terça-feira, 11 de junho de 2024

O que a mídia pensa | Editoriais / Opiniões

Avanço da ultradireita traz riscos para a EU

Folha de S. Paulo

Moderação ainda predomina nas eleições para o Parlamento Europeu, mas radicais mostram força; França é país mais afetado

A eleição para o Parlamento Europeu é evento marcado pela natureza burocrática da instituição, uma das três que compõem o arcabouço da governança do bloco de 27 nações. Apenas metade do eleitorado potencial foi às urnas no processo encerrado no domingo (9).

Os debates do órgão centrado em Estrasburgo (França) costumam ser vistos como alheios às realidades locais, e os 720 deputados não têm palavra decisiva sobre temas como defesa, hoje vital em meio à Guerra da Ucrânia.

Isso dito, o pleito serve como um barômetro político, e o que foi aferido neste fim de semana sugere uma renovação da onda conservadora dos anos 2010, cujos efeitos deletérios se fazem presentes até hoje, como o brexit.

Merval Pereira - Há a direita no caminho

O Globo

A ascensão da direita no mundo, com a possibilidade de vitória de Trump nos Estados Unidos, é fator que certamente influenciará na política interna brasileira, numa região em que também a direita vem crescendo

A comemoração da direita brasileira pelo resultado das eleições para o Parlamento Europeu, com a ascensão da direita em suas várias versões, especialmente a extremista, tem razão de ser. Mas não significa que a União Europeia esteja à beira de ser dominada pelos direitistas, nem que o mundo vá inexoravelmente nessa direção. Esse ambiente político, porém, de embate na Europa, pode ter consequências no Brasil, que desde 2018 é palco de uma disputa entre esquerda e direita, representando um retrocesso político de graves consequências.

Durante cerca de 25 anos, superada a disputa entre Collor e Lula, o PSDB, de centro-esquerda, enfrentou a esquerda representada pelo PT de Lula, oferecendo ao eleitor uma visão social da disputa presidencial. Nesse período, não havia político que quisesse ser identificado com a direita, que se abrigou sob as asas dos tucanos.

Luiz Carlos Azedo - França, Bélgica e Alemanha: direita, volver!

Correio Braziliense

A revolução digital desencadeou um processo de modernização cuja velocidade as instituições democráticas não estão preparadas para acompanhar

O presidente francês, Emmanuel Macron; o primeiro-ministro belga, Alexander De Croo; e o primeiro-ministro alemão, Olaf Scholz, foram os grandes perdedores das eleições para o Parlamento Europeu, nas quais os partidos de extrema direita tiveram o seu melhor desempenho, com a conquista de quase um quarto dos assentos.

Macron foi o primeiro a reagir: dissolveu a Assembleia Nacional e convocou eleições nacionais, nas quais o favorito a primeiro-ministro é o novo líder da extrema direita francesa, Jordan Bardella, de 28 anos. Ele encabeça a lista do Reagrupamento Nacional, de Marine Le Pen, que teve o dobro dos votos do Renascimento, partido do presidente francês.

Na Bélgica, o primeiro-ministro Alexander De Croo pediu demissão, porque perdeu também as eleições locais: federal e regionais. Na Alemanha, os sociais-democratas do chanceler Olaf Scholz, de centro-esquerda, perderam muita influência, mas o primeiro-ministro não pretende antecipar eleições nem renunciar.

Míriam Leitão - O que se pede a Fernando Haddad

O Globo

O país precisa decidir o que quer do ministro: que ele equilibre as contas ou que ele nunca mexa nos benefícios fiscais

O país tem que decidir o que vai pedir ao ministro Fernando Haddad: ou que ele equilibre as contas ou que ele nunca mexa nos benefícios fiscais, nem feche jamais as brechas pelas quais alguns pagam menos impostos. A MP do equilíbrio fiscal tem o defeito de deixar algumas empresas com o acúmulo de créditos tributários que não podem ser usados. A proposta surgiu da necessidade de cumprimento da Lei de Responsabilidade Fiscal, que estabelece a obrigação de apontar outra fonte de arrecadação, se há uma perda de receita ou um gasto extraordinário.

A restrição levantou uma enorme ira contra o ministro e vai acabar sendo alterada. Exportadores ou setores isentos do PIS/Cofins recebem os créditos, só que não terão como usá-los. Ficam com um direito sem saber quando conseguirão compensar esses créditos. Hoje eles são utilizados para pagar outros impostos. Pela MP, servirão apenas para pagar o próprio PIS/Cofins. A confusão mostra como o sistema tributário brasileiro é todo cheio de distorções e de vantagens para alguns.

Sérgio Magalhães - Nova visão do espaço urbano

O Globo

Se quisermos cidades parceiras da natureza, o país precisa oferecer financiamento para compra ou produção das moradias 

Ante a tragédia gaúcha, o sentimento é de brutal tristeza. Vidas que se foram, sonhos que se desfazem, cidades derrotadas, quanta dor! Tudo nos diz que o reerguimento, que virá, será um período longo e difícil. Mas virá.

