domingo, 2 de junho de 2024

O que a mídia pensa | Editoriais / Opiniões

Desemprego em queda é reflexo de reforma trabalhista

O Globo

Mudanças de 2017 são principal fator para ampliação de vagas formais. Educação responde por maior renda

No trimestre encerrado em abril, o desemprego ficou em 7,5%, 1 ponto percentual abaixo do registrado há um ano e quase metade do resultado em 2021 (14,7%). É o menor número para o período desde 2014. E tem mais: a melhora no mercado de trabalho acontece enquanto o rendimento médio continua subindo. Em um ano, ele deu um salto de 4,7%, revelam dados do IBGE. No pior momento da pandemia, ninguém previa uma recuperação tão forte.

Os altos e baixos do desemprego são cíclicos, mas algo aparentemente distinto parece acontecer desta vez. Tem crescido também a proporção de empregos formais, que garantem mais direitos aos trabalhadores e paridade na competição entre as empresas. No primeiro trimestre, foram firmados mais contratos com carteira assinada que no mesmo período nos dois anos anteriores. Em abril, o saldo de empregos formais, segundo o Ministério do Trabalho, alcançou 240.033 postos, melhor resultado para o mês desde 2013. O contraste com a recuperação depois da recessão entre os anos 2014 e 2016 é evidente. Na crise anterior, a retomada foi puxada por empregos informais.

Paulo Fábio Dantas Neto* - Quantas e quais direitas vamos ver em 2026?

O que ocorre, ou ocorrerá, no amplo campo da direita brasileira até as eleições (presidenciais e parlamentares) de 2026 é tema que, gradativamente, ganha espaço no colunismo político e nos blogs especializados em política. É questão de tempo passar a frequentar, também assiduamente, o espaço público mais abrangente do noticiário de imprensa e a contribuir para a algazarra das redes sociais.

A maior e mais intensa circulação do tema não garante que ele será tratado em sua complexidade. Pode ser perfeitamente absorvido como tópico da polarização extrema que predomina no ambiente político. O caminho mais curto para isso é reformular a pergunta e passar-se a discutir o que fará a extrema-direita ou - ainda mais simplificadamente – quem Bolsonaro apoiará na sucessão de Lula. Questões simétricas às que circulam a respeito do outro lado, desde que o atual governo começou: se esse é um governo de coalizão ou se o lulo-petismo é que manda; quem Lula apoiará, em 2026, ou depois.

No mundo simplificado das redes digitais, perguntas tais e quais parecem confirmar o diagnóstico recente, feito pelo presidente, de que a política brasileira se resume hoje à disputa pessoal entre ele e Bolsonaro. Fora desse enquadramento seria ocioso e mesmo bobo falar em esquerda, centro e direita, ou em situação e oposição. Lula é a esquerda, Bolsonaro, a direita. Já o centro, é um ninguém. Quem apoia o governo é lulista, quem faz oposição, bolsonarista e quem não se alinha, oportunista ou ingênuo.

Uma interpretação menos tosca e mais realista do cenário no qual direita, esquerda e centro, o governo e oposições atuam vê o governo presidencialista no Brasil resultando de diversas interações do presidente. De um lado, com os governados (eleitores), relação mediada por um conjunto de formadores de opinião atuantes nas múltiplas e distintas esferas da sociedade civil e por formuladores e operadores de estratégias de comunicação política. De outro lado, com uma complexa teia institucional.

Gaudêncio Torquato - A tecnopolítica e as enchentes de ódio

Folha de S. Paulo

Nas eleições, pouco adiantará o expurgo legal de perfis mentirosos

Um apreciável conjunto de instrumentos se insere na seara da política para influenciar seus rumos, criar perfis para novos protagonistas e recriar imagens de figurantes tradicionais, situação que se apresenta extremamente impactante nos ciclos eleitorais. Basta enxergar seu (mau) uso nos EUA e no Brasil, países que vivenciam o clima de eleições. As ferramentas escolhidas fazem parte das plataformas nas redes sociais e constituem a nova infraestrutura da arte e da técnica de fazer política na era digital.

Os meios ancoram-se na trollagem —comentários racistas, sexistas, homofóbicos, denúncias contra desafetos etc.—, com evidente propósito de gerar aplausos para alguns figurantes e desmontar a identidade de outros. A falsidade é a bússola de fontes e receptores das redes. Seu objetivo é expandir a desinformação. Para tanto, haverá uma imersão na deepfake, com a produção de vídeos bombásticos para difamar perfis. O mergulho profundo no oceano das fraudes sinaliza intensa conflituosidade na política.

