terça-feira, 20 de agosto de 2024

O que a mídia pensa | Editoriais / Opiniões

Momento é favorável a Kamala

O Globo

Prestes a sagrar-se candidata, ela avança nas pesquisas — mas precisa ter cuidado com populismo econômico

O discurso da vice-presidente dos Estados UnidosKamala Harris, previsto para quinta-feira à noite será o ponto alto da Convenção Nacional Democrata iniciada ontem em Chicago. Não pelo que todos já sabem: ela aceitará ser a candidata do partido à Presidência contra Donald Trump. Isso é mera formalidade. Mas porque, desde que o presidente Joe Biden desistiu de concorrer à reeleição, Kamala injetou energia na campanha e tornou a disputa mais acirrada, minando o favoritismo de Trump. Para seus simpatizantes, o discurso alimentará esse entusiasmo. Para eleitores indecisos, o interesse é outro. A dúvida é qual é o programa de um eventual governo Harris — e como ela se distinguirá de Biden se vencer.

Daniela Chiaretti - A eleição mais importante das nossas vidas

Valor Econômico

Posições climáticas opõem Donald Trump e Kamala Harris e podem afetar o planeta

”A eleição dos Estados Unidos é tão importante para o destino do mundo que todos no planeta deveriam votar”, disse um ambientalista há oito anos em tom de piada e desespero. Em novembro de 2016 o republicano Donald Trump derrotaria a democrata Hillary Clinton e seguiu o script de quem se referia à mudança do clima como uma farsa - “a hoax, em suas palavras. O 45th presidente dos EUA saiu do Acordo de Paris, apoiou o setor de carvão, tornou irrelevante a poderosa agência ambiental americana, a EPA, tratou com desdém ONU, organismos multilaterais e negociações climáticas, e fez seguidores em outras partes tão ou mais irresponsáveis. Trump, à frente do país que é o maior emissor histórico de gases-estufa e hoje vem depois só da China, atrasou o mundo em um tema em que os seres vivos só têm perdas.

Maria Cristina Fernandes - Negociação de emendas se inicia com o Congresso acuado

Valor Econômico

Avalanche de inquéritos de parlamentares envolvidos em irregularidades na destinação dos recursos pesou na unanimidade do TSF em torno da decisão do ministro Flávio Dino

Um único ministro do Supremo Tribunal Federal recebeu, da Procuradoria-Geral da República, na semana passada, oito inquéritos de parlamentares envolvidos em irregularidades na destinação de recursos de emendas parlamentares. Ao ouvir o relato sobre o volume com o qual os inquéritos têm despencado nos gabinetes da Corte, um interlocutor empenhado em acomodar a situação para preservar os espaços do Congresso, jogou o chapéu na tarde de ontem: “A ‘emenda Pix’ acabou”.

A avalanche de inquéritos pesou na unanimidade do STF em torno da decisão do ministro Flávio Dino e inviabilizou a régua e a borracha com as quais o Congresso sonhava desenhar uma saída para o imbróglio das emendas parlamentares. Uma régua faria valer daqui pra frente a decisão e uma borracha apagaria o passado.

Nenhum dos dois artefatos estará à mesa do almoço com o qual o presidente do STF, Luís Roberto Barroso, receberá seus colegas, os representantes da Câmara, do Senado e do Executivo. Nem há como anular as dezenas de inquéritos que já correm no Supremo contra parlamentares, nem como suspender a auditoria da Controladoria-Geral da União que identificará os municípios campeões em “emendas Pix”, aquelas que não têm origem nem destino conhecidos.

Merval Pereira - Hora de negociar

O Globo

A questão das emendas parlamentares sempre foi um problema na relação do Executivo com o Legislativo. Em uma década, alterou-se completamente a balança de poder entre os dois

A unanimidade com que foi acatada pelo plenário do Supremo Tribunal Federal (STF) a decisão do ministro Flávio Dino de suspender as emendas parlamentares — até que sejam definidos parâmetros de transparência que permitam à sociedade saber para onde está indo o dinheiro e com que fim — demonstra que o abuso econômico prevalece nessas decisões do Congresso.

O mais grave, porém, é saber que a medida drástica foi tomada depois que parlamentares foram informalmente avisados em diversas ocasiões de que o Supremo era informado por vários setores de que a distribuição de emendas alimenta potenciais escândalos que logo se tornarão públicos, tamanho o volume dos desvios das verbas.

Os demais órgãos de fiscalização, como Tribunal de Contas da União, Advocacia-Geral da União ou Controladoria-Geral da União, também receberam relatos sobre frequentes distorções, especialmente agora, tempo de eleições municipais. Prefeitos e parlamentares são acusados de estar mancomunados em desvios de verbas para financiar campanhas eleitorais, apesar dos fundos partidários bilionários de que os partidos já dispõem.

