quarta-feira, 14 de agosto de 2024

O que a mídia pensa | Editoriais / Opiniões

Freio na omissão

Correio Braziliense

A jovem democracia brasileira pede uma participação maior da população no processo eleitoral, afastando o velho e ignorante pensamento de que, "como ninguém presta, não vou votar"

Na próxima sexta-feira, se inicia mais uma campanha eleitoral no Brasil. Desta vez, cidadãos e cidadãs se preparam para escolher seus representantes nas câmaras municipais e nas prefeituras. Como tem sido tendência nos últimos pleitos, o cenário indica mais uma concorrência voltada à polarização entre os candidatos, novamente com a pauta de costumes ganhando contornos de peso, ainda que apurações municipais tendam, historicamente, a serem mais recortadas para políticas públicas, como transporte público, saúde e educação. O que, no entanto, precisa ser prioridade para a classe política e para as autoridades é frear a crescente onda da abstenção. 

A jovem democracia brasileira pede uma participação maior da população no processo eleitoral, afastando o velho e ignorante pensamento de que, "como ninguém presta, não vou votar". Essas posições de negação da política levam o Brasil a um cenário no qual eleitos pouco têm a ver com o perfil da população do ponto de vista demográfico.

Vera Magalhães - O fator que não deveria ser surpresa

O Globo

Perplexidade e inação de adversários diante das técnicas do ex-coach mostram que não aprenderam nada com os candidatos antipolítica

Entra eleição, sai eleição, e o sistema político e a imprensa ainda se surpreendem com a aparição de outsiders e suas estratégias cada vez mais ousadas de captar a atenção e, se possível, o voto da audiência.

Depois que nomes como Donald Trump, Jair Bolsonaro e Javier Milei foram eleitos presidentes com discursos agressivos, ideias que excluem abertamente boa parte da população e defesa da afronta a instituições e regras republicanas, não deveria causar espécie que subprodutos fossem surgir nas eleições subsequentes, como já proliferam nos legislativos, por sinal.

Pablo Marçal estreou na disputa pela Prefeitura de São Paulo metendo o pé na porta no debate da Band. Trajando um boné que já vai se tornando sua marca nas redes — assim como o gesto da letra M com os dedos, que já virou emoji —, o coach foi para cima de adversários sem nenhuma evidência ou prova, não ficou corado ao ser exposto em total desconhecimento de questões concretas da cidade e mentiu sobre seu histórico vasto de processos judiciais. Nada de novo: Bolsonaro já havia gabaritado todos esses itens em 2018.

Bernardo Mello Franco - Dez anos sem Campos

O Globo

Há dez anos, um acidente aéreo chocou o país e mudou o rumo da corrida presidencial. Na noite de 12 de agosto de 2014, Eduardo Campos se apresentou aos eleitores em entrevista ao Jornal Nacional. Na manhã seguinte, estava morto. O jatinho que o transportava caiu em Santos, onde ele cumpriria agenda de campanha.

O funeral reuniu a República e arrastou uma multidão pelas ruas do Recife. Marina Silva, que era sua vice, assumiu a cabeça de chapa e disparou nas pesquisas. Desidratou na reta final e acabou fora do segundo turno.

O candidato do PSB era apontado como o político mais habilidoso de sua geração. Aos 49 anos, já havia sido ministro e governador duas vezes. Lula tentou convencê-lo a adiar o sonho presidencial e apoiar Dilma Rousseff em troca de uma aliança no futuro. Campos conhecia o PT e não era bobo. Preferiu apostar em si mesmo.

Luiz Carlos Azedo - Semana difícil para o governo no Senado

Correio Braziliense

A desoneração da folha de pagamento é uma batalha perdida para o governo, que enviou projeto de lei para compensar a perda de arrecadação, depois da derrubada dos vetos

O presidente do Senado, Rodrigo Pacheco (PSD-MG), pretende votar ainda nesta semana os projetos da desoneração da folha de pagamento de empresas de diversos setores da economia, da dívida dos estados e a Proposta de Emenda à Constituição (PEC) 66/2023, que prevê o parcelamento especial de débitos dos municípios.

A desoneração da folha de pagamento é uma batalha perdida para o governo, que enviou o Projeto de Lei 1.847/2024 depois da derrubada dos vetos à desoneração do presidente Luiz Inácio Lula da Silva pelo Congresso. Segundo Pacheco, ainda há divergências com o governo. A Lei 14.784, de 2023, prorrogou a desoneração por quatro anos, mas deve ser substituída pelo projeto a ser votado ainda nesta quarta-feira.

