segunda-feira, 1 de julho de 2024

O que a mídia pensa | Editoriais / Opiniões

Abuso de emendas de relator se repete nas de comissão

O Globo

Opacidade do orçamento secreto volta a vigorar, apesar de o STF ter declarado a prática inconstitucional

No final de 2022, o Supremo Tribunal Federal (STF) declarou que as emendas ao Orçamento conhecidas pela sigla RP9 — ou “emendas do relator” — eram inconstitucionais. Sustentáculos do orçamento secreto, elas pecavam pela falta de transparência ao omitir o parlamentar responsável por destinar a verba. Os ministros da Corte entenderam que isso feria a Constituição. Na época, a então presidente do STF, Rosa Weber, declarou que o pagamento das emendas de relator era “recoberto por um manto de névoas”. De lá para cá, as RP9s acabaram, mas o nevoeiro não se dissipou. Só mudou de lugar.

Marcus André Melo - O operador e a máquina

Folha de S. Paulo

O maquinário das democracias atuais está caindo frequentemente nas mãos de mecânicos ineptos

Para Giovanni Sartori (1924-2017), a democracia consiste em um maquinismo e um conjunto de maquinistas que têm que pôr a máquina para funcionar. Mas quando nos queixamos da democracia e denunciamos sua crise geralmente focamos o maquinismo e esquecemos os operadores. Ou atacamos os maquinistas e esquecemos o maquinário.

O maquinismo é a estrutura constitucional do país. Embora defenda que o maquinário das democracias atuais é "decente", embora esteja "caindo frequentemente nas mãos de mecânicos ineptos". Sartori é cáustico em relação a nossa Constituição, que é repleta de "dispositivos quase suicidas" e "promessas irrealizáveis". (Sim, a carta de 1988 continha um dos mais bizarros dispositivos já incorporados a uma constituição: o tabelamento da taxa de juros).

Bruno Carazza - Trinta anos do Plano que não terminou

Valor Econômico

Lenta corrosão do poder de compra evidencia que estabilidade ainda está longe de ser alcançada

Hoje é dia de celebrar o trigésimo aniversário de um dos maiores feitos da história brasileira em termos de política econômica: o Plano Real.

Para se ter ideia do que isso significa, basta recorrer a um número. De janeiro de 1980, quando o atual índice oficial de inflação foi criado, até junho de 1994, o IPCA subiu 11.256.886.924.720,79914%. Isso mesmo: mais de onze trilhões por cento.

Explicar como era viver naqueles tempos de hiperinflação para os jovens de hoje, além de revelar nossa faixa etária, é também uma oportunidade para reconhecer como o Brasil mudou a partir daquele 1º de julho de 1994.

Alex Ribeiro - BC nada pode fazer sobre a alta do dólar

Valor Econômico

Mercado ainda não tem plena confiança do comprometimento com o controle da inflação do novo BC que será comandado por diretores indicados por Lula

O Banco Central nada pode fazer para impedir a tendência de alta da cotação do dólar. Se a autoridade monetária se arriscar a intervir com vendas de dólares, vai queimar reservas internacionais à toa e perder um pedaço de sua credibilidade na luta contra a inflação.

Na sexta-feira, quando o câmbio rumou para um novo patamar, encostando em R$ 5,60, havia alguma expectativa de que o Banco Central pudesse vender moeda estrangeira, seja à vista, seja por swaps cambiais.

Diogo Schelp - Um vício por outro

O Estado de S. Paulo

Congresso avança para multiplicar viciados em jogos de azar e reprimir usuários de maconha

O Congresso trilha um caminho ambíguo em relação a dois temas com impacto sobre a saúde pública, as relações familiares e a criminalidade. Avança no Senado, depois de aprovado na Câmara dos Deputados, o projeto de lei que legaliza cassinos, bingos, bicho, apostas online e outros jogos de azar. E chegou do Senado para discussão na Câmara a PEC que criminaliza a posse de qualquer quantidade de drogas. Os usuários, a critério do juiz, receberão penas alternativas.

