sexta-feira, 18 de outubro de 2024

O que a mídia pensa | Editoriais / Opiniões

Intervenção no setor elétrico é oportunismo

O Globo

Governo Lula aproveita apagão em São Paulo para tentar exercer controle político sobre a Aneel

Não passa de oportunismo a tentativa do governo Luiz Inácio Lula da Silva de usar o grave episódio do apagão em São Paulo para interferir na estrutura regulatória do setor elétrico. Desde o temporal da semana passada, que deixou mais de 3,1 milhões de paulistas sem luz, o ministro de Minas e EnergiaAlexandre Silveira, aumentou o tom das críticas à Agência Nacional de Energia Elétrica (Aneel), expondo a insatisfação do governo petista com o modelo de concessionárias privadas, que pressupõe agências reguladoras fortes e independentes. Depois do apagão, o governo chegou ao cúmulo de abrir na Controladoria-Geral da União (CGU) uma investigação preliminar para apurar irregularidades que atribui a diretores da Aneel com base em denúncias de Silveira — tarefa que nem cabe à CGU.

Em qualquer setor, a independência das agências reguladoras é fundamental para evitar intervenção política no mercado, garantir estabilidade jurídica, respeito aos contratos e a devida maturação dos investimentos. Tal independência pressupõe diretorias formadas por técnicos e profissionais experientes do mercado, com mandatos fixos e não coincidentes com o calendário eleitoral. Exatamente o contrário do que defendem Lula e Silveira.

Fernando Abrucio - Fora da frente ampla não há solução

Valor Econômico

Se não for possível criar uma ampla coalizão de diferentes em torno de pontos prioritários, alicerçada por uma aliança eleitoral e governativa, o Brasil poderá andar muito lento nos próximos anos

A pergunta da vez é quem foram os vencedores das eleições municipais. Alguns procuram respondê-la dizendo quem foram os partidos vitoriosos e os grandes perdedores. Outros trilharam esse caminho buscando os efeitos de 2024 sobre 2026, especialmente sobre o próximo Congresso Nacional e a disputa presidencial. Todo esse debate tem relevância, mas o processo eleitoral atual trouxe uma lição mais profunda: a forma de sair da polarização paralisante e construir uma nova forma de fazer política passa necessariamente pela construção estrutural de coalizões com identidade de frente ampla.

Num país multipartidário, com grande diversidade de identidades políticas territoriais e com forte peso do horário eleitoral de TV e rádio, a política pragmática incentiva a construção de coalizões eleitorais tão amplas quanto possível no plano da eleição para o Executivo. Essa é uma lei geral óbvia do sistema político brasileiro. Porém, o crescimento de uma polarização mais estanque, desde 2018, tem dificultado uma política baseada em alianças nas quais a multiplicidade de posições não seja engolida por uma única lente ideológica.

Em outras palavras, o bolsonarismo e, em menor medida, o lulismo, mesmo com todo o apelo que fez por uma frente de defesa da democracia em 2022, têm sido mais sectários e hegemonistas do que polos organizadores de posições diferentes em prol da produção de um projeto comum de país. Sem dúvida alguma, esse fenômeno é mais forte no lado bolsonarista, como mostram os diversos exemplos da eleição municipal nos quais Bolsonaro sabotou ou denunciou aliados de hoje e do passado, porque não seguiam a cartilha purista de seu radicalismo.

José de Souza Martins - Metamorfoses da esquerda e da direita

Valor Econômico

As eleições revelaram a vitalidade de um difuso e arraigado direitismo brasileiro com cara de centro e mesmo de extremo centro

Os resultados das eleições municipais de 2024 não indicam propriamente vitória nem da direita nem da esquerda. Na perspectiva do longo prazo cumprido desde o fim da ditadura militar, foi uma derrota da democracia.

Há algumas derrotas notórias e significativas, como a do PSDB, derrotado por si mesmo, pela ação e pela mentalidade de figuras distantes do ideário e da experiência do partido. No elenco das competências que lhe restam, há talentos que podem promover-lhe o renascimento, descartadas as figuras de infiltrados cujo perfil é outro, agora como adversário da direita destrutiva.

O declínio do PT, vencido em seus próprios redutos históricos, como na cidade de São Paulo, na zona leste, por um forasteiro de extrema direita. E no ABC Paulista, onde em apenas dois dos sete municípios resta-lhe aguardar o segundo turno para recuperar alguma presença no que vem deixando de ser a região industrial.

Andrea Jubé - A lição do eleitor recalcitrante para o PT

Valor Econômico

Salvo uma reviravolta, somente a arca de Noé impediria a derrota do PT em São Paulo e Porto Alegre

Gênesis, 6, versículo 17: “Eis que vou trazer águas sobre a terra, o Dilúvio, para destruir debaixo do céu toda criatura que tem fôlego de vida”, anunciou Deus a Noé, em uma das passagens mais trágicas do Antigo Testamento.

