sexta-feira, 6 de setembro de 2024

O que a mídia pensa | Editoriais / Opiniões

7 de Setembro traz oportunidade de paz institucional

O Globo

Oportunismo político nas celebrações previstas para a data agravaria a polarização

O pior recado que os líderes políticos poderiam transmitir nas comemorações do 7 de Setembro previstas para amanhã será o acirramento da polarização que castiga o país. É compreensível que, em ano eleitoral, qualquer manifestação se torne foco de embate político. Mas todo choque de ideias deve se dar dentro das regras democráticas. E a data nacional não deve se prestar a oportunismos partidários. Ao contrário, trata-se de momento propício para recobrar o clima de normalidade no país. A paz institucional é condição necessária para o desenvolvimento do Brasil, e todos os atores políticos deveriam ter a maturidade de compreender isso.

No evento previsto para ocorrer no Eixo Monumental, em Brasília, estarão hasteadas as bandeiras dos países que integram o G20, referência ao encontro de chefes de Estado e governo das maiores economias no Rio em novembro. Instituições como Forças Armadas, SUS e Correios, serão homenageadas, com toda a justiça, pelo desempenho fundamental para reduzir os danos da tragédia ambiental no Rio Grande do Sul. Estão previstas também a presença de atletas que participaram dos Jogos Olímpicos em Paris e mensagens sobre a retomada da vacinação. Como costuma acontecer todos os anos, os ministros do Supremo Tribunal Federal (STF) foram convidados, além de autoridades do Legislativo e comandantes militares. O evento precisa se ater — como sugere a programação — ao aspecto institucional.

Fernando Abrucio -Antipolítica pode minar a democracia

Valor Econômico

É preciso combater os extremistas antissistema, mas também é fundamental melhorar a política democrática

Já houve época em que votar contra a classe política era uma forma de protesto bem-humorado. Foi assim em 1959, quando o rinoceronte Cacareco obteve quase 100 mil votos para vereador em São Paulo, ou com o Macaco Tião, que recebeu cerca de 400 mil votos na disputa para prefeito do Rio de Janeiro em 1988. Muitos outros tiveram sucesso no Legislativo bradando contra o sistema, como o deputado Tiririca e seu famoso lema: “Pior que tá não fica”. Ainda há excentricidades concorrendo por todo o Brasil em 2024, mas a antipolítica agora mudou de face: seu objetivo maior não é só ridicularizar as instituições democráticas. É destruí-las para instaurar alguma forma de autoritarismo.

A antipolítica ganhou força em boa parte do mundo nos últimos anos, geralmente presente em candidatos e partidos ligados a um extremismo de direita. E na maior parte desses casos, o discurso antissistema tem como propósito principal minar a democracia. Trata-se de uma mudança tanto na oferta das lideranças políticas, como também na demanda de parcela importante da população.

José de Souza Martins - Limitações da inteligência artificial

Valor Econômico

Ela não supre a carência criada pelos descartes de talentos que provoca

A principal limitação do debate sobre inteligência artificial é a praticamente nenhuma referência à superioridade e à necessidade da inteligência tradicional. O desencontro entre a expansão das funções da inteligência artificial e a lentidão de adaptação dos seus descartados à modernidade que ela representa responde por um doloroso processo de exclusão social, que é anticapitalista e inimigo da empresa.

A inteligência artificial nasce e prospera para suprir, e não para substituir a inteligência natural e tradicional, para completá-la e ampliar o domínio do que é inteligente sobre o que é espontâneo. Foi Gramsci, pensador italiano vítima do fascismo, quem sublinhou a importância do bom senso do homem comum na realidade social.

Andrea Jubé - Marçal encontra Dostoiévski: diálogos imaginários

Valor Econômico

Em mais um dia de céu cinza da fumaça de incêndios e ar insalubre, o candidato à Prefeitura de São Paulo, Pablo Marçal (PRTB) esbarrou com o escritor russo Fiódor Dostoiévski (1821-1881), autor de “O idiota”, em uma avenida importante da capital. A coluna recuperou trechos do diálogo imaginário.

- Ouvi falar de você, disse Dostoiévski, iniciando a conversa, como era de se esperar de um jornalista e escritor.

- Deve ser das redes sociais, sou “influencer” de alcance internacional, disse Marçal.

- Rede social? Desconheço. Minhas ferramentas de são papel, caneta-tinteiro e a alma humana. Uma vez, contratei uma estenógrafa, e me casei com ela, relembrou o russo.

- Papel?... Ora, temos algo em comum, sou “coach” e também desbravo a alma humana. Meus seguidores e apoiadores fazem quase tudo o que eu recomendar.

