quarta-feira, 31 de julho de 2024

O que a mídia pensa | Editoriais / Opiniões

Nota do PT sobre Venezuela precisa ser condenada

O Globo

Declaração em favor de Maduro enfraquece as credenciais democráticas do presidente Lula

A nota da Executiva Nacional do PT sobre a eleição na Venezuela, se não for rechaçada publicamente, abala as credenciais democráticas do presidente Luiz Inácio Lula da Silva. O texto divulgado na segunda-feira reconhece Nicolás Maduro como presidente eleito e descreve o pleito de domingo como uma “jornada democrática e soberana”. Nenhuma menção às irregularidades em série durante todo o processo eleitoral nem à repressão pelas Forças do regime e milícias aos protestos pacíficos contra a fraude. A nota contraria a posição de democracias ao redor do mundo, inclusive a do próprio governo brasileiro.

Lula e o PT têm laços com os governantes da Venezuela desde os tempos de Hugo Chávez e, ao longo dos anos, não faltaram palavras de apoio. Após uma contestada eleição para uma Assembleia Constituinte em 2017, Lula pediu uma salva de palmas ao pleito. Em 2019, rechaçou a pressão internacional sobre o país vizinho: “Cada um que se meta na sua vida, e deixem o povo da Venezuela [eleger] democraticamente seus dirigentes”. De volta ao Planalto, recebeu Maduro em Brasília afirmando haver uma narrativa autoritária sendo construída sobre ele. Em seguida, disse haver mais eleições na Venezuela que no Brasil e defendeu a ideia de que o conceito de democracia é relativo. Não é.

Cristovam Buarque - Os Estados do futuro

Correio Braziliense

O mundo precisa que o G20, sob o Brasil com a presidência do Lula, adote a ideia de que a educação é a chave para enfrentar o impasse civilizatório que integrou economicamente e desintegrou socialmente a humanidade

A humanidade não é mais tema abstrato apenas de filósofos, mas ainda não é preocupação concreta dos políticos. A presidência do G20 no Brasil é a chance de os políticos despertarem para o fato de que o mundo não é mais a soma dos países. Agora, cada país é um pedaço do mundo, em um tempo não mais de abundância, mas com recursos escassos e o Estado esgotado. Com o evento Estados do Futuro, na semana passada, no Rio de Janeiro, o governo Lula deu um passo nessa direção.

O governo reuniu líderes e acadêmicos para debater como devem ser Estados e governos no futuro para enfrentarem problemas planetários, taxar os super-ricos e executar uma aliança mundial contra a fome. Temas que não eram considerados antes, quando a agenda se concentrava nos assuntos econômicos, dentro do interesse de cada país, sem considerar os limites ecológicos nem a imoralidade da desigualdade social, da pobreza e da fome.

Roberto DaMatta - Eleição é rito de passagem

O Globo

Rituais de sucessão como eleições periódicas expõem a ambiguidade dos limbos, purgatórios e viagens

Toda mudança de papéis e de espaço social é uma “passagem”, e tal movimento requer uma ritualização confirmadora. Arnold van Gennep, que estudou e cunhou essa dinâmica ritual num livro clássico (“Os ritos de passagem”, publicado em 1909 e introduzido no Brasil em 2013, com minha apresentação), dizia que todas as passagens implicam separação, marginalidade e integração.

Dessas três fases, a mais perigosa é a intermediária. Fase na qual o grupo ou a pessoa não está onde estava, mas ainda não se encontra onde deveria estar. Rituais de sucessão como eleições periódicas — essa exigência da democracia liberal — expõem a ambiguidade dos limbos, purgatórios e viagens. Na campanha eleitoral, a dramaticidade dessa etapa intermediária da sucessão exibe o seu momento crítico.

Elio Gaspari - A POF de Lewandowski

O Globo

O que falta é segurança, não é polícia

Ricardo Lewandowski entrou no Ministério da Justiça com uma boa biografia, as melhores intenções e dois planos. Um criará o Sistema Único de Segurança, centralizando informações que estão dispersas na árvore do governo. A ideia é boa, restando-lhe o teste da prática. O outro plano é redundante e politicamente tóxico. Trata-se de anabolizar a Polícia Rodoviária Federal, transformando-a numa Polícia Ostensiva Federal, ou POF.

