia – Karl Marx* (A vontade humana}

“Os homens fazem sua própria história, mas não a fazem como querem; não a fazem sob circunstâncias de sua escolha e sim sob aquelas com que se defrontam diretamente, legadas e transmitidas pelo passado. A tradição de todas as gerações mortas oprime como um pesadelo o cérebro dos vivos. E justamente quando parecem empenhados em revolucionar-se a si e às coisas, em criar algo que jamais existiu, precisamente nesses períodos de crise revolucionária, os homens conjuram ansiosamente em seu auxílio os espíritos do passado, tomando-lhes emprestado os nomes, gritos de guerra e as roupagens, a fim de apresentar-se nessa linguagem emprestada.”

*Karl Marx (1818-1883). “O 18 Brumário de Luís Bonaparte (1852”, p.7. Os Pensadores, Marx, v. II. Editora Nova Cultura /Abril, 1988.

O que a mídia pensa | Editoriais / Opiniões

Intervenção no mercado de gás traz preocupação

O Globo

Há dúvida sobre a segurança jurídica dos decretos e sobre a capacidade de execução da ANP

Sob o pretexto duvidoso de contribuir para a “transição energética”, o governo anunciou nesta semana medidas destinadas a reduzir o preço do gás. Prometeu que, até o ano que vem, estenderá o vale-gás dos atuais 5,6 milhões de famílias para 20,8 milhões. Ao mesmo tempo, promoveu uma intervenção explícita no mercado de gás natural, na tentativa de aumentar a oferta. Apesar de bem recebida pela indústria consumidora, a última medida deve ser vista com cautela.

Desperta preocupação a aliança entre um governo que acredita na intervenção estatal nos mercados e um setor da economia conhecido pelo poder de pressão política. Há três anos, a Medida Provisória que abriu caminho à privatização da Eletrobras encheu de benefícios as usinas a gás e encareceu a conta de luz de todos. No mandato de Dilma Rousseff, o governo também interveio no setor de energia com consequências desastrosas. O risco é, mais uma vez, a gestão petista repetir erros.

Vera Magalhães - STF deve agir com a régua de Musk?

O Globo

Ministros temem que confronto de Moraes com dono do X, que demonstra não ter nada a temer, provoque perda de credibilidade internacional do Supremo

Como a Justiça pode e deve lidar com um bilionário dono de uma plataforma de mídia que se recusa a cumprir a lei e as decisões judiciais e resolve enfrentar as autoridades de um país como forma de influenciar politicamente o debate público e sabotar a democracia?

As leis brasileiras relativas às redes sociais e os ritos do Judiciário, se seguidos à risca e dentro de suas limitações, têm se mostrado insuficientes para lidar com Elon Musk, que personifica a descrição acima. Como driblar o impasse, provocado pelo magnata com o claro intuito de desmoralizar as instituições do Brasil e de incendiar a extrema direita, que tem sido investigada pelo ministro Alexandre de Moraes pelas investidas contra a democracia em diferentes inquéritos?

As análises jurídicas embasadas apenas na jurisprudência existente não parecem dar conta das nuances do embate entre Musk e STF, com Moraes à frente. As últimas decisões anunciadas pelo ministro são no mínimo inusitadas. Citação judicial a Musk pelo próprio X e bloqueio de contas de outra empresa ligada a ele, a Starlink, diante da retirada dos responsáveis legais pelo X do Brasil, são considerados ilegais por especialistas insuspeitos de ter algum tipo de simpatia pelos expedientes de Musk.

Luiz Carlos Azedo - Guerra nas estrelas — Musk escala crise com Moraes

Correio Braziliense

A suspensão de atividades de empresas que não cumprem as regras está prevista no Marco Civil da Internet, caso da X. Houve episódio semelhante com a Telegram

O ministro do Supremo Tribunal Federal (STF) Alexandre de Moraes determinou o bloqueio de contas da empresa Starlink, do empresário Elon Musk, para quitar multas do X (antigo Twitter) por descumprir ordens judiciais. Oficialmente, a empresa questiona a constitucionalidade da medida, tomada para punir a plataforma X.

A Starlink é uma companhia de exploração espacial que atua no desenvolvimento de constelações de satélites pela SpaceX, também de Musk. O objetivo dela é levar conexão de internet para áreas remotas do planeta onde o acesso é baixo ou zero.

