terça-feira, 27 de agosto de 2024

O que a mídia pensa | Editoriais / Opiniões

É preciso ser mais firme na repressão às queimadas

O Globo

Seca severa favorece disseminação de focos de incêndio, mas a maioria deles tem origem criminosa

A seca severa e a baixa umidade têm favorecido a profusão de focos de incêndio que espalham fumaça por quase todo o país, causando transtornos que vão muito além do problema ambiental. Ficaram evidentes nos últimos dias as implicações na saúde e na infraestrutura, com aumento de atendimentos por doenças respiratórias, interdição de estradas e suspensão de voos. O Instituto Nacional de Meteorologia (Inmet) relacionou 70 cidades onde, até a penúltima semana de agosto, não havia caído uma gota de chuva sequer em mais de cem dias.

Dados do Instituto Nacional de Pesquisas Espaciais mostram que, de janeiro até o último dia 24 de agosto, haviam sido detectados quase 105 mil focos de incêndio em todo o país, marca superada apenas pela de 2010, quando foram registrados perto de 119 mil focos entre janeiro e agosto. A quantidade de incêndios neste ano já é 75% maior do que em 2023. Apenas no Estado de São Paulo, as 3.175 ocorrências de agosto representam um recorde desde 1998, quando começou a medição.

Merval Pereira - O enigma Marçal

O Globo

Apequenar a atividade parlamentar abre portas a aventureiros, que já marcam sua presença no Congresso

A solução mais óbvia para tratar a candidatura de Pablo Marçal com a letra da lei é cancelá-la, pois ele claramente é um político à margem do sistema eleitoral regulamentar. Existe essa possibilidade real e, se o Tribunal Superior Eleitoral (TSE) decidir nesse sentido, responderá a uma reivindicação justa, pois o candidato tem muitas dívidas com a Justiça. Mas, se é justamente por ser antissistema que ele tem tido bom desempenho nas pesquisas eleitorais, seria uma decisão sábia retirá-lo da contenda?

Será preciso avaliar com ponderação para ver até que ponto a democracia estará preservada por uma decisão do TSE. Do ponto de vista prático, seria uma solução, já que ele se aproveita do debate democrático para subverter a eleição, base do sistema representativo de democracia que escolhemos adotar. Não respeita as regras do jogo, por isso se torna tão atraente a um nicho eleitoral que continua querendo o sangue do sistema político tradicional, assim como faz desde 2018, quando elegeu Bolsonaro, que deu vida a Marçal e perdeu o controle da situação.

Pedro Doria - Não se cala Marçal

O Globo

Seus seguidores criaram perfis próprios, em nome do candidato, para distribuir seu conteúdo

Pablo Marçal nos deu uma aula, neste fim de semana, pela qual deveríamos ser gratos. A Justiça Eleitoral de São Paulo concedeu uma liminar pedindo a suspensão temporária de seus perfis no Instagram, no X, no TikTok, no YouTube, no Discord, além de seu site oficial. O candidato à Prefeitura paulistana entrou, imediatamente, em modo de ação. Criou novos perfis em todas as redes, que já acumulavam milhões de seguidores no domingo. Esses novos perfis estão livres para uso. Não bastasse isso, seus seguidores criaram perfis próprios, em nome do candidato, para distribuir seu conteúdo.

Mas esse movimento de Marçal estava autorizado pelas decisões do tribunal. Ele foi denunciado por pagar para que acompanhem suas lives, as entrevistas que faz, os debates de que participa e para que produzam cortes, vídeos curtos, às vezes com truques de edição, outras não, que tenham a capacidade de viralizar. Esses vídeos não precisam ser publicados nos perfis de Marçal. Em geral, nem são. Mas é um concurso: alguns são selecionados para o perfil oficial, e os escolhidos são premiados com um pagamento. Os outros, não. Na avaliação do TRE houve, nessa ação, abuso de poder econômico, e isso a lei não permite.