Existe concordância do governo de que não deve alterar impostos, principalmente a contribuição social sobre o lucro líquido. Busca-se um acordo para compensação da desoneração da folha de pagamento com medidas que não representem aumento de imposto. Entre essas propostas, estão a repatriação de recursos no exterior, a regularização e a atualização de valor de ativos. “Eu acho que nós conseguimos virar a página da questão da desoneração esta semana”, disse Pacheco.

Fernando Exman - Entra no radar revisão da estimativa para o PIB

Valor Econômico

Governo estima que a economia vai crescer em 2024 mais do que os 2,5% previstos

O governo está convencido de que a economia vai crescer em 2024 mais do que os 2,5% previstos até agora.

É mais do que a mediana do mercado captada pelo Boletim Focus do Banco Central (BC), de 2,20%, embora muitas casas também já estejam revendo para cima suas projeções. Mas enquanto esse movimento vai se cristalizando, internamente a discussão já ocorre em pelo menos três camadas no Palácio do Planalto e na Esplanada dos Ministérios.

A primeira delas, técnica, vinha sendo conduzida de forma discreta. Ganhou corpo após a reunião ministerial conduzida pelo presidente Luiz Inácio Lula da Silva na semana passada. E o próprio ministro da Fazenda, Fernando Haddad, falou sobre o assunto em público na segunda-feira (12).

Lu Aiko Otta - Conformidade reforça receitas em R$ 22 bilhões

Valor Econômico

Apesar das críticas nas redes sociais, a visão no Ministério da Fazenda é que ainda há espaço para mais receitas

Neste ano, a Receita Federal arrecadou R$ 22 bilhões apenas cobrando de quem, a seu ver, não estava pagando o que deveria. De tudo o que a equipe do ministro da Fazenda, Fernando Haddad, tem feito para elevar as receitas, essa tem sido a frente mais bem-sucedida, disse um de seus integrantes: a busca da conformidade.

As redes sociais estão repletas de memes que retratam o governo como um taxador voraz. A ponto de os atletas olímpicos terem sido agraciados com isenção tributária sobre seus prêmios, um dia depois de a Receita emitir nota explicando que essas premiações devem pagar impostos, como “qualquer outra remuneração de qualquer outro (a) profissional.”

A despeito disso, a visão no Ministério da Fazenda é que ainda há espaço para mais receitas. Daqui para o fim do mês, deverão ser anunciadas mais medidas para um reforço de cerca de R$ 20 bilhões em 2025.

Zeina Latif - Menos marola, por favor

O Globo

A estabilidade macroeconômica é ingrediente essencial para a ampliação da capacidade produtiva

A indústria de transformação mostra alguma reação. Registrou crescimento de 2,7% no primeiro semestre em relação ao mesmo período de 2023. Não é pouco quando se leva em conta o desempenho nos últimos anos. Mais do que isso, para além do seu peso no PIB, é o setor com mais impactos indiretos nos demais setores, conforme dados do IBGE, o que aumenta a importância desse resultado.

Será esse um sinal promissor ou mais um voo de galinha?

A compreensão do quadro desafiador do setor demanda a análise do histórico recente, com destaque para dois períodos principais.

Nilson Teixeira - Falta clareza nos comunicados do Copom

Valor Econômico

A incerteza gerada nos últimos documentos do Copom reforça a necessidade de aumentar sua clareza e assertividade

Um dos exemplos das alterações promovidas pelas duas gestões mais recentes do Banco Central (BC) para tornar sua comunicação mais tempestiva e transparente vem do comunicado do Copom, que passou a discutir sua avaliação e a explicar as decisões tomadas logo após o término da sua reunião. Apesar do excelente avanço, o documento ainda é dúbio, em parte devido à possível percepção de que um eventual erro de avaliação do Copom pode comprometer a credibilidade do BC.

Elio Gaspari - 50 anos com a China

O Globo

Amanhã completam-se 50 anos do restabelecimento de relações diplomáticas com a China. Em meio século, ela foi de anátema à condição de maior parceiro comercial do Brasil. Se as negociações avançarem, o presidente Xi Jinping descerá em Brasília ainda neste ano. (Ele já esteve em Pindorama, em 1996, aos 43 anos, no Ceará.)

Lula restabeleceu as relações cordiais com a China, açoitadas durante o governo de Jair Bolsonaro. Ele acusava a China de ter criado o vírus da Covid-19 e dizia que seu embaixador estava no Brasil para derrubá-lo. Chegou a pedir sua remoção, sem sucesso.