Eliane Cantanhêde – Almoço da paz. Será?

O Estado de S. Paulo

Sob pressão do próprio STF, Moraes define prazo para o inquérito das fake news

O Supremo aprovou por unanimidade as medidas liminares do ministro Flávio Dino contra o descalabro das emendas impositivas do Congresso e vem respaldando a atuação do ministro Alexandre de Moraes, sob ataque por usar relatórios do TSE no inquérito sobre fake news do STF. Os apoios, porém, são acompanhados de cobranças. Uma delas é um acordo dos três Poderes sobre emendas. A outra é Moraes concluir o inquérito sobre notícias falsas, que não acaba nunca.

Pedro Doria - Alexandre de Moraes em xeque

O Globo

Elon Musk é um herói por ter dado, para a direita, uma rede em que ela pode ser livre

Alexandre de Moraes está pondo em risco sua vitória mais importante. Por mais que muitos desejem negar, no último sábado Elon Musk, o bilionário dono do X, o colocou em xeque. Ao fechar os escritórios da plataforma no Brasil, recusando-se a obedecer a ordens judiciais, Musk desafia Alexandre. Pede que o Supremo mande interromper o acesso à rede em todo o território nacional. Se e quando a Corte fizer isso, estará de fato censurando, para milhões de brasileiros, uma rede social inteira.

Não é assunto fácil de discutir. Nos polarizamos de uma forma tanto agressiva quanto infantilizada. As personagens da vida pública se tornaram vilões ou heróis, todos de forma caricata. Isso acontece faz mais de uma década com juízes em particular — Joaquim BarbosaSergio Moro, agora Alexandre. Perdemos a capacidade de enxergá-los como funcionários públicos que às vezes erram, às vezes acertam e cujo acerto uma hora não os impede de errar na outra. É preciso ser irredutivelmente a favor ou contra.

Carlos Andreazza - Potencial trágico

O Estado de S. Paulo

O problema que os diálogos expõem: o poder de polícia do tribunal manipulado

O problema nunca foi o poder de polícia do TSE. Sempre a compreensão-uso absolutista desse poder – um órgão do tribunal acessando até informações da polícia de São Paulo.

O problema que os diálogos entre Xandão do STF e Xandão do TSE expõem: o poder de polícia do tribunal manipulado, feito fachada, para produzir e esquentar relatórios conforme a ordemintenção do verdadeiro delegado, também promotor e julgador.

Joel Pinheiro da Fonseca – O que está em jogo entre Musk e Moraes

Folha de S. Paulo

Showzinhos do empresário à parte, o questionamento ao Supremo é importante

No novo capítulo de sua briga com Alexandre de Moraes, Elon Musk demitiu toda a equipe do escritório brasileiro da rede X e declara que a rede não obedecerá às ordens de bloqueio de contas e envio de informações de usuários. Por enquanto, ela segue funcionando, mas se continuar desobedecendo e não pagar as multas, logo terá que ser fechada.

Mesmo quando erra, o Supremo erra por último. Nenhuma empresa, brasileira ou estrangeira, pode se dar ao luxo de desobedecer decisão judicial, não importa o quão injusta ela pareça. Em alguns casos de flagrante imoralidade, é admirável o ato de quem se recusa a obedecer à lei injusta e aceita as consequências de seu ato, mesmo que com grande custo pessoal. Qual o custo pessoal para Musk? Sua fortuna não será afetada e será ainda mais adulado pelo público de direita que ele adotou como sua plateia preferencial. Seus funcionários pagarão o preço com seus empregos, e os usuários brasileiros com o possível corte do serviço.

Alvaro Costa e Silva - O despropósito eleitoral

Folha de S. Paulo

Boulos é Lula; Nunes, encosto de Bolsonaro; Marçal sonha com a Presidência

Os alagamentos, a cracolândia, a mobilidade urbana —podem esquecer. Problemas reais de 12 milhões de habitantes parecem não existir para os candidatos a prefeito de São Paulo, cuja energia se concentra na troca de acusações e ofensas e na estratégia de viralizar vídeos com frases lacradoras e memes. Tanto se falou na nacionalização das eleições municipais que há um exemplo perfeito do fenômeno na maior cidade do país. Perde o debate de ideias e de soluções, perde o eleitor que se diverte com o circo.

Hélio Schwartsman - Aposta temerária

Folha de S. Paulo

Legalização do jogo é bem-vinda, mas Brasil foi rápido demais ao liberar publicidade de bets

Sempre defendi a legalização das drogas, mas não gostaria de ver o horário nobre da TV tomado por comerciais de cocaína. O dilema das autoridades quando regulam produtos potencialmente viciantes é encontrar um balanço razoável entre a liberdade individual e a saúde pública.

