domingo, 28 de julho de 2024

O que a mídia pensa | Editoriais / Opiniões

Derrota de Maduro depende de eleições justas

O Globo

Brasil e comunidade internacional precisam estar atentos para as tentativas dele de sabotar o pleito

A foto de Nicolás Maduro aparece 13 vezes na cédula das eleições presidenciais de hoje na Venezuela. Em busca de seu terceiro mandato presidencial, o ditador, herdeiro político de Hugo Chávez, fez uma ameaça explícita: se perder, disse ele, haverá um “banho de sangue”. Mas, apesar de todas as intimidações, fraudes e viradas de mesa, a oposição tem chances concretas de vencer se a vontade popular for respeitada. Reunida em torno da candidatura do ex-diplomata Edmundo González depois que sua principal líder, María Corina Machado, foi impedida de concorrer, ela depende apenas de eleições livres e justas para tirar do poder o regime de legado mais funesto na América Latina nas últimas décadas.

Luíz Sérgio Henriques - A resistível ascensão do nacional-populismo

O Estado de S. Paulo

Se esta breve descrição do laboratório ultraconservador fizer sentido, então teremos um roteiro para a reação dos democratas em todo o mundo

Passado ao menos por ora o susto francês, com a aliança entre centro e esquerda que barrou a marcha aparentemente inelutável de Marine Le Pen, nossa atenção cruza o Atlântico e se volta agora para uma situação de risco ainda maior. Referimo-nos obviamente aos Estados Unidos, hoje uma sociedade fraturada e uma democracia disfuncional, em que um dos dois partidos históricos, capturado por um homem forte, tornou-se fator da subversão estimulada por uma parte das elites do país. De fato, a sedição de janeiro de 2021 marca um ponto de não retorno, com a negação da legitimidade dos resultados eleitorais e da transmissão pacífica do poder – um cenário que poderá se desenhar novamente em caso de vitória dos democratas, a priori inaceitável para os trumpistas.

Merval Pereira - Casca de banana

O Globo

A presença de Celso Amorim carimba oficialmente o governo Lula como um governo amigo da Venezuela

Não parece ser uma decisão sem riscos a presença de um assessor especial da presidência da República para acompanhar a eleição hoje na Venezuela. Sem riscos, e sem possibilidades de êxito. A começar pela proibição do governo Maduro de haver observadores internacionais que não sejam ligados de alguma maneira ao projeto político que pela primeira vez em 25 anos pode ser derrotado em uma eleição.

A presença de Celso Amorim carimba oficialmente o governo Lula como um governo amigo da Venezuela, o que, de saída, transforma as impressões do enviado especial brasileiro em tendenciosas a favor de Maduro, o que não é bom para o Brasil como líder regional respeitado. Desta vez Lula não atravessou a rua para escorregar na outra calçada. Pegou um avião.

Dorrit Harazim - Kamala é ‘brat’

O Globo

Ela virou pop nas redes, com direito a memes afetuosos e bem-humorados em torno de suas gafes, gargalhadas fora de hora

Faltam pouco mais de cem dias até a linha de chegada à Casa Branca. Para o candidato republicano Donald Trump, uma eternidade indigesta. Até a noite de domingo passado, com um ouro em sobrevivência sapecado na orelha e seu único adversário exigindo cuidados especiais, ele ainda podia dar-se à ilusão de favorito nas eleições de novembro próximo. Não mais. A saída por W.O. do presidente Joe Biden e a entrada na competição de Kamala Harris mudaram radicalmente a dinâmica da disputa. De primeira mulher vice-presidente dos Estados Unidos, a multirracial Kamala (pai jamaicano, mãe indiana) empunhou o bastão democrata com vigor faiscante. Os caciques e doadores do partido, aliviados com essa solução de ultimíssima hora, abriram-lhe os cofres e correram para o abraço. Falta-lhe apenas ter a candidatura sacramentada na Convenção Democrata que começa no próximo 19 de agosto. A partir daí, restarão a Kamala 75 dias para convencer o eleitorado americano da oportunidade que tem em mãos: votar no futuro e fazer História elegendo-a 47ª presidente dos Estados Unidos.

Elio Gaspari - A festa de Paris será de todos

O Globo

Na sexta-feira as delegações de 204 países desceram pelo Rio Sena. Melhor que isso, só se em 1840 os restos mortais de Napoleão tivessem chegado de barco. Ele vinha da Ilha de Santa Helena, onde havia morrido em 1821 como prisioneiro dos ingleses.