“.Hoje, a Starlink está conectando mais de um quarto de milhão de clientes no Brasil — da Amazônia ao Rio de Janeiro —, incluindo pequenas empresas, escolas e socorristas, entre outros”, afirmou a empresa, no final da tarde de ontem, e garantiu que fará o possível para não interromper suas atividades no Brasil.

Maria Cristina Fernandes - Contra Musk, Moraes segue a trilha do Pastor Sargento Isidório

Valor Econômico

Ordem do ministro em seu embate contra o empresário se dá no vácuo regulatório do Brasil

Como o capital do X foi fechado depois de sua aquisição por Elon Musk, há mais de dois anos, não há como saber o quanto a ameaça de suspensão de suas atividades no Brasil, feita pelo ministro do Supremo Tribunal Federal, Alexandre Moraes, repercutiria nas contas da empresa.

Embora não rasgue dinheiro, Musk já deu sinais de que está disposto a colocá-lo a serviço dos bastiões da extrema-direita, em linha com um modelo de negócios em que o ódio gera mais engajamento e lucro.

Basta ver o que Musk fez com o X. Ao cobrar pelo acesso exclusivo (“premium”) em vez de ampliar o espaço para propaganda, demonstra que quer manter a plataforma sob suas próprias regras em vez de ceder às regras de monetização que obrigam um ambiente mais transparente.

Bruno Boghossian - Moraes e Musk vão cantar vitória

Folha de S. Paulo

Delinquência do bilionário ateia fogo em discussões sobre limites para redes; ministro encontrou razão para medida drástica, mas STF fica mais longe da autocontenção

Para fazer política, Elon Musk queima dinheiro com gosto. Em 2022, o bilionário pagou caro para transformar o Twitter num cantinho acolhedor para discursos radicais. Há poucos meses, ele anunciou que gastaria uma bolada para mudar a sede de suas empresas para o Texas, em protesto contra uma lei de identidade de gênero aprovada na Califórnia.

A decisão de ignorar decisões judiciais no Brasil e fazer provocações a Alexandre de Moraes segue uma filosofia parecida. Nos negócios, cavar o bloqueio do X não faz nenhum sentido. O histórico internacional de Musk também prova que ele não age por princípios. O que o empresário quer é cantar uma vitória política.

Flávia Oliveira - Transporte estatizado entra na disputa municipal

O Globo

Naturalização da tarifa zero é realidade na campanha eleitoral ora em curso

Se anos atrás alguém do futuro aparecesse para contar que, em pleno 2024, os prefeitáveis do Rio de Janeiro debateriam — à esquerda e à direita — tarifa zero no transporte público e sistema de ônibus estatizado, gargalharíamos. Pois a naturalização do tema é realidade na campanha eleitoral ora em curso. A troca de ideias, de tão civilizada, dá a impressão de que a vida carioca foi inoculada pelo (bem-vindo) vírus do Estado de Bem-Estar Social. Assim seja.

Nesta semana, a GloboNews entrevistou, no Rio, os três candidatos com as maiores intenções de voto da última pesquisa Datafolha. Passaram pelas sabatinas os deputados Tarcísio Mota (PSOL), Alexandre Ramagem (PL) e o prefeito Eduardo Paes (PSD), que pleiteia o quarto mandato. Todos eles apresentaram programas de governo em que o setor público é protagonista na mobilidade urbana; a tarifa zero, discutida; e a empresa pública Mobi-Rio, resultante da encampação por Paes do sistema de BRTs, bem-vista.

Marcos Augusto Gonçalves - Marçal vive glória ainda incerta

Folha de S. Paulo

Será preciso acompanhar passo a passo o quadro eleitoral paulistano para uma avaliação mais firme sobre chances do ex-coach

A rápida ascensão de Pablo Marçal nas pesquisas de intenção de voto interferiu no mapa político paulistano e nacional de maneira que não se previa. A trollagem do autodenominado ex-coach seria, sim, para dar algum resultado. Esperava-se que pudesse levá-lo a ganhar alguns pontos nas sondagens, mas que acabaria ficando por ali, como terceiro colocado sem aspirações à vitória. Acumularia cacife para tentar negociar alguma coisa no segundo turno.

Agora, já é outra história. Depois de o Datafolha flagar, em duas semanas, o salto de 14% das intenções para 22%, foi a vez da pesquisa Quaest reafirmar o empate técnico entre o deputado Guilherme Boulos, o prefeito Ricardo Nunes e Pablo Marçal.

