quarta-feira, 2 de outubro de 2024

O que a mídia pensa: Editoriais / Opiniões

Faltam planejamento e integração no combate a queimadas

O Globo

Era prevista temporada mais intensa de incêndios florestais. Reação dos governos tem sido tardia e insuficiente

Não é novidade que o Brasil vem se tornando mais seco. De 2011 a 2020, houve em média cem dias sem chuvas por ano, 25% a mais que no período de 1961 a 1990. Também não é novidade que, para 2024, era previsto recrudescimento da seca. Climatologistas advertiam sobre o agravamento dos incêndios florestais. O Centro Nacional de Monitoramento e Alertas de Desastres Naturais (Cemaden) afirma que eles começaram no segundo semestre de 2023. Diante da escalada previsível, a prudência aconselhava se preparar. Não só para combater o fogo, mas também com campanhas de esclarecimento sobre o risco de queimadas antes do plantio provocarem incêndios incontroláveis. Não foi o que o governo fez.

Pelos dados oficiais, fica evidente que a reação tem sido insuficiente. De acordo com os boletins do Ministério do Meio Ambiente, a área queimada na Amazônia cresceu 140% entre o fim de junho e o fim de setembro, alcançando 11,7 milhões de hectares, ou 2,8% da floresta. No Cerrado, apenas em duas semanas de setembro, a superfície incendiada cresceu quase 40%, para 12,3 milhões de hectares, ou 6,2% do total. No Pantanal, a área queimada triplicou desde julho, com destruição de 2 milhões de hectares, 13,4% do bioma.

Vera Magalhães - As palavras-chave da eleição em SP

O Globo

Violência que marcou a disputa em São Paulo conseguiu colocar prosperidade e civilidade em palanques diferentes

Duas palavras parecem sintetizar a reta final da mais imprevisível eleição paulistana dos últimos anos: de um lado, Pablo Marçal conseguiu chegar competitivo até aqui pregando a prosperidade como plataforma; de outro, a esquerda apela ao conceito de pacto civilizatório para tentar impulsionar a candidatura de Guilherme Boulos na reta final.

Prosperidade e civilidade não deveriam ser antônimos, mas a violência que marcou a disputa em São Paulo conseguiu colocar os valores em palanques diferentes. O que obriga a uma análise mais aprofundada e menos ligeira da rápida e constante transformação política, social, cultural e econômica da maior metrópole brasileira — que costuma levar de arrasto, com o tempo, o resto do país.

Bernardo Mello Franco – Os caminhos do voto útil

O Globo

Em SP, manifesto pró-Boulos irrita Tabata; no Rio, pressão por voto em Paes irrita Tarcísio

Na reta final do primeiro turno, a pregação pelo voto útil deu as caras nas maiores cidades do país. Em São Paulo, o apelo é para evitar um duelo entre dois candidatos da direita. No Rio, para encerrar logo a disputa pela prefeitura.

Em manifesto, artistas e intelectuais paulistanos tentam convencer eleitores de Tabata Amaral a votarem em Guilherme Boulos. O argumento é que só o psolista poderia “evitar o desfecho trágico de um segundo turno entre dois bolsonaristas”.

O texto descreve um eventual confronto entre Ricardo Nunes e Pablo Marçal como “a consagração, pelo voto popular, da violência política, da defesa da tortura, do negacionismo científico”. “Estamos diante de um risco que o país não pode correr”, dramatiza.

Elio Gaspari - Anatomia de um apagão

O Globo

Estádio do Mineirão, 8 de julho de 2014. Aos 24 minutos do primeiro tempo, Toni Kroos marcou o terceiro gol da Alemanha. Eremildo, o idiota, gritou da arquibancada para que o Brasil atacasse. Depois do desastre, o técnico Felipão teve a humildade de reconhecer que sua equipe sofreu um “apagão”.

Na segunda-feira, o ministro da Fazenda, Fernando Haddad, anunciou, com uma gravidade que só os ares de Brasília concedem, que sairão do ar cerca de 500 sites de apostas que funcionam no Brasil sem o devido credenciamento.

