sexta-feira, 5 de julho de 2024

O que a mídia pensa | Editoriais / Opiniões

Embora tímido, recuo de Lula é bem-vindo

O Globo

Ele poderia ter evitado as declarações desastradas que fizeram o dólar disparar

Mesmo que acanhada, é bem-vinda a reviravolta aparente do presidente Luiz Inácio Lula da Silva em relação à crise fiscal. O anúncio — tardio — de que o governo congelará recursos ainda neste ano e enviará ao Congresso o Orçamento de 2025 com previsão de corte de R$ 25,9 bilhões em despesas obrigatórias traz, enfim, alguma realidade ao compromisso de equilibrar as contas públicas. Lula determinou o cumprimento “a todo custo” das metas previstas para 2024, 2025 e 2026 no arcabouço fiscal, plano de ajuste do governo que perdia credibilidade dia após dia. Se cumprir as promessas, contribuirá para diminuir o ritmo de aumento da dívida pública, derrubar os juros, atrair mais investimentos e, com isso, impulsionar o crescimento econômico e o bem-estar da população.

Fernando Gabeira - Para que serve hoje o Plano Real

O Estado de S. Paulo

Olhando os rumos do mundo e os do Brasil, podemos sentir como é instável a situação, como é necessário fazer tudo para estabilizá-la e como isso pede também o que existiu no Real

Trinta anos de Plano Real nos levam a pensar em muitas coisas. Uma delas, a mais animadora, é saber que o Brasil é capaz de resolver problemas complexos, como a hiperinflação, que até hoje atormenta nossos hermanos argentinos.

Muitos desdobramentos positivos na história recente do País dependeram da atmosfera criada pelo Plano Real. Um deles é a política social da primeira década do século que garantiu a Lula da Silva uma grande fidelidade dos setores mais vulneráveis da população.

Nem todos os problemas foram resolvidos ali. A reforma tributária que deve ser aprovada neste ano é considerada um passo adiante na trilha aberta pelo Plano Real.

Mas o que se discute com intensidade hoje é o ajuste fiscal.

Lula parece confrontado com duas saídas indigestas. Uma delas é voltar-se para os setores mais pobres, desvincular benefícios previdenciários do salário mínimo, reduzir investimentos na saúde e na educação.

Existe a alternativa de olhar para cima e para o lado: cortar subsídios, acabar com supersalários, rever a aposentadoria dos militares, realizar uma reforma administrativa.

Luiz Carlos Azedo - Carne bovina e frango ficarão de fora da cesta básica

Correio Braziliense

Hoje, estão isentos de impostos federais (como IPI, PIS e Cofins), mas a maioria dos estados, no entanto, cobra o ICMS sobre esses produtos, ou seja, a proteína animal

Promessa de campanha do presidente Luiz Inácio Lula da Silva, a picanha do fim de semana pode ficar mais longe da mesa da maioria dos brasileiros, após a regulamentação da reforma tributária. Hoje, a picanha custa em média R$ 59 o quilo nos supermercados. Nem a carne de segunda, o suíno, o frango e o peixe, na proposta dos relatores da reforma, farão parte da lista de produtos da cesta básica com alíquota zero de tributos. Será uma derrota dos consumidores de mais baixa renda. Músculo, rabo, bucho, mocotó, pé de porco, pescoço de galinha, a tilápia, tudo isso pagará imposto igual ao da picanha.

O relatório do projeto de lei complementar (PLP 68/2024), que regulamenta a reforma tributária, foi apresentado, nesta quinta-feira, pelo grupo de trabalho da Câmara que analisou a proposta original do governo. O presidente da Casa, Arthur Lira (PP-AL), pretende votar a regulamentação na próxima semana. O grupo de trabalho apresentou o relatório e manteve a proteína animal com uma isenção de 60%, como originalmente havia sido encaminhada pelo governo.

Eliane Cantanhêde - Simples e mais barato

O Estado de S. Paulo

Com psicologia haddadiana, Lula parou de falar de BC, assumiu proposta fiscal e dólar caiu

Fernando Haddad vem evoluindo: de professor a político (se isso é exatamente evoluir…), de prefeito a candidato a presidente, de ministro da Educação a ministro da Fazenda, de articulador político a psicólogo do presidente da República, o único capaz de botar o guizo no gato. Como não é fácil driblar adversários no governo, Haddad reuniu uma tropa para convencer o teimoso Lula de que é péssimo negócio guerrear contra a razão.