É exagero comparar o desastre ao dilúvio bíblico, mas a cheia do Guaíba que deixou Porto Alegre, no Rio Grande do Sul, e cidades da região metropolitana submersas, gerou cenas de filmes de terror: moradores e animais domésticos refugiados nos telhados, esperando socorro por dias a fio. De fato, foi uma catástrofe sem precedentes: superou as inundações de 1941, quando o nível das águas chegou a 4,76 metros. Desta vez, ultrapassou os 5 metros.

Vera Magalhães - De Haddad a Boulos, voto lulista mudou

O Globo

O que mais explica a dificuldade de Lula transferir votos é fato de a direita brasileira, que praticamente não existia, ter saído do armário

Doze anos separam a atual eleição municipal daquela de 2012, quando, dois anos depois de eleger Dilma Rousseff para lhe suceder na Presidência, Lula conseguiu repetir o feito com Fernando Haddad. Ambos eram estreantes em eleições e tinham perfil “técnico”, ocupando pastas centrais em seu governo.

— Quando lancei a Dilma, disseram que estava lançando um poste. Eu digo que, de poste em poste, vamos iluminar o Brasil inteiro — jactou-se o então ex-presidente em comício do candidato petista à Prefeitura de Fortaleza, Elmano de Freitas, que acabou derrotado.

A política brasileira passou por muitas e rápidas transformações de uma década a outra. A que mais explica a dificuldade de Lula, de volta à Presidência, de repetir o programa luz para todos eleitoral é o fato de a direita brasileira, que praticamente não existia, ter saído do armário e não ter voltado para ele nem depois do 8 de Janeiro. Diante dessa realidade, parece ter faltado a Lula e aos estrategistas das campanhas dos candidatos apoiados por ele um mergulho mais profundo na cabeça desse eleitor.

Bernardo Mello Franco – A escolha de Ciro

O Globo

Ciro Gomes não voltou a Paris, mas Paris vive em Ciro Gomes. Em 2018, o ex-ministro zarpou para a capital francesa no segundo turno da eleição presidencial. Escolheu assistir de longe à vitória de Jair Bolsonaro sobre Fernando Haddad. Seis anos depois, o pedetista repete a dose sem sair do país. Desta vez, resolveu se omitir na disputa pela Prefeitura de Fortaleza.

A maior cidade do Nordeste é palco de uma eleição com contornos nacionais. Enfrentam-se o bolsonarista André Fernandes, do PL, e o lulista Evandro Leitão, do PT. O candidato de Ciro era o atual prefeito, José Sarto, do PDT. Num ano que favoreceu quem buscava a reeleição, ele amargou o terceiro lugar, com apenas 11% dos votos.

Depois da derrota, Sarto anunciou que não apoiará ninguém no segundo turno. Apesar da neutralidade do prefeito, o cirismo subiu no palanque do bolsonarismo. Dos oito vereadores eleitos pelo PDT, seis declararam voto em Fernandes. O ex-prefeito Roberto Cláudio fez o mesmo, para desgosto de antigos companheiros.

Flávia Oliveira - Crise superlativa na saúde

O Globo

As investigações têm de sair da superfície, ir muito fundo

O Rio de Janeiro vive uma crise superlativa na saúde. Nem a epidemia de furtos de telefone celular (24.341 até agosto), que dominou a corrida municipal, nem a multiplicação de ônibus sequestrados para barricadas (136 em 12 meses) em territórios dominados pelo crime organizado têm o condão de disfarçá-la. O estado governado por Cláudio Castro (PL), reeleito em primeiro turno há dois anos, produziu inédita mácula numa política pública tão importante quanto reconhecida. Nunca antes na história do Sistema Nacional de Transplantes pacientes tinham recebido órgãos infectados por HIV. O desmazelo do PCS Lab Saleme — ora alvo de investigação tanto pela Polícia Civil quanto pela Polícia Federal — com o protocolo de admissão de doadores impôs a seis transplantados uma vulnerabilidade adicional inadmissível.

Bruno Boghossian - Apagão produz abalo leve demais na reta final

Folha de S. Paulo

Eleitor recém-convertido pelo prefeito hesita, mas movimento não se traduz em ganho para candidato do PSOL

A crise provocada pelo longo apagão em São Paulo produziu um abalo que parece leve demais para mudar o jogo a dez dias do segundo turno. Uma fatia de eleitores recém-convertidos passou a exibir sinais de hesitação em relação a Ricardo Nunes, mas ainda manteve distância da campanha de Guilherme Boulos.

Os novos números do Datafolha indicam que a queda de Nunes se deu num eleitorado que flerta com um voto por exclusão. O prefeito caiu cinco pontos (83% para 78%) entre os paulistanos que rejeitam Boulos e sete pontos (84% para 77%) entre aqueles que votaram em Pablo Marçal.

Hélio Schwartsman - Ver para crer

Folha de S. Paulo

Há razões para ceticismo em relação à aprovação de um pacote de corte de gastos que dê sustentabilidade ao arcabouço fiscal

Sou a pessoa menos religiosa (e "espiritual") que conheço, mas tenho um santo favorito. É são Tomé. Gosto dele porque personifica o saudável ceticismo, que, antes de acreditar, cobra razões objetivas para sustentar a crença.