Em 2014, todos os jogadores alemães estavam credenciados. Em 2024, os sites ilegais funcionam porque o governo viveu por mais de um ano num esplêndido apagão. Quando Haddad diz que a Anatel tirará os sites do ar, algum desavisado pode achar que a agência já poderia ter feito isso. Quem os deixou no ar foi o Ministério da Fazenda porque, em dezembro de 2023, deu-lhes o prazo de até 1º de outubro de 2024 para que regularizassem seus papéis. Prenunciava-se o apagão. (Alemanha 1 a 0.)

Posse no México

Jéssica Sant'Ana / Valor Econômico

Em cerimônia com delegações de 105 países e 16 chefes de Estado, incluindo o presidente Lula, Claudia Sheinbaum destacou o protagonismo feminino e o papel de seu antecessor e padrinho político

Primeira mulher a assumir a presidência do México, Claudia Sheinbaum tomou posse ontem no cargo, que ocupará pelos próximos seis anos. Em seu discurso, ela destacou o papel de seu antecessor e padrinho político, Andrés Manuel Lopez Obrador, responsável pela “revolução pacífica da quarta transformação da vida pública” do país, como vem sendo chamada por aliados a polêmica agenda política implementada pelo governo anterior.

Sheinbaum toma posse como a primeira mulher a presidir o México

A cientista e ex-governadora da Cidade do México promete continuar o legado de seu mentor Andrés Manuel López Obrador

A cientista e ex-governadora Claudia Sheinbaum tomou posse nesta terça-feira (1°) como presidente do México, sendo a primeira mulher a ocupar esse cargo. Ela ficará à frente do país latino-americano pelos próximos seis anos.

“É tempo de transformação e é tempo de mulheres. Pela primeira vez, chegamos nós mulheres a conduzir o destino de nossa nação. E eu digo nós, porque não chegamos sozinhas, chegamos todas”, frisou em seu discurso de posse na Câmara dos Deputados do México.

Luiz Carlos Azedo - Alguém precisa barrar a escalada da guerra

Correio Braziliense

Uma guerra total entre Israel e o Irã parece iminente. O homem que poderia impedi-la é o presidente dos Estados Unidos, Joe Biden. Sua impotência, porém, não tem precedentes

Jean Jaurés (1859-1914) era um liberal radical que se tornou socialista, integrando a ala direita do Partido Socialista Francês. Em 1897, com Émile Zola e Georges Clemenceau, liderou a campanha em favor de Alfred Dreyfus, o capitão francês injustamente acusado de espionagem pelo alto comando do Exército francês por ser judeu. Sempre defendeu a aproximação entre a França e a Alemanha para garantir a paz na Europa. Era um pacifista, precursor de Mahatma Gandhi (“Posso até estar disposto a morrer por uma causa, mas nunca a matar por ela!”) e Martin Luther King (“Sempre e cada vez mais devemos nos erguer às alturas majestosas de enfrentar a força física com a força da alma”).

Jaurés foi assassinado no dia da declaração da guerra, 31 de julho de 1914, por Raoul Villain, um nacionalista fanático. Foi o principal líder da II Internacional a defender a paz. Quase todos os demais apoiaram a entrada dos seus países na guerra, a começar pelos dirigentes da poderosa Social-Democracia Alemã, que estava no poder. Com exceção de Vladimir Lênin, que defendeu a paz para derrubar a autocracia czarista.

Martin Wolf - É o fim do dinheiro barato?

Valor Econômico

Taxas de juros reais? Quem se importa? A inflação galopante pode ser outra história

Estamos vendo o início de um ciclo de flexibilização da política monetária. Muitos agora perguntam até onde as taxas de juros poderão cair e o que essas quedas poderão significar para as nossas economias. No entanto, para mim, as questões mais interessantes são de longo prazo. Para ser preciso, há três. A primeira é: será que as taxas de juros reais deram finalmente um salto ascendente duradouro, após seu declínio secular para níveis extraordinariamente baixos? A segunda: a valorização dos mercados de ações deixou de ser reversível à média, mesmo nos EUA, onde parecia ser a norma há muito tempo? A terceira: a resposta à primeira pergunta pode ter alguma influência na resposta à segunda?

Lu Aiko Otta - Eleições e pressão sobre o ajuste fiscal

Valor Econômico

Resultado vai testar resolução do presidente Lula em apoiar o projeto do ministro da Fazenda, Fernando Haddad

O resultado das eleições de domingo ajudará a traçar os contornos do terreno em que dois projetos de governo se digladiarão ao longo dos próximos meses: o que busca melhorar o ambiente macroeconômico a partir do equilíbrio fiscal e o dos “tempos áureos do PT”.

