Galípolo precisará resistir a pressão política sobre BC
O Globo
Depois de implodir programa de cortes, ala
política do governo quer intervir na autoridade monetária
Dado o desdém recorrente que o presidente
Luiz Inácio Lula da
Silva tem demonstrado pela questão, talvez fosse otimismo exagerado achar que
aprovaria um ajuste nas contas
públicas suficiente para, em uma tacada, estabilizar a dívida
crescente. Mas se esperava ao menos um sinal de compromisso. Em vez disso, o
pacote desta semana, de tão tímido e confuso, surtiu o efeito oposto. Fez
aumentar a incerteza. Em vez de acatar as sugestões sensatas — ainda que
modestas — da equipe econômica, Lula cedeu a seu vezo populista e ficou ao lado
da ala política, preocupada com a próxima eleição, não com o crescimento
sustentável e o futuro do país.
Tendo ajudado a implodir o pacote de controle de gastos, o ministro da Casa Civil, Rui Costa, voltou as baterias contra a autoridade monetária: “Estamos em contagem regressiva para ter um Banco Central (BC) que tenha um olhar para o Brasil”. A declaração tem alvos claros: é um ataque ao presidente do BC, Roberto Campos Neto, crítico da política fiscal, e uma tentativa de influenciar as decisões de Gabriel Galípolo, que assume o cargo em janeiro.