Celso Rocha de Barros - Plano fiscal de Tarcísio

Folha de S. Paulo

Editoriais mostram governador fazendo o que Haddad já faz

Nos últimos dias, os três maiores jornais do país, inclusive esta Folha ("Plano de SP prevê o que todos deveriam fazer", dia 24 de maio), O Globo ("São Paulo mostra a Brasília como fazer ajuste de gastos", 27 de maio) e O Estado de S. Paulo ("São Paulo aponta o caminho das pedras", 24 de maio), escreveram editoriais apoiando o plano de ajuste fiscal anunciado pelo governador Tarcísio de Freitas e contrastando-o com um suposto desinteresse do governo Lula pelas contas públicas.

Esse contraste é falso.

Bruno Boghossian - Quanto vale uma boa polícia?

Folha de S. Paulo

Argumento da austeridade fiscal de Tarcísio é verniz para sabotagem de câmeras corporais

Tarcísio de Freitas procurou muitas desculpas para se livrar das câmeras corporais da Polícia Militar. Na campanha, dizia que o equipamento tirava a privacidade dos agentes. Eleito, alegou que as gravações não tinham efetividade na segurança do cidadão. Agora, ele poliu o discurso com um argumento financeiro.

O edital para a contratação de novas câmeras para a PM permite que os policiais deixem o equipamento desligado. Segundo Tarcísio, a gravação contínua "gera muitos custos ao estado pela necessidade de armazenamento". O governador afirmou que o sistema atual gasta dinheiro para guardar um material que, "no final das contas, não serve para nada".

Hélio Schwartsman - O peso da natureza

Folha de S. Paulo

Livro que analisa impacto da mudança climática em nossos cérebros prevê homem mais violento, burro e ansioso

O Brasil experimenta em primeira mão o drama das perdas humanas e econômicas do aquecimento global, fenômeno que deverá intensificar-se. E esse é só um pedaço da conta. Em "The Weight of Nature" (O Peso da Natureza), o neurocientista convertido em jornalista Clayton Page Aldern mostra que a mudança climática também deverá nos deixar mais burros, violentos, ansiosos e paranoicos.

A era liberal em risco

O Estado de S. Paulo

Países líderes estão mais intervencionistas

Alerta Sem um quadro institucional para a cooperação, será mais difícil lidar com os desafios do século 21

Na berlinda Organizações multilaterais estão cada vez mais acuadas e não conseguem responder às atuais demandas mundiais

À primeira vista, a economia mundial parece ser de uma resiliência tranquilizadora. Os Estados Unidos cresceram mesmo com a escalada da guerra comercial com a China. A Alemanha resistiu à perda do fornecimento de gás russo sem sofrer um desastre econômico. A guerra no Oriente Médio não trouxe nenhum choque petrolífero. Os rebeldes Houthi, que disparam mísseis, mal afetaram o fluxo global de mercadorias. Em porcentagem do PIB mundial, o comércio se recuperou da pandemia e se prevê que cresça de forma saudável neste ano.

Mas, olhando mais profundamente, vemos a fragilidade. Durante anos, a ordem que governou a economia global desde a Segunda Guerra Mundial foi corroída. Hoje, está perto do colapso. Um número preocupante de fatores precipitantes poderá desencadear uma descida à anarquia, onde quem pode, manda, e a guerra é mais uma vez o recurso das grandes potências. Mesmo que nunca chegue a haver conflito, o efeito na economia de uma quebra das normas poderá ser rápido e brutal.

Lourival Sant’Anna - O show de Trump

O Estado de S. Paulo

Trump tem uma habilidade única de navegar em uma trama carregada de imprevisibilidade

A condenação de Donald Trump lança os EUA em um cenário de incertezas nas esferas jurídica e política. Obviamente, o ex-presidente e candidato não gostaria de estar nessa situação. Por outro lado, ele tem uma habilidade única de navegar em uma trama inédita e carregada de imprevisibilidade como essa.

Esse é o grande trunfo de Trump: surpreender seus oponentes com lances para os quais eles não estão preparados, e não há um roteiro de como responder. Os autores da Constituição americana não previram um condenado em processos criminais com chances de se eleger presidente.