Coisas ruins acontecem em todos os países do mundo, mas os franceses dão a volta por cima como nenhum outro.

A Olimpíada de Paris poderia ensinar ao mundo a gostar (e cuidar) de suas cidades. Só os franceses são capazes de ter uma Arco do Triunfo para um general corso derrotado.

Bernardo Mello Franco – Segredo de Estado

O Globo

Lula prometeu revogar segredos de Bolsonaro, mas seu governo repete a prática de esconder informações oficiais

Transparência nos olhos dos outros é refresco. Tema de debate na última eleição presidencial, o sigilo de cem anos voltou ao noticiário. Desta vez, é o governo Lula que insiste em esconder documentos oficiais.

O Executivo negou acesso à Declaração de Conflito de Interesses do ministro de Minas e Energia, Alexandre Silveira. O ofício precisa ser entregue antes da posse de cada ocupante do primeiro escalão.

Rolf Kuntz - Confiança, prioridade para a política econômica

O Estado de S. Paulo

Todo investimento envolve risco, mas a decisão positiva é facilitada quando a política indica perspectivas de crescimento e de previsibilidade

Com 8,4 milhões de famintos e 39,7 milhões sujeitos à insegurança alimentar, o Brasil integrou o Mapa da Fome no triênio encerrado em 2023, segundo a Organização das Nações Unidas (ONU). Nesse período, a desnutrição crônica assombrou 3,9% da população brasileira e o País superou com folga a marca necessária (2,5%) para estar nesse mapa. Listada entre as 10 ou 12 maiores do mundo, a economia brasileira se destaca também como grande e eficiente produtora e exportadora de alimentos. Não falta comida, mas o dinheiro é curto para a maioria das famílias e fica ainda mais curto com a alta dos preços. Além disso, há o risco persistente de inflação bem acima do centro da meta, fixado em 3%. Esse risco é associado à insegurança gerada no Palácio do Planalto.

Lourival Sant’Anna - Um gol contra de Lula

O Estado de S. Paulo

Sistema de compliance do Brasil pode não resistir à tentação da corrupção nos contratos da China

O Brasil está prestes a aderir à Nova Rota da Seda (BRI), o trilionário programa de obras de Xi Jinping destinado a consolidar a dominância da China. Com 150 participantes, e forte engajamento de ditaduras africanas e asiáticas, o esquema é uma porta para corrupção e inadimplência, dada a falta de transparência, juros altos e hipoteca das obras para o credor chinês.

Nos últimos dez dias, Lula mencionou duas vezes a possibilidade. “Quero discutir com a China a Rota da Seda”, disse à agência chinesa Xinhua. Lula aceitou o primeiro convite a um presidente brasileiro para a cúpula do Fórum Econômico da Ásia e do Pacífico (Apec), em novembro, no Peru, com a participação de Xi, e também o receberá no Brasil “com uma grande festa”. “Quero saber aonde é que a gente entra, que posição vamos jogar, porque não queremos ser reserva, queremos ser titular”, entusiasmou-se.

Luiz Carlos Azedo - Antiamericanismo pró-Maduro é um erro

Correio Braziliense

A diplomacia precisa de um consenso nacional, para que o seu eixo não deixe de ser a política externa e passe a ser a interna, o que dividiria ainda mais o país

Certa vez, o falecido historiador Tony Judt (Quando os fatos mudam, Objetiva) comparou os Estados Unidos a um veículo utilitário tipo SUV, tão ao gosto dos americanos e de brasileiros. “Com tamanho e peso subdimensionados, o SUV zomba de qualquer acordo negociado para limitar a poluição atmosférica. Consome quantidades extraordinárias de recursos escassos para abastecer habitantes privilegiados, com serviços que vão muito além do necessário. Expõe os que estão fora dele a risco mortal apenas para proporcionar uma segurança ilusória aos seus ocupantes. Num mundo superpovoado, o SUV aparece como um perigoso anacronismo”.

Celso Rocha de Barros - Maduro perde neste domingo?

Folha de S. Paulo

O venezuelano não dá o menor sinal de que aceitará a derrota pacificamente

Venezuela elegerá seu presidente neste domingo. Há uma chance razoável de Nicolás Maduro perder a eleição. Daí em diante, só há cenários difíceis.