César Felício - Pesquisa indica que horário eleitoral fez diferença em SP

Valor Econômico

horário eleitoral gratuito ainda é um fator importante para a definição de voto em São Paulo. A pesquisa Datafolha de intenção de voto para prefeito divulgada nesta quinta-feira (5) resolve a dúvida que havia sobre a relevância dessa propaganda, mencionada na última coluna "Pergunte aos Dados" publicada no Valor. O prefeito de São Paulo, Ricardo Nunes (MDB), candidato à reeleição e proprietário de 65% do tempo de propaganda na TV, foi o que mais cresceu na pesquisa, passando de 19% para 22%. Pablo Marçal (PRTB), senhor absoluto das redes sociais e sem um segundo sequer no horário eleitoral, cresceu também, mas apenas um ponto percentual, indo de 21% para 22%. A variação é pequena para ambos, mas quando se olha a curva dos últimos levantamentos se nota uma mudança de tendência. É um panorama completamente diferente ao que havia até a semana passada, quando o influencer havia subido sete pontos na rodada anterior e Nunes caído.

Bruno Boghossian - Onda de Marçal ainda não virou tsunami

Folha de S. Paulo

Nova pesquisa indica que três candidatos têm base para manter o jogo aberto até o dia do 1º turno

A onda de Pablo Marçal (PRTB) na eleição da capital paulista se mostrou consistente e volumosa, mas não virou o tsunami projetado pela campanha do ex-coach. A nova pesquisa Datafolha indica que os três líderes da corrida têm uma base sólida o suficiente para manter o jogo aberto por mais algumas semanas.

A freada brusca de Marçal sugere que sua candidatura enfrenta um momento diferente da euforia do início da campanha. Alvo de quase todos os adversários, ele manteve um patamar que o consolida como nome competitivo e cercado de apoiadores convictos: 70% de seus eleitores dizem que não mudam de voto.

A artilharia que destacou o passado e as ligações do ex-coach, porém, parece ter contribuído para interromper sua trajetória de alta. Desde a última pesquisa, Marçal se tornou mais conhecido e viu sua rejeição subir de 34% para 38%. De cada dois eleitores que o conhecem, um diz que não vota nele de jeito nenhum.

Marcos Augusto Gonçalves - Com Marçal, eleição é uma roleta-russa

Folha de S. Paulo

Candidato do PRTB está mais próximo do millennial Nayb Bukele e também de Milei na visão empresarial e no individualismo selvagem

notícia da viagem ao exterior de Pablo Marçal, candidato a prefeito de São Paulo, é mais uma demonstração de que o autodenominado ex-coach não veio para brincadeiras. A ideia de buscar respaldo de marketing em encontros com líderes internacionais no campo do ultraliberalismo ou do populismo de extrema direita não é em si nenhuma novidade. Chama, contudo, a atenção o fato de o planejamento da turnê começar pelo presidente de El Salvador, Nayb Bukele.

Os paralelos entre os dois personagens, em que pese a diferença de estágio em que se encontram em suas carreiras, são reveladores. Embora Marçal possa ser inscrito no mesmo contexto político-ideológico de nomes como Donald Trump, Javier Milei, Bolsonaro e Orbán, há características e nuances que diferenciam essas figuras entre si.

Vinicius Torres Freire - Gasto federal em saúde é recorde

Folha de S. Paulo

Despesa está na mira de Fazenda e Planejamento, que vão tentar contenção fiscal duradoura em 2025

A despesa do governo federal com saúde jamais foi tão alta. Era provável que aumentasse sob Luiz Inácio Lula da Silva, pois, com o novo arcabouço fiscal, voltou a vinculação do gasto com saúde à receita; o governo de resto não diminuiria gastos ditos discricionários. Foi a 1,83% do PIB, nos últimos 12 meses. No início de Lula 3, era de 1,37% do PIB. Na média de 2009 a 2019, de 1,47% do PIB.

Em dinheiro, foi um aumento de quase R$ 60 bilhões desde o início deste governo, para R$ 209 bilhões, excluídos gastos com salários e aposentadorias de servidores (valores corrigidos pela inflação). É mais do que se destina ao Bolsa Família, que levou R$ 171 bilhões nos últimos 12 meses. Nos grandes agregados da despesa federal, o gasto com saúde fica atrás de Previdência (INSS), que leva 8,35% do PIB, e de Pessoal (salários, benefícios, aposentadorias), com 3,48%. A receita total do governo foi de 18,17% do PIB nos últimos 12 meses. A despesa, de 20,21%.

