sexta-feira, 23 de agosto de 2024

O que a mídia pensa | Editoriais / Opiniões

Ingerência política é nociva para fundos das estatais

O Globo

Ao cobiçar dinheiro para PAC, Lula repete erro que provocou desperdício e corrupção noutras gestões petistas

O presidente Luiz Inácio Lula da Silva repete um erro de seus primeiros governos ao pleitear mudanças na política de investimentos dos fundos de pensão das estatais para que possam alavancar projetos do Programa de Aceleração do Crescimento (PAC). Se concretizada, a permissão será um equívoco, como era no tempo das obras em que o dinheiro dos cotistas escoou pelo ralo e escândalos de corrupção eram frequentes. O propósito dos fundos de pensão é garantir as aposentadorias e pensões de seus associados. Com as mudanças, passariam a ser regidos por interesses políticos, em detrimento desse objetivo.

Lula se reuniu com representantes dos fundos de Banco do Brasil (Previ), Petrobras (Petros), Caixa Econômica (Funcef) e Correios (Postalis). Sobre a mesa, uma proposta de resolução da Superintendência Nacional da Previdência Complementar (Previc), órgão regulador do setor. O texto prevê a inclusão de novas possibilidades de investimento, entre elas títulos de dívida (debêntures) de infraestrutura. Pela regra atual, os fundos estão proibidos de aplicar em imóveis e têm até dezembro de 2030 para se desfazer daqueles ainda presentes nas suas carteiras.

Fernando Luiz Abrucio - O desafio da reconstrução institucional

Valor Econômico

É necessário haver um novo equilíbrio de Poderes que vá além do Congresso Nacional

Entre 1993 e 2013, o sistema político brasileiro foi capaz de implementar as melhores ideias da Constituição de 1988 e reformá-la para alcançar um equilíbrio inédito entre democracia, estabilidade econômica e inclusão social. Depois dessa onda positiva, veio a avalanche de quase dez anos de deterioração institucional, aumento da polarização destrutiva e perda da qualidade de várias políticas públicas. O Brasil ainda não saiu por completo dessa crise, e a reconstrução das relações entre os Poderes é um fator essencial para gerar padrões decisórios capazes de colocar o país num novo rumo de desenvolvimento.

O presidencialismo de coalizão construído depois do impeachment de Collor certamente não era perfeito. Muitas crises ocorreram em sua trajetória, com CPIs estridentes e reveladoras, montagem de maiorias parlamentares por vezes a partir de meios ilícitos e, ao final do período, um grande movimento nas ruas pediu maior responsividade do sistema político em relação à sociedade. Inegavelmente havia problemas, só que reformas estavam sendo feitas constantemente (mesmo que fossem incompletas para parte da população) e as políticas públicas eram aperfeiçoadas incrementalmente, com melhoria dos principais indicadores da vida dos cidadãos brasileiros, especialmente os que viviam em situação mais vulnerável.

Andrea Jubé - A política está cheia de som e fúria, e vazia de sentido

Valor Econômico

Exemplos são a acirrada campanha pela Prefeitura de São Paulo e a nova crise institucional em Brasília

Esses dois substantivos aparecem em um dos trechos mais famosos da tragédia “Macbeth”, de William Shakespeare, publicada no século XVII; formam o título de uma das obras-primas de William Faulkner no século XX; e, agora, dão o tom da política nacional.

“A vida é uma história contada por um tolo, cheia de som e fúria, que nada quer dizer”, constata um amargurado rei Macbeth, ao ser informado da morte de Lady Macbeth. Mas se o atormentado monarca se deparasse, de repente, com a nossa realidade, poderia afirmar: “A política brasileira é cheia de som e fúria, que nada quer dizer”.

E por que as tragédias de Shakespeare (“Macbeth”) e Faulkner (“O som e a fúria”) dialogam com o cenário brasileiro em plena campanha municipal, tumultuada pela suspensão do pagamento das emendas parlamentares? (Lembre-se que as emendas são um instrumento estratégico de deputados e senadores na relação com os prefeitos).

César Felício - Qual é o teto de Pablo Marçal?

Valor Econômico

Ascensão de ‘coach’ alimenta cenário de pós-bolsonarismo

Quando e onde Pablo Marçal (PRTB) irá parar? Essa é a pergunta única na eleição para prefeito de São Paulo, reforçada pela pesquisa Datafolha desta quinta-feira e já antevista pelo levantamento AtlasIntel de quarta-feira. Para ficar nos dados do Datafolha, Marçal tinha 7% em maio, foi para 10% em junho, 14% em julho e 21% agora. O deputado federal Guilherme Boulos (Psol) está numericamente à frente, com 23%, mas patina: em maio tinha 24%. Marçal claramente tira votos de prefeito Ricardo Nunes (MDB), que desceu de 23% para 19%, e esse mês também de José Luiz Datena (PSDB), que foi de 14% para 10%.