Lei Seca adotada nos EUA nos anos 1920 e 1930 do século passado e a chamada guerra às drogas ainda em vigor na maior parte do mundo nos ensinaram que a proibição não é a resposta. O veto ao consumo não resolve o problema do abuso e constitui uma limitação injustificável à agência humana. Afinal, é possível beber e usar drogas de forma não patológica.

Dora Kramer - Muro de arrimo

Folha de S. Paulo

Acuado pelo Congresso, Lula se escora em decisões do Supremo para atuar

Foi preciso uma decisão do Supremo Tribunal Federal para que, escorado nela, o presidente da República dissesse o que pensa do avanço do Congresso Nacional sobre o Orçamento da União. "Uma loucura" , assentou corretamente, pois é realmente despropositado o fato de as emendas parlamentares representarem quase 24% do bolo orçamentário.

Mas é também fora de esquadro a demora do Lula presidente em constatar o que o candidato do PT já havia externado na campanha, quando apontou o absurdo da sistemática no manejo daqueles recursos. À época prometeu dar um jeito na desordem, mediante tratativas com o Parlamento.

Marcos Mendes - Brasil foge do padrão em ação do Legislativo no Orçamento

Folha de S. Paulo (17/8/2024)

Congresso do país tem prerrogativas excessivas e gera dispersão de recursos

A liminar do STF (Supremo Tribunal Federal) que suspendeu o pagamento das emendas parlamentares reacendeu o debate sobre essa prerrogativa do Congresso.

Estamos pesquisando as instituições orçamentárias em países da OCDE (Organização para a Cooperação e Desenvolvimento Econômico), em trabalho que será concluído em alguns meses. Já temos um perfil das boas práticas e dos diferentes modelos adotados.

O Brasil está fora do padrão. Nosso Congresso tem prerrogativas excessivas.

Em 53% dos países da OCDE, os parlamentos não podem emendar o Orçamento. Rejeitar a proposta do Executivo equivale a um voto de desconfiança, que derruba o governo. Na Austrália e no Canadá, por exemplo, alocação orçamentária é considerada função do Executivo, cabendo ao Legislativo apenas supervisionar a gestão orçamentária.

Luiz Carlos Azedo - Diga-me com quem andas, que te direi se vou contigo

Correio Braziliense

As relações entre o presidente Lula e Nícolas Maduro, que acaba de forjar sua reeleição para continuar no poder na Venezuela, seriam um prato feito para o Barão de Itararé

O provérbio que intitula a coluna tem inspiração bíblica, mas é de autoria do humorista Fernando Apparício de Brinkerhoff Torelly, autodeclarado Barão de Itararé, uma referência à cidade paulista que foi palco de batalhas em 1893 (Revolta da Armada), 1930 (Revolução de 1930) e 1932 (Revolução Constitucionalista). A segunda diz-se que não houve, mas há controvérsias: tropas de Getúlio Vargas e Washington Luiz teriam se enfrentado de verdade.

Gaúcho do Rio Grande, a 317km de Porto Alegre (RS), Torelly nasceu em 29 de janeiro de 1895. Seu pai, João da Silva, era brasileiro, e sua mãe, Maria Amélia, uruguaia. Não tinha completado dois anos quando a mãe, então com 18, tirou a própria vida. Órfão de mãe, foi adotado pelos jesuítas de São Leopoldo. No Colégio Nossa Senhora da Conceição criou seu primeiro jornal de humor, o Capim Seco, escrito à mão.

Marcelo Mário de Melo - A ferramenta

Vivo com a cabeça cheia de borboletragem desenho pintura escultura barulho musicado clip desenho animado e partitura de palavra sem dicionário. E só tenho na mão a palavra-pá para revolver recolher e traduzir tudo isso. 

Então me valho dela e faço o que posso com a ferramenta que tenho. No resultado vem coisa fácil de ler e entender coisa que exige leitura atenta e às vezes releitura vem um quebra-cabeça com “made in” de Babel que eu passo adiante com o selo da ignorantação.

Não sou pintor desenhista escultor músico nem cineasta.

Sou só um escrevinhador com ferramenta única e com ela faço o que posso. O resto fica por conta do leitor. 

Faço um trabalho que não é de formiga nem de abelha que atuam em conjunto numa orquestra sinfônica. 

É um trabalho de aranha solitária puxando o fio e tecendo sua teia aérea. Mas uma teia que só se sustenta se tiver um ponto de apoio em algum canto de parede assim como o passarinho e o avião para tomar impulso de voo precisam de um chão.

Literavidar e poetar é assim.

 

Música | Diogo Nogueira & Hamilton de Holanda - Lama nas ruas