Pretende-se mexer com uma Polícia Rodoviária que funciona, mas tem problemas passados e presentes, berços para encrencas futuras.

Chamada de Polícia Rodoviária do Flávio (Bolsonaro), ela foi usada na tentativa de atrapalhar os movimentos de eleitores nordestinos no segundo turno da eleição de 2022. A manobra falhou porque o ministro Alexandre de Moraes ameaçou prender seu diretor.

Fernando Exman - Uma parte relevante do ajuste fica para o futuro

Valor Econômico

“Reforma orçamentária” mais estrutural deve ficar para o próximo governo

A esperada reação na Esplanada dos Ministérios ao congelamento de R$ 15 bilhões nubla duas importantes discussões conduzidas por interlocutores da equipe econômica e da ala política do Palácio do Planalto.

Reconhece-se que esse valor, definido pela Junta de Execução Orçamentária com a chancela do presidente Luiz Inácio Lula da Silva, deve ser insuficiente para que a almejada meta de déficit fiscal zero seja atingida ao fim de 2024. As atenções já se voltam para o relatório bimestral de avaliação de receitas e despesas que será divulgado em setembro, com um novo congelamento de recursos no radar. O cumprimento do arcabouço fiscal é visto como questão de honra por auxiliares importantes de Lula e, segundo eles, pelo próprio presidente.

Mas, em paralelo e a despeito dos alertas feitos por especialistas, já se adia para o governo seguinte o que já se chama de “reforma orçamentária” mais estrutural. Em outras palavras, a revisão dos pisos da saúde e da educação e a realização de uma reforma da Previdência.

Martin Wolf - Ingenuidade sobre Trump ameaça o futuro

Valor Econômico

Os plutocratas precisam entender que riqueza só é uma fonte de poder se estiver protegida por um Estado governado por leis

Em 1999, o falecido Boris Berezovsky almoçou com o editor e jornalistas veteranos do Financial Times. Eu já o tinha encontrado em Moscou, em várias ocasiões. Berezovsky acabara de ter um papel de destaque em convencer os que eram próximos a Boris Yeltsin a nomear Vladimir Putin para ser primeiro-ministro e seu sucessor como presidente. Putin (que Berezovsky conhecera na época em que ele foi vice-prefeito de São Petersburgo) era então chefe do FSB, o serviço de segurança da Rússia. “Por que você confiou poder a um ex-agente da KGB?”, perguntei. E sua resposta ficou na minha memória: “A Rússia agora é um país capitalista. Em países capitalistas, os capitalistas detêm o poder”.

Meu queixo caiu, metaforicamente. Berezovsky era um homem inteligente, implacável e cínico, que passou grande parte de sua vida na União Soviética. Ele também era um russo que conhecia a história brutal da Rússia. E no entanto Berezovsky parecia acreditar na baboseira marxista sobre com quem o poder ficaria na Rússia supostamente “capitalista”. Claro, ele estava errado. O poder estava nas mãos do homem no Kremlin, onde sempre esteve. Talvez eu seja muito duro com ele. Os líderes ocidentais parecem acreditar que as sanções contra os oligarcas russos podem influenciar Putin. Não tenho ideia de por quê.

Presidente da Fiesp critica Campos Neto e juros altos

Fernanda Brigatti/Folha de S. Paulo

Para presidente da federação, varejo e indústria fazem propaganda gratuita da Shein

O presidente da Fiesp (Federação das Indústrias do Estado de São Paulo), Josué Gomes da Silva, disse nesta terça (30) que faltou um José Alencar ao presidente Luiz Inácio Lula da Silva (PT) na discussão sobre o patamar dos juros básicos, definido a cada dois meses pelo Banco Central.

Na véspera da reunião do Copom (Comitê de Política Monetária) do BC, Josué afirmou considerar que seu pai, vice de Lula nos dois primeiros mandatos, era alguém que "falava com legitimidade sobre o assunto e ele [Lula] não precisava falar" e que, na falta de uma figura para ocupar esse papel, coube ao presidente colocar o tema em discussão.

Para o presidente da Fiesp, Lula politizou de maneira equivocada as decisões do Copom.

O atual vice-presidente Geraldo Alckmin (PSD), ministro do Desenvolvimento, Indústria, Comércio e Serviços, também criticou publicamente o patamar dos juros básicos.