É real o impacto de fatores externos na disparada do dólar, mas é negacionismo puro desconsiderar o efeito das manifestações de Lula contra corte de gastos, equilíbrio fiscal, BC, política de juros e Roberto Campos Neto. Lula fala, o dólar sobe e depois ele atribui a subida a “ataque especulativo” e cobra intervenção do BC no câmbio.

André Roncaglia - O privatismo sem critério de Tarcísio de Freitas

Folha de S. Paulo

É imperativo evitar privatização da empresa de saneamento do estado mais rico do Brasil

Depois do escândalo da privatização da Eletrobras, a Sabesp é a bola da vez.

A venda de participação acionária da empresa teve a ampla concorrência... de uma empresa interessada. Indagado a este respeito, o governo Tarcísio reagiu com a novilíngua privatista: "Não é falta de concorrência, é uma aderência ao que a gente vem colocando desde o início".

Especializada em energia elétrica, a Equatorial conta com uma "vasta experiência" de dois anos no setor de saneamento, "conquistada" com a privatização do serviço no Amapá, feita pelo governo Bolsonaro em 2021, sob a batuta do atual governador carioca de São Paulo.

Bruno Boghossian - Cerco da polícia amplia antigo tormento de Jair Bolsonaro

Folha de S. Paulo

Aprofundamento de investigações reduziu espaço de reação do ex-presidente

O cerco da polícia amplia um antigo tormento de Jair Bolsonaro. O ex-presidente costumava desconfiar que poderia ser alvo de uma ordem de prisão preventiva. Ele iria para trás das grades, mas denunciaria a precipitação de seus acusadores. O avanço das investigações, por outro lado, dificulta essa cartada.

Num único dia, a Polícia Federal apresentou novos elementos de dois inquéritos contra Bolsonaro. Pela manhã, agentes deflagraram a segunda fase da operação que revelou a falsificação do cartão de vacina do ex-presidente. No fim da tarde, o capitão e mais 11 pessoas foram indiciadas pela venda ilegal de joias recebidas durante seu governo.

Vinicius Torres Freire - 'Guerra civil' da eleição francesa afeta política aqui e pelo mundo

Folha de S. Paulo

Embora mais fraca, aliança contra ultradireita se recuperou nos últimos dias

O resultado da eleição legislativa da França depende das alianças que se formaram ou ainda vão se formar até o segundo turno, no domingo. Isto é, depende em boa parte da soma dos votos dos eleitores que não querem o partido Reunião Nacional (RN) no poder: do "voto útil".

A frente contra a ultradireita se recuperou nos últimos dias, apesar de bem mais fraca do que em eleições realizadas de 2002 a 2022. Em tese, voltam a diminuir as chances de que o RN, de Marine Le Pen, consiga maioria absoluta na Assembleia, ainda que seja o partido maior.

Pelas últimas projeções, a soma dos eleitos pela esquerda e pelo centro macronista poderia até ser majoritária. Há quem sugira, assim, uma aliança precária, mas bastante para aprovar um ou outro projeto e evitar crise maior, pelo menos até a convocação de outra eleição, possível apenas daqui a um ano.

Jamais houve coalizão de ideologia mista na Quinta República (desde 1958). O presidente Emmanuel Macron detesta o França Insubmissa (LFI), partido maior da aliança de esquerda. O LFI tem dito que apenas entrará em governo de coalizão que siga o seu programa. Hum.

Por que prestar atenção à política francesa? Apesar dos pesares crescentes da França, a aliança franco-alemã é o pilar da enorme União Europeia. Um tumulto político-econômico por lá teria repercussão mundial, até financeira, aqui inclusive.

Thomas L. Friedman - Biden é um bom homem e um bom presidente, mas precisa desistir da reeleição

Folha de S. Paulo

Para dar aos EUA a maior chance de deter a ameaça Trump, democrata deve declarar que não concorrerá à reeleição

Assisti ao debate Biden-Trump sozinho em um quarto de hotel em Lisboa, e ele me fez chorar. Não consigo lembrar de um momento mais angustiante na política da campanha presidencial americana em minha vida —precisamente devido ao que o debate revelou: Joe Biden, um homem bom e um bom presidente, não tem motivos para concorrer à reeleição. E Donald Trump, um homem malicioso e um presidente mesquinho, não aprendeu e não esqueceu nada. Ele é a mesma torneira de mentiras de sempre, obcecado com suas queixas —longe do que será necessário para liderar os Estados Unidos no século 21.

A família Biden e sua equipe política devem se reunir rapidamente e ter as conversas mais difíceis com o presidente, uma conversa de amor, clareza e determinação. Para dar aos EUA a maior chance possível de deter a ameaça Trump em novembro, o presidente deve se adiantar e declarar que não concorrerá à reeleição e que está liberando todos os seus delegados para a Convenção Nacional Democrata.