Quanto pior for o resultado para o governo, mais testada será a resolução do presidente Luiz Inácio Lula da Silva em apoiar o projeto do ministro da Fazenda, Fernando Haddad.

Os encontros de Lula com integrantes das agências de classificação de risco durante sua passagem por Nova York reforçaram seu apoio um projeto que se propõe, ainda que gradualmente, a estabilizar a dívida pública brasileira e a recuperar o “investment grade” até o fim de 2026.

Fernando Exman - Por enquanto, comedimento do governo sobre a Selic

Valor Econômico

Intenção, pelo menos neste momento, é a de sofrer em silêncio

A intenção no governo Lula, pelo menos neste momento, é sofrer em silêncio por causa do início do ciclo de alta da Selic. Olha-se para frente. O “horizonte relevante” na política, para usar um termo bastante empregado pelo Banco Central quando olha para os próximos meses ao calibrar a taxa de juros, é o ano eleitoral de 2026.

Já se espera, ainda que com muito pesar, o aumento do juro nas próximas duas reuniões do Copom, em novembro e dezembro. Pelo cenário atual, viria então um período de estabilidade da Selic e na sequência, a partir de meados do ano que vem, uma nova rodada de afrouxamento da política monetária. Isso abriria espaço para uma aceleração da economia no ano seguinte.

Maria Cristina Fernandes - Segundo turno está nas mãos do eleitor de Tabata

Valor Econômico

Candidata tenta fidelizar eleitor que Boulos - e Nunes - buscam atrair com ‘voto útil’

A definição do primeiro turno está, em grande parte, nas mãos do eleitor de Tabata Amaral. Apesar de as pesquisas indicarem que a candidata do PSB não tem chance de passar para o 2º turno, seu desempenho na reta final pode privar tanto Guilherme Boulos (Psol), que é a segunda opção de dois terços de seus eleitores, quanto de Ricardo Nunes (MDB), segunda opção de um terço, dos votos de que precisam para assegurar a vaga. A Quaest de segunda-feira mostrou a candidata do PSB à Prefeitura de São Paulo, pela primeira vez, além da barreira dos dois dígitos (11%), na maior subida, a única fora da margem de erro, da pesquisa.

A disposição em não abrir mão desse quinhão foi exposta pelo comportamento da candidata depois do debate do Flow na semana passada. Foram seis “merdas” e um “filha da puta” em três minutos. Despejou aborrecimento pela repercussão do murro no marqueteiro Duda Lima a ofuscar as propostas apresentadas. Antecipou, assim, as dificuldades que os adversários terão para conquistar o “voto útil” de seus eleitores.

Bruno Boghossian - Três fatores vão desatar o nó em São Paulo

Folha de S. Paulo

Chave da disputa estará no voto de última hora, no eleitor silencioso e na abstenção

Três fatores vão desatar o nó da disputa pela Prefeitura de São Paulo: o voto de última hora, o eleitor silencioso e a abstenção. O apelo final dos candidatos vai levar em conta quem são esses paulistanos e o que eles pensam. As últimas pesquisas dão pistas importantes.

Há um atalho para entender esses votos e ausências que serão decisivos. É o grupo de entrevistados que, poucos dias atrás, não sabiam citar um candidato de forma espontânea, sem ver uma cartela com as opções. Segundo o Datafolha, eles eram 28% dos paulistanos na semana anterior à votação.

Hélio Schwartsman - Pelo voto útil

Folha de S. Paulo

Particularidades do pleito paulistano dão um nó nos raciocínios que costumam justificar o voto útil

Sou fã incondicional do voto útil, que é um outro nome para pensamento estratégico. O panorama da disputa pela prefeitura paulistana, contudo, dá um nó nos raciocínios que normalmente embasam um voto útil.

A grande dificuldade é definir o objetivo que orienta as preferências do eleitor. Uma meta "civilizacional" defensável seria excluir do segundo turno o candidato extremista e antissistema que é Pablo Marçal. Seria uma aposta na volta da normalidade eleitoral, com um candidato mais à esquerda enfrentando um da direita republicana.

Wilson Gomes - Debates eleitorais em questão

Folha de S. Paulo

Como melhorar esses eventos para impedir os 'pombos enxadristas'?