Não há muito segredo sobre o crescimento. Marçal se destacou nos dois primeiros debates entre os candidatos por agressões contra seus rivais sem apresentação de evidências para sustentar suas "acusações". Caracterizou Boulos como consumidor de cocaína, Tabata Amaral (PSB) como "para-choque de comunista" e o prefeito como político tacanho e rendido ao sistema político. Buscou seduzir a direita simulando uma proximidade com o ex-presidente Jair Bolsonaro de que não dispõe. Simultaneamente inundou as redes sociais com os "cortes" dos debates e estimulou seus seguidores a viralizarem suas publicações. De acordo com notícia divulgada pelo jornal "Folha de S.Paulo", há indícios de que em troca de vantagens financeiras.

Luiz Carlos Azedo - Marçal atropela Nunes, mas Boulos mantém liderança

Correio Braziliense

Ele marcou 21%, no mesmo patamar do deputado Guilherme Boulos (PSOL), que oscilou de 22% para 23%, e do prefeito Ricardo Nunes (MDB), que foi de 23% para 19%

O influenciador Pablo Marçal (PRTB) cresceu sete pontos em duas semanas e está empatado na liderança da disputa pela Prefeitura de São Paulo, segundo o Datafolha. Ele marcou 21%, no mesmo patamar do deputado Guilherme Boulos (PSOL), que oscilou de 22% para 23%, e do prefeito Ricardo Nunes (MDB), que foi de 23% para 19%.

O resultado surpreendeu os aliados de Nunes, principalmente o governador Tarcísio de Freitas (PR) e seu secretário de Governo e Relações Institucionais, Gilberto Kassab, presidente do PSD, que são os principais aliados do prefeito da capital paulista. A expectativa na campanha de Nunes é reverter a situação com a propaganda de rádio e televisão, quando Nunes contará com grande número de inserções no horário nobre das emissoras abertas, nas quais espera neutralizar a vantagem estratégica de Marçal nas redes sociais.

Vera Magalhães - Eleição de SP vira teste de fórmulas

O Globo

Campanhas de adversários de Pablo Marçal passaram a operar sem aparelhos, revendo estratégias minuto a minuto

Pablo Marçal continua embaralhando o jogo e distribuindo as cartas na disputa pela Prefeitura de São Paulo. Recentemente, escrevi neste espaço a respeito da chegada “pé na porta” do ex-coach à campanha paulistana e de como, a despeito da recorrência dos candidatos antipolítica em sucessivas eleições, a aparição causou perplexidade nos adversários. Não deu outra: menos de dez dias depois, o candidato do PRTB ascendeu à liderança na pesquisa Datafolha, em tríplice empate com Guilherme Boulos (PSOL) e Ricardo Nunes (MDB). E agora?

Bernardo Mello Franco - Embolada paulistana

O Globo

Ao ordenar ataque a Marçal, Bolsonaro tenta manter controle da extrema direita

Até outro dia, Ricardo Nunes acreditou que a reeleição cairia em seu colo. O prefeito de São Paulo imaginava estar diante de um roteiro tranquilo. Sem rivais à direita, seria impulsionado pelo peso da máquina e pela rejeição a Guilherme Boulos, visto como radical pelo conservadorismo paulistano. Neste cenário, Nunes herdaria os votos bolsonaristas sem muito esforço. Nem precisaria fazer arminha com os dedos.

Eliane Cantanhêde - Pablo Marçal, o ‘russo’

O Estado de S. Paulo

Marçal bagunça o coreto da eleição e da própria direita em São Paulo

Estrategistas do pós-Bolsonaro já têm um cronograma político prontinho para São Paulo. Pablo Marçal vai definhar naturalmente, Ricardo Nunes e Guilherme Boulos irão para o segundo turno, Nunes será reeleito e o caminho estará livre para o “grande salto”: a metamorfose do governador Tarcísio de Freitas para “tucano”. Tudo muito bom, tudo muito bem, mas falta combinar com os “russos” – e com as pesquisas.

A primeira fase desse cronograma, ou estratégia, já sofreu um solavanco com Marçal disparando para o segundo lugar no Datafolha, empatado tecnicamente com Boulos, em primeiro, e com Nunes, que deslizou para o terceiro. Logo, a eleição paulistana se transforma em todos contra Marçal, alvo direto de bolsonaristas, petistas e do centro, todos aturdidos.

