quinta-feira, 4 de julho de 2024

O que a mídia pensa | Editoriais / Opiniões

Congresso precisa levar a PEC da Segurança a sério

O Globo

Iniciativa de Lewandowski tem o mérito de tirar a União da letargia para que assuma seu protagonismo

O ministro da Justiça e Segurança Pública, Ricardo Lewandowski, mal entregou ao presidente Luiz Inácio Lula da Silva o texto da Proposta de Emenda à Constituição (PEC) que amplia a participação do governo federal no combate a organizações criminosas, e as resistências de governadores e da bancada da bala no Congresso já começaram. A iniciativa de Lewandowski tem o mérito de tirar a União de sua letargia e dar-lhe o protagonismo que se exige dela. Por isso deveria ser apoiada pela sociedade.

Entre outros pontos, a PEC da Segurança aumenta atribuições da Polícia Federal (PF) e da Polícia Rodoviária Federal (PRF). Na prática, a PF atuaria em investigações envolvendo facções criminosas e milícias, enquanto a PRF atuaria como polícia ostensiva sob o comando do governo federal. A proposta inclui na Constituição o Sistema Único de Segurança Pública (Susp), semelhante ao SUS. O modelo, criado em 2018, até hoje não está concluído.

Vinicius Torres Freire - A ruína dos conservadores britânicos

Folha de S. Paulo

Até liberais rejeitam o partido, que animou o Brexit e degradou serviços públicos

O Partido Conservador deve apanhar na eleição desta quinta-feira. Não vai apenas ceder o poder para o Partido Trabalhista, alternância costumeira faz um século. Pode ter o pior resultado da história

É difícil estimar o número de cadeiras que caberá a cada partido, pois o voto é distrital. Pelas projeções mais recentes, os conservadores ficariam com 95 cadeiras (tinham 344 quando o Parlamento foi dissolvido). Os trabalhistas, com 452, 70% do total de 650 parlamentares. Os liberal-democratas teriam 60. O Reform UK, com 5.

Pelas pesquisas de total de votos, o Partido Conservador, com 22%, não ficaria muito longe do Reform UK, do nacionalista xenófobo Nigel Farage, com 17%. Os trabalhistas teriam 39%. Os Liberal-Democratas, 12%.

Maurizio Molinari* - Há ainda uma esperança que vem da França e da Europa

A França, e com ela a Europa, preparam-se para a votação decisiva no domingo, quando as urnas decidirão a extensão da vitória da direita. Pois bem, quando faltam apenas cinco dias para a votação, a notícia é que para evitar que Le Pen obtenha a maioria absoluta, uma onda de pactos de desistência foi registada ontem nas zonas eleitorais onde ocorrerá o segundo turno. 218 candidatos pertencentes às diversas siglas que disputam o voto da direita desistiram de concorrer. A razão é um possível impasse que concretiza o pesadelo destas semanas: um quadro da ingovernabilidade do país. É por isso que Macron começa a avaliar a hipótese de um governo provisório (técnico) que reúna uma maioria politicamente heterogênea, mas necessária para manter Le Pen fora do governo do país.

Maria Hermínia Tavares - Por trás, uma ideia de país

Folha de S. Paulo

É de lembrar que nunca se tratou apenas de devolver valor à moeda

Os brasileiros mais velhos temos nossas lembranças particulares do dia em que o real começou a circular.

E, antes, de quando tivemos de quebrar a cabeça para entender o que era uma URV (Unidade Real de Valor) e da atitude ressabiada diante da nova moeda de muitos de nós que já víramos a inflação resistir a seis —seis!— planos sucessivos, todos incapazes de baixá-la a níveis civilizados.

Na segunda-feira (1°), passaram-se 30 anos daquele dia especial. Foram múltiplas as comemorações: textos, programas de TV, seminários, podcasts. Somando-se a tudo o que fora escrito antes, os festejos permitem uma visão substancial daquela empreitada.

Maria Cristina Fernandes - O dia em que Lula cedeu ao poder real do mercado

Valor Econômico

O ministro da Fazenda, Fernando Haddad, chegou ao Palácio do Planalto às 8h30 desta quarta-feira e só saiu mais de 12 horas depois, quando terminou a reunião da junta orçamentária com o presidente Luiz Inácio Lula da Silva. Esteve ao lado de Lula nos eventos do Palácio ao longo do dia, mas foi a conversa que tiveram antes da primeira agenda presidencial, às 10h, que parece ter sido decisiva.

Haddad vinha recebendo cenários os mais catastróficos. Se o governo agisse agora, ainda daria tempo de retomada até 2026. Se continuasse nessa toada, devolveria o chapéu para a extrema direita. O ministro chegou com um arsenal de dados para mostrar o impacto do falatório sobre o dólar, inflação e juro. Desta vez, funcionou. Convergia com os muitos recados de grandes banqueiros e empresários que, por meio de ministros, fizeram chegar, nos últimos dias, suas preocupações ao presidente.