Dizem que a equipe econômica prepara um pacote de cortes de gastos com o objetivo de dar sustentabilidade permanente ao arcabouço fiscal do ministro Fernando Haddad. É ver para crer.

Apresentar um conjunto de medidas que satisfaça às exigências aritméticas impostas pelo nó fiscal brasileiro já é difícil, mas essa é a parte fácil do problema. As dificuldades vêm em camadas. Um pacote que pare em pé precisará ainda passar incólume por Lula, pelo Congresso e pelo Judiciário.

Vinicius Torres Freire - Notícias ruins para Lula pensar

Folha de S. Paulo

Sucessos variados das direitas, aqui e lá fora, deveriam causar chacoalhada nas esquerdas

São Paulo ficou um final de semana largada às moscas depois do temporal da sexta-feira passada (11). Ricardo Nunes (MDB), de histórico tão apagado quanto os faróis da cidade, perdeu uns pontos, diz o Datafolha. Mas ainda bate Guilherme Boulos (PSOL e apoiado pelo PT) por 61% a 39%, se a conta é feita por votos válidos. "Farol" é semáforo, em paulistês.

Alguns petistas fazem troça de Boulos e das alianças do partido. Mas, no primeiro turno, Boulos teve mais do que o triplo dos votos do candidato do PT a prefeito em 2020, que conseguiu apenas 8,7% e chegou em sexto lugar, atrás até do defenestrado Mamãe Falei. Diante desses e de outros resultados ruins, conviria que PT e esquerda deixassem de picuinhas.

Eliane Cantanhêde – Ajoelhou, tem de rezar

O Estado de S. Paulo

Nas capitais e com evangélicos e banqueiros, Lula entra nas campanhas de 2024 e 2026

O presidente Lula fez dois movimentos importantes nesta semana, além de entrar na campanha do segundo turno. Na terça, sancionou o projeto criando o Dia da Música Gospel, com direito a reunião no Planalto, foto e cantoria com evangélicos. Na quarta, se reuniu por uma hora e meia com representantes dos quatro maiores bancos privados brasileiros, com pauta em aberto e foco no equilíbrio fiscal, ou melhor, no corte de gastos.

Se há algum ponto em comum entre evangélicos e o setor financeiro é a resistência ao PT, à esquerda e, por extensão, ao próprio Lula. Logo, há um esforço de Lula para vencer essas resistências, construir pontes e, no caso dos evangélicos, abrir dissidência, deixando uma pergunta no ar: quando será a rodada de conversas com o agronegócio, outro setor nada, nada, amigável?

Paulo Sotero - Não há exagero em dizer que Trump ensandeceu

O Estado de S. Paulo

Harris, uma líder renovadora, cada vez mais perto do poder. Uma vez eleita e empossada, terá amplo capital de conhecimentos e talentos à disposição para conduzir os EUA a bom porto

A perspectiva de perder a disputa pela Casa Branca no próximo 5 de novembro para uma mulher descendente de imigrantes bem-sucedidos – uma cientista indiana e um economista jamaicano – é mais do que a arrogância doentia do ex-presidente Donald Trump consegue processar.

Faltando menos de três semanas para a votação, a vicepresidente Kamala Harris aparecia à frente de Trump por pequenas margens na maioria das pesquisas nos cinco ou seis Estados que devem decidir a eleição.

Se Harris vencer na Pensilvânia, Michigan e Wisconsin, onde está na dianteira, ficará difícil para Trump suplantála na soma dos 270 votos do colégio eleitoral presidencial que decide a eleição.

Por essa razão, Trump preparou caminhos para garantirlhe a vitória, mesmo que por fraude, como tentou em 2020 para negar a eleição ao presidente Joe Biden, que o derrotou por margens confortáveis na contagem dos sufrágios populares e dos votos do colégio eleitoral presidencial, herança do passado preservada porque dá mais peso aos votos dos Estados menores em população.

Luiz Carlos Azedo - Morte do líder do Hamas pode acabar com a guerra

Correio Braziliense

É difícil avaliar a situação política em Gaza. O Hamas não está em condições de fazer um acordo de paz; por tudo o que aconteceu, terá que se render ou lutar até a morte

O líder do Hamas Yahya Sinwar foi morto por acaso em Gaza, por tropas de Israel em treinamento, mas nenhum refém foi resgatado na operação. Sinwar assumiu a liderança do Hamas após o assassinato do líder político do grupo, Ismail Haniyeh, por um míssil israelense, em Teerã, em 31 de julho. Considerado o seu principal chefe militar, o líder palestino morto fora escolhido devido à sua grande popularidade em Gaza e pelo controle militar do grupo.

Morreu isolado militarmente. Na quarta-feira, uma unidade das Forças de Defesa de Israel estava em patrulha durante treinamento no sul de Gaza, quando os soldados israelenses se depararam com um pequeno grupo de combatentes. Os soldados não estavam na área para uma operação de assassinato, nem tinham informações prévias de que Sinwar estava no local. Atacaram o grupo e três militantes palestinos foram mortos.

Poesia | Canção do dia de sempre, de Mário Quintana

 

Música | Jair Oliveira e Luciana Mello cantam: Esperanças Perdidas