Hélio Schwartsman - Remendos políticos

Folha de S. Paulo

Emendas parlamentares perderam função de arregimentar maioria para o governo e hoje têm mais efeitos negativos que positivos

Nunca gostei das emendas parlamentares ao Orçamento. Mesmo quando não há corrupção envolvida, elas levam a uma atomização das verbas disponíveis para investimentos que reduz sua eficácia potencial.

Elas também introduzem uma distorção no jogo democrático, à medida em que dão a quem já é parlamentar uma vantagem eleitoral muito grande em relação a eventuais desafiantes. Por mim, essas emendas não existiriam.

Pesquisa que está sendo feita por Hélio Tollini e Marcos Mendes mostra que, na maior parte dos países da OCDE (53%), parlamentares não detêm o poder de emendar o Orçamento. E, pelo que se sabe, essas nações são razoavelmente funcionais.

Erminia Maricato - A democracia no Brasil e as eleições municipais

Folha de S. Paulo

Novo futuro passa pela organização local, cooperativa, solidária e popular

Vivemos num mundo em profunda mudança. Há um aumento da desigualdade e da concentração de riqueza em grande parte do globo acompanhado da hegemonia do capital financeiro improdutivo. Os ataques à democracia, ao Estado de bem-estar social, às políticas públicas, à ciência, aos direitos trabalhistas e aos direitos humanos se somam a uma revolução nas comunicações que afeta a subjetividade, fortalece o individualismo e dissemina a desinformação. Como se isso não bastasse, o aquecimento do planeta nos coloca diante de uma crise ambiental sem precedentes.

Bruno Boghossian - A guerra só está começando

Folha de S. Paulo

Ex-coach começou a roubar eleitores do atual prefeitos dentro do bolsonarismo

guerra pelo voto da direita na eleição paulistana tem tudo para se tornar mais agressiva com a nova pesquisa do Datafolha. Os números indicam que Pablo Marçal não apenas ocupou espaços que poderiam dificultar o crescimento de Ricardo Nunes. O ex-coach conseguiu também roubar eleitores do atual prefeito.

O bolsonarismo é a força nada oculta desse conflito que deve determinar quem ficará com uma das vagas no segundo turno. Em duas semanas, o apoio a Nunes despencou entre eleitores que declaram ter votado em Jair Bolsonaro em 2022, de 38% para 30%. Marçal ganhou 15 pontos nesse grupo e chegou a 44%.

Marcos Augusto Gonçalves - Trollagem bolsonarista de Marçal dá grande resultado

Folha de S. Paulo

Candidato sobe em pesquisa com estratégia agressiva e extravagante que atrai bolsonarismo raiz

Não olhe para cima: o candidato Pablo Marçal (PRTB) disparou e está tecnicamente empatado com Guilherme Boulos (PSOL) e Ricardo Nunes (MDB) nas intenções de voto para a prefeitura da cidade de São Paulo, de acordo com a mais recente pesquisa Datafolha. Ele chegou a 21%, no mesmo patamar do deputado do PSOL, que oscilou de 22% para 23%, e do prefeito, que foi de 23% para 19%. Numericamente, porém, deixou Nunes para trás.

O autodenominado ex-coach é um exemplo do que há de mais repulsivo no contágio da política pela bizarrice do populismo de extrema direita. Marçal é um padre Kelmon mais perigoso, uma trollagem bolsonarista que tem, por isso mesmo, atraído o apoio do rebanho do "capitão" –como ele se refere ao ex-presidente.

Bráulio Borges - Quanto o Brasil pode crescer?

Folha de S. Paulo

Atualmente, uma expansão muito acima de 2% traria risco de pressão inflacionária

No começo de setembro o IBGE divulgará os números do segundo trimestre do PIB brasileiro. As estimativas mais recentes indicam que o desempenho da economia foi forte no período, a despeito do choque negativo associado à tragédia no Rio Grande do Sul em maio. Com isso, já se fala em crescimento do PIB neste ano de 2024 na faixa de 2,5% a 3,0%, muito próximo dos 2,9% observados em 2023.

Vale notar que as projeções de consenso para a alta do PIB brasileiro no começo deste ano estavam em torno de 1,5%. Eu mesmo tinha uma visão de que a atividade perderia bastante fôlego, em função de uma perspectiva de queda relevante da renda agropecuária (com transbordamentos para diversos setores da economia) e do colapso da demanda argentina (a economia dos "hermanos" deverá recuar uns 5% em 2024).

Esses dois choques negativos de fato estão se materializando, mas, ainda assim, a economia brasileira vem surpreendendo positivamente. Parte disso pode ser creditada à injeção expressiva de recursos, de R$ 92 bilhões, ocorrida nas últimas semanas de 2023, associada ao pagamento de precatórios atrasados. Isso não estava "na conta" dos analistas até o começo de dezembro (após decisão do STF sobre o tema).