Denis Lerrer Rosenfield - Enganação

O Estado de S. Paulo

Desde o início, Lula e Haddad se recusaram, um sem nenhuma sutileza, o outro com a pretensão de enganar os incautos, a fazer redução de despesas ou corte de gastos

Engana-se quem pensa que Lula da Silva e Fernando Haddad possuem ideias diferentes, embora um seja mais tosco e o outro mais refinado. Analistas do mercado e jornalistas ficaram desde a posse do novo presidente, até poucas semanas atrás, querendo diferenciá-los, fazendo do primeiro um irresponsável do ponto de vista fiscal enquanto o segundo colocaria nos trilhos as finanças públicas. Armou-se o palco de uma grande encenação, uns ganhando prestígio, outros, dinheiro. De repente, o teatro foi desmontado, a decepção apoderando-se de muitos. Não compreenderam um fato básico: eles formam um dueto.

Ricardo Henriques - Priorizar a gestão pública

O Globo

Países que são referência por seu desempenho têm sistemas de educação básica majoritariamente (ou exclusivamente) públicos. É importante lembrar disso à luz dos movimentos recentes de São Paulo e Paraná que, independentemente de suas intenções, reavivaram na imprensa o debate sobre uma suposta superioridade da gestão privada na busca pelos meios mais eficazes de melhorar os resultados de escolas públicas. Possíveis riscos à política educacional não decorrem, necessariamente, da concessão ao setor privado de serviços de construção, manutenção predial, limpeza ou vigilância, algo já comum. Um regime de contratação, se bem estruturado, pode resultar em melhores serviços, liberar tempo dos educadores, otimizar a relação com fornecedores e até economizar recursos públicos. Os riscos surgem de outros elementos e, apesar de diferenças de escopo e abrangência entre as duas propostas, existem três aspectos comuns.

Fernando Gabeira - Pantanal, a herança que vamos destruir

O Globo

Sabíamos do El Niño, do aquecimento global e de tudo mais. Houve incapacidade de planejamento e prevenção

Para quem não conhece, a palavra pantanal não transmite a riqueza desse bioma brasileiro. Mesmo se o descrevemos geograficamente como maior planície úmida do planeta, ainda dizemos pouco. É preciso navegar nos rios, conhecer sua gente, contemplar os bichos para sentir algo que pode ser descrito como um paraíso tropical.

São 652 espécies de aves, 264 de peixes, 102 de mamíferos e 40 de anfíbios. Isso também não quer dizer muito até ver o improvável voo do tuiuiú, ave que simboliza o Pantanal, uma onça-pintada que resiste na região, conhecer uma mulher que fala com jacarés, comer um dourado, um pintado, um pacu.

Miguel de Almeida - Pauta identitária de direita

O Globo

Politizaram a já anêmica educação brasileira sem oferecer qualquer alternativa didática

Não é apenas o bagrinho bolsonarista que é filhote das redes sociais. Sem esquecer o tiozão do zap e o Carluxo, hoje bem murcho (a rima vai de graça), a fauna conta ainda com os pais e mães no papel de censores. Despertados pela mafiosa ideia de escola sem partido, politizaram a já anêmica educação brasileira sem oferecer qualquer alternativa didática. Não valem as escolas cívico-militares. Seu garoto de recados é ambulante da má performance pátria na proficiência de matemática. Dele ouvimos:

— Se é 5% positivo + 4% negativo, crescemos 9%!

Embalado, acrescentou para aplauso dos bagrinhos:

— Isso é milagre, é uma coisa inacreditável!

Imagino como seria esse brasileiro no almoxarifado do Exército desafiado pelas quatro operações, tendo como braço executivo a intelectual da turma, Carla Zambelli, a que ameaçou mudar a política brasileira num giro de 360 graus. Na Câmara, a Comissão de Educação conta com o enciclopedismo da deputada, que ainda ceva enquete com a afamada obsessão: “Seu filho sofre violência ideológica na escola?”. Sim, implicam com ele porque é ponta-direita.

