segunda-feira, 24 de junho de 2024

O que a mídia pensa | Editoriais / Opiniões

Violência desigual exige ação do governo federal

O Globo

Homicídios caíram no Sul e Sudeste, mas índices pioraram nas demais regiões, revela estudo

O Brasil é desigual até nos índices de criminalidade. De acordo com o Atlas da Violência divulgado pelo Instituto de Pesquisa Econômica Aplicada (Ipea) e pelo Fórum Brasileiro de Segurança Pública (FBSP), enquanto Sul e Sudeste apresentavam em 2022 taxas de homicídio declinantes, Norte, Nordeste e Centro-Oeste registravam números ascendentes.

São Paulo mais uma vez ostenta a menor taxa de homicídios da Federação (6,8 por 100 mil habitantes). Em seguida, aparecem Santa Catarina (9,1), Distrito Federal (11,4), Minas Gerais (12,5), Rio Grande do Sul (17,1), Mato Grosso do Sul (19,7), Rio de Janeiro (21,4), Paraná (22,3), Goiás (23,1) e Piauí (24,1), todas abaixo ou pouco acima da média nacional (21,7).

No outro extremo figura a Bahia, estado que nos últimos anos tem enfrentado grave crise na segurança. Com 45,1 homicídios por 100 mil habitantes, concentra seis das dez cidades mais letais do país: Jequié — a mais violenta (88,8) —, Santo Antônio de Jesus, Simões Filho, Camaçari, Feira de Santana e Juazeiro. Completam a lista fatídica Cabo de Santo Agostinho (PE), Sorriso (MT), Altamira (PA) e Macapá (AP), todas com taxas acima de 68 por 100 mil, mais que o triplo da média nacional.

Fernando Gabeira - Limites da paciência popular

O Globo

O papel da sociedade poderia ser estendido a discussões mais áridas, como a qualidade dos gastos do governo

A reação social a dois projetos, sobre aborto e praias, abre caminho para alguns ensinamentos. O primeiro deles, e mais óbvio, revela que as pessoas não querem retrocesso, sobretudo os que podem nos fazer voltar à Idade Média, sem algumas qualidades daquela fase histórica.

Isso acende um sinal amarelo para as forças conservadoras, sobretudo as que investem contra o Estado laico e querem substituir a Constituição pela Bíblia.

Creio que o campo oposto, o governista, também tem material para refletir sobre o que se passou nas últimas semanas. Talvez tenha de rever a ideia de que o foco único de seu esforço seja a economia. Alguns especialistas em eleições repetem a frase: “É a economia, estúpido”. E muitos acreditaram que tudo realmente se resume à economia, ou que as pessoas são apenas fisiológicas, como alguns políticos que as representam.

Preto Zezé - Combate à crise exige união

O Globo

Entes federados e Poderes da República necessitam colaborar entre si para enfrentar os desafios

Boa parte da crise institucional brasileira advém da descrença na política e no Estado e da baixa qualidade de suas ações — mas também de como são elaboradas as políticas, sem participação social qualificada. A isso somam-se a desorganização e a desmobilização dos setores populares, diante da distância dos mecanismos de decisão. São fóruns e horas de debate com pouca eficácia e lentidão da burocracia estatal ante as agonias do povo. A distância se torna maior devido ao calendário de eleições bianual, gerando uma terrível distorção entre as necessidades reais e a retórica eleitoral.

Estive com gestores de diversas posições ideológicas, da direita à esquerda, em razão das tarefas institucionais que me conduzem a uma posição pragmática pelos interesses das favelas e à disposição de diálogo com todos. Encontrei governadores como Ronaldo Caiado, Elmano de Freitas, Tarcísio de FreitasFátima BezerraHelder BarbalhoCláudio Castro, com os ministros Renan Filho e Ricardo Lewandowski, para citar alguns. Há consenso de que os entes federados e os Poderes da República necessitam de colaboração entre si para enfrentar os grandes desafios nacionais, apesar das características locais.