Pelo mundo afora, entender o Império do Meio exige algum esforço. A primeira lei racista e xenófoba dos Estados Unidos mirou nos imigrantes chineses que haviam construído a ferrovia transcontinental, no século XIX. Por cá, a imigração chinesa foi condenada por escravocratas como o Visconde de Sinimbu e por abolicionistas como André Rebouças.

Roberto DaMatta - Olimpíada

O Globo

Convocar todos os países abre a oportunidade de perceber o mundo como feito de unidades diferenciadas em poder e riqueza

Acompanhei como pesquisador interessado em rituais e dramatizações coletivas, e como correspondente da Rede Manchete de Televisão, a Olimpíada de 1984 em Los Angeles.

A experiência grandiosa de reunir quase todas as modalidades esportivas praticadas em todo o mundo num só espaço permite observar os estilos diferentes de prática e reação à vitória e à derrota de atletas de culturas e sociedades distintas. O antropólogo social francês Marcel Mauss chamou, em 1936, a atenção para o estudo dos usos do corpo em diferentes culturas. Reuniões olímpicas são ocasiões primorosas para o estudos das “técnicas de corpo” de épocas e origens diferentes.

As Olimpíadas lembram o carnaval na orgiástica universalidade e na ênfase na “carne”. Com a diferença óbvia de que, no carnaval, somos olímpicos no quimérico e na sensualidade, ao passo que os jogos esportivos são ordenados por padrões objetivos e normas claras de disputa. Mas ambas as festividades se equiparam no ideal de recriar o mundo como centro festivo — como campo fora das rotinas que atam os meios e os fins da vida prática, racional e progressista. Progressismo que registra recordes e, em certas modalidades, põe à prova os limites do corpo humano.

Nicolau da Rocha Cavalcanti - A grande ausência na política brasileira

O Estado de S. Paulo

Ao tratar cidadania e economia como realidades antagônicas, a política brasileira torna-se escandalosamente disfuncional

Temos no Brasil liberdade política e pluripartidarismo. No entanto, parece haver uma grave lacuna em nosso espectro político-partidário: não se encontra facilmente quem defenda a cidadania e, ao mesmo tempo, um ambiente saudável de negócios. Em toda eleição, o eleitor tem de fazer uma escolha um tanto absurda entre as duas coisas, como se elas fossem incompatíveis.

É constrangedor. Se considero, por exemplo, como um aspecto central do desenvolvimento civilizatório uma polícia que atue dentro da lei e esteja sob estrito controle do Estado – que não seja racista, que não se sinta autorizada a realizar chacinas, que não seja politizada, que atue profissionalmente –, terei de escolher candidatos que desprezam afrontosamente princípios básicos de política econômica e do ambiente de negócios.

Paulo Delgado - A energia dos vícios

O Estado de S. Paulo

Uma época copiadora, que se distancia cada vez mais das fontes das épocas criadoras e das gerações e ideias que não são mais levadas em conta

O cinismo dos costumes tira dos vícios a energia e está criando outro mundo. Muito do que anda por aí mostra uma debilidade do nosso tempo. Comodismos vocabulares procuram ajustar o confuso cenário de guerra, juros, desigualdades, tirania a uma compreensão automática das situações de conflito, medo e injustiça ao topo compreensível do lugar comum. Situação de língua em retrocesso que não toma mais consciência de si mesma e que usa a palavra como gíria. A linguagem alfabética nada mais sabe dos poderes que um dia teve. Alfabeto, esse velho beato, torturado pelo flagelo que é a inteligência artificial, perdeu a luta diante da prontidão de um mundo vazio, massificado, manipulado. Palavra e efeito sumiram da linguagem sem espaço para a compreensão dos signos do vocabulário, invertebrada, no exílio do espírito. Palavra sem paladar é floresta desfolhada, faísca de fósforo molhado. Vida encadernada não é modificada.

Marcelo Godoy - O crime organizado e as Guardas Civis

O Estado de S. Paulo

Não foi o rambo espantador de mendigo que prendeu Leo do Moinho, mas os promotores

Em 6 de agosto, o prefeito Ricardo Nunes se reuniu no Centro de Operações da PM, na Luz, com os promotores responsáveis pela operação que atacou o ecossistema criminoso do PCC na Cracolândia. Não longe dali, no centro, um guarda civil usava o bico de seu fuzil para acordar um morador de rua que dormia em uma calçada. O guarda disse que ali o mendigo não podia ficar. Este se levantou, pegou o cobertor e foi deitar a cem metros dali, em outra calçada. A cena foi testemunhada por um jornalista.

