Taxação de multinacionais inspira cuidados
O Globo
É preciso integrar Brasil a acordo global,
mas evitar que novo imposto seja pretexto para mais gastos
O governo federal acaba de impor a tributação
mínima de 15% sobre o lucro de multinacionais que operam no Brasil, cumprindo
acordo negociado pela Organização para a Cooperação e Desenvolvimento Econômico
(OCDE)
e assinado por 140 países. Trata-se de um passo na direção de um ordenamento
tributário comum para evitar distorções na taxação dessas empresas,
obrigando-as a recolher impostos nos países onde geram empregos e produzem, e
não apenas onde mantêm suas sedes. A medida tem o mérito de adequar o Brasil a
normas internacionais, mas também embute riscos. O principal é o governo tentar
aproveitar para elevar a carga tributária sobre empresas globais, com o
objetivo de financiar o aumento de despesas que ameaça o equilíbrio fiscal.
Prevista para entrar em vigor no ano que vem, a taxação, instituída por Medida Provisória (MP), valerá para empresas com faturamento anual superior a € 750 milhões. O imposto para corporações no Brasil é de 34% do lucro, mas a alíquota efetiva pode ficar abaixo de 15%, a depender de incentivos fiscais e do planejamento tributário de cada contribuinte. A Receita informou que, em 2022, 957 das 8.704 empresas que estariam no escopo da MP pagaram menos de 15%. Estas teriam de pagar a diferença, de modo que a alíquota ficasse exatamente em 15%.