O Estado de S. Paulo
Ah, sim, foi mais duro do que habitualmente o
tom do comunicado do Banco Central (BC) nesta quarta-feira, logo depois da
decisão de aumentar os juros básicos (Selic) em 0,25 ponto porcentual, pontuam
os analistas do mercado financeiro.
Uma das características da comunicação entre
os humanos é a de que o tom é quase sempre mais importante do que o conteúdo
literal da mensagem.
Vejam o que acontece com tantas canções de
ninar, especialmente as mais antigas. Falam de coisas terríveis: do lobo mau
que escancara seus dentes, do boi da cara preta, da cuca que vem pegar, da
bruxa que come pequeninos... e, no entanto, a criança dorme placidamente. Dorme
porque o tom sereno da canção é mais importante do que as brutalidades
relatadas.
No comunicado do Copom, o tom foi em sentido oposto. Não foi tranquilizador, foi mais de advertência contra perigos, que chama de riscos. Ou seja, o tom que justifica a volta de um maior aperto monetário é, no linguajar do mercado financeiro, uma atuação mais de falcão (hawkish) do que de pombo (dovish).