Extrema direita de Marine Le Pen sai na frente no 1º turno na França

Juliette Jabkhiro e Layli Foroudi / Valor Econômico

Porém, o resultado final no Parlamento ainda é altamente incerto por causa da maior taxa de participação dos eleitores em 38 anos

O partido de extrema direita Reunião Nacional (RN) de Marine Le Pen venceu o primeiro turno das eleições parlamentares da França neste domingo (30), segundo apontaram as pesquisas de boca de urna, mas o resultado final dependerá de intensas negociações ao longo da semana antes do segundo turno no próximo domingo.

O RN obteve entre 33% e 34,2%, segundo pesquisas de boca de urna dos institutos Elabe, Ifop, Ipsos, OpinionWay e Toluna Harris Interactive.

Isso coloca a extrema direita à frente dos rivais de esquerda e de centro, incluindo a aliança Juntos do presidente Emmanuel Macron, cujo bloco deve obter entre 20,3% e 22,4% dos votos. A Nova Frente Popular (NFP), uma coalizão de esquerda formada às pressas, deve conquistar entre 28,5% e 29,6% dos votos, segundo as projeções.

As pesquisas de boca de urna ficaram em linha com as pesquisas de intenção de voto antes do primeiro turno, mas forneceram pouca clareza sobre se o RN, anti-imigração e eurocético, será capaz de formar um governo para “coabitar” com Macron, um defensor do bloco europeu, após o segundo turno do próximo domingo.

Vinicius Torres Freire - Le Pen fica mais perto do poder com racha no pacto contra ultradireita

Folha de S. Paulo

Recusa do centro macronista em declarar apoio aberto à esquerda no 2º turno expõe divisão e pode facilitar caminho da Reunião Nacional

O muro de contenção da enchente de ultradireita na França está mais do que rachado. Tem buracos relevantes e pedaços feitos de areia, a julgar por declarações dos líderes dos partidos de centro e das minoritárias centro-direita e direita tradicional. Caso o eleitorado aceite as indicações das lideranças, pode ser que a Reunião Nacional (RN) fique mais perto de uma maioria na Assembleia Legislativa, ainda muito difícil.

Esse é o resultado político mais significativo do primeiro turno da eleição legislativa. Como previam as pesquisas, a RN, liderado por Marine Le Pen, teve cerca de 33,2% dos votos. A Nova Frente Popular, coalizão de esquerda, 28,1%. O Juntos, coalizão liderada por Emmanuel Macron, presidente da República, ficou com 21%. O Republicanos, da velha direita tradicional, gaullista, teve 10%.

Ultradireita lidera e leva Macron e esquerda a união no 2º turno

Renato Vasconcelos / O Globo

Coalizão governista e bloco de esquerda anunciaram iniciativas para tentar 'conter danos'

vitória da extrema direita e de seus aliados no primeiro turno das eleições legislativas na França, com 34% dos votos, fez mais do que confirmar o favoritismo do Reagrupamento Nacional, de Marine Le Pen e Jordan Bardella, como já vinham apontando as mais recentes pesquisas de opinião. O sucesso eleitoral consolidou o partido, outrora marginal na política francesa, como uma força nacional capaz de chegar ao poder — imediatamente ou em 2027 — e testa a capacidade das forças de centro e esquerda superarem suas crises internas e dialogarem.

As reações imediatas dos partidos foram diversas. Macron fez um apelo a uma “aliança ampla, claramente democrática”. Gabriel Attal, seu protegido e atual primeiro-ministro, anunciou que os candidatos do partido que ficaram em terceiro lugar sairiam do 2º turno para facilitar a disputa com o Reagrupamento Nacional — mesma medida anunciada pelo líder do França Insubmissa, Jean-Luc Mélenchon, que lidera a coalizão das forças de esquerda.

Poesia | Terra de Santa Cruz, por Adélia Prado

 

Música | Cristina Branco - Retrato em Branco e Preto