Ao meio-dia e meia, no breve discurso de lançamento do plano safra da agricultura familiar, Haddad era a imagem do entusiasmo. Até um “querida Janja” soltou. Lula foi breve e ponderado. Governo não joga dinheiro fora e tem responsabilidade fiscal. Ponto. Não foi só o gogó, porém, que derrubou o dólar. O palavrão ao longo do dia foi contigenciamento. Na reunião que entrou pela noite, acertaram-se os ponteiros do compromisso fiscal redivivo, com o corte dos R$ 25 bilhões em despesas e o contigenciamento do Orçamento.

Tão importante quanto conhecer as razões pelas quais o presidente reagiu é entender o que o levou à aloprada das últimas semanas. Não era nessa toada que vinha, tanto que seu ministro da Fazenda ganhou credibilidade para tourear as pressões e as dúvidas sobre a sustentabilidade fiscal. A mesma que estava por um fio até a reação desta quarta.

No início de junho, Lula recebeu pesquisas indicando que ele estaria despencando nas redes e que, para reverter esse declínio, seria preciso foco num tema, juros e bancos, e num personagem, Roberto Campos Neto. Chegam ao palácio as pesquisas as mais diversas, sem que o governo as tenha encomendado. Como esta trouxe o que queria ouvir, Lula comprou. O pavio, encurtado pelo flerte do presidente do Banco Central com a política, queimou dias a fio.

Quando Lula chegou à casa de Haddad na noite da última sexta-feira o aguardavam cinco economistas: Luiz Gonzaga Belluzzo, Luciano Coutinho, Guido Mantega, Gabriel Galípolo e Eduardo Moreira. A reunião vinha sendo planejada há muito tempo para tentar dar um norte à política industrial do governo. Lula resistia. Acabou por aceitar, mas, pela conjuntura, o encontro acabou tomando outro rumo.

Bruno Boghossian - O pugilista que depende de votos

Folha de S. Paulo

Economistas alertaram que presidente pode brigar com juros, mas inflação fica só na conta do governo

Lula ouviu uma mensagem pragmática durante um jantar com economistas que falam sua língua. Na conversa, nomes como Guido Mantega e Luiz Gonzaga Belluzzo fizeram um alerta: o presidente pode ter razão na crítica a investidores e ao Banco Central, mas o custo do embate ameaça ficar alto demais para o governo.

A pressão do dólar sobre a inflação virou um risco imediato para o petista. O que poderia ser um choque de visões sobre a economia se transformou rapidamente num problema que fatalmente transbordaria para o humor geral dos eleitores.

Em outras palavras: se o preço da comida subir, pouca gente vai ligar para quem tem razão na história. A maioria, sem dúvida, vai procurar culpados por uma crise que não existia antes daquele conflito.

Míriam Leitão - Brasil ameaçado por fogo e água

O Globo

Ministra Marina Silva conta que as ações preventivas começaram em abril no Pantanal e diz que, sem isso, a situação atual seria muito pior

A ministra do Meio Ambiente, Marina Silva, disse que os municípios no Pantanal que mais desmataram foram os que mais tiveram focos de incêndio. E metade foi no município de Corumbá (MS). Ela conta que o governo agiu com prevenção, do contrário o que estaria acontecendo na região seria “incomparavelmente maior”. Falou que hoje mais de 500 pessoas estão no comando das operações, a maioria na linha do fogo. E voltou a dizer que a Polícia Federal identificou os 18 pontos nos quais a tragédia se iniciou e que contra os responsáveis haverá “aquilo que a lei prevê”.

Merval Pereira - Independência incomoda PT

O Globo

Petistas alegam que as agências reguladoras retiram dos ministérios e secretarias os poderes de gestão

Não é de hoje que o PT não gosta de autarquias autônomas como o Banco Central. Ao herdar o governo dos tucanos, não se deu bem com os dirigentes de agências reguladoras nomeados pelo governo anterior. A ideia de órgãos reguladores autônomos é consequência da privatização de estatais implementada pelos governos tucanos que criaram o Plano Real, hoje festejado como o ponto de partida do que poderia ter sido uma gestão modernizadora do Estado brasileiro, inconclusa até hoje.

Ter agências independentes dos governos foi a base da defesa dos cidadãos diante de um novo cenário que se abria com o Estado abrindo mão de administrar setores como a telefonia para passar essa tarefa ao setor privado, mas sob a supervisão de órgãos governamentais independentes. Terem comandos com mandatos desvinculados do governo é a premissa básica para o funcionamento desses órgãos, e a autonomia do Banco Central (BC) foi um desses avanços alcançados só recentemente, no governo Bolsonaro.

Malu Gaspar - Lula, o dólar e as cascas de banana

O Globo

Pode-se dizer que Luiz Inácio Lula da Silva tem vários defeitos, mas ser um neófito não é um deles. Por isso, muita gente no mercado e no meio político se perguntou por que tanta insistência nos ataques ao presidente do Banco CentralRoberto Campos Neto, nas últimas duas semanas.

