terça-feira, 1 de outubro de 2024

O que a mídia pensa | Editoriais / Opiniões

Decisão de Toffoli incentiva leniência com corrupção

O Globo

Sozinho, mais uma vez ministro anulou processos contra outro réu confesso da Operação Lava-Jato

Faz um ano que o ministro Dias Toffoli, do Supremo Tribunal Federal (STF), vem anulando decisões da Operação Lava-Jato e de outras operações de vulto contra a corrupção em decisões individuais, com a anuência da maioria da Segunda Turma da Corte. A última, anunciada na semana passada, beneficiou Leo Pinheiro, ex-presidente da construtora OAS. Réu confesso, Pinheiro relatou propinas na Petrobras e as reformas no apartamento do Guarujá e no sítio de Atibaia que levaram aos processos, depois anulados, contra o presidente Luiz Inácio Lula da Silva.

Toffoli acatou a versão da defesa, segundo a qual Pinheiro, condenado a mais de 30 anos de prisão, foi vítima de “ilegalidades processuais”. Sozinho, cancelou todas as ações contra ele. Tem sido esse o procedimento-padrão no desmonte da maior operação contra corrupção da História do Brasil. Nada de debate no plenário, nenhuma possibilidade de a população ouvir opiniões divergentes. É difícil pensar que isso contribua de algum modo para a confiança dos brasileiros no Judiciário.

Em setembro do ano passado, Toffoli invalidou as provas do acordo de leniência firmado pela Odebrecht (hoje Novonor). Tornou nulos todos os dados obtidos pelos sistemas de informação do “departamento de propinas” da empreiteira. Cinco meses depois, suspendeu o pagamento das multas. Em maio, anulou as decisões da Lava-Jato contra o também réu confesso Marcelo Odebrecht, ex-presidente da empreiteira. Ele baseou seu despacho nas mensagens trocadas pelo então juiz Sergio Moro e integrantes do Ministério Público. Obtidas de forma ilegal, elas mostraram cooperação entre os responsáveis pela acusação e o juiz. A partir da decisão que beneficiou a Odebrecht, sabia-se que haveria uma avalanche de pedidos de condenados.

Merval Pereira - Voto útil

O Globo

Levantamentos preliminares indicam que a direita terá uma vitória importante no quadro nacional. A presença de Marçal, no entanto, vitorioso tanto quanto Tabata na esquerda mesmo que não vença, deixa o futuro incerto na direita

O voto útil, esse nosso velho conhecido nas eleições, responsável por tantas surpresas nas últimas campanhas eleitorais, volta a dar as caras nas duas maiores cidades do país, São Paulo e Rio de Janeiro. A mais recente foi a vitória de Wilson Witzel para o governo do Rio. Para evitar que Romário pudesse ir para o segundo turno contra Eduardo Paes, muita gente pregou o voto útil em Witzel na ilusão de que seria derrotado no segundo turno com facilidade. Não contavam com a tempestade perfeita que vinha a reboque do fenômeno Bolsonaro naquele 2018, que transformou aquele juiz desconhecido em um fenômeno, passageiro felizmente.

Ao mesmo tempo que, no Rio de Janeiro, o reconhecimento de Ramagem como candidato apoiado por Bolsonaro o leva a melhorar de posição, em São Paulo os candidatos da direita dividem o eleitorado bolsonarista e caminham de maneira quase independente nos últimos dias de campanha, sem que o ex-presidente tente intervir.

À esquerda, também o presidente Lula se afasta da candidatura de Boulos, certo de que dificilmente terá chance de ver seu candidato vencer a disputa, mesmo que vá para o segundo turno. O problema da esquerda paulistana é não ter representante no segundo turno, o que seria uma derrota de grandes proporções. A disputa acirrada pelo segundo turno levou a que um grupo de artistas e intelectuais divulgasse texto defendendo o voto útil a favor de Boulos, para impedir que a direita leve seus dois candidatos ao segundo turno.

Míriam Leitão - O que já se sabe destas eleições

O Globo

As pesquisas das eleições municipais mostram que Bolsonaro não é um bom cabo eleitoral, mas o PT também não tem o que comemorar

A uma semana da eleição, já se pode afirmar que o ex-presidente Jair Bolsonaro não se revelou um grande eleitor. Em São Paulo, caso o candidato Ricardo Nunes vença, a vitória será atribuída ao governador Tarcísio de Freitas. Se ele perder, será debitado na conta de Bolsonaro, que não defendeu a candidatura e viu parte do seu eleitorado migrar para Pablo Marçal. No Rio, seu reduto eleitoral, o candidato apoiado pelo ex-presidente, Alexandre Ramagem, subiu, mas está na reta final com 20% dos votos. Essa é a visão do cientista político, Carlos Melo, do Insper. “Ele não sai dessa como grande eleitor, ele sai fragilizado até porque se for mantida a inelegibilidade, Bolsonaro não tem expectativa de poder.”