Maduro não dá o menor sinal de que aceitará a derrota pacificamente. Seu governo cassou candidaturas de oposição. Impediu a entrada de observadores da União Europeia. Desconvidou o ex-presidente (de esquerda) da Argentina Alberto Fernández, que estaria em Caracas como observador para vigiar a lisura do pleito. Respondendo a críticas de Lula, Maduro abraçou seus irmãos brasileiros de militarismo e ladroagem, mentindo que as urnas brasileiras não são auditáveis. Em resposta, o TSE cancelou a ida de seus observadores à Venezuela.

Bruno Boghossian - A desgraça da Polícia Rodoviária Federal

Folha de S. Paulo

Corporação precisa de reforma mais profunda do que mudança de nome e função

Há quatro meses, a Polícia Rodoviária Federal foi tomada por uma disputa política escancarada. No fim de março, começou a circular um dossiê com informações pessoais e acusações contra o diretor-geral da corporação, Antônio Fernando Oliveira. O objetivo da operação seria derrubar o chefe do órgão para instalar um novo grupo no comando.

Os capítulos seguintes expuseram o tamanho da desgraça. Oliveira abriu uma investigação sobre o dossiê, apontou o envolvimento da cúpula do órgão no Distrito Federal e demitiu os dois principais nomes da unidade. Um deles havia acabado de se filiar ao PT e buscava apoio político para substituir o diretor-geral.

Muniz Sodré - O acordão tem DNA

Folha de S. Paulo

Não tem nada a ver com o acerto da vida comum, é um tapa-olho na cara da democracia

Pesquisa recente, "a cara da democracia", revela uma surpreendente sobreposição de opiniões por parte de eleitores lulistas e bolsonaristas. Mas passa ao largo da máscara elitista dessa face, a pletora dos acordos secretos de poder que põem em segundo plano as leis republicanas. A imprensa tem chamado isso de "acordão": uma miríade de arranjos políticos, judiciários e empresariais para anular condenações, liberar fraudadores do erário, isentar generais do golpismo. São muitas as "sangrias" a se estancar.

Hélio Schwartsman - O cortesão e o herege

Folha de S. Paulo

Livro conta a história do encontro e dos desencontros entre Spinoza e Leibniz, na encruzilhada da modernidade

"The Courtier and the Heretic" (o cortesão e o herege), de Matthew Stewart, não é exatamente um livro novo (saiu em 2007), mas, como gostei bastante de um título mais recente do autor ("An Emancipation of the Mind", que já comentei aqui), resolvi experimentar. Não me arrependi. "The Courtier..." é até melhor do que "An Emancipation...".

Em "The Courtier...", Stewart conta a história do encontro e dos subsequentes desencontros entre dois dos mais notáveis filósofos do século 17, Spinoza e Leibniz, que não poderiam ser mais diferentes, nem mais semelhantes.

Ruy Castro - Agora vai!

Folha de S. Paulo

Ela é de verdade ou os EUA são só no filme?

Nos anos 1970, em um restaurante no Rio, Fernanda Montenegro sentou-se casualmente ao lado de uma mesa de americanos. Com ela, seu filho Claudio, ainda garoto. Os americanos falavam alto. Claudio perguntou a Fernanda: "Mamãe, eles são de verdade ou é só no filme?". Claudio tinha razão de duvidar. Com os americanos, nunca podemos ter certeza. A começar pelo cinema que eles faziam nos anos dourados. Nada era o que parecia ser.

Julio Lopes * - Ludwig Feuerbach, precursor da contemporaneidade

Voto Positivo

O filósofo Ludwig Feuerbach (28/7/1804 a 13/9/1872) vem tendo suas obras republicadas na Itália, Colômbia, Espanha, Argentina, Alemanha e Brasil, onde a coleção “Os Pensadores” (lançada pela Folha de São Paulo em 2021) recentemente incluiu seu livro A essência do Cristianismo, pouco tempo após sua inclusão no rol das grandes obras filosóficas por outras instituições acadêmicas estrangeiras.

O revival bibliográfico advém de trabalho meticuloso por Sociedade acadêmica internacional como pioneiro em assuntos contemporâneos: evolução das espécies e impulsos psíquicos humanos (posteriormente por Darwin e Freud), alianças da Humanidade com a Natureza e direitos animais (posteriormente por movimentos ambientalistas), orientações tecnológicas e paisagismo (conforme estudos emergentes no século XXI), diversidade identitária humana e direito individual à comunidade (como reivindicações identitárias atuais e progressistas ainda em face da Declaração Universal de Direitos Humanos de 1948).

Poesia | Eu, de Clarice Lispector

 

Música | Lenine e Orquestra Sinfônica Brasileira - Leão do Norte