É compreensível que, no calor dos acontecimentos, sejam sugeridas soluções precipitadas, ou feitas críticas contundentes. É compreensível, mas, de precipitação, basta-nos a pluviométrica. Choveu nas bacias que conformam o Guaíba mais de metade do que choveria em um ano. Trata-se de algo absolutamente exponencial, que não admite um pensamento raso.

Não reduzamos a dor do Rio Grande à inépcia administrativa — que houve. Vamos elevá-la para se constituir num marco para o país no enfrentamento das mudanças climáticas.

Roberto Troster - Uma oportunidade singular

Valor Econômico

Reforma tributária é chance de corrigir distorções na intermediação financeira

A tributação da intermediação financeira no Brasil é um Frankenstein que destrói valor. É resultado de uma série de medidas circunstanciais adotadas a cada aperto fiscal que apareceu. O motivo é que são poucas empresas, totalmente formais, sem capacidade de sonegação e com facilidades de arrecadação e fiscalização.

De remendo em remendo o resultado ficou pior a cada aperto. A complexidade é bizantina. São cinco fatos geradores: principal, prazo, juros, serviços e lucros com alíquotas que variam dependendo do prazo, do dia do calendário, da destinação e do instrumento. A regulamentação da reforma tributária é uma oportunidade singular de corrigir essas distorções.

Pedro Cafardo - Coisas que deixam paulistas vermelhos de vergonha

Valor Econômico

“Olho gordo” do governo Tarcísio de Freitas sobre recursos de USP, Unesp e Unicamp e da Fapesp indica algo preocupante

São Paulo não é São Paulo por acaso. O Estado tem um bom nível de desenvolvimento por várias razões que não vêm ao caso agora, mas há uma certamente muito importante: o apoio financeiro à formação universitária e à pesquisa.

Por falta de tato, desconhecimento ou sabe-se lá por que, o governo do Estado ensaiou uma investida sobre os recursos oferecidos a duas “joias” estaduais dessa área amparadas financeiramente há décadas por imposição constitucional.

O projeto original da Lei de Diretrizes Orçamentárias, enviado pelo governador Tarcísio de Freitas (Republicanos) à Assembleia semanas atrás, deixava explícito que o governo estadual poderia fazer uma desvinculação de até 30% no orçamento da Fundação de Amparo à Pesquisa do Estado de São Paulo (Fapesp) e avançava também sobre os recursos de três universidades estaduais.

Lula sobre greve na educação: "Não há razão para estar durando"

Por Caetano Tonet e Renan Truffi / Valor Econômico

O presidente Luiz Inácio Lula da Silva criticou, nesta segunda-feira (10), a duração da greve dos servidores federais da educação, iniciada no dia 15 de abril. Lula destacou os investimentos de seu governo nas instituições e destacou o prejuízo aos estudantes. A fala ocorreu durante um evento no Palácio do Planalto que contou com a participação de reitores e do ministro da Educação, Camilo Santana.

“Se vocês analisarem o conjunto da obra, vocês vão ver que não há razão para essa greve estar durando o que está durando. Porque os prejudicados são os estudantes”, disse Lula.

“Eu fui dirigente sindical e queria que fosse levado em conta o montante de recursos que foi colocado à disposição pela ministra Esther (Dweck). Porque a gente vai continuar falando de novas universidades e institutos federais enquanto os alunos estão esperando a volta das aulas”, complementou.

Eliane Cantanhêde - Quem planta colhe

O Estado de S. Paulo

Governo e entidades discordam da necessidade da medida, uso de marca do governo gera debate político e três empresas que ganharam o leilão não são do ramo

Nem tudo o que começa errado vai errado até o fim, mas essa história de importar arroz para compensar as perdas no Rio Grande do Sul, que é o maior produtor, responsável por 70% do abastecimento do País, começou mal, continua mal e vira mais uma fonte de ataques ao governo e de dor de cabeça para o presidente Lula. Como vai acabar?

O primeiro erro pode ser econômico. O governo gaúcho e entidades do setor anunciaram e mantêm que, mesmo com as inundações no Estado, o abastecimento nacional está garantido e não seria necessário importar. O governo federal, porém, decidiu comprar um milhão de toneladas no mercado internacional, para “evitar especulação financeira e estabilizar o preço em todo País”. Afinal, é ou não importante importar, a um custo alto e subsídio interno? Se confirmado que a medida conteve aumentos e garantiu arroz na mesa dos brasileiros pobres, aplausos para Lula. Se não foi e se confirmou um excesso caro e desnecessário... Bem, vaias para Lula.

Carlos Andreazza – Lula articulando amanhã

O Estado de S. Paulo

Se a ideia for se dedicar só às atividades institucionais da Presidência, menos desgastante será entregar logo o norte a Lira e Alcolumbre com seus arranjos informais

Ano e meio de governo – governo exausto e sem identidade – e ainda a conversa de articulação política insuficiente. O ministro articulador não fala com o presidente da Câmara. Mas a culpa é dos ministros cujos partidos nunca mentiram sobre não integrar a base de Lula.