As pesquisas de ontem da Quaest mostraram que em Belo Horizonte, o candidato bolsonarista Bruno Engler cresceu, mas ainda está em segundo. No Recife, o ex-ministro do Turismo Gilson Machado está com 11% numa eleição já decidida.

Luiz Gonzaga Belluzzo - Dívida pública: as garantias da maldição

Valor Econômico

Os catastrofistas de mercado esperneiam para promover a elevação da Selic

Não cessa a barulhenta inconformidade com a relação dívida/PIB. Na visão dos catastrofistas, o risco fiscal está associado a uma trajetória “insustentável” da dívida pública.

Não são poucos os que antecipam um calote na dívida do Estado. Calote? Seria devastador para a riqueza financeira privada, aquela que frequenta os balanços de bancos, fundos, gestoras de ativos e seus clientes do dinheirão e do dinheirinho.

Em sua trajetória secular, o capitalismo abriu espaço para o surgimento e desenvolvimento de instituições encarregadas de administrar a moeda e os estoques direitos - títulos de dívida e ações - que nascem de seu incessante movimento de criação e apropriação do valor.

No afã de se apropriar da riqueza, as criaturas do mercado estão submetidas à soberania monetária do Estado. O Estado é o senhor da moeda, mas os bancos, sob a supervisão e o controle do Banco Central, são incumbidos de atender à demanda de crédito das gentes privadas. Esse sistema complexo, em sua evolução, engendrou essa forma de criar dinheiro para dar início ao jogo do mercado. Os bancos apresentam-se como os agentes particulares do senhor da riqueza universal. Universal, porque a forma inescapável que deve denominar e mediar todas as negociações, transações e, sobretudo, marcar o valor da riqueza registrada nos balanços.

Luiz Schymura - O que pode estar por trás dos erros de previsão do PIB

Valor Econômico

Além das reformas de vulto, há políticas que vêm sendo trabalhadas sem muito alarde e que também trazem ganhos relevantes para a economia do país

Nos cenários apresentados pelos analistas de conjuntura econômica, um aspecto tem chamado a atenção da classe política e dos formadores de opinião: o erro sistemático na previsão do PIB. Ao se avaliar uma série, com dados a partir de 2020, de projeções decrescimento econômico no boletim Focus do Banco Central para o ano subsequente, é fácil constatar que as subestimações para o PIB são recorrentes e significativas.

Em dezembro de 2020, a média das expectativas apontava crescimento de 3,4% para o PIB de 2021. Todavia, a taxa efetivamente aferida ficou em 4,8%. No término de 2021, o cenário apontava apenas 0,4% de elevação para 2022, e acabaram acontecendo vistosos 3%. Já no encerramento de 2022, a perspectiva era de que 2023 vivenciasse um crescimento do PIB de somente 0,8%. No caso, a surpresa também ocorreu e foi bastante favorável, 2,9%. Por fim, no ano passado, havia o entendimento de que o PIB terminaria 2024 com uma expansão na casa de 1,5%. No entanto, as projeções já apontam para uma ampliação na faixa de 3%.

Maria Cristina Fernandes - Marçal e ‘bets’, faces da mesma moeda

Valor Econômico

Candidato do PRTB surfou na ilusão do dinheiro fácil e se valerá dela para enfrentar a crescente rejeição feminina

O voto envergonhado deu ao ex-presidente Jair Bolsonaro cinco pontos percentuais a mais do que a média das últimas pesquisas do segundo turno de 2022 registravam. O candidato do PRTB à Prefeitura de São Paulo, Pablo Marçal, pode vir a ser beneficiado pelo mesmo fenômeno, ainda que tenha ficado mais difícil para ele diminuir a rejeição feminina depois de dizer que é burrice votar em mulher.

Emulou seu apoiador, o fundador do grupo G4 Educação, Tallis Gomes, que pediu a Deus para livrá-lo de uma CEO mulher e sua própria esposa, Carolina Marçal, que, no seu livro, “A verdadeira força da mulher”, disse que a mulher é substituível na profissão mas não nos cuidados com o marido e os filhos. Até domingo, Marçal vai tentar tirar o voto envergonhado das mulheres do armário com suas armas habituais enquanto os adversários tentarão empurrá-lo de volta com a declaração do candidato no debate da Folha/Uol.

Eliane Cantanhêde - Ousadia ou delírio?

O Estado de S. Paulo

Marçal caiu de paraquedas na eleição de São Paulo, mas o céu é o limite para a sua ambição

Não se brinca com fogo, nem na Amazônia, no Cerrado e no Pantanal, nem nas eleições para qualquer esfera de poder, mas a campanha de 2024 girou o tempo todo e continua girando até o fim em torno de um personagem como Pablo Marçal, como se não houvesse mais ninguém disputando em São Paulo e não tivesse eleição no Brasil inteiro. Isso é brincar com fogo.