Entrevista | Belluzzo: ‘Galípolo sabe que não vai escrever um livro no BC’

Anais Fernandes e Victor Rezende / Valor Econômico

Para Luiz Gonzaga Belluzzo, autoridade monetária poderia ser mais ativa no câmbio

Nome mais cotado para ser anunciado como o novo presidente do Banco Central (BC) nos próximos dias, Gabriel Galípolo, atual diretor de política monetária do órgão, é uma pessoa de “muitas dimensões” e “muitas qualidades”, afirma Luiz Gonzaga Belluzzo.

Professor titular do Instituto de Economia da Universidade Estadual de Campinas (Unicamp) e fundador da Faculdades de Campinas (Facamp), Belluzzo é amigo de Galípolo, com quem já escreveu diversos livros. “Ele sabe perfeitamente que não vai escrever um livro no BC”, afirma o professor.

Na avaliação de Belluzzo, Galípolo fez bem em ir a público recentemente e dizer que o BC não descartava uma alta de juros. “Ele sabe que as convicções e as palavras funcionam para orientar os mercados”, diz. “Uma coisa é ser um economista que está fora do governo, outra coisa é estar no governo.”

Ao Valor, no entanto, Belluzzo, que também foi secretário de Política Econômica do Ministério da Fazenda (1985-1987), diz não ser a hora de subir a Selic. “Nem ele [Galípolo] disse que era o momento; ele disse que poderia, que isso não estava descartado.”

Conhecido torcedor do Palmeiras - foi presidente do clube entre 2009 e 2011 -, Belluzzo compara o governo Lula 3 a um time que quer atacar, no sentido de realizar investimentos, e enfrenta outro time “retranqueiro”, notadamente o mercado financeiro e seu recorrente discurso sobre o risco fiscal. “Se você tiver unha encravada, eles vão falar para tomar cuidado com o fiscal”, diz Belluzzo.

Para ele, os movimentos do câmbio, inclusive a recente desvalorização do real ante o dólar, têm mais relação com fatores externos e com a configuração do sistema monetário financeiro internacional, e o BC poderia adotar uma postura mais ativa. 

Leia a seguir os principais trechos da entrevista:

Alvaro Gribel - Galípolo cai em armadilha com falas em excesso

O Estado de S. Paulo

Principal cotado para a presidência do Banco Central faz cinco declarações em público nos últimos dias, apesar de o BC ter dito na última ata que não haveria indicação sobre seus próximos passos

O diretor de Política Monetária, Gabriel Galípoloprincipal cotado para a indicação da presidência do Banco Central, caiu em uma armadilha criada por ele próprio nos últimos dias. Ao mesmo tempo em que o BC afirmou na ata do último dia 6 que não haveria compromisso com “estratégias futuras”, Galípolo marcou nada menos que cinco falas em público desde então. Somente nesta quinta-feira, foram dois eventos abertos ao público.

Se a estratégia do BC era não se comprometer com o que vai fazer na reunião de setembro, ou abandonar o que os economistas chamam de “guidance” (indicação futura), o excesso de declarações por si só já seria um problema.

Mas, para completar o quadro, as declarações desta quinta-feira foram contraditórias. Houve citação a canções, comentários sobre memes e explicações sobre falas passadas. Tudo o que um banqueiro central não deve fazer, que é abrir espaço para interpretações, para corrigir a si próprio, o que no final do dia significa aumento das incertezas. Isso imediatamente se transforma em risco mais alto, com impacto sobre o dólar e a curva de juros.

Ricardo José de Azevedo Marinho - Por um financiamento sustentável para o ensino superior

Para além da questão de como resolver a questão do contingenciamento orçamentário, que permanece desconfortavelmente em aberto, a questão subjacente do financiamento do ensino superior (ES) permanecerá presente na agenda estratégica do país. Com efeito, trata-se de descobrir como podemos garantir – com uma perspectiva futura – um financiamento sustentável para a nossa vida universitária.

Atualmente, a taxa bruta de participação brasileira no ensino superior é uma das mais altas do mundo. Nossos percentuais estão colados a média da praticada pelos países da OCDE. Ou seja, o acesso à vida universitária tornou-se acessível, gerando reações entre aqueles que preferem concebê-lo tão somente como capital que pode produzir retorno ao mercado de trabalho. Tanto fontes estatais como não-estatais contribuem para este enorme esforço.

Poesia | Envelhecer, de Albert Camus - Por Ivan Lima

 

Música | Maria Bethânia - Camisa listada ( Assis Valente)