Ano e meio de governo e, finalmente, o presidente da República vai a campo. Não houve derrotas. Nem erros. Mesmo assim, descerá ao chão. Será a terceira vez que promete. Nas outras, disse que iria e faltou. Ou foi e não resultou. Agora vai. Como se favor. Como se, até aqui, o governo – governo fraco – fosse de outro. De Rui Costa, sei lá. Agora vai. Vai?

Se a ideia for passar o tempo dedicado apenas às atividades institucionais da Presidência, menos desgastante será entregar logo o norte a Lira/Alcolumbre e deixar andar o arranjo informal. Bolsonaro o fez. A engenharia do parlamentarismo orçamentário está em operação; o motor do orçamento secreto jamais parou de girar. Chame Ciro Nogueira. Coloque-o no Planalto. E Lula poderá viajar costurando a paz mundial.

Dora Kramer - Anistia requer consenso

Folha de S. Paulo

Não há concordância nem motivação ou mobilização popular por perdão ao 8 de janeiro

A proposta de anistia aos condenados pelos ataques de 8 de janeiro de 2023 aos três Poderes da República embute intenções outras e começa a tramitar na Câmara, mas não tem chance de prosperar, mesmo se aprovada.

Por mais que deputados de direita sejam favoráveis, de olho em um futuro perdão ao ex-presidente Jair Bolsonaro, por mais que esse campo tenha conseguido impor derrotas ao governo no Congresso, falta ao projeto o essencial: consenso.

Alvaro Costa e Silva - Dois caminhos, um atalho

Folha de S. Paulo

Projeto que proíbe delação premiada favorece os próprios políticos e o crime organizado

São dois caminhos, com rastros e obstáculos diferentes, mas que têm em comum o ponto de chegada –Bolsonaro.

A Polícia Federal avança para concluir os inquéritos envolvendo o ex-presidente e encaminhar os relatórios à Procuradoria-Geral da República ainda neste mês ou em julho. Em agosto deverão terminar os casos de dois colaboradores diretos de Bolsonaro: Silvinei Vasques, ex-diretor da Polícia Rodoviária Federal, e Anderson Torres, ex-ministro da Justiça. Investigada pelo uso irregular do cartão corporativo da Presidência, Michele Bolsonaro por enquanto pode respirar: não está entre as prioridades.

Hélio Schwartsman - Avanços extremistas

Folha de S. Paulo

Centro político é o vitorioso nas eleições para o Parlamento Europeu, mas direita radical obteve sucessos

O centro foi o grande vitorioso nas eleições para o Parlamento Europeumas a extrema direita obteve avanços importantes em vários países, notadamente a França. É difícil avaliar o alcance exato dessa votação. Eleições para o Parlamento Europeu costumavam ser uma ocasião privilegiada para o voto de protesto. Nelas, o eleitor podia mostrar sua insatisfação para com os governantes nacionais sem arriscar bagunçar muito a política local.

Joel Pinheiro da Fonseca – O que está em jogo na França?

Folha de S. Paulo

O nacionalismo está passo a passo colocando em risco a continuidade da União Europeia

Se você quiser, dá para sustentar que nada mudou na mais recente eleição do Parlamento Europeu. A centro-direita aumentou seu já confortável poder e deve manter a coalizão com a centro-esquerda e com os liberais, embora estes tenham perdido espaço. A presidente da Comissão Europeia, Ursula Von der Leyen, provavelmente continuará no cargo.

Na França e na Alemanha, os dois maiores países do grupo, a direita nacionalista teve um desempenho muito forte. Isso levou Macron a dissolver a Assembleia Nacional francesa e anunciar eleições antecipadas. O eleitor francês votou nos nacionalistas para o Parlamento Europeu apenas como protesto ou realmente os quer no poder em casa também? Em breve saberemos. A eleição francesa é em dois turnos, o que favorece partidos centristas como o de Macron. Então é provável que ele mantenha a maioria do Parlamento. E, novamente, poderemos dizer que nada está mudando.

Aylê-Salassié Filgueiras Quintão - "Simpatias" não salvarão as eleições dos algorítimos "deeps"

Para dar certo uma "simpatia" tenha fé, e não conte para ninguém”. Prato feito.  Quando se lê que um simples contador ganhou na loteria 640 vezes*, começa-se a perceber que   há algo estranho acontecendo: a loteria está viciada, alguém descobriu como manusear os resultados, ou trata-se de lavagem de dinheiro. Há registros recentes, daí não se esperar menos em tempos pré-eleitorais. No passado, um deputado envolvido no chamado “Escândalos dos anões do Orçamento" atribuiu seus ganhos financeiros, à curto prazo, a 66 acertos na Loteria Esportiva, da Caixa Econômica Federal.

Para manter a transgressão oculta, surgiu um místico ensinando como fazer: "Escreva o seu nome completo em um papel em branco. Anote os números que deseja jogar na loteria, e o coloque dentro de um copo de vidro. Depois, para acertar nos resultados, encha-o com um monte de feijão. Em seguida, coloque-o   atrás da porta da sala".  

Poesia | Cada um de nós é por enquanto a vida, de José Saramago

 

Música | Boca Livre - O Trenzinho do Caipira com poema de Ferreira Gullar