segunda-feira, 17 de junho de 2024

O que a mídia pensa | Editoriais / Opiniões

Terceirização pode melhorar gestão escolar em SP

O Globo

Iniciativa do governo paulista não significa ‘privatização’ do ensino e aumentará eficiência administrativa

É acertada a decisão do governo de São Paulo de licitar a prestação de serviços para 33 novas escolas de ensino médio e fundamental II. O sindicato de professores tachou a medida como “privatização” das escolas. Mas evidentemente se trata de um equívoco, já que as atividades de ensino continuarão a cargo do Estado. As empresas privadas apenas construirão as instalações, cuidarão da manutenção e conservação, sem nenhum contato com a área pedagógica das novas unidades.

Os prestadores de serviços assinarão contratos de concessão com duração de 25 anos, período em que certamente os gastos com as escolas serão mais eficientes. A administração privada dessas 33 unidades poderá ter custo mais baixo e obter resultados melhores que nas escolas sob gestão exclusiva da Secretaria de Educação. Outra vantagem é que a concessão, que passa para o setor privado tarefas como limpeza, vigilância, portaria, alimentação ou jardinagem, servirá de parâmetro para o governo avaliar a relação de custo e benefício dos mesmos gastos que realiza nas demais escolas. São apenas 33 estabelecimentos, num estado que tem mais de 5 mil.

Fernando Gabeira - A longa crise brasileira

O Globo

Forças que conduziram a redemocratização não fizeram um exame profundo dos seus erros

Para além das questões cotidianas, de vez em quando me pergunto onde estamos e para onde vamos. E aproveito grande parte do tempo livre para ler sobre o assunto. No momento, leio Peter Turchin, que escreveu um livro chamado “Fim dos tempos: elites, contraelites e o caminho da desintegração política”.

Ufa, só o título já consome parte da energia do leitor. Ele trabalha com uma equipe investigando inúmeros exemplos de História universal, dinastias chinesas, França medieval, tudo isso com o objetivo de explicar a polarização americana e a emergência de Donald Trump.

Turchin e sua equipe usam fórmulas matemáticas, poderosos computadores, mas suas conclusões não impressionam muito meu precário conhecimento empírico. A tese é que o empobrecimento popular é motivo da queda de governos quando está ligado a uma superprodução de elites, estas no sentido econômico, político, cultural, enfim nas suas várias formas. O encontro da insatisfação popular com a frustração de parte da elite que não consegue ascender é a centelha que acende a fogueira.

Miguel de Almeida - O Irã fundamentalista é aqui

O Globo

No espelho, sem maquiagem e com as olheiras matinais, estamos muito mal na foto

Com um pouco de exagero, o conservadorismo brasileiro pode ser equiparado ao fundamentalismo iraniano. Há um tradicional entusiasmo pátrio com as belezas naturais e a simpatia tropical da população. Mas isso soa apenas cosmético. No espelho, sem maquiagem e com as olheiras matinais, estamos muito mal na foto.

Em outra mão, o conservadorismo se reflete nos índices de violência. Os comunicados da ONU, dada nossa diminuta relevância mundial, pouco se referem às chacinas habituais ocorridas nas cidades brasileiras ou no campo e só citam por vezes o trágico extermínio dos povos originários. Reflexo do descaso planetário provocado pela reconhecimento de que o Brasil é de fato um lugar estranho. Haja vista que a extrema direita agora deseja tirar a praia dos pobres. Vai-se o fio dental, e ganha-se um pastor.

Ricardo Henriques - Políticas baseadas em evidências

O Globo

Decisões baseadas apenas na intuição ou em ideologias são perigosas pelo alto risco de ineficácia e por prováveis consequências negativas

O que queremos dizer quando falamos em tomada de decisão baseada em evidências? Com frequência, nada, ou quase nada. O argumento de que políticas públicas precisam ser baseadas nelas é quase consensual, mas torna-se complexo quando questionamos o que cada um entende por evidências, como identificamos as mais robustas e adequadas, ou de que forma devem ser incorporadas nas ações governamentais. E há também o desafio, ainda maior em sociedades democráticas e plurais, de convencer políticos e a população — que possuem visões de mundo distintas e, não raro, opostas — de que determinado caminho é o melhor e mais viável.