Depois da Guerra Civil, concluída em 1865, foi acrescentada a 14.ª Emenda, que impede envolvidos em insurreições de exercer cargos federais. Ao julgar se esse caso se aplicava ao envolvimento de Trump na invasão do Capitólio, a Suprema Corte decidiu, por 5 votos a 4, que o Congresso precisaria deliberar se o ex-presidente cometeu esse crime. Os republicanos têm maioria na Câmara.

Luiz Edson Fachin* - O STF e o dever de preservar

O Globo

Ao Poder Judiciário cabe um papel nessa complexidade atrelada à emergência climática

Há razões graves para relembrar em 2024, às vésperas do Dia Mundial do Meio Ambiente, 5 de junho, o dever de restaurar e preservar a Terra. Estão no banco dos réus as intervenções humanas que se tornaram irremediavelmente perigosas ao sistema climático mundial.

Uma especial audiência planetária se dará na Conferência do Clima sobre Mudanças Climáticas (COP30), em novembro de 2025, em Belém. A temática, que foi tratada no Brasil pela primeira vez na conferência Rio 92, está de volta à agenda dos Poderes da República, inclusive o Judiciário. É dela que eclode a questão do século. Não se pode desperdiçar o maior evento global de discussões climáticas, agora dentro da própria Amazônia e dos povos que vivem nela.

Mas a emergência é agora. Refiro-me à catástrofe no Rio Grande do Sul. Trata-se de um desastre climático, extremo, severo, e eventos como esse estão fadados à repetição.

Míriam Leitão - A rendição ao extremismo

O Globo

Nos EUA, Trump segue no jogo político. No Brasil, a direita permanece prisioneira de pautas extremistas e não se afasta de Bolsonaro

Derrotados, os ex-presidentes Donald Trump e Jair Bolsonaro pairam sobre os dois países como sombra, pela incapacidade do sistema político de se afastar dos extremistas. Trump, condenado em 34 acusações, ainda pode ser candidato a presidente. Bolsonaro, mesmo inelegível, é o ponto em torno do qual orbitam os políticos da direita. Nem o Partido Republicano, nem a direita brasileira conseguiram criar alternativas que os afastem do extremismo. Não existem trumpismo nem bolsonarismo moderados.

Bernardo Mello Franco – A busca de Norita

O Globo

Dona de casa virou ativista após desaparecimento do filho, vítima da ditadura argentina

Gustavo saiu cedo de casa, como fazia todos os dias, e não voltou mais. Tinha 24 anos, mulher e filho pequeno. “Ele foi sequestrado em 15 de abril de 1977”, repetia sua mãe, Nora Cortiñas. “Muitos anos depois, ficamos sabendo que o pegaram na estação Castelar, onde esperava o trem para o trabalho.”

Na manhã seguinte, ela começou uma peregrinação por igrejas, delegacias, tribunais. Desesperada, abandonou a vida doméstica e se juntou a outras mulheres que desafiavam a ditadura argentina em busca de seus filhos. Assim nascia o movimento das Mães da Praça de Maio.

Dorrit Hazarim - A conta chegou

O Globo

Ninguém estava realmente preparado para o acachapante veredito da condenação do ex-presidente

A decisão foi histórica, e suas ramificações imediatas. Até porque ninguém estava realmente preparado para o acachapante veredito — nem o país, talvez nem os procuradores ou o juiz, certamente não o réu sentado no Tribunal Criminal de Manhattan. Por 34 vezes seguidas Donald Trump teve de ouvir o martelo monocórdio do tribunal de júri: “guilty”, “guilty”, “guilty”..., que em inglês soa ainda mais gélido e cortante que o “culpado” do nosso vernáculo. Estão postos, portanto, o ineditismo e a rebordosa do caso. Pela primeira vez na História americana, um ex-presidente (e inevitável candidato republicano à Casa Branca) acrescenta “criminoso” a seu currículo. E por um motivo que, de início, parecia apenas mais um dentre tantos escândalos da vida amoral do condenado: falsificação de registros contábeis para encobrir pagamentos à atriz pornô Stormy Daniels, com quem ele é acusado de ter mantido relação sexual. Os pagamentos em troca do silêncio da atriz ocorreram às vésperas da eleição presidencial de 2016 em que ele derrotou a democrata Hillary Clinton.

Poesia | O Pão do Povo, de Bertolt Brecht

 

Música | Mariana Aydar e Mestrinho - Eu Vou