Vera Magalhães - Bolsonaro vai à Paulista esvaziado

O Globo

Ex-presidente não conseguiu unir a direita em São Paulo, vê seu candidato levar uma surra no Rio e não tem chance em sua cruzada contra o Judiciário

Jair Bolsonaro convocou mais um ato de 7 de Setembro na expectativa de reforçar sua liderança política e de novo confrontar o Supremo Tribunal Federal (STF), mas chega à data com o palanque cindido em São Paulo, com seu principal candidato, Alexandre Ramagem, levando uma surra no Rio de Janeiro e com a possibilidade de reverter sua situação de inelegibilidade bastante reduzida no próprio STF e também no Congresso.

Dificilmente o ex-presidente conseguirá repetir na Avenida Paulista o quórum de outros feriados. Mesmo a decisão do ministro Alexandre de Moraes de proibir o X no Brasil, usada para reunir a tropa, tem alcance limitado às franjas mais sectárias de uma base que parece já olhar para o lado e enxergar outras lideranças para o lugar do capitão. E, pior para ele, essas caras não são necessariamente aquelas que o ex-Mito decidiu ungir.

Bernardo Mello Franco - Jogo bruto na Câmara

O Globo

Arthur Lira puxou o tapete do aliado mais próximo. O chefão da Câmara havia prometido apoiar Elmar Nascimento em sua sucessão. Na terça-feira, rifou o amigo e fechou com Hugo Motta.

A traição muda a ordem de largada na corrida pela presidência da Câmara. Sem o padrinho poderoso, Nascimento perdeu a primeira posição. Motta, que nem figurava no grid, agora desponta na pole.

Como faltam cinco meses para a eleição, ainda há tempo para novas surpresas. Mas a reviravolta desta semana já permite algumas conclusões: o Centrão não é tão unido quanto gostaria; a palavra de Lira está longe de valer o que ele diz; esquerda e direita significam cada vez menos no jogo bruto da Câmara.

Flávia Oliveira - Cidadezinha qualquer

O Globo

Faz poucos dias, o IBGE apresentou ao país as projeções atualizadas da população. Território inteiro, grandes regiões, todas as 27 unidades da Federação, 100% dos 5.570 municípios. São números importantes para diagnósticos socioeconômicos, formulação de políticas públicas, repartição de recurso orçamentários. O Brasil é um país profundamente assimétrico, capaz de comportar, na maior cidade, São Paulo, 11,9 milhões de habitantes; e na menor, Serra da Saudade (MG), 854. Cada uma delas elegerá prefeito e vereadores em um mês.

Um em cada cinco brasileiros vive em metrópoles com mais de 1 milhão de habitantes. São 15 municípios nessa faixa, 13 deles capitais. No Rio, aglomeram-se 6,7 milhões. Quase um terço da população total de 212,6 milhões, segundo o IBGE, mora em 48 localidades com mais de 500 mil habitantes. São cidades médias, para onde famílias inteiras costumam migrar em busca de vida mais tranquila, sem a hostilidade comum aos centros urbanos.

Paulo Feldmann - Limites às gigantes da tecnologia

O Globo

As empresas precisam respeitar as regras e legislações dos países onde estão localizadas

O ministro da Fazenda, Fernando Haddad, tem insistido que é necessário taxar as empresas gigantes da tecnologia, as big techs. As principais delas — como MicrosoftGoogle, X, Amazon, AlibabaFacebook/WhatsAppApple — têm valor de mercado hoje próximo a US$ 10 trilhões, muito maior que o PIB de toda a América Latina. Haddad acerta em querer taxá-las, mas seu objetivo é apenas aumentar a arrecadação — isso, segundo ele, representaria R$ 5 bilhões adicionais aos cofres públicos. Trata-se de medida tímida diante da ameaça que elas representam à economia e, principalmente, à democracia. A reação arrogante e desrespeitosa de Elon Musk, dono do X, à decisão do STF (querendo apenas que a legislação brasileira fosse cumprida) e, portanto, a nosso país é bem típica do que está para acontecer com as big techs.

Eliane Cantanhêde - Regulamentação já!

O Estado de S. Paulo

Internet mudou o mundo, para o bem e o mal, e está por trás de jogatina, golpes, crimes e manipulação

A prisão da “influencer” Deolane Bezerra joga luzes sobre as apostas esportivas, ou bets, seus bilhões, aviões, iates e carrões. Quando você puxa o fio, vem um novelo, ficando claro o poder avassalador da internet no mundo, para o bem e para o mal, sob o risco de ficar acima de constituições, leis e instituições, até assumir o controle de estados nacionais e sociedades. Assim como a ministra Marina Silva teme o fim do Pantanal até 2050, pode-se imaginar a destruição do Estado pelo poder paralelo da internet lá adiante?