Hélio Schwartsman - Carta discrimina municípios pequenos

Folha de S. Paulo

Não existe razão teórica para privar de segundo turno habitantes de cidades com menos de 200 mil eleitores

Entre os muitos déficits democráticos consagrados pela Constituição brasileira está a regra de que apenas municípios com mais de 200 mil eleitores fazem um segundo turno na eleição para prefeito, caso nenhum dos candidatos obtenha mais de 50% dos sufrágios válidos na primeira votação.

O segundo turno pode ser descrito como um mecanismo que dá materialidade à rejeição. Na prática, ele permite aos eleitores vetar o postulante mais detestado —uma providência razoável num sistema que visa a conter radicalismos e promover o entendimento.

Bruno Boghossian - Os superpoderes de Moraes

Folha de S. Paulo

Tolerância com omissão da PGR e ocupação de espaço pelo ministro são duas partes da mesma história

A PGR tinha dado todos os sinais de sua letargia quando Alexandre de Moraes mandou engavetar um pedido de investigação contra Augusto Aras. Era agosto de 2021, e o ministro afirmou que faltavam indícios sobre o interesse do procurador-geral em dar guarida a Jair Bolsonaro para, entre outros crimes, tentar demolir o sistema eleitoral.

A tolerância com a omissão da PGR e a concentração de poderes no Supremo contam duas partes da mesma história. Moraes se acostumou com a presença de Aras como um objeto inanimado na paisagem institucional. Em vez de corrigir o vício, o ministro deu um jeitinho para ocupar aquele espaço.

Mariliz Pereira Jorge - Pablo Marçal é ameaça real

Folha de S. Paulo

Investigado pela PF, já foi condenado por desvios em contas bancárias

Depois de anos de Jair Bolsonaro e da estética chucro-cafona-agressiva que ele levou ao poder, parecia haver um cansaço desse modelo antissistema, mas o buraco pode ser mais fundo. Pablo Marçal confirma o que o pesquisador britânico Jamie Bartlett já falava antes da eleição de 2018 sobre como a internet favorece candidaturas de outsiders e de políticos de perfil autoritário.

Wilson Gomes - Maduro ou a democracia

Folha de S. Paulo

Quem apoia os absurdos arranjos da Venezuela não tem moral para gritar 'golpe' em seu país

Nos dias que correm, a democracia não é uma brincadeira. A ascensão da extrema direita pode até ser o fenômeno mais vistoso, mas faz tempo que a democracia não sofre um conjunto de ameaças tão consistentes e em tão grande escala. Novos movimentos sociais e partidos políticos intolerantes e radicais desafiam, tanto nas eleições quanto na percepção pública, praticamente todos os fundamentos da democracia moderna. E mostram que vieram para ficar, quer aceitemos essa realidade ou nos refugiemos na ilusão de que é tudo feio demais para ser verdade.

Em vários aspectos, as décadas de 2020 e 1920 têm mais em comum do que se imagina. São tempos confusos e inquietantes para a política e a democracia, marcados pelo avanço constante de posições radicais e populistas, que viam a democracia liberal como um estorvo. Na década de 1920, ainda não se sabia, mas o radicalismo antidemocrático não estava a passeio. Já na década de 2020, estamos usando justamente o que sabemos do século passado para tentar esconjurar a sua repetição, embora as reiteradas vitórias de extremistas e radicais possam indicar que esta é a nova normalidade da política.

Paul Krugman - Trump chama Harris de 'comunista' e isso mostra o quanto ele está preocupado

The New York Times / Folha de S. Paula

Já que nada mais parece estar funcionando, por que não chamá-la de comunista?

Donald Trump tem usado uma palavra feia para descrever a vice-presidente Kamala Harris. Não, não estou falando de chamá-la de "vadia" em particular, embora ele supostamente faça isso. Estou falando de "comunista", um insulto ecoado por alguns de seus aliados. Por exemplo, Elon Musk, em uma postagem no X, declarou "Kamala é literalmente uma comunista", demonstrando, entre outras coisas, que ele literalmente não sabe o significado de "literalmente".

Agora, Harris obviamente não é comunista. Então, por que Trump diz que ela é? Bem, a tática de acusar alguém de ser comunista, assim como a de usar questões raciais —que Trump também faz em relação a Harris— faz parte da tradição política americana. Por exemplo, no início de sua carreira política, Ronald Reagan participou da Operação Coffee Cup, um esforço para convencer os eleitores de que o seguro de saúde governamental, na forma do Medicare, destruiria a liberdade americana.

Poesia | Graziela Melo - Ato de pensar

Pensar,
pensar
pensar...

nas trevas
na luz,
no ar...

pensar
em andar
na terra
ou em voar!!!

Pensar
na amargura
ou na doçura
que a gente
não cansa
de procurar!

Música | Adriana Calcanhoto - Cariocas