Demétrio Magnoli - O mercado que nos sabota

O Globo

O tabu econômico lulista só admite ajuste pelo lado da receita, condenando qualquer tentativa de cortar despesas

‘O governo do presidente Lula está enfrentando forte campanha especulativa e de ataques ao programa de reconstrução do país com desenvolvimento e justiça social’, afirmou a nota da direção do PT publicada há uma semana. Como? Pela “escancarada sabotagem ao crédito, ao investimento e às contas públicas, movida pela direção bolsonarista do Banco Central com a manutenção da maior taxa de juros do planeta”. O BC seria uma ferramenta de “setores privilegiados” que, “valendo-se da mídia associada a seus interesses financeiros, fabricam uma inexistente crise fiscal”.

A economia de mercado é uma conspiração — eis o conceito de fundo que orienta o texto partidário. Fosse, apenas, expressão da ignorância econômica petista, isso não passaria de uma curiosidade. Só que não é: a nota reflete o pensamento econômico de Lula, raiz do atual impasse fiscal.

Bruno Carazza - Benefício bilionário semicondutor de ineficiência

Valor Econômico

Na mesma semana que Lula critica renúncias fiscais, governo apoia prorrogação de incentivos por mais cinquenta anos

Na quarta (18/06), em entrevista à rádio CBN, o presidente Lula se declarou “perplexo” diante do volume de renúncias fiscais no Brasil, que passaria da casa dos R$ 546 bilhões, e anunciou seu compromisso de rever esses benefícios, para que o ajuste das contas públicas não seja aplicado somente sobre os pobres.

Nem bem a fala de Lula deixou de ecoar, a Câmara dos Deputados aprovou, com o apoio do PT e demais partidos da base do governo, o PL nº 13/2020 que amplia e estende renúncias fiscais para os setores de semicondutores e de tecnologia da informação até o ano de 2073, mesmo prazo de vigência da Zona Franca de Manaus.

Sergio Lamucci - Incertezas internas impulsionam o dólar

Valor Econômico

Fatores globais contribuem para a alta da moeda americana neste ano, mas riscos domésticos explicam a maior parte do movimento

O cenário para o câmbio mudou significativamente de figura ao longo do ano. No primeiro semestre, o real se enfraqueceu em relação à moeda americana, com o aumento dos riscos externos e principalmente dos internos, devido em grande parte às incertezas sobre as contas públicas, mas nos últimos dias também por causa das críticas do presidente Luiz Inácio Lula da Silva ao presidente do Banco Central (BC), Roberto Campos Neto, e ao nível dos juros. Em 2024, o dólar já subiu quase 60 centavos, de R$ 4,86 para R$ 5,44, uma alta de 11,9%.

A força das contas externas, com saldo comercial perto de US$ 100 bilhões em 12 meses e reservas internacionais de US$ 355 bilhões, ajuda a amenizar, mas não impede o avanço do dólar, movimento que tende a causar impacto desfavorável sobre a inflação. A pressão sobre o câmbio e a maior volatilidade da moeda podem ainda atrapalhar o planejamento das empresas, encarecendo a importação de bens de capital, por exemplo, o que prejudica o investimento.

Entrevista | Pedro Malan: Brasileiro não aceita mais que hiperinflação volte

Por  Lu Aiko Otta / Valor Econômico

Nos 30 anos do Plano Real, ex-ministro da Fazenda alerta que nova reforma da Previdência Social pode ser necessária ainda nesta década

Prestes a completar 30 anos no próximo dia 1º, a estabilização de preços proporcionada pelo Plano Real foi apenas um primeiro passo de um projeto de transformação da economia brasileira, disse ao Valor o ex-ministro da Fazenda Pedro Malan, que comandou a área econômica do governo nos dois mandatos de Fernando Henrique Cardoso (1995-2002).

Após domar a inflação, havia toda uma agenda de reformas econômicas a ser implementada. Muitas delas ainda estão sobre a mesa. É o caso do debate sobre a estrutura das despesas obrigatórias do governo, tema que foi levado na semana passada ao presidente Luiz Inácio Lula da Silva pelos ministros Fernando Haddad (Fazenda) e Simone Tebet (Planejamento).

Documentos elaborados antes do lançamento do Real continuam atuais nesse debate, ressaltou o ex-ministro, que nesta terça-feira (25) lança em São Paulo, o livro “30 Anos do Real - Crônicas no Calor do Momento”, pela editora Intrínseca.