Bernardo Mello Franco - Bolsonaro costeou o alambrado

O Globo

Se for trocado por Pablo Marçal na eleição de SP, Ricardo Nunes não terá a quem culpar

Na segunda-feira, Pablo Marçal culpou Carlos Bolsonaro pela derrota do pai na corrida presidencial. “Ele é um retardado mental. Um estúpido”, disparou. Dois dias depois, o vereador e o coach se falaram por telefone. Ao relatar a conversa, Carluxo engoliu os desaforos e elogiou o detrator. “Queremos rumar nas mesmas direções”, garantiu.

Interpretar o Zero Dois não é tarefa para iniciantes, mas desta vez a mensagem foi clara. O clã mediu os riscos e desistiu de declarar guerra a Marçal. O armistício abre caminho para uma aliança no segundo turno da eleição paulistana. Ou no primeiro, se a candidatura de Ricardo Nunes derreter nas próximas semanas.

Andrea Jubé - Lula, Boulos e a esquerda que sabota a esquerda

Valor Econômico

Crescimento de Marçal nas pesquisas mostra que campanha de candidato do Psol tem que ajustar rota

É sempre bom relembrar aos incautos: o presidente Luiz Inácio Lula da Silva (PT) venceu o ex-presidente Jair Bolsonaro (PL) por um triz. Por uma margem apertada de apenas 2,1 milhões de votos, ou 1,8% dos votos válidos. O petista obteve 60,3 milhões de votos, e o adversário 58,2 milhões, num universo de quase 21% de eleitores ausentes.

Quem não identifica nesses números a expressão de um eleitorado majoritariamente conservador, que por pouco não manteve Bolsonaro e a direita radicalizada por mais quatro anos no poder, ignora a verdade dos números, ou vive em uma bolha.

Eliane Cantanhêde – Nem padrinhos nem partidos

O Estado de S. Paulo

País está polarizado, mas PT e PL comem poeira nas capitais. Padrinho, padrinho, para que te quero?

Jair Bolsonaro apoiou Ricardo Nunes, abraçou Pablo Marçal, mais adiante ele e os filhos atacaram o ex-coach e agora, que ele está empatado com Nunes, Carlos Bolsonaro recua e lhe manda um “fraterno abraço”, defendendo um “coração mais leve” e o que "o povo realmente anceia (sic)". Durma-se com um barulho desses, mas a Quaest acaba de mostrar o que é mais instigante: 49% dos eleitores paulistanos preferem um candidato independente.

Ou seja, com polarização nacional ou não, o eleitor não quer saber de padrinhos, mas sim do candidato que mexer com sua alma, corresponder às suas crenças e, principalmente, se mostrar capaz de cuidar dos seus direitos e interesses se eleito. Só 32% preferem um prefeito apoiado pelo presidente Lula, e 17%, por Bolsonaro.

José de Souza Martins – Um camelô no mundo da riqueza

Valor Econômico

Silvio Santos personificou e disfarçou o atraso do nosso capitalismo inconcluso

A morte do empresário e comunicador Silvio Santos tem tido a previsível repercussão que deve ter o desaparecimento de uma pessoa com extraordinária influência na alteração de costumes mercantis. De certo modo, ele foi o criador de uma versão da pós-modernidade brasileira.

Desmercantilizou a mercadoria, separou-a das relações de compra e venda, situou-a no terreno antimercantil da incerteza, da sorte e mesmo do acaso. Sobretudo o de um imaginário de festa.

Despiu-a da fria racionalidade própria do mercado para dotá-la de uma racionalidade tropical e calorosa, numa sociedade em que o dinheiro e a mercadoria, historicamente, são excepcionais, usados como se destituídos de seus atributos próprios, mesmo na vida cotidiana como se cotidianos não fossem. Silvio Santos chegou a isso de maneira meramente intuitiva.

Fernando Gabeira - Queimando mata e dinheiro público

O Estado de S. Paulo

O uso caótico do dinheiro público é apenas mais um sintoma de um processo autodestrutivo que precisa ser estancado

Discutir o Orçamento nacional, para muita gente, é algo tão excitante como uma reunião de condomínio. No entanto, o País está em chamas, e nos últimos meses perdemos mais de R$ 10 bilhões com o avanço das mudanças climáticas, a ausência de políticas preventivas e algumas atividades criminosas. Foram as cheias do Sul e seca e queimadas na Amazônia, no Pantanal e em São Paulo, para mencionar apenas alguns casos.