Maria Cristina Fernandes - Notas de um PT com voto conservador

Valor Econômico

Prefeita de Contagem (MG), maior cidade governada pelos petistas no país, Marília Campos não entra em briga alheia nem fecha alianças pelo retrovisor e defende que partido abra mão de privilégios

Município da Região Metropolitana de Belo Horizonte e segundo maior do estado, com 668 mil habitantes, Contagem foi sede de vitórias históricas do PT iniciadas pelo presidente Luiz Inácio Lula da Silva, que lá ganhou lá duas vezes, sendo a primeira, em 2002, com 82% dos votos.

Nesses bons anos do PT no município, Marília Campos elegeu-se vereadora, duas vezes prefeita e três vezes deputada estadual. Psicóloga formada na UFMG e bancária desde os 18 anos, idade com a qual ajudou a fundar o PT em Uberlândia em 1982, Marília deixou a prefeitura em 2014, rumo à Assembleia Legislativa na disputa em que seus eleitores também deram o segundo mandato à ex-presidente Dilma Rousseff e colocaram Fernando Pimentel no Palácio da Liberdade.

A cidade, antigo entreposto fiscal da coroa portuguesa para contagem de escravos e cabeças de gado, sempre foi cultivada por Lula. Em visita à cidade, em junho, o presidente disse ter ouvido pela primeira vez a menção a Contagem em 1968, quando seus metalúrgicos lideraram, junto com os de Osasco, a primeira grande greve da ditadura.

José de Souza Martins – 1924: A revolução inacabada

Valor Econômico

Os revoltosos não tinham um projeto político. Queriam derrubar o presidente da República e livrar o exército da sujeição às oligarquias

Ainda hoje nos arredores da estação e dos quartéis da Força Pública (atual Polícia Militar), no bairro da Luz, em São Paulo, há marcas dos tiros de obuses disparados na manhã de 5 de julho de 1924 e nos dias seguintes. Na ilha da rua João Teodoro, uma antiga chaminé de usina termoelétrica tem as marcas dos disparos feitos pela Força Pública contra os quartéis a partir da esplanada do Carmo. A torre da igreja e o Liceu Coração de Jesus também têm suas marcas de tiros.

Tratava-se de uma insurreição de tenentes revoltosos do exército e de oficiais da Força Pública contra o governo de Artur Bernardes cuja deposição pretendiam. Do outro lado, o exército legalista e a força pública governista. Logo nas primeiras horas, os revoltosos prenderam o comandante da Força Pública e o general comandante da 2ª Região Militar, que acabara de chegar em casa, em traje de gala, do banquete e do baile do consulado americano, no Hotel Esplanada, para comemorar o aniversário da independência dos EUA.

Bernardo Mello Franco – As joias do capitão

O Globo

Antes de ser indiciado pela PF, ex-presidente havia retomado viagens para pedir votos

A Polícia Federal indiciou Jair Bolsonaro por três crimes no rolo das joias. O capitão foi acusado de peculato, associação criminosa e lavagem de dinheiro. Pelo volume de provas, é questão de tempo até que seja denunciado e enviado ao banco dos réus.

Os investigadores concluíram que o ex-presidente se apropriou indevidamente de bens da União. Depois de surrupiar o patrimônio público, ele resolveu transformar as pedras em dinheiro vivo. Para isso, mobilizou civis e militares num esquema de desvio, contrabando e ocultação de valores.

Flávia Oliveira - Adubar o debate

O Globo

País deixou passar quase despercebido um anúncio de imensa importância para economia

É de pobreza franciscana o debate macroeconômico brasileiro, restrito, quase sempre, às estimativas e análises de operadores do mercado financeiro. Nada contra bancos, corretoras, consultorias nem seus modelos econométricos e dedos nervosos. São agentes econômicos relevantes. Só não são os únicos. Desde a reunião de maio do Comitê de Política Monetária (Copom), quando a taxa básica de juros foi reduzida em 0,25 ponto percentual pelo placar apertado de 5 a 4, inaugurou-se um rali tão indesejado quanto perigoso para a vida real dos brasileiros.

Rogério F. Werneck - Causa e efeito

O Globo

O governo não consegue sair de uma quadro econômico intrincado

Memorável depoimento fez o embaixador Rubens Ricupero na comemoração dos 30 anos do Plano Real promovida pela Fundação FHC, em São Paulo, na tarde de 24 de junho. Era ministro da Fazenda quando o Real entrou em vigor, em 1º de julho de 1994. Vinha exercendo o cargo com admirável competência desde 30 de março daquele ano, quando FHC teve de se afastar para disputar a eleição presidencial.