Desde o ano passado, porém, coube principalmente a Lula esse papel, que voltava a mira ao presidente do BC, Roberto Campos Neto. Após um período de trégua, diante das reações negativas do mercado, Lula retomou, nos últimos dias, as críticas a Campos Neto.

Fábio Alves - A hora de o BC falar duro

O Estado de S. Paulo

Se o Copom não abordar amanhã o risco de elevar a Selic de novo, o dólar pode subir além de R$ 5,70

Após a disparada do dólar e a piora das expectativas inflacionárias desde a sua última reunião, o Copom não terá como escapar de abordar um tema indigesto para o governo Lula no comunicado que acompanhará a decisão hoje: uma eventual alta dos juros até o fim do ano. Se não endurecer a mensagem já nesse documento, o Banco Central corre sério risco de perder o controle do câmbio e das projeções para a inflação no horizonte relevante da política monetária. Ninguém espera que, nesta reunião, o BC mexa na taxa Selic, atualmente em 10,50%.

Mariliz Pereira Jorge - Lula deixou Maduro se criar

Folha de S. Paulo

Seria bom que assumisse de vez que avaliou mal o governo do país vizinho

Lula vai precisar de muito mais do que "chá de camomila" para se posicionar sobre a situação na Venezuela. Seria bom que assumisse de vez que avaliou mal o governo de Nicolás Maduro e de que o país vizinho não é "vítima de narrativa de uma antidemocracia e autoritarismo". Para começar, reconhecer que o venezuelano é protagonista dessa crise, que as eleições foram fraudadas, que o nome do que acontece no momento é golpe de Estado.

Bruno Boghossian - Maduro completa a cartela

Folha de S. Paulo

Presidente deve ampliar dependência da cartilha autocrática para ficar no poder

Nicolás Maduro já era um ditador antes de anunciar sua candidatura a um terceiro mandato na Venezuela. Ao longo das décadas, o chavismo dominou instituições de controle, eliminou limites ao poder presidencial e exerceu um mando autoritário em aliança com os militares. Com a trama armada nesta eleição, o regime vai ainda mais fundo.

O presidente venezuelano completou a cartela de critérios que definem a escolha de um governante como uma farsa. Nos preparativos, órgãos controlados pelo chavismo restringiram a competição a partir do bloqueio de candidatos de oposição competitivos e cercearam a participação de eleitores, com regras duras para o voto no exterior.

Marcos Augusto Gonçalves - Apoio de PT e Lula à farsa de Maduro é vexame histórico

Folha de S. Paulo

Partido e presidente adotam negacionismo e oportunismo ideológico que parecem com bolsonarismo de sinal trocado

A apressada e irresponsável nota de apoio do PT à farsa eleitoral venezuelana é um dos episódios mais vergonhosos da história do partido e da esquerda brasileira. Considerar que o resultado do pleito foi "democrático e soberano" é de um cinismo absoluto. Boa parte das lideranças do PT parece ver o que chama de "democracia burguesa" como um trampolim para regimes autocráticos como os da Venezuela, China Rússia –na falta da saudosa ditadura do proletariado.

A eleição foi uma trapaça desde o início, quando a principal candidata de oposição, María Corina Machado, viu-se impedida de concorrer. Bastaria essa decisão arbitrária para caracterizar o processo como não democrático.

O despautério que foi a manifestação petista contou, na grande moldura, com o endosso do presidente Luiz Inácio Lula da Silva que, pelo menos como chefe de Estado do Brasil, pediu mais detalhes sobre as apurações para conceder sua bênção ao ditador. Deu, porém, declarações ensaboadas em que se esforçou para normalizar tudo e livrar a cara de Maduro.

Marco Aurélio Nogueira - Vão fechar os olhos para as fraudes de Maduro, PT se desqualifica

O Estado de S. Paulo

É difícil entender a posição do PT no que diz respeito às eleições venezuelanas e ao regime de Nicolás Maduro.

A fraude está escancarada, com as previsíveis manobras autoritárias e intransparentes, a arrogância fora-da-lei dos que se proclamam vencedores, os protestos internacionais das democracias ocidentais e de vários governos da América do Sul.