Lula é um veterano em turbulências econômicas e sabe o efeito que suas declarações podem ter sobre o mercado em períodos de alta sensibilidade. Mas parece ter dificuldade em entender que o nervosismo que tomou conta do mercado após suas críticas a Campos Neto e às altas taxas de juros não é propriamente uma defesa de seu rival, e sim efeito da dúvida sobre o compromisso do governo de aprofundar o ajuste fiscal para manter as contas públicas equilibradas.

Afinal, entre um ataque e outro, Lula mesclou as menções ao “viés político” de Roberto Campos Neto com frases dúbias sobre sua real disposição para cortar gastos, num momento em que a equipe econômica reconhece que será preciso tomar alguma atitude para ao menos tentar cumprir a meta de déficit zero em 2024.

Luiz Carlos Azedo - Campos Neto entra em férias, e o dólar despenca

Correio Braziliense

As férias de Campos Neto e a reunião de Lula com Haddad deixaram os investidores de orelha em pé, temiam a intervenção do BC no mercado de câmbio

Bastou o presidente do Banco Central, Roberto Campos Neto, entrar em férias e o diretor de Política Monetária, Gabriel Galípolo, assumir seu lugar, interinamente, para o dólar despencar. Ex-braço direito do ministro da Fazenda, Fernando Haddad, Galípolo assumiu a chefia do BC por indicação de Campos Neto. O dólar encerrou a sessão desta quarta-feira em queda de 1,71%, de volta aos R$ 5,56. Galípolo é o mais cotado para a sucessão de Campos Neto, em dezembro, por indicação do presidente Luiz Inácio Lula da Silva. O dólar chegou a bater os R$ 5,70 durante a tarde de terça-feira, o maior patamar em dois anos e meio, alta atribuída à cautela do mercado com as recentes críticas de Lula ao BC e a Campos Neto.

William Waack - Lula e Biden

O Estado de S. Paulo

As ideias antigas do presidente Lula são seu principal problema, não a idade

Apelidar Lula de “Biden da Silva” está ganhando tração nas lacrações na internet, num tipo de ataque por parte de adversários mais habilidosos no espaço digital do que a corrente política do presidente brasileiro. A comparação, porém, é descabida.

Joe Biden é uma vítima clara de senilidade, definida como doença degenerativa crônica que afeta a memória, o raciocínio e o comportamento de pessoas idosas. A enfermidade o obriga a ter de tomar uma única decisão (abandonar ou não a reeleição), pessoal e política, de enormes consequências qualquer que seja.

Salta aos olhos que Lula desfruta de condição física muito melhor do que a de Biden, e não precisa decidir neste momento sobre reeleição. O problema principal para Lula é ser vítima de sua própria visão dos fatos e as ações disso decorrentes, prejudiciais para ele mesmo.

É o caso específico do cenário econômico. Lula não parece entender os mecanismos que pioram ou aliviam o peso das questões fiscais e monetárias que balizam hoje – goste-se ou não disso – a política brasileira. E insiste em posturas que pioram as já precárias condições de governabilidade.

Celso Ming - Lula muda o tom. E o dólar recua e vêm cortes

O Estado de S. Paulo

O presidente Lula mudou seu discurso. Declarou, nesta quarta-feira, que “responsabilidade fiscal não são palavras, mas compromisso do governo”. Pelo que foi decido nesta quarta-feira e anunciado no início da noite, podem ser mais do que meras palavras.

A mudança de tom já fora suficiente para derrubar a cotação do dólar de R$ 5,66 para R$ 5,56. Isso mostra que as intervenções retóricas do presidente Lula a favor da gastança e contra o presidente do Banco Central têm a ver, sim, com a esticada das cotações da moeda estrangeira.

Mais do que o que diz, pesa o que Lula pensa e faz. O anúncio de cortes e de observância do déficit zero no Orçamento de 2025 é um bom começo. O que precisa ser visto é se o dito será observado na prática.

Felipe Salto - O acerto de Lula

O Estado de S. Paulo

Declaração do presidente jogou água na fervura e poderá abrir caminho à necessária agenda de controle de gastos públicos de Haddad

Ontem, o presidente Luiz Inácio Lula da Silva disse: “Aqui, nesse governo, a gente aplica o dinheiro que é necessário. A gente gasta com educação e saúde, naquilo que é necessário. Mas a gente não joga dinheiro fora. Responsabilidade fiscal não é uma palavra, é um compromisso desse governo desde 2003. E a gente manterá à risca”.

Karl Marx inicia O 18 Brumário de Luís Bonaparte (1852) assim: “Hegel observa em uma de suas obras que todos os fatos e personagens de grande importância na história do mundo ocorrem, por assim dizer, duas vezes. E esqueceu-se de acrescentar: a primeira vez como tragédia, a segunda como farsa”.

Ele escreve que “os homens conjuram ansiosamente em seu auxílio os espíritos do passado, tomando-lhes emprestado os nomes, os gritos de guerra e as roupagens (...)”. É curioso como as obras clássicas ajudam a compreender e a interpretar a conjuntura, sobretudo quando tudo parece turvo.

Poesia | Como fazer-te saber que há sempre tempo, de Mario Benedetti

 

Música | Marisa Monte - Gentileza