Ana Maria Diniz - O futuro possível requer coragem

Valor Econômico

Para o mundo melhorar, temos de evitar que as pessoas sejam seduzidas pelo discurso catastrofista

Há momentos em que é muito importante relembrar a História. Acredito que estamos em um desses momentos. O pessimismo é a grande realidade instalada a nível global. O desânimo e o desalento imperam, e a maioria das pessoas acha que a humanidade está sem rumo. Muitos, inclusive, já jogaram a toalha. Alguns, de tão desiludidos, anseiam pelo fim do mundo. Entre os grupos etários, a juventude é o mais afetado. Uma pesquisa com 10 mil jovens de 10 países publicada no “The Lancet” há um ano e meio revelou que 75% deles achavam o futuro assustador; 56%, que a humanidade estava condenada. Por essa razão, 48% afirmaram que não teriam filhos. O que podemos esperar do futuro se os mais novos, responsáveis por construí-lo, estão totalmente sem esperança? No limite, este pensamento fatalista pode representar um retrocesso civilizatório, ou mesmo o fim dos nossos tempos.

Bruno Carazza - Instituições não bastam se líderes as desrespeitam

Valor Econômico

Roberto Campos Neto coloca em risco a credibilidade do Banco Central ao pensar no seu futuro político

O desenvolvimento econômico e social de uma nação depende das suas instituições. Essa é a principal lição de uma corrente de pensamento econômico que teve suas origens na heterodoxia no início do século XX, com as críticas de Thornstein Veblen ao capitalismo, mas que foi incorporada ao mainstream após os trabalhos de nobéis como Ronald Coase, Douglass North, Elinor Olstrom e Oliver Williamson.

Em comum, institucionalistas de ambas as vertentes acreditam que as “regras do jogo” aprimoram as interações humanas e o funcionamento dos mercados. Baixos custos de transação, previsibilidade econômica e segurança jurídica estimulam o investimento e a produção. Abusos econômicos devem ser combatidos, enquanto a concentração de poder precisa ser contida com instâncias decisórias independentes, transparentes e técnicas.

Alex Ribeiro - Mercado tem que aprender a viver com o BC autônomo

Valor Econômico

É bom que o Copom tenha votos dissidentes e opiniões contrárias, desde que consistentes com o objetivo de cumprir as metas de inflação

Ninguém sabe ao certo qual será a decisão e o placar da reunião desta semana do Comitê de Política Monetária (Copom) do Banco Central, mas falas recentes de seus membros indicam que deve ser algo unânime e conservador.

Isso pode, pelo menos, atenuar o problema mais imediato de falta de confiança sobre o comprometimento com as metas de inflação do Banco Central a partir de janeiro. Mas, no médio e longo prazos, a busca a todo custo do consenso faz mais mal do que bem. O mercado precisa se acostumar com a autonomia do BC.

Entrevista | Renato Casagrande (PSB): ‘Lula precisa de pragmatismo para governar’

Mariana Carneiro / O Estado de S. Paulo

Para governador do ES, agenda de esquerda não serve ao presidente neste momento

“Lula não precisa de uma agenda de esquerda. O presidente tem que ir conduzindo no dia a dia, focando na agenda econômica e nas necessidades do governo”

Governador do Espírito Santo pela terceira vez, Renato Casagrande (PSB) defende que os políticos de esquerda devem buscar o ajuste fiscal como forma de obter “resultados efetivos” na administração pública.

O tema é espinhoso para partidos como o dele e para o PT do presidente Luiz Inácio Lula da Silva, hoje às voltas com cobranças para entregar um maior equilíbrio nas contas do governo.

Em entrevista ao Estadão,o governador, diz que Lula deve apostar no ajuste como forma de reconquistar aliados que já estiveram no lado dele contra adversários à direita. 

A seguir, os principais trechos:

Diogo Schelp - Prioridades e retrocessos

O Estado de S. Paulo

Política econômica periclitante e retirada de direitos ganham espaço na agenda pública

As prioridades do governo Lula e da oposição empurram o país para retrocessos na economia e nos costumes. É tentador atribuir isso à polarização política, que tem servido como explicação para quase todos os dissabores nacionais.

Na verdade, os tais retrocessos encontram espaço na agenda pública mais pela omissão dos campos políticos opostos do que propriamente pelo confronto. São fruto do fato de que cada lado escolheu um campo de batalha diferente para concentrar seus esforços. A resistência que encontram na linha de frente adversária acaba sendo pequena.