O regime venezuelano é uma ditadura, simples assim. Ele abusa de simulacros democráticos, de uma retórica "revolucionária" e de uma coreografia de apoio popular que não existe de fato. Enquanto isso, milhões de venezuelanos caem na miséria, outros tantos fogem do país, a economia naufraga, o país se converte em pária internacional.

O roteiro é o mesmo de todas as ditaduras: manipulam-se as eleições e formam-se tribunais eleitorais fiéis, abrindo caminho para que os governantes se eternizem no poder. Putin é uma referência, assim como Orbán na Hungria. É o chamado "iliberalismo" em ação, misturado com formas reacionárias de populismo.

Luiz Carlos Azedo - PT perdeu a centralidade da democracia

Correio Braziliense

Não se compreende a aposta no alinhamento de Maduro ao eixo formado por Rússia, China, Cuba, Irã, Síria, Madagascar e Coreia do Norte, além de Honduras e Nicarágua

Para quem passou pela tentativa de golpe de Estado de 8 de janeiro de 2023, quando partidários do ex-presidente Jair Bolsonaro tomaram a Praça dos Três Poderes e invadiram seus palácios com objetivo de provocar uma crise institucional e destituir o presidente Luiz Inácio Lula da Silva, a nota do PT reconhecendo a “vitória” eleitoral do presidente da Venezuela, Nicolás Maduro, revela um partido político que perdeu a noção da realidade na qual atua.

A nota trata Maduro como “presidente reeleito” e descarta que o Conselho Nacional Eleitoral (CNE) venezuelano divulgue os dados de cada local de votação, principal cobrança da oposição e de vários países. O Itamaraty considera essa divulgação o “passo indispensável para a transparência, credibilidade e legitimidade do resultado do pleito”. O CNE garante que Maduro venceu com 51,2% dos votos, ante 44% de Edmundo González, o principal opositor. Ninguém acredita.

Vera Magalhães - Lula relativiza defesa da democracia

O Globo

Presidente atrela mandato e, pior, o Brasil a ditadura sanguinária que deixa rastro de mortes, violações de direitos e miséria

Parecia que Lula adotaria uma postura ligeiramente mais prudente em relação às eleições eivadas de evidências de fraude na Venezuela, mas o temor de que, uma vez encorajado a falar, o presidente brasileiro não conseguiria esconder o viés pró-Maduro se confirmou com as declarações dadas por ele em entrevista ontem.

Seria cômico, se não fosse lamentável e gravíssimo, que Lula decida culpar a imprensa brasileira (!) por, segundo ele, transformar na “Segunda Guerra Mundial” o que seria um processo “normal”.

Fica explícito que, quando não está em ambiente controlado, o presidente não tem nenhuma divergência em relação a seu partido, o PT, que prontamente reconheceu a vitória autoproclamada de Maduro, sem a apresentação dos boletins de urna ou de qualquer comprovação de que os números anunciados pelo cooptado Conselho Nacional Eleitoral (CNE) correspondem à realidade da população que compareceu em massa para votar.

J. B. Pontes - Qual futuro do nosso País?

A maioria do povo brasileiro desconhece a realidade do País.

Perguntados, por exemplo, sobre a Província Mineral da Serra dos Carajás, no Estado do Pará, a grande maioria confessa que nunca ouviu falar. Poucos sabem que Carajás é o maior complexo minerário do mundo, rico em ferro, manganês, cobre, níquel, ouro, bauxita, zinco, prata, cromo, estanho, tungstênio e urânio.

Nada sabem sobre a vergonhosa história da privatização – ou entrega –, em  1997, da estatal Companhia Vale do Rio Doce - CVRD, que explorava as minas do Projeto Grande Carajás, atendendo aos interesses do capital internacional. Avaliada à época em cerca de 100 bilhões, ela foi vendida por apenas 3,3 bilhões, um verdadeiro crime de lesa-pátria cometido pelo governo Fernando Henrique Cardoso. No pacote foram também incluídas as minas de ferro do Estado de Minas Gerais e toda a infra-estrutura de propriedade da CVRD, a exemplo das ferrovias.

Poesia | "Soneto do desmantelo azul", de Carlos Pena Filho

 

Música | Mariana Aydar e Jazz Sinfônica - Triste, Louca ou Má