A publicação reúne artigos publicados por Malan e outros dois “pais” do plano de estabilização, Edmar Bacha e Gustavo Franco (organizador), além de um artigo escrito por Fernando Henrique Cardoso em 2019. O livro é dedicado ao ex-presidente, cuja liderança política é apontada como peça fundamental do sucesso do plano de estabilização.

O propósito do livro não é trazer bastidores sobre a elaboração do plano, e sim discutir a tentativa de consolidação do projeto do Real ao longo dos últimos 30 anos, além de contribuir para o debate atual, explicou o ex-ministro.

Organizado em seis partes - primeiros anos, dez anos, 15 anos, 20 anos, 25 anos e 30 anos -, mostra a batalha da construção do tripé macroeconômico que persiste até hoje e como o projeto resistiu à alternância do poder, com a eleição de Lula em 2002.

O Real completou 20 anos em meio ao experimento da Nova Matriz Macroeconômica e, na definição de Franco à época, o momento “mais cercado de dúvidas sobre a coisa conquistada”.

Também hoje há o debate em torno da adoção de uma política keynesiana, apesar dos resultados da tentativa anterior. Ao mesmo tempo, outros integrantes do governo se esforçam para colocar em debate a estrutura do orçamento - algo que deve ser intensificado, na visão do ex-ministro.

“Acredito que a história é um diálogo infindável entre o passado e o futuro”, afirmou ele, a respeito do livro. “O objetivo é mostrar como essas coisas estão ligadas: o passado estabelece certas restrições, mas também certas oportunidades e possibilidades que o futuro sempre encerra.” 

A seguir, os principais trechos da entrevista.

Jeffrey Sachs - A Cúpula do Futuro

Valor Econômico

Reunião é um convite a uma intensa troca global de ideias sobre como tornar nosso mundo apto para o desenvolvimento sustentável

O sistema geopolítico mundial não está proporcionando o que queremos ou precisamos. O desenvolvimento sustentável é nosso objetivo declarado, significando prosperidade econômica, justiça social, sustentabilidade ambiental e paz. No entanto, nossa realidade é de continuidade da pobreza em meio à abundância, a desigualdades crescentes, a crises ambientais cada vez mais graves e à guerra. Para voltar aos trilhos, o secretário-geral da Organização das Nações Unidas (ONU), António Guterres, sensatamente, convocou uma Cúpula do Futuro (SOTF, na sigla em inglês) para os dias 22 e 23 de setembro, uma convocação que foi endossada pelos 193 Estados-Membros da ONU.

A ideia central da Cúpula do Futuro é que a humanidade se depara com um conjunto de desafios sem precedentes que só podem ser resolvidos por meio da cooperação internacional. A crise das mudanças climáticas induzidas pelo homem (em especial o aquecimento do planeta) não pode ser resolvida por um único país. Nem as crises de guerras (como na Ucrânia e na Faixa de Gaza) ou as tensões geopolíticas (entre Estados Unidos e China) podem ser resolvidas por um ou dois países sozinhos. Cada país, mesmo as grandes potências, como EUA, China, Rússia, Índia e outros, faz parte de uma complexa estrutura global de poder, economia e política que requer soluções genuinamente globais.

Carlos Pereira - Escudo contra populistas

O Estado de S. Paulo

No populismo, seja de direita ou de esquerda, sempre existe a necessidade de confrontar instituições

“Aí resolveram entender que era importante que tivesse um Banco Central independente e com autonomia. Ora, autonomia de quem? Autonomia para servir e atender a quem?” A reposta a essas perguntas proferidas pelo presidente Lula na semana passada seria a seguinte: do senhor mesmo, presidente!!!

Políticos eleitos, em qualquer democracia do mundo, têm muitas dificuldades para lidar com agências e organizações reguladoras autônomas com prerrogativa de decidir políticas públicas e potencial de contrariar as suas preferências de curto prazo.

Ana Cristina Rosa - Caça aos livros

Folha de S. Paulo

A perseguição restringe-se a obras que promovem debate e reflexão antirracista

Está aberta a temporada de caça aos livros no Brasil! Mas atenção. A perseguição restringe-se à indicação pedagógica de certas obras capazes de promover o debate e a reflexão antirracista no país mais negro fora da África.