Maria Cristina Fernandes - O cálculo político do combate a Marçal

Valor Econômico

Tabata nada tem a perder, Boulos quer estender a permanência de Marçal na disputa para colar Nunes no bolsonarismo e o prefeito joga com a força dos padrinhos nos tribunais

Ao capitanear o combate a Pablo Marçal, no front jurídico e nos debates, a candidata do PSB à Prefeitura de São Paulo, Tabata Amaral, se mostra destemidamente conhecida e alveja a imagem de jovem sem pulso firme para administrar a maior cidade do país. Seus dois principais adversários, Ricardo Nunes e Guilherme Boulos, lhe terceirizam o “jogo sujo” por cálculo político.

A ideia de que cabe à política enfrentar Marçal, colhida na campanha de Nunes, vale tanto quanto uma nota de 30. Debates são instrumentos dos quais a política se vale para expor os candidatos ao contraditório e Nunes e Boulos vão faltar a quase todos.

O prefeito está focado no horário eleitoral gratuito, espaço que é 65% dominado por sua candidatura. O vice-presidente Geraldo Alckmin tinha metade do HPEG de 2018, o que não o impediu de perder para o ex-presidente Jair Bolsonaro, que tinha 20 segundos.

A aposta de aliados de Nunes, na verdade, é a da mobilização das cúpulas do governo de São Paulo, do PSD e do PL para mover os tribunais contra Marçal. Se já o fizeram uma vez para tirar o rei da audiência analógica, Silvio Santos, da disputa vencida por Fernando Collor, em 1989, podem fazer mais uma vez contra o dono do vale tudo da audiência digital que disputa a prefeitura pelo PRTB.

Pedro Cafardo - O caótico trânsito de São Paulo clama por reforma

Valor Econômico

Não é recomendável esquecer que milhões de paulistanos usam transportes individuais

A campanha eleitoral avança nos municípios e, com perdão dos leitores não paulistanos, é preciso falar sobre “triviais” problemas pouco abordados pelos candidatos a prefeito de São Paulo. Claro que eles devem apresentar seus projetos principalmente para áreas essenciais, como educação, habitação, saúde e segurança.

Existe, porém, uma área quase abandonada na megacidade: o caótico sistema de trânsito de veículos. Com razão, as últimas administrações cuidaram preferencialmente, pelo menos no discurso, do transporte coletivo, dos corredores de ônibus, por exemplo, que também chegaram pouco às periferias. Um bom marqueteiro eleitoral, porém, diria que não é recomendável esquecer que milhões de paulistanos usam transportes individuais, sejam próprios, sejam uberizados, em razão da deficiência dos públicos.

Míriam Leitão - Brasil em chamas por ação do crime

O Globo

O presidente do Ibama revela que os criminosos na Amazônia estão queimando a floresta em pé para fugir de autuação por desmatamento

Não é a primeira vez que o fogo se alastra por vários biomas e cobre o Brasil de fumaça, atingindo o meio ambiente, a saúde humana, a economia. Houve uma mudança no crime na Amazônia. Antes, o criminoso desmatava e depois punha fogo no que sobrava. “As pessoas agora estão queimando a floresta em pé para evitar autuação por desmatamento”, me disse o presidente do Ibama, Rodrigo Agostinho. “Estão colocando fogo na floresta e depois colocando gado lá dentro.” Em São Paulo, a história é outra, mas é sempre o crime. “A gente não identificou nenhum caso de raio, curto-circuito, torre de energia que caiu ou carro que pegou fogo e os focos começaram ao mesmo tempo”, afirma o presidente do Ibama.

Christopher Garman - Governo dá sinalização construtiva

Valor Econômico

Polarização tem repercussões perigosas para a política econômica: polui a capacidade do governo de ler “sinais” do setor privado e aumenta a ânsia de evitar a vitória dos adversários

Ainda há muitas dúvidas e críticas sobre a direção da política econômica do governo do presidente Luiz Inácio Lula da Silva. Mas os últimos dois meses trouxeram sinalizações construtivas.

Depois de uma escalada de incertezas sobre a condução da política fiscal e monetária (em grande medida exacerbada por falas do próprio presidente) que fez o dólar disparar de R$ 5,15 para mais de R$ 5,60 entre maio e o início de julho, o governo começou a tentar arrefecer a crise de confiança do mercado.