O dinheiro que o governo arrecada precisa resolver uma série de importantes problemas que vão desde o combate à fome até a gestão do sistema de saúde, passando, entre outros, pelos gastos astronômicos da máquina administrativa. O que se vê no noticiário é uma grande disputa por verbas entre governo e Congresso, mas quase nenhuma discussão sobre a qualidade dos gastos no Brasil.

Vinicius Torres Freire - BC quer dar um susto no dólar caro?

Folha de S. Paulo

Banco Central anuncia que vai vender dólar à vista nesta sexta; medida seria pontual

Lá por junho e julho, havia gente graúda no mercado financeiro a dizer que o Banco Central precisava dar um susto no dólar caro. Para resumir conversa complicada, a sugestão era mostrar a donos do dinheiro que o preço do dólar não estava destinado apenas "ao infinito e além", diminuindo o incentivo para operações montadas com essa premissa —ou pelo menos encarecendo lances e jogadas baseadas em um dólar "unidirecional" (para cima).

Essa conversa quase desapareceu. Na noite desta quinta-feira (29), o Banco Central anunciou que nesta sexta (30) irá leiloar até US$ 1,5 bilhão, em si mesmo um valor pequeno. Vai vender dólar à vista, em suma, uma raridade nos últimos anos. Na praça, a conversa era que o mercado ficaria "estressado" no último dia útil deste mês, o que costuma ocorrer, em níveis mais ou menos homeopáticos, tumulto neste caso piorado devido a mudança em um fundo.

Pode ser uma boa desculpa para dar um susto e um tombinho no dólar caro, um ligeiro safanão na ideia de "unidirecionadade". Ou pode não ser quase nada mesmo, apenas uma medida pontual de prudência para um caso isolado. Talvez saibamos um tanto mais disso quando os mercados estiverem operando, nesta sexta-feira.

Rogério F. Werneck - Fixação em ideias desastrosas

O Globo

Até quando o país terá de arcar com os custos proibitivos do negacionismo de Lula?

O país continua assombrado por um mistério. Por que Lula e o PT insistem em mostrar tamanho apego a ideias que se mostraram completamente desastrosas em governos petistas passados?

Antes de conjecturar sobre isso, vale mencionar a notícia recente que enseja essa indagação mais ampla. Vem de novo sendo aventada pelo governo a ideia de lançar mão dos fundos de pensão de empresas estatais para bancar investimentos em projetos do PAC.

Não foi uma surpresa que tal despropósito tenha sido recebido com imediata saraivada de críticas contundentes repisadas no passado. Mario Henrique Simonsen já dizia, há mais de 50 anos, que a preservação de reservas técnicas na área estatal era missão quase impossível, tendo em vista a recorrente tentação dos governos de turno de perceber tais reservas como dinheiro público ocioso.

Celso Ming - A trombada dos juros com a gastança

O Estado de S. Paulo

A feroz hostilidade do presidente Lula à política do Banco Central (BC), com a qual seu futuro presidente, Gabriel Galípolo, terá de lidar tem a ver com uma mentalidade antiga do que tem de ser uma política fiscal e sua relação com a política de juros.

Para o presidente Lula, tanto a rigorosa disciplina na administração das contas públicas como a política de juros de controle da inflação são exigências do mercado, que trombam com uma política de desenvolvimento e de emancipação da pobreza. Gastar menos ou cobrar mais juros, entendem Lula e as antigas esquerdas do Brasil, é empurrar uma conta injusta para a população mais pobre.

Para eles, os banqueiros adoram juros altos porque ganham mais dinheiro com o retorno dos empréstimos. Este é grave erro de entendimento. Banqueiro ganha mais com juros baixos. Os juros são o preço do dinheiro. Se o juro está alto é porque o dinheiro, por certas razões, está escasso e os banqueiros têm menos recursos para emprestar. Se os juros estão mais baixos é porque há mais dinheiro disponível e, por isso, também, os banqueiros pagam menos pelo dinheiro dos aplicadores que lhes é dado por empréstimo. Ou seja, juros altos pouco ou nada têm a ver com ganância dos banqueiros.

Poesia | Deste modo ou daquele modo... de Fernando Pessoa

 

Música | Maurice Ravel - Bolero | Alondra de la Parra | Orquestra Sinfônica da WDR