Os debates eleitorais ao vivo têm servido bem à democracia desde o primeiro grande confronto televisionado entre Kennedy e Nixon, em setembro de 1960. Por 64 anos, esses eventos forneceram uma plataforma para que eleitores comparassem, lado a lado, as propostas e visões dos candidatos, algo que sabatinas ou entrevistas isoladas não conseguem oferecer.

Isso não impediu, contudo, que os debates fossem transformados em arenas para encenações, constrangimentos e manipulações. Todo mundo aprendeu a jogar o jogo, a mentir descaradamente, a se esquivar de perguntas constrangedoras, a atacar os adversários por meio de acusações falsas. Esse jogo de dissimulação chegou a um extremo recentemente em São Paulo, com a participação de um candidato cujo propósito declarado era desmoralizar tanto o debate em si quanto o jornalismo que o promove. Um único "pombo no tabuleiro" mostrou-se capaz de instalar um caos de que só ele é beneficiário.

Vera Rosa - O dia em que Alckmin dormiu no posto

O Estado de S. Paulo

Amigos do vice veem suas andanças pelo interior como sinal de que ele pode disputar governo de SP

Enquanto a disputa para a Prefeitura de São Paulo continua embolada, Geraldo escapa para “Lins” sempre que pode, nos fins de semana, e dá um “baile” nos seguranças. Engana-se, porém, quem pensa que o destino da viagem seja a cidade localizada a 430 quilômetros da capital paulista, na região centro-oeste do Estado.

“Lins”, para o vice-presidente da República Geraldo Alckmin, significa “Local incerto e não sabido”. Foi driblando os seguranças que no fim do ano passado, por exemplo, Alckmin acabou dormindo num posto de gasolina que vende pamonha, em plena Via Dutra.

O vice estava voltando de Pindamonhangaba para São Paulo quando decidiu estacionar o carro que dirigia para dar uma cochilada. Tinha capinado um lote de seu sítio por três horas e estava cansado. Perto de 18h30, parou embaixo de uma árvore do posto, reclinou o banco e dormiu.

Ivan Alves Filho - Tecnologia, ciência das forças produtivas

O mundo está mudando de uma maneira extremamente rápida. Temos que pensar em formas novas de organizar aqueles que trabalham. Estamos sem política para uma área tão fundamental e em profunda transformação como a do trabalho, essa é a verdade. 

O mundo hoje é o da renovação das fontes de energia: o petróleo do futuro é a indústria eólica ou solar, por exemplo. E ainda há a questão das plataformas digitais. Um dos caminhos pode ser uma proposta de controle coletivo dessas plataformas. Se o movimento anarquista foi a face política da primeira fase da Revolução Industrial, de corte ainda artesanal, o comunismo da Terceira Internacional foi a face política de um período em que predominava a indústria pesada, o chamado “chão da fábrica”. Hoje, com a automação, a robotização e a inteligência artificial (que por enquanto ainda repete o que está armazenado nos bancos de dados) há uma profunda alteração no exercício do trabalho. A própria geração de valor vai mudando e esse é um ponto ainda pouco estudado. Algumas das empresas mais fortes hoje se encontram no setor de informação, com seus trabalhadores do conhecimento. A base material tem sempre o que dizer e acredito que a própria Democracia irá se reformar muito em função dessas alterações.

Aylê-Salassié F. Quintão* - Heróis de hoje serão os vilões amanhã

Este País é, de fato, muito grande e diversificado para ser conduzido pelo bom ou mau humor de um homem só . Como o eleitor se engana, hein! Surpreende ver  as coisas andando - aos trancos e barrancos - mas, aparentemente, sozinhas. O presidente sempre viajando e o vice receoso de assumir. É tudo muito litúrgico, e sem efeitos práticos. Atira-se para todos os lados: criminaliza-se  e se descriminaliza de todos os jeitos. É uma verdadeira "deglutição" ao estilo macunaímico, seja no Executivo, no Legislativo ou no Judiciário.

Concluo que a  Nação pode estar  diante de um modelo poético ou  de uma grande farsa. Ninguém acredita - e nem é para acreditar mesmo - que  estamos numa democracia, alimentada  por uma aristocracia, de base corporativa , que   flutua nas superfícies constitucionais, surfando  pelos corredores dos palácios de Governo.

Poesia | A vida, de Mario Quintana

 

Música | Anitta & Jetlag - Zé do Caroço