Primeiro, anunciou, no dia 4 de julho, um corte de R$ 26 bilhões em gastos permanentes. Em seguida, contingenciou outros R$ 15 bilhões para cumprir a meta fiscal deste ano. Agora, sinaliza que pode anunciar uma nova rodada de contingenciamento em setembro para atingir essa meta.

Eliane Cantanhêde - Relações em chamas

O Estado de S. Paulo

Não é só o País que está torrando, as relações do Congresso com STF e Planalto também

O presidente da Câmara, Arthur Lira, já nem disfarça mais sua guerra contra não apenas o Judiciário, que deflagrou o debate sobre mudanças nas emendas parlamentares, mas também contra o Executivo, o principal interessado nessas mudanças – aliás, com boas razões. Além de pôr em pauta propostas contra a autonomia do Supremo, ele agora é suspeito de tentar sabotar a agenda econômica do governo.

Num golpe duplo nesta segunda-feira, Lira suspendeu as sessões presenciais na Câmara, em plena semana de esforço concentrado, e o deputado bolsonarista Luiz Philippe de Orleans e Bragança apresentava na CCJ seu parecer favorável à proposta que confere autopoderes ao Congresso para derrubar decisões do Supremo.

Carlos Andreazza - Bolsonaro contra Bolsonaro

O Estado de S. Paulo

Essa turma vai com Marçal. E não se sente traindo o mito

Houve um tempo, pré2018, em que Geraldo Alckmin era percebido – e votado – como candidato de direita no Brasil. Até José Serra fora. E então veio Jair Bolsonaro.

Incluído no cardápio, estabeleceu novos parâmetros para a representação eleitoral direitista. Ampliado o cardápio, o eleitorado que se reconhecia-descobria como conservador empurrou todo mundo para a esquerda. Alckmin é vice-presidente de Lula.

Chegamos à eleição municipal paulistana. Sob a dinâmica de reposicionamentos-exigências imposta a partir da encarnação da direita em Bolsonaro, votar em Ricardo Nunes seria o mesmo que votar em Alckmin em 2018.

Jorge J. Okubaro - Rompendo um ciclo

O Estado de S. Paulo

Por seus resultados, o Bolsa Família tem sido merecidamente apresentado ao mundo como exemplo de programa de combate à pobreza e de inclusão social

Membros de famílias vulneráveis beneficiadas por programas de transferência de renda têm conseguido ascender socialmente. O movimento é lento, insuficiente para reduzir de maneira notável as tremendas desigualdades do País. Mas é duradouro. Jovens de famílias em situação de pobreza que sobrevivem graças sobretudo a políticas públicas de renda conseguem alcançar nível de vida melhor que o de seus pais e dispensam a ajuda desses programas. Num período de 15 anos, praticamente dois terços das crianças de famílias beneficiadas por programas sociais deixaram de depender deles.

Rubens Barbosa - O Brasil e a Rota da Seda

O Estado de S. Paulo

A Rota da Seda sul-americana, levando em conta os interesses brasileiros, poderia representar um passo relevante para uma política de integração física que beneficie todos os países da região

Em agosto, Brasil e China celebraram 50 anos do restabelecimento de relações diplomáticas e, em novembro, o presidente chinês, Xi Jinping, virá ao Brasil para uma visita bilateral e também para participar da reunião do G-20.

Na década de 1990, durante a gestão de Fernando Henrique Cardoso à frente do Itamaraty, a China propôs e foi aceita pelo Brasil uma parceria estratégica que deveria beneficiar ambos os países. Os últimos 25 anos mostraram resultados bastante favoráveis a ambos os lados em termos de segurança alimentar (37% das exportações brasileiras de produtos agrícolas são absorvidas pelo mercado chinês) e energia (com investimentos chineses no Brasil). Deve ser mencionado, contudo, que, do lado brasileiro, ainda falta uma visão estratégica mais pragmática, sobretudo na atração de investimentos produtivos.

Luiz Carlos Azedo - O Brasil no admirável mundo dos BRICS

Correio Braziliense

Uma grande mudança geopolítica está por trás da crise da Venezuela, que rompeu com o Ocidente. Essa não pode ser a nossa, defendemos a democracia e nossos interesses

O economista Paulo Gala, professor da economia da EESP/FGV, é um dos maiores especialistas em política industrial e comércio exterior do Brasil. Muito ativo nas redes sociais, vem chamando a atenção do grande público para a importância dos BRICS (Brasil, Rússia, Índia, China e África do Sul), em particular, para o Brasil. Estabelecido em 2006, o grupo pesa cada vez mais nas relações internacionais, com destaque para a China e a Índia.