Denis Lerrer Rosenfield - Convívio com a maldade

O Estado de S. Paulo

Anos depois, lendo o jornal, Gabriel terminou por descobrir a identidade de seu potencial ‘sogro’. Era nada mais nada menos do que o comandante dos campos de Treblinka e Sobibor

O pai gostava de contar histórias para sua filha antes de dormir. Se fosse o caso, cantava canções de ninar: uma pessoa normal, plena de dedicação. Tudo aparentemente de acordo com a convivência familiar, como se esse cotidiano fosse a regra, não admitindo nenhuma exceção. No entanto, seu trabalho de policial já tinha sofrido uma grande alteração, tanto em termos financeiros como de prestígio. A partir do momento em que os uniformes pretos da SS passaram a frequentar a sua casa, sua vida já era totalmente outra.

Ascendeu na carreira, exibia uma eficiência acima do comum no genocídio de judeus, homossexuais e ciganos, tendo também se destacado no assassinato de deficientes mentais. Tornou-se, por seus feitos, comandante dos campos de extermínio de Treblinka e Sobibor. Seu nome era Franz Stangl. Mais propriamente poderia ser denominado de especialista no culto da morte e em sua organização em uma máquina de extermínio. No entanto, continuava a ser um pai carinhoso. Nele conviviam a aparente doçura do pai e o monstro, dedicado, em outro sentido, à maldade.

Marcus André Melo - Coalizões e a economia

Folha de S. Paulo

Governos de coalizão geram problemas fiscais e de ingovernabilidade?

Há certa confusão conceitual no debate sobre as consequências de nossos governos de coalizão para a economia e a governabilidade. Entre os cientistas políticos, a ênfase é posta na relação Executivo-Legislativo e a governabilidade. A questão de interesse é a capacidade do Executivo em aprovar sua agenda. Para os economistas, é a de promover o crescimento.

Crises canônicas de governabilidade envolvem presidentes impondo unilateralmente suas agendas a um Legislativo recalcitrante, e deflagrando crises institucionais e intervenções militares.

Lygia Maria - Congresso abjeto

Folha de S. Paulo

Em vez de resolver gargalos no acesso ao aborto legal, Legislativo usa a vida de meninas e mulheres estupradas para barganha política

"Fui estuprada, estou grávida, mas vou esperar alguns meses para fazer um aborto". Para os parlamentares brasileiros é assim que uma mulher que engravidou por violência sexual pensa. Só isso explica a crueldade do projeto de lei que pune o aborto após 22 semanas de gestação como homicídio —mesmo nos casos autorizados, como estupro.

Mas outro fator esclarece melhor o disparate. O presidente da Câmara e aliados resolveram usar a vida de meninas e mulheres como moeda de troca contra o governo, que, por sua vez, lavou as mãos. A insensatez, portanto, ganha ares abjetos.

Ana Cristina Rosa - Como o diabo gosta

Folha de S. Paulo

PL 1904 é demonstração explícita do perigo que é misturar política e fundamentalismo religioso

Um retrocesso civilizatório, uma violência contra as mulheres e uma demonstração explícita do perigo que é misturar política com fundamentalismo religioso.

O projeto de lei de que restringe e criminaliza o aborto legal em casos de estupro é isso tudo e muito mais. Sintetiza o desprezo de uma sociedade machista, racista e patriarcal que desrespeita o feminino.

Estuprar é "constranger alguém, mediante violência ou grave ameaça, a ter conjunção carnal ou a praticar ou permitir que com ele se pratique outro ato libidinoso" (Código Penal). Sendo assim, toda pessoa está suscetível à violência sexual. Mas só as mulheres sofrem a dor de uma gravidez indesejada resultante de um crime.

Sylvia Colombo – Bananeiras e a América Latina

Folha de S. Paulo

United Fruit Company criou conceito de que países da região são 'repúblicas das bananas'

Houve um tempo em que a United Fruit Company decidia quem morria e quem vivia nas duras vidas que seus trabalhadores enfrentavam nas plantações de frutas na América Latina. Horários de trabalho desregulados, jornadas extenuantes, condições insalubres. Um tempo em que juízes e políticos eram comprados para defender os interesses da empresa em vários países.

A UFC punha e tirava caudilhos do comando dos países cujos mercados queria dominar. Quando havia revoltas de trabalhadores, a empresa intervinha ao lado dos governos para que suas forças de segurança contivessem, muitas vezes com violência, os protestos por melhores salários e condições de vida.

Poesia | O Amor antigo, de Carlos Drummond de Andrade

 

Música | Live Solidária RS - Zeca Pagodinho e Xande de Pilares - Zeca tá de Carro e Fuzuê