Ninguém sabe exatamente como Marçal caiu de paraquedas na eleição para a principal capital do País. Nem como nem por que caiu, com quem e principalmente para o quê. Mas todo mundo já sabe que ele veio para tumultuar, confundir, provocar, mentir e… dar saltos ainda mais altos.

Carlos Andreazza - O direito xandônico

O Estado de S. Paulo

Por que multar a recém-nomeada representante legal do X, senão para intimidá-la?

O bloqueio ao X no Brasil continua. A empresa já tem representação regularizada; teve transferidos os milhões necessários ao pagamento de multa; cumpriu a ordem de bloqueio de contas na plataforma. E permanece fora do ar.

Permanecerá até quando Alexandre de Moraes quiser. O ministro já determinou algumas condições para o fim da censura. A cada semana, cria novas exigências, que se desdobram das precedentes. Está sempre faltando algo; lista extra – surpresa! – que conhecemos assim que cumpridas as demandas anteriores. Logo faltarão comprovante de residência e fotos 3x4.

Luiz Carlos Azedo - Febre de apostas tem freio de arrumação

Correio Braziliense

O governo corre atrás do prejuízo, depois de fazer vista grossa à jogatina digital, na expectativa de aumentar a arrecadação de impostos

O ministro da Fazenda, Fernando Haddad, anunciou, ontem, que até 600 sites de apostas on-line, as chamadas bets, serão banidos do Brasil nos próximos dias por irregularidades em relação à legislação aprovada pelo Congresso Nacional. Desde a semana passada, a Agência Nacional de Telecomunicações (Anatel) está fazendo um pente-fino para bloquear os sites. O ministro recomendou aos apostadores que retirem seu dinheiro o quanto antes. Haddad admitiu que a febre de apostas está "completamente fora de controle" e que os sites devem ter regulamentação, como acontece com o fumo e a bebida alcoólica.

Joel Pinheiro da Fonseca - O 'jogo do tigrinho' eleitoral

Folha de S. Paulo

Em meio a mentiras, sobra pouco espaço para Marçal falar da cidade

Numa eleição marcada por insultos e trocas de acusações, alguns se sobressaem como especialmente precisos. É o caso da comparação que Tabata Amaral lançou sobre Pablo Marçal: ele é o "jogo do tigrinho" da eleição.

Para quem não sabe, o "jogo do tigrinho" é um jogo de azar eletrônico que promete altas recompensas em dinheiro, mas que na verdade é programado para arrancar o máximo possível do jogador.

Todos os sinais apontam que é uma furada: por que uma empresa daria dinheiro fácil assim? É óbvio que ela vive de tirar dinheiro de quem é tolo o bastante para acreditar na promessa. O influenciador que te garante que o jogo paga bem recebe altas cifras para fazer esta propaganda —o jogo paga bem a ele! Todo mundo sabe disso. E, no entanto, o jogador acredita e aposta. Nas condições certas, o salto de fé parece uma chance de salvação. O resultado é previsível.

Hélio Schwartsman - O sobrevivente

Folha de S. Paulo

Netanyahu prolonga e amplia conflito para evitar responsabilização pelas falhas de segurança de seu governo

Não importa o que você pense de Binyamin Netanyahu, é preciso tirar o chapéu para sua capacidade de sobrevivência política. Nos dias que se seguiram ao ataque terrorista de 7 de outubro perpetrado pelo Hamas, a situação do premiê israelense parecia insustentável.

Se a democracia é o regime da responsabilização de dirigentes, as falhas de segurança sob seu governo eram grandes demais para ser ignoradas. O fracasso era duplo, operacional e na estratégia de como lidar com os palestinos.

Dora Kremer - 'Direitas' entram em cena

Folha de S. Paulo

A habitual divisão de grupos na esquerda agora também toma conta da direita

Brigas internas e divisões entre partidos sempre foram características da esquerda. Isso deu origem ao termo "esquerdas", falado como se houvesse mais de um lado esquerdo a se contrapor ao flanco direito.

Pois agora já se pode atualizar a imprecisão e permitir referência a "direitas". Junto à perda de inibição dessa banda em dizer seu nome em voz alta, surge nesse espectro ideológico o elemento da divisão.

Alvaro Costa e Silva - Guarda municipal armada

Folha de S. Paulo

A surpresa são eleitores do Rio, que dizem 'chega'

Atribuição dos governadores, a segurança pública se tornou literalmente a pauta-bomba das eleições. É citada como principal problema por moradores de 7 das 10 capitais mais populosas do país. Os candidatos a prefeito anunciam um mundo de paz, omitindo as limitações a que terão de se submeter. Eleitos, eles poderão ajudar, com as guardas municipais, na prevenção e proteção. Além de fazer o básico: conservação, limpeza e iluminação do patrimônio; instalação de vigilância tecnológica.

Poesia | Um dia você aprende, de William Shakespeare

 

Música | Noite Ilustrada & Quinteto Branco e Preto