Organizações criminosas e pessoas inescrupulosas usam intensamente a internet para atrair pessoas fragilizadas para jogos em que acabam se viciando e jogando fora o que têm e o que não têm. Também usam algorítimos para capturar vítimas potenciais de golpes bancários e financeiros e se embolam com esquemas políticos e organizações ideológicas para transformar “outsiders” em candidatos, manipular o eleitor com Fake News, fraudar eleições e, em última instância, articular atentados à democracia.

Flávio Tavares - Nossa independência no abismo?

O Estado de S. Paulo

Dos desvios idiomáticos aos problemas enfrentados nas contas públicas, o Brasil corre o risco de perder sua independência

O mês de agosto terminou há pouco, mas dele fica aquela rima que virou repetido refrão: “Agosto, mês do desgosto”. E há pretextos (ou até motivos) para isso: agosto foi o mês da bomba atômica sobre Hiroshima e Nagasaki, em 1945. Nove anos depois, aqui, no Brasil, o assassinato do major Rubens Vaz desencadeou uma crise política profunda que culminou, em 24 de agosto de 1954, com o suicídio do presidente Getúlio Vargas. Em 22 de agosto de 1976, vivíamos ainda sob ditadura quando o ex-presidente Juscelino Kubitschek morreu num acidente automobilístico na Via Dutra, nunca esclarecido e que, por isso, até hoje levanta suspeitas.

Mas agosto já passou, agora estamos em setembro e, amanhã, dia 7, festejamos 202 anos da proclamação da Independência do Brasil. É o “Dia da Pátria”, rememorando o histórico “grito do Ipiranga”, atualmente comemorado com desfiles militares e outras demonstrações de que somos independentes.

Vivemos hoje, no entanto, uma invasão estrangeira que pode transformar o estilo de vida e, especialmente, o idioma e as diferentes formas de comunicação. Se isso se consumar, perderemos nossa “independência”.

O poeta Fernando Pessoa já escrevia que “minha pátria é a Língua Portuguesa”, atualmente invadida pelo idioma inglês, tal qual no século 19 fora, em parte, invadida pelo francês. Camões, poeta maior de nossa língua, tem um soneto sobre o idioma português que vai às origens da língua derivada do latim vulgar: “Última flor do Lácio, inculta e bela / és a um tempo esplendor e sepultura / ouro nativo que na ganga impura / a bruta mina entre os cascalhos vela”.

Celso Ming - Pouso suave à vista?

O Estado de S. Paulo

A redução dos juros e o fim do temor de recessão da economia dos Estados Unidos podem melhorar o ambiente da economia global

Até mesmo o desempenho da economia brasileira será fortemente influenciado pela ação do Federal Reserve (Fed, o banco central americano), que dia 18 deverá dar início ao processo de queda dos juros básicos, como já prometeu seu presidente, Jerome Powell.

Esses juros estão em seu nível máximo (de 5,25% a 5,50% ao ano) desde julho de 2023. Mas Powell não passou nenhuma dica sobre a dosagem do primeiro corte e de quanto tempo levará esse movimento. E nem podia chegar a tais pormenores. Vão depender de regulagem mais fina em que serão levados em conta a intensidade da inflação, o vigor da atividade e as condições do mercado de trabalho. Há projeções e palpites de toda ordem, alguns por corte mais alentado agora, da ordem de meio ponto porcentual e outros, de que não passará de um quarto de ponto.

Luiz Carlos Azedo - Mineradoras querem distância do garimpo

Correio Braziliense

A Corte de Justiça britânica, os tribunais europeus e dos Estados Unidos estão se considerando competentes para julgar desastres ecológicos em terceiros países

O CB Debate desta quinta-feira (05/09) traz como tema Segurança Jurídica e a Competitividade da Mineração Brasileira. Raul Jungmann, diretor-presidente do Instituto Brasileiro de Mineração (IBRAM), participou do painel Desafios Tributários e Regulatórios que Ameaçam a Competitividade da Mineração Brasileira. - (crédito: Ed Alves/CB/D.A Press)

"Nós não temos absolutamente nada a ver com o garimpo ilegal e somos radicais nesse sentido. Garimpo ilegal é caso de polícia, é caso de cadeia, quero frisar isso com muita clareza", disse o ex-ministro Raul Jugmann, diretor presidente do Instituto Brasileiro de Mineração (Ibram), durante o seminário Segurança Jurídica e Competitividade da Mineração Brasileira, promovido pelo Correio Braziliense, ontem, em parceria com a entidade.

O presidente do Correio Braziliense, Guilherme Machado, ressaltou a importância do evento para discutir o futuro do setor minerador no Brasil: "Só no primeiro semestre (deste ano), o setor de mineração representou 41% dos dados da balança comercial brasileira com faturamento de mais de R$ 120 bilhões", apontou.

Poesia | Soneto do amor total - Vinicius de Moraes

 

Música | Eduardo Gudin com Luciana Alves - Ainda Mai