Este poderia ser o preâmbulo de uma publicação sobre uma distopia, um "lugar ruim" qualquer. Tragicamente é a síntese da reação adversa desencadeada pela adoção curricular de alguns livros que abordam a temática racial —a despeito da obrigação legal (lei 10.639/2003) do ensino da história e da cultura afro-brasileira em nossas escolas.

Camila Rocha - Nunes se submete a Bolsonaro

Folha de S. Paulo

Prescindindo de qualquer autonomia, Nunes optou por delegar a indicação da vice de sua chapa

Caso Ricardo Nunes ganhe as eleiçõesSão Paulo será governada pelo bolsonarismo. Com Nunes na prefeitura, e Tarcísio de Freitas no governo do estado, os mais de 44 milhões de paulistas ficarão sob a batuta da extrema direita. Da mesma forma que Tarcísio não conseguiu ter qualquer independência em relação a seu padrinho político, agora é a vez de Nunes se curvar de vez a Jair Bolsonaro.

Prescindindo de qualquer autonomia, Nunes optou por delegar a indicação da vice de sua chapa ao governador do estado. Tarcísio, que encontrou seu lugar ao sol na extrema direita posando de paladino contra o crime organizado, achou por bem escolher o coronel da PM Melo Araújo, ex-comandante da Rota (Rondas Ostensivas Tobias de Aguiar), conhecida por ser a tropa mais letal da Polícia Militar paulista.

Marcus André Melo - O dilema institucional

Folha de S. Paulo

Por que Lula 3 está malogrando?

Os impasses atuais nas relações do presidente Lula com o Congresso evocam —mas como veremos apenas superficialmente— o padrão identificado por Celso Furtado em "Obstáculos Políticos ao Desenvolvimento Econômico" (1965). Nele, Furtado reflete sobre a crise de 64 e sua estrutura mais profunda: um executivo eleito pelo eleitorado urbano que se confrontava com um Congresso que obstaculizava uma agenda de reformas "de base". O resultado era um confronto paralisante cujo desenlace foi a ruptura da ordem constitucional. Já examinei o argumento aqui.

Entrevista | Márcio França: Pós-eleição exigirá rearranjo para ver quais partidos ficarão com Lula

Jennifer Gularte / O Globo

Conhecido por articular palanques, ex-governador de SP avalia que reforma ministerial vai se impor quando siglas da base precisarem escolher de que lado estarão em 2026: do presidente ou do bolsonarismo

O senhor é do PSB, mas há ministros de outros partidos não alinhados ao governo. O modelo de coalizão está funcionando?

É difícil ser engenheiro de obra pronta. Nós chegamos até aqui com 95% de tudo o que mandamos aprovado. Então, não dá para dizer que não foi bem-sucedido. Mas a nossa angústia coletiva, dos políticos e jornalistas, se encerrará no final desse ano. Quando acaba a eleição de prefeito, começa a de governador e presidente. As nuvens vão se adensar para dois campos específicos: um liderado pelo governo de São Paulo (de Tarcísio de Freitas) e talvez a prefeitura de São Paulo (com a possível reeleição de Ricardo Nunes), contra o campo nacional (do governo Lula). Então, vários partidos que têm posições importantíssimas dentro do governo vão ter que tomar uma decisão difícil. Se o parlamentar vai mudar de partido e ficar com o governo federal ou se irá se embarcar na aventura paulista.

São Paulo será o contraponto? Como será esse jogo?

É muito difícil imaginar que alguém tiraria uma eleição do Lula. Depois de preso, todo arrebentado, todo chamuscado, ele ganhou uma eleição... Essa é a sensação, ainda mais em condições plenas, com poder na mão e sem o principal concorrente (Jair Bolsonaro) na disputa. A pessoa escolhida para disputar a eleição contra o Lula, mesmo sabendo que provavelmente vai perder, naturalmente se transformará no próximo candidato a presidente mais forte do país. Acho meio inevitável o Tarcísio ser candidato. Ele será empurrado para essa disputa. Querendo ou não, é o nome mais forte, um moço educado, não tem aquela coisa mais dura, bruta do Bolsonaro.

Poesia | Dos Engenhos de minha Terra, de Ascenso Ferreira

 

Música | Chico César, Mônica Salmaso e Alceu Valença - Prêmio da Música Brasileira