Segunda maior economia do mundo, depois dos Estados Unidos, a China se estabeleceu como um líder global em inovação e tecnologia, com empresas como a Huawei, Tencent e Alibaba, que atuam em setores como telecomunicações, comércio eletrônico e inteligência artificial. E passou por um grande avanço na infraestrutura, com a construção de sua rede de ferrovias de alta velocidade e projetos ambiciosos de logística, como a iniciativa do Cinturão Econômico da Rota da Seda.

Joel Pinheiro da Fonseca - Como não barrar Pablo Marçal

Folha de S. Paulo

Candidato do PRTB tem que ser derrotado nas urnas, não parado na Justiça

Pablo Marçal já foi condenado por integrar uma quadrilha de roubo a bancos. Fala-se em vínculos dele e de seu partido com o PCC. Hoje é um coach bem-sucedido na venda de motivação. Fez fama e fortuna enganando desesperados. Tem até sessões de cura milagrosa.

Entregar a prefeitura de uma das maiores cidades do mundo a uma figura tão espúria é uma burrada colossal. É natural que muitos queiram impedir sua vitória. Não há maneira pior de fazer isso, no entanto, do que barrar sua candidatura na Justiça.

Houve quem celebrasse a suspensão de seus perfis nas redes. Foi uma comemoração precipitada. A medida não alcança nem mesmo o objetivo alegado, que é interromper um esquema de remunerar usuários por publicarem vídeos do candidato. Além disso, a suspensão caiu como uma luva para sua narrativa de perseguido. Só se falou de Marçal no fim de semana. Até os bolsonaristas que o criticavam tiveram que dar uma trégua. Seus novos perfis já contam com milhões de seguidores. Ou seja, a sanção não só não interrompe o suposto ilícito como ainda ajudou o candidato.

Dora Kramer - Foice no escuro

Folha de S. Paulo

São Paulo merece mais que escolhas pautadas na subversão a regras de civilidade

É de se lembrar aos que porventura se entusiasmem pelo personagem encarnado na figura de Pablo Marçal (PRTB) na disputa pela Prefeitura de São Paulo: em 1959, a cidade "elegeu" para vereador, com 100 mil votos, Cacareco, rinoceronte fêmea residente no zoológico.

A rebeldia daquele eleitorado de 65 anos atrás não provocou efeito prático algum. Apenas marcou a entrada do episódio na história dos protestos contra os políticos tradicionais.

Hélio Schwartsman - Dilemas de juiz

Folha de S. Paulo

Candidatura de Pablo Marçal oferece amplo cardápio de irregularidades para eventual ação da Justiça Eleitoral

É difícil a vida dos juízes eleitorais. Não faltam irregularidades na candidatura de Pablo Marçal (PRTB) à prefeitura paulistana. Elas começam antes mesmo da convenção partidária que lhe deu legenda.

Há uma disputa em torno do controle do PRTB. Alas do partido contestam a legitimidade do atual presidente da sigla e, por conseguinte, de suas decisões, o que poderia ter impacto sobre a candidatura de Marçal. O caso está no TSE.

Alvaro Costa e Silva - O telecatch da direita

Folha de S. Paulo

Marçal e Bolsonaro encenam um telecatch com dedos nos olhos e tesouras voadoras de mentirinha

"Mas entretanto eu errei no golpe/ Você no golpe também tinha errado/ Você julgando que eu desse moleza/ Atrás de moleza também tenho andado", diz a letra do samba-choro "Dois Bicudos". Os autores, Cartola e Aluísio Dias, contam a história de dois golpistas, que antes trocavam carícias e agora não se beijam. A situação lembra a de Jair Bolsonaro e Pablo Marçal nas eleições de São Paulo.

Poesia | Soneto de Fidelidade, de Vinicius De Moraes

 

Música | Roda Viva - Chico Buarque