Sua marcante intervenção no evento tocou num ponto crucial. Serviu de alerta para que, no calor das comemorações do Real, o país não se deixe levar pela ilusão de que as conquistas do esforço de estabilização empreendido a partir de 1994 tornaram-se irreversíveis. Vale a pena reproduzir o que Ricupero teve a dizer sobre isso.

Flávia Barbosa* - Só Trump quer Joe Biden

O Globo

Mesmo pesados os riscos da troca do candidato democrata, ela parece ser a única via para tentar a vitória

Joe Biden faz, nesta noite, um dos últimos grandes atos antes de decidir se mantém ou retira sua candidatura a mais quatro anos na Casa Branca. Concederá entrevista à rede de TV americana ABC, num esforço de mostrar-se capaz de continuar comandando os Estados Unidos. Após a mais dramática semana do Partido Democrata desde a Convenção de 1968, seus correligionários estão virtualmente unidos na avaliação de que Biden deveria jogar a tolha. Mas existe um grande entusiasta de sua campanha à reeleição: Donald Trump.

Joseph Stiglitz - Não há dúvida sobre o melhor para os EUA

Valor Econômico

Embora economistas tenham enfatizado a importância do Estado de Direito para o crescimento, Trump, um criminoso condenado, não é exatamente conhecido por sua adesão a ele

Algo ficou faltando na enxurrada de comentários após o debate entre o presidente dos Estados Unidos, Joe Biden, e Donald Trump. Embora as avaliações dos eleitores sobre a personalidade e forças pessoais dos candidatos sejam importantes, todos deveriam lembrar-se do famoso ditado: “É a economia, estúpido”. No mar de mentiras descaradas despejadas por Trump durante o debate, as falsidades mais perigosas referiram-se aos respectivos históricos de política econômica dele e de Biden.

Avaliar a gestão da economia por parte de um presidente é sempre uma tarefa espinhosa, porque muitos dos desenvolvimentos são desencadeados pelos antecessores. Barack Obama precisou lidar com uma profunda recessão porque governos anteriores se empenharam na desregulamentação financeira e não conseguiram evitar a crise que eclodiu no outono americano de 2008. Depois, com os republicanos do Congresso amarrando as mãos do governo Obama e defendendo um aperto de cinto, o país foi privado dos tipos de políticas fiscais que poderiam ter tirado a economia da Grande Recessão com mais rapidez. Quando a economia, enfim, estava em recuperação, Obama estava saindo e Trump, entrando.

Trabalhistas voltam ao poder no Reino Unido após 14 anos

Por O Globo e agências internacionais 

Partido liderado por Keir Starmer volta ao poder após 14 anos, com promessas de recuperar economia e agir de forma eficiente sobre a imigração; extrema direita já surge no retrovisor

LONDRES - Depois de 14 anos na oposição, o Partido Trabalhista retornará ao poder no Reino Unido, de acordo com as projeções divulgadas minutos após o fechamento das urnas, confirmando uma das maiores vitórias em décadas.

Os números apontam que o partido, comandado por Keir Starmer, provável novo primeiro-ministro, conquistou 410 cadeiras na Câmara dos Comuns, equivalente à Câmara dos Deputados, mais do que as 326 necessárias para governar sem precisar formar alianças. As estimativas ainda sinalizam para uma derrota contundente dos conservadores, um "renascimento" dos Liberal-Democratas e um avanço da extrema direita.

"A todos os que fizeram campanha pels trabalhistas nestas eleições, a todos os que votaram em nós e depositaram a sua confiança no nosso novo Partido Trabalhista – obrigado", escreveu Starmer no X, o antigo Twitter, minutos depois do fechamento das urnas. Caso as projeções se confirmem, será um avanço de 209 cadeiras.

Em segundo lugar veio o Partido Conservador, do agora futuro ex-premier Rishi Sunak, com 131 cadeiras, o pior resultado desde o fim da Segunda Guerra Mundial, com 241 assentos a menos. A lista de integrantes do Gabinete de Sunak que podem ficar sem vaga no Legislativo é longa, e inclui Jeremy Hunt, ministro das Finanças, e Grant Shapps, ministro da Defesa. Os números oficiais, alertam comentaristas, podem ser ainda piores, uma vez que estão sujeitos a pequenas diferenças, como houve nas últimas três votações.

Poesia | Posso escrever os versos mais tristes esta noite, de Pablo Neruda

 

Música | Marisa Monte